Entre razões e emoções
A aula de Defesa Contra as Artes das Trevas foi super macabra.
Pelo menos no julgamento de algumas pessoas, como por exemplo, Lily, que ainda tentava digerir a história de convite para o baile de James para Marlene, e para Sirius, que não conseguia entender o repentino interesse de James pela garota. Estavam todos tão quietos que o professor começou a achar suspeito e, como todo professor desconfiado, parecia alerta a qualquer possível ataque surpresa no meio da aula. Por fim e finalmente, a aula acabou, ao mesmo tempo em que várias barrigas roncaram de fome: Já era hora do almoço.
- Credo, acho que estou com um diabrete da Cornuália no meu estômago – Emmeline segurou a barriga, como se tentasse fazê-la parar de roncar. – Será que eles conseguem atravessar a pele e fazer bagunça dentro da gente, como os zonzóbulos? – Ela parecia pensar sobre o caso, mas balançou os cabelos dourados, afastando a idéia. - Pelo pote de ouro no fim do arco-íris, vamos comer?
Ninguém respondeu. Lily estava virando a cara para Marlene, que estava envergonhada demais para falar qualquer coisa, e Dorcas ainda estava de mal com a amiga pelo teatro sobre sua paixonite por Edgar Bones. A loira revirou os olhos.
- Credo de novo, como as pessoas são amargas! Acho que vou jogar um pouco de pó da felicidade em vocês...
- Que diabos é pó da felicidade, sua lunática? – Dorcas deu um guincho de impaciência.
- Em primeiro lugar, obrigada pelo lunática... Sabe, a Dama Branca da Lua é a deidade que...
- Ah, cala essa boca, Emme...
- Em segundo lugar... – Emmeline não pareceu acatar a ordem – Pó da felicidade, sua ignorante e nada espiritualizada, é o que os gnomos lançam no ar quando presenciam uma situação de estresse, como essa agora... – A menina fechou os olhos, se concentrando. - Desejo um gnomo do bem aqui, agora, para jogar pozinho na cabeça oca de Dorcas...
- Gente, vamos comer logo, a fome está fazendo Emme ficar mais doida do que ela já é no habitual– Marlene comentou tristemente.
- Vão vocês, eu preciso fazer uma coisa antes... – Lily mirou as amigas, como se esperasse que elas se retirassem da sala.
Antes que qualquer uma das três garotas contestasse suas palavras, Edgar Bones se aproximou delas. Dorcas sentiu aquele velho aperto no peito ao vê-lo e temeu que Emmeline soltasse alguma de suas gracinhas, já que parecia que a fome dava mais asas a sua imaginação. O belo rapaz de cabelos castanhos sorriu para todas elas, mas foi com Emmeline que ele falou.
- Oi, Emme, posso te fazer uma pergunta?
- Claro! Se for “quer almoçar” eu já digo desde já que sim... – A loira riu, mas nenhuma das amigas a acompanhou.
- Bom, já entendi que está com fome, mas é muito rápido... – Edgar a mirou profundamente .– É que eu preciso perguntar logo, antes que eu perca a coragem...
- Ah, sim? – Emme franziu a testa. Dorcas apurou os ouvidos. – Então, pode dizer...
- Ah... – O rapaz sorriu e mordeu o lábio ao fazê-lo. Dorcas delirou, ele ficava irresistível com aquele sorrisinho torto. – Você... Já tem companhia para o baile das Boas-Vindas?
- Ainda não, por quê? - Emmeline franziu o cenho com a pergunta. Dorcas ficou alerta.
- Quer ir comigo ao baile?
Lily e Marlene puderam ouvir o coração de Dorcas de despedaçando, como uma imensa janela de vidro fino sendo atingida por um pedregulho. Emmeline engoliu seco, olhando para a amiga ao seu lado, que sentiu vontade de sair correndo.
- Bom... – Emmeline não parecia saber o que dizer. – Eu...
- Por favor, Emme... Pensa com carinho no meu convite! – Edgar piscou meigamente. – Eu queria te fazer companhia no baile de Natal, mas o McDougal da Corvinal foi mais rápido que eu...
“Eu não acredito que ela ainda está pensando em aceitar!” Dorcas pensava, ao ver que a amiga estava realmente cogitando a hipótese de acompanhar o seu queridinho ao baile.
Mas, para Emmeline, aceitar ou não, na realidade, era o que menos importava. É que ela esperava o convite de outro. Correu os olhos pela sala e se deparou com Remus. Parecia, por um momento delirante, que o rapaz correria até ela e gritaria "Não! Não aceite! Vá comigo ao baile, Emmeline Vance!"
Mas ele não fez nada. Só desviou o olhar do dela. Emmeline então encarou seus sapatos, sem coragem de olhar para o rosto bonito de Edgar.
- Eu... Posso te responder daqui a pouco? – Emmeline sorriu sem graça.
- Claro, contanto que diga sim... – Edgar pegou delicadamente a mão da menina, dando um beijo doce na mesma.
Do outro lado da sala, Remus observava de canto de olho, incrédulo, a cena. Deixou o queixo cair, piscando várias vezes para tentar assimilar. Havia evitado o olhar dela, mas daí a ver Edgar a cortejando... fora demais até para ele.
- Cara, vai deixar? – Sirius cutucou o amigo, que percebeu que não era o único a presenciar aquele convite. – Vai lá, Remus! Convida a Emme para baile! Não seja otário como eu, que deixei o Jay convidar a Lene primeiro...
- Eu não vou convidar ninguém! – Remus lançou um olhar furtivo para o amigo. – Deixa, Edgar é um cara super legal, garanto que ele não vai magoar a Emme.
- Está brincando! Remus, você gosta dela e...
- Gosta de quem, Remito? – James se meteu na conversa com um sorriso malicioso no rosto.
- De ninguém! – o garoto deu um gritinho nada típico dele. – Me deixem em paz, falou?
Remus saiu apressado da sala, com a cabeça baixa, extremamente chateado. Emmeline era a garota dos seus sonhos, mas... Como poderia dizer isso a ela? Era um lobisomem, não podia se dar ao luxo de querer uma garota tão excepcional como ela, ainda mais quando metade da população masculina de Hogwarts tinha a mesma opinião que a sua a respeito da garota. Deu uma última olhada para o lado de Emmeline, que estava ligeiramente corada e nitidamente evitando o olhar de Edgar. Seus olhos encontraram novamente os do menino, e se demoraram um pouco naqueles olhos azuis. Por um momento, os dois se encararam, mas Remus, como sempre, logo desviou o olhar e saiu da sala, deixando Emmeline mais constrangida ainda.
- Certo, depois então quero sua resposta – Edgar insistiu. – Agora, pode ir almoçar...
- Claro... Pode deixar... – Emmeline sorriu, virando as costas e saindo da sala sem esperar as amigas.
Marlene e Lily se entreolharam perplexas. Dorcas estava cabisbaixa e quase digna de pena.
- Perdi a fome, meninas... Vou para o Salão Comunal, encontro vocês na próxima aula. – a menina saiu da sala sem dar maiores explicações.
- Não, Dorcas! – Lily tentou inutilmente, mas a amiga já estava correndo pelos corredores.
- Eu não acredito que a Emme ainda está pensando mesmo em ir com o Bones para o baile! – Marlene balançou a cabeça, incrédula. – Sabendo que Dorcas gosta dele...
- Pois é, não é, Marlene... Essas amigas de hoje são assim, não se importam com as melhores amigas e saem aceitando os convites dos garotos que elas gostam...
Marlene arregalou os olhos. Depois, para maior irritação de Lily, caiu na gargalhada.
- Eu sabia! Você gosta do Jay!
Lily corou.
- Cala a boca! Não gosto nada!
- Então, não se importa que eu vá ao baile com ele, não é?
- Estou pouco me lix...
- Leninha? – James chegara perto das duas, fazendo Lily corar ainda mais. – Você está indo para o Grande Salão almoçar?
- Estou sim, Jay! – Marlene tentava parar de rir.
- Ah, sim... Posso te acompanhar? Queria conversar mais com você... – Ele piscou para a menina. - Saber a cor do seu vestido para saber a cor do buquê que devo comprar e coisas assim.
- Claro! Acho que Lily não se importa... Não é amiga?
Silêncio. Lily olhou de Marlene para James com uma vontade enorme de bater nos dois.
- Claro que não. – Falou, depois de alguns segundos e de muita má vontade.
- Ótimo! Vem, minha flor... – James estendeu a mão para Marlene e os dois saíram da sala, dando risinhos irritantes.
Lily esperou ambos saírem para extravasar toda sua frustração. Ao vê-los sumindo, jogou-se numa cadