A cerimônia de seleção



––––CAPITULO OITO––––

A cerimônia de seleção


Eles desembarcaram numa plataforma escura. Havia muita confusão, todos queriam passar ao mesmo tempo. Kyo estremeceu ao ar frio da noite. Então, de algum lugar, apareceu uma lâmpada balançando sobre as cabeças dos estudantes, Kyo ouviu uma voz que mais parecia um trovão:

–Alunos do primeiro ano! Primeiro ano! Por aqui, por favor!

Um homem enorme surgira do nada, era tão grande que Kyo mal podia vê-lo apenas com a luz da lanterna, tinha a altura de três homens e a largura de uns cinco, suas mãos pareciam latas de lixo e seus pés filhotes de golfinhos, sua barba desgrenhada lembrava a Kyo a foto de uma floresta que ele vira num livro na escola trouxa. Ele sorriu para Kyo, ou para alguém atrás dele, Kyo se virou e viu que o gigante acenava para Tiago e Sarah, que retribuíam.

–Vo-vocês conhecem ele? –perguntou Kyo, sua voz praticamente sumida.

–Claro! –exclamou Tiago com um enorme sorriso.

–É o Rúbeo, ele é nosso amigo. –completou Sarah.

–Aquilo? –os olhos de Kyo saltavam.

–Ele não é uma coisa, ele é um cara muito gente fina! –exclamou Tiago.

–É isso ai.

–Venham comigo! Mais alguém do primeiro ano? –gritava o gigante.

Aos escorregões e tropeços eles seguiram Rúbeo por um caminho de aparência estrita e íngreme. Estava tão escuro em volta que Kyo achou que devia haver grandes arvores ali. Ninguém falou muito.

–Logo vocês terão a primeira visão de Hogwarts. –disse Rúbeo por cima do ombro. –Depois dessa curva, agora...

ouviu-se um Nooooooosssssaaaaaaaaaaa muito alto.

O caminho estrito se abrira de repente até a margem de um grande lago escuro. Encarrapitado de um alto penhasco na margem oposta, as janelas cintilando no céu estrelado, havia um imenso castelo com muitas torres e torrinhas.

–Só quatro em cada barco? –gritou Hagrid, apontando para uma flotinha de barcos parados junto à margem, Kyo, Tiago e Sarah sentaram-se num deles, acompanhados por uma garota de cabelos lanzudos.

–É lindo, né Uanda? –disse Sarah, seus olhos faiscando com o luar.

–É... –respondeu a garota.

Kyo deu uma pequena olhadela nela.

–Todos acomodados? –perguntou Rúbeo, que tinha um barco só pra si. –Então...VAMOS!

E a flotinha de barquinhos largou ao mesmo tempo, deslizando pelo lago que era liso como um vidro. Todos estavam silenciosos, os olhos fixos no grande castelo no alto. A construção se agigantava à medida que se aproximavam do penhasco em que estava situado.

–Abaixem as cabeças! –berrou Rúbeo quando os primeiros barcos chegaram ao penhasco; todos abaixaram as cabeças e os barquinhos atravessaram uma cortina de hera que ocultava uma larga abertura na face do penhasco. Foram impelidos por um túnel escuro, que parecia leva-los para debaixo do castelo, até uma espécie de cais subterrâneo, onde desembarcaram subindo e pisando em pedras.

–Ei, você ai! É o seu gato? –perguntou Rúbeo, que verificava os barcos à medida que as pessoas desembarcavam.

–Smiley! –gritou a menina que estava no barco com Kyo, Sarah e Tiago. Então eles subiram por uma escada de pedras irregulares até chegarem num campo de gramado fofo e úmido a sombra do castelo.

Andaram até uma escada de pedra e se aglomeraram em torno de uma enorme porta de carvalho.

–Estão todos aqui? Ninguém perdeu nada? Ninguém se perdeu?

Rúbeo ergueu seu enorme punho e bateu na porta que se abriu de chofre. Nela apareceu uma bruxa alta de cabelos grisalhos e vestes verde-esmeralda. Tinha o rosto muito severo e o primeiro pensamento que Kyo teve foi que ela não era uma pessoa com quem se deve brincar.

–Os alunos do primeiro ano, professora Minerva. –informou Hagrid.

–Obrigada, Hagrid. Eu cuido deles daqui por diante.

Ela escancarou a porta e fez sinal para que os alunos entrassem. O saguão era tão grande que caberia duas casas dos Hunter com folga ali dentro. As paredes de pedra iluminadas com archotes flamejantes como os de Gringotes, o teto era alto demais para se ver, e uma imponente escada de mármore levava aos andares superiores.

A prof ª Minerva os levou a uma sala a um canto, Kyo ouviu o murmúrio de centenas de vozes que vinham de uma porta a direita – o restante da escola já devia estar lá dentro. Eles entraram na saleta onde se agruparam, um pouco mais apertados que o normal, nervosos olhando para todas as direções.

Kyo sentia-se estranho, achava que não era bom o bastante. Mas sentiu-se aliviado ao ver que não era o único que estava tremendo, até mesmo Willian Malfoy apertava a mão suada.

–Muito bem, hoje vocês entram para Hogwarts, –disse a prof ª Minerva –existem quatro casas, Grifinória, Sonserina, Lufa-Lufa e Corvinal, vocês serão selecionados para cada uma delas dependendo de como é sua personalidade. Alguns de vocês poderão se decepcionar outros simplesmente vão querer desistir, mas eu garanto que sua estadia em Hogwarts será uma das melhores de sua vida. Aqui seus acertos renderão pontos para sua casa, enquanto seus erros a farão perder, no final do ano a casa com mais pontos será presenteada, aqui vocês aprenderão como interagir em grupo e a usar suas maiores habilidades, como eu disse será uma temporada importante em sua vida.

Kyo viu que Malfoy de repente sorrira, agora parecia ter certeza do que lhe aguardava, mas os outros ainda estavam muito nervosos, ele sentia alguém tremer atrás dele.

–Eu aconselho que vocês se arrumem o máximo possível, –disse ela, seus olhos passando da gravata frouxa de Kyo aos cabelos desarrumados de Tiago –não creio que passar por desleixado na frente dos professores vai causar uma boa impressão.

A professora Minerva saiu da sala, Kyo se apressou em arrumar sua gravata, mas Tiago mal ligou para seus cabelos, apenas passou os dedos por entre eles. As pessoas à volta também se arrumavam, Kyo viu duas garotas idênticas retocando a maquiagem, e uma outra ajeitava o penteado do cabelo, Kyo viu Sarah penteando os cabelos e conversando uma outra garota, que ele não pode ver pois estava de costas.

Quando a professora Minerva voltou a única pessoa que continuava com os cabelos desarrumados, Kyo olhou a volta, não vira Lilian desde que entraram no trem, mas não a encontrou, a professora bateu as mãos para chamar a atenção de todos:

–Sigam-me.

Ela saiu da sala com os garotos em seu encalço, Kyo olhou mais uma vez para o saguão de entrada, se sentia como uma formiga, eles entraram no salão de onde vinham as vozes, mais uma vez um enorme nossa soou, eles entraram no lugar mais fantástico que Kyo já vira, era enorme, milhares veles flutuavam no ar, o teto de veludo mostrava o céu estrelado lá fora, haviam cinco mesas compridas dispostas pelo salão, quatro onde estavam sentados os alunos e uma outra de frente para todas onde se sentavam, quem Kyo pensou serem os professores. No meio de todos, na cadeira mais alta, estava um homem de barbas compridas e prateadas, seus olhos azuis cintilavam atrás das lentes dos oclinhos em forma de meia-lua, ao ver os alunos seus lábios formaram um pequeno sorriso.

A professora Minerva os enfileirou em frente à mesa dos professores, Kyo sentiu o peso do olhar do homem sobre si, tentou evitar aquele olhar. A professora Minerva saiu deixando-os por um instante sozinhos, Kyo olhou a volta.

–Quem é o barbudo? –perguntou Kyo, para Tiago que estava atrás dele.

–É Dumbleodore, o diretor.

Kyo olhou para o homem, um grande respeito por ele de repente cresceu dentro de si. A prof ª Minerva entrou novamente carregando um banquinho de três pernas e um chapéu esfiapado, ela pôs o banquinho na frente dos novos alunos e professores e colocou o chapéu em cima. Kyo não entendeu, mas percebeu que todos os alunos do salão e até mesmo os professores olhavam para esperando que fizesse alguma coisa.

–Este é o Chapéu Seletor. –disse ela.

De repente um rasgo junto à boca do chapéu se abriu como uma boca e ele começou a cantar:


Há uns mil anos ou um pouco mais

Eu nasci de quatro bruxos fenomenais

Eram os maiores da época no que faziam

E ninguém sabia o que eles sabiam

Então seus conhecimentos resolveram passar

Para pessoa que acharam dignas de ensinar

Griffindor ensinava os de bravo coração

Que tinham coragem e sempre cediam ao perdão

Slytherin os com sede de poder

Quem usavam todos os meios sem nada temer

Ravenclaw ensinou os de grande sabedoria

Sabendo que um dia o mundo deles seria

Huflepuff para os que eram justos e puros

Pois sabia que jamais temeriam o escuro

As aulas por anos se seguiram

E outros de igual sabedoria os sucediam

Hoje temos outro corpo de estudantes

Que enfrentam professores e aulas estafantes

Sei que não parece muito confiável

Mas podem crer que sou um ser muito amável

Posso não parecer ter grande saber

Mas a casa certa para você eu vou escolher!

Todos começaram a aplaudir, Kyo olhou para Tiago.

–Que casa você acha que vamos cair? –perguntou o garoto.

–Não sei, mas pode ser qualquer um menos Sonserina. –respondeu Tiago.

–Por que?

–Não existe um só bruxo das trevas que não tenha sido da Sonserina.

–O Harry já me falou alguma coisa sobre isso...

Eles voltaram seus olhos para a prof ª Minerva que agora desenrolava um pergaminho:

–Quando eu chamar seu nome venham até aqui e ponham o chapéu na cabeça, quando o chapéu disser sua casa se dirija à mesa correspondente. Arnold Abbot.

Um garoto saiu do meio da fila correndo, sentou-se na cadeira e pôs o chapéu, que lhe caiu até o meio da testa.

–Lufa-Lufa! –gritou o chapéu. O garoto se levantou e se dirigiu a mesa da Lufa-Lufa, que era a do meio a esquerda, fazia o maior auê.

–Butter Baot. –Um garoto de cabelos negros saiu do meio da fila.

–Sonserina! –o garoto se dirigiu a mesa do extreme esquerdo.

–Suzan Bastard!

–Sonserina!

Kyo começou a ficar mais receoso, (Julius Bonie) e se não fosse bom o suficiente? (Caroline Boot) E se sentasse na cadeira (John Croosed) e o chapéu ficasse em sua cabeça por um tempão sem dizer nada? (Archie Doom) e se a professora simplesmente tirasse o chapéu de sua cabeça e dissesse que provavelmente houve um engano? (Ernie Dunner) Kyo tentou tirar aqueles pensamentos da cabeça, (Jéssica Durter) Harry não o deixaria ir se não tivesse certeza de que era digno. (Pámela Grant) Kyo olhou para o chapéu seletor, (Amélia Gsire) a esta altura já estavam na letra H.

–Augustus Hammer.

Um garoto de cabelos castanhos escuros e olhos azuis sentou-se no banco, o chapéu demorou um pouco para se decidir:

–Corvinal! –o garoto se sentou a mesa do centro a direita.

–Kyo Hunter. –disse a professora Minerva.

O salão de repente mergulhou num profundo silencio, de repente vários cochichos passaram a se tornar audíveis, Kyo reparou que Dumbleodore o olhava com atenção. O garoto se dirigiu ao banquinho, seus pés pareciam de chumbo. Sentou-se e pôs na cabeça o chapéu, que desceu até o meio de sua testa.

O garoto cruzou os dedos, queria ir para qualquer lugar, menos Sonserina, ele até simpatizara com o pessoal da Grifinória, os irmãos de Tiago estavam lá.

–Hum... interessante. –disse uma vozinha em sua cabeça. –Muito interessante, um gênio muito forte, eu vejo, e uma vontade de se provar também, e até mesmo uma razoável vontade de ser o melhor, não sabe no que, mas sabe que um dia vai ser o melhor... sabe, você é uma pessoa difícil.

Kyo achou que ele não precisava dizer que ele era difícil, a quase todo mundo já lhe dissera isso, os professores, o psicólogo, a psiquiatra, o Sr. Olivaras, e agora o Chapéu, quem faltava agora?

–Eu sei que você já sabe disso, mas sabe, você seria grande na Sonserina. –continuou o chapéu.

–Não, me coloque em qualquer outro lugar! –pensou Kyo.

–Por que? Sonserina é um bom lugar.

–Não gostei de lá!

–Não julgue um livro pela capa.

–Eu diria que a capa é um bom resumo do livro.

–Você tem certeza? Bem, se é assim, vá para a... Grifinória!

Kyo escutou a sentença final do chapéu com todo o resto do salão, a mesa da Grifinória deu pulos que Kyo não imaginava que um canguru pudesse dar, o pessoal fazia a maior zona, os trigêmeos Weasley gritavam:

–Ganhamos Hunter, ganhamos Hunter!

Kyo sorriu aliviado enquanto se dirigia a mesa da Grifinória, quando se sentou apertou as mãos de todos no raio de cinco metros. De repente sua gravata esquentou e apertou levemente, ele olhou para ela, agora ela era vermelha e prateada, não mais preta como era antes. Na mesa havia centenas de vasilhas, pratos e cálices de ouro.

Kyo virou-se para a o chapéu seletor, agora uma garota de cabelos vermelhos ia sendo selecionada para a Grifinória. Ela sentou-se dois lugares à frente de Kyo, estava muito vermelha.

–Oi. –disse ela.

–Oi, tudo bem? –respondeu Kyo.

–Tudo... você... você é Kyo Hunter?

–Acho que sim... –disse Kyo mostrando a cicatriz. –E você, quem é?

–Ah, eu sou Ananda Flinch-Fletchey. –os olhos cor de mel da garota brilhando.

Kyo sorriu para a garota e se virou para o Chapéu Seletor, agora ele selecionava Mary Jane para Corvinal.

–Uandalini Longbotton!

O coração de Kyo parou, a garota que encontrara em Gringotes, uma luz clareou sua mente, então era ela que conversava com Sarah no barco e na salinha, Kyo desejou de todo o coração que ela fosse para a Grifinória, o Chapéu Seletor estava demorando, Kyo sentir seu estomago afundar um centímetro por segundo.

–Grifinória! –finalmente exclamou o Chapéu Seletor.

Kyo, mais do que todos na mesa, aplaudiu e gritou quando a garota se sentou a mesa, talvez ele não tivesse comemorado tanto quanto Letícia, a garota provavelmente era irmã dela. A garota sentou ao seu lado, para alegria do garoto. Ela olhou para Kyo, que sentiu seu rosto corar.

–Oi. –disse o garoto.

–Oi. –respondeu a garota, nada tímida. –Você é Kyo Hunter, não é?

–Hu-hum.

–Eu sou Uandalini Longbotton.

–Prazer.

Kyo apertou a mão da garota, “como é macia...” pensou garoto. Quando se sentaram o garoto fez algum tipo de estripulia para que, quando se sentasse, pudesse cheirar o cabelo da garota “e cheirosa também...”

–Willian Malfoy.

Malfoy saiu gingando da fila, seus cabelos louros cheios de um tipo de gel. Ele sentou-se no banquinho, sorrindo, o chapéu mal tocou sua cabeça e anunciou:

–Sonserina!

Malfoy, sorrindo de orelha a orelha, se dirigiu a mesa da Sonserina, seus passos longos e majestosos, sentou-se ao lado de sua irmã, Carla, Kyo não entendia como uma garota tão bonita poderia ter ido parar num lugar daqueles.

A seleção continuou, Carl Nardini foi para Lufa-Lufa, Joan Nigel veio para Grifinória, Cris O’Donnel foi para Corvinal, as irmãs gêmeas Pubia e Nancy Patil vieram para Grifinória.

–Lilian Potter!

Kyo viu Lilian se dirigir ao banquinho, se sentar cruzando os dedos e apertando os olhos.

–Corvinal! –gritou o chapéu, Kyo, que achou que Lilian viria para Grifinória, viu que a garota estava meio desconsolada, mas ainda parecia satisfeita.

E continuou, Magnus Salete foi para Lufa-Lufa, Jaqueline Romi foi para Sonserina, à próxima seria...

–Sarah Snape!

Sarah pôs o chapéu na cabeça, Uandalini ficou receosa, Kyo teve que admitir que também ficara, apesar de não ser amigo dela simpatizara com a garota. O chapéu se demorou na cabeça da garota, Kyo sentiu a mão de Uandalini tremer ao seu lado, a garota agarrou seu braço, apertando com força.

–Sons... –começou o Chapéu Seletor –Grifinória.

O salão não aplaudiu, apenas ficou olhando para Sarah e para o chapéu. Kyo não entendia o que acontecera, queria aplaudir, mas estava demasiado aturdido, de todos que foram selecionados aquele dia o chapéu não mudara de idéia em nenhum.

–Que foi? –perguntou Kyo, para os irmãos Weasley.

–O chapéu nunca mudou de opinião numa seleção. –respondeu um deles, Kyo não sabia qual.

Sarah se dirigiu a mesa da Grifinória, ao lado de Uandalini, todos no salão a observavam.

–O que foi? –perguntou a garota contrafeita.

–Sarah, isso foi por causa do seu pai? –perguntou... Kyo achou que fora Felipe.

–É, ele foi da Sonserina, –respondeu a garota –acho que o chapéu só levou minha mãe em consideração no final, por isso mudou de idéia.

Ninguém mais falou depois disso, todos voltaram seus olhos para o chapéu seletor, Kyo achou que ele passara de preto para um tom arroxeado. Kyo não prestou muita atenção nas próximas pessoas que foram selecionadas, estava observando Uandalini, sem querer, seus olhos pousaram sobre ela e ele não conseguia tira-los.

Kyo, sem conseguir frear seus pensamentos se imaginou com a garota numa sala escura, ambos com as vestes de Hogwarts, seus rostos se aproximavam, ele sentia o calor da pele dela...

–Kyo, beleza? –disse uma voz a sua frente.

O garoto olhou, meio confuso, Tiago estava sentado a sua frente, sua gravata, assim como a de Kyo, passara de negra para vermelho e dourado.

–Tem alguém ai dentro? –perguntou Tiago.

–Hum..? Nossa... você já foi selecionado?

–A uns cinco minutos. –respondeu Tiago.

Kyo olhou para o banquinho que estava sendo retirado pela prof ª Minerva.

–Nossa! –exclamou Kyo. –Viajei.

–E como. –disse Tiago, indicando Uandalini com os olhos, mas Kyo não pode perceber, já olhava para Uandalini de novo.

Kyo não entendia o que estava sentindo, não conseguia tirar seus olhos da garota, se sentia bem ao lado dela.

Dumbleodore se ergueu em seu lugar, o salão de repente ficou todo em silencio.

–Boa noite! –disse Dumbleodore abrindo os braços. –Sejam bem-vindos para mais uma ano letivo em Hogwarts. Antes de tudo gostaria de dar alguns avisos de começo de ano: A Floresta Proibida está proibida a todos os alunos do quinto ano para baixo, os alunos não devem sair de seus dormitórios desprovidos de varinha, principalmente pelo fato de que estão todos participando do campeonato do Clube de Duelos, o Sr. Filch pediu para que avisássemos que sua lista de objetos proibidos aumentou um pouco este ano, apesar de eu achar que seja desnecessário proibir qualquer coisa encontrada nos bolsos dos trigêmeos Weasley...

O salão caiu em gargalhadas, Felipe, Ciro e Renan se entreolharam, sorrisinhos maldosos em suas faces.

–Alias, se fosse assim, acho que teríamos que proibir o uso de varinhas na escola... mas continuemos, tenho o prazer de dizer que todos os alunos estão liberados para usar suas varinhas em casa. –o salão pulou de excitação. –Mas estão limitados a usar mágicas que já foram ensinadas em Hogwarts. Os senhores também gostarão de saber que Adivinhação e Runas Antigas agora as matérias obrigatórias...

Ninguém aplaudiu, para falar a verdade varias pessoas no salão vaiaram.

–E eu achando que ia me livrar se desistisse... –disse Letícia um pouco à frente.

–...Mas como estas aulas são obrigatórias a todos as aulas de poções e transfiguração serão diminuídas. –completou Dumbleodore.

Agora o salão começou a tremer de novo. Dumbleodore ergueu uma mão, para que fizessem silencio:

–Bom, acho que só isso... e, Beliscão, Batatas, Alcachofra e Torradas, vocês ainda estão me devendo aquele favor!

Todos olharam para o fundo do salão, quatro figuras encapuzadas corriam em direção a porta, Dumbleodore sorriu.

–Acho que já podemos nos servir, então bocas a obra! –exclamou Dumbleodore.

Os pratos e tacas que estavam sobre as mesas se encheram de comida, pernis, galinhas, porcos, tortas, rosbifes, files, coxas, bifes e, por algum motivo estranho, balinhas de menta. Kyo serviu-se de tudo que estava a seu alcance, menos das balinhas de menta. Encheu seu cálice de um liquido cor de abóbora e começou a comer. Escutou um garoto falar um pouco mais adiante:

–Eu sou sangue-puro, meus pais são os dois bruxos, mas meu primo, que está na Corvinal é mestiço, a mãe dele é trouxa.

–Ah, eu sou mestiço, minha mãe é trouxa, mas sempre soube da existência de bruxos, meu pai a namorou durante a adolescência e ele contou pra ela, eu acho que foi legal da parte dele, e esperto também, as trouxas são umas gatinhas...

–Ah, vocês só pensam em garotas, eu sou trouxa e nunca ouvi nenhum garoto dizer que sou linda. –disse uma garota de cabelos negros, Kyo achou que ela realmente era muito bonita.

Tiago e Sarah conversavam animados, Kyo achou melhor não interromper o garoto poderia sentir ciúmes. Os trigêmeos Weasley não comiam, devoravam, estavam comendo tão rápido, que Kyo achou que eles não estavam se lembrando de mastigar. Ele olhou para o teto encantado, o céu estava começando a se fechar, algumas nuvens cor de chumbo apareciam ao longe, aquela madrugada seria muito molhada.

Kyo comia sozinho e em silencio, não extrovertido o suficiente para entrar na conversa dos outros e ninguém o convidara, mas ele não reclamava, não tinha de fazer amigos logo no primeiro dia. Kyo reparou que apesar de não falarem com ele cinco garotas o olhavam muito e cochichavam, ele sentiu envergonhado, mas não disse nada, tentou se concentrar no prato a sua frente, o que foi dificultado por Uandalini que se inclinou para o seu lado para se servir de purê de batatas.

–E você? –disse um garoto de cabelos cor de palha, se dirigindo a kyo– Você é sangue-puro, não é?

–Eu? –respondeu Kyo. –Ah, não, eu sou trouxa, pelo menos era, meus pais são dois... trouxões.

–Nossa, às vezes a gente se surpreende com algumas pessoas! –disse uma das gêmeas patil.

–Por que? –perguntou Uandalini.

–Ah, é que eu nunca pensei que ele fosse trouxa, não ele... –respondeu a outra gêmea.

–Ah, qual é? –disse a Uandalini. –Você sabe muito bem que não existem mais sangues-puro, todo mundo aqui é mestiço, nem que seja por parte de tetravô!

–Eu sei que sou sangue-puro, ninguém na minha família se envolveria com um trouxa. –disse a garota, mesquinha.

–Você está falando como se fosse da Sonserina. –disse o garoto de cabelos cor de palha.

–Não me xingue! –guincharam as duas gêmeas Patil.

–Então não aja como se sentisse a melhor coisa do mundo. –disse a garota de cabelos negros, que Kyo achou muito bonita.

Depois disso houve um longo silencio, Kyo continuou a comer em silencio, talvez se não tivesse aberto a boca não teria havido aquela discussão, mas uma vez se sentiu um estorvo.

Pouco tempo depois de o garoto terminar de comer seu prato se esvaziou, ficando limpo e reluzente, as tigelas em que a pouco estavam comida agora estavam cheias de doces, sorvetes, bolos, tortas, pudins, pavês... Kyo sentiu que deveria ter guardado um pouco mais de espaço em seu estomago para essas maravilhas. Mais uma vez ele encheu seu prato, mas apenas de sorvetes e caldos de diversos sabores.

Kyo ergueu seus olhos discretamente, as garotas ainda o olhavam, Kyo achatou os cabelos sobre a sua cicatriz. “Por que essas garotas estão me olhando? Eu não estou gostando disso, acho que vou dar uma carcada nelas!”.

Kyo ergueu sua cabeça e as olhou imponentemente, as cinco garotas baixaram a cabeça para seus pratos, Kyo viu que estavam muito vermelhas.

–Essa cicatriz ainda vai me dar uns problemas... –disse o garoto para si mesmo.

Depois que todos terminaram de comer Dumbleodore se levantou mais uma vez, um grande sorriso nos lábios.

–Bem, já que já comemos e bebemos e nos empanturramos agora é hora de descansarmos, amanha o dia será longo e suas aulas começarão.

Dumbleodore fez um gesto largo e engraçado com os braços, Kyo não conseguiu segurar a vontade de rir.

–Agora, Srs. Monitores, levem os alunos do primeiro ano até suas casas! –exclamou Dumbleodore, se dirigindo a uma porta lateral, próxima a mesa dos professores.

Letícia e mais quatro garotos se levantaram da mesa da Grifinória, assim como outros alunos se levantaram as outras mesas.

–Alunos do primeiro ano, sigam-nos por favor! –disse Letícia.

Kyo, e os outros alunos do primeiro ano da Grifinória se levantaram, Letícia os conduziu pela porta do salão principal e sobre a escadaria de mármore. Kyo sentia seu corpo cansado, seus olhos estavam incrivelmente pesados.

Estava tão exausto que mal viu que Letícia os conduziu por uma passagem secreta atrás de uma estatua, por uma escada escondida por uma parede falsa e por um alçapão no teto de uma sala, onde um garoto flutuava brincando com algumas bengalas.

–Pirraça, espero que o Filch saiba que você pegou as bengalas dele. –disse Letícia, empunhando a varinha.

–Não encha monitora, eu faço o que quero e quando quero! –disse com uma voz aguda e estridente.

Ele apontou para Letícia e as bengalas voaram na direção da garota, ela acenou com a varinha e as bengalas pararam no ar, e depois se voltaram contra Pirraça, batendo-lhe na cabeça.

–Ah, se o Barão Sangrento ficar sabendo disso... –desabafou a garota.

A garota continuou o caminho, guiando os garotos pelo castelo. Kyo achava que não conseguiria subir mais nem um degrau, quando pararam. Estavam em frente a um quadro de uma mulher gorda vestida de rosa em frente a um paisagem de campo. Kyo olhou para aquele quadro se perguntando se seria alguma outra passagem secreta.

–Qual a senha, por favor? –perguntou a mulher do quadro. Kyo se surpreendeu um pouco, mas se lembrou de que as fotos no mundo mágico se mexiam.

–Boca de Serpente. –respondeu Letícia.

–Pode entrar.

O quadro se inclinou para frente, dando lugar a uma passagem estreita e circular. Todos passaram por ela sem maiores dificuldades, com exceção de Pubia Patil que enroscou a saia no quadro da Mulher Gorda, Kyo não entendeu como. Eles entraram numa sala circular rodeada por lareiras, pela sala estavam distribuídas centenas de poltronas vermelhas e macias que rodeavam mesinhas, pelas paredes havia centenas de quadros e no extremo oposto havia uma enorme bandeira vermelha e dourada onde havia gigantesco leão.

–Bem-vindos –disse Letícia. –a sala comunal ou torre da Grifinória.

Os alunos do primeiro ano ficaram boquiabertos ao vislumbrarem a sala, Kyo achou que aquele era o melhor lugar do mundo. Letícia se prontificou ao centro da sala.

–Esta é a sala onde passarão grande parte de seu tempo em Hogwarts,– disse a garota – aqui farão suas lições, comemorarão as vitórias de sua casa ou lamentarão as derrotas, que eu creio que não acontecerão. A escada da direita leva ao dormitório masculino e a da esquerda ao feminino, vocês estão proibidos de entrar no dormitório do sexo oposto se não estiverem acompanhados por alguém de lá, em cada dormitório há um banheiro onde poderão se lavar e trocar. As lareiras ficarão acesas durante todo o dia, mas estão encantadas para que só esquentem quando a temperatura estiver abaixo de vinte graus... acho que é só, é, é só isso. Boa noite.

Kyo e Tiago subiram as escadas em direção a seu dormitório. O dormitório deles era composto de cinco camas de colunas rodeadas por cortinas de flanela, Kyo sentou-se na mais próxima a porta. Tiago na do lado, o garoto de cabelos cor de palha na mais distante, um garoto de cabelos negros que Kyo ainda não tinha visto ficou com a do meio.

Todos se trocaram e se deitaram, ainda comentando a festa, Kyo não sabia se queria se ela durasse mais ou acabasse de vez. Pensou em comentar com Tiago sobre o quão boa estava a comida, mas dormiu antes de ter alguma chance.

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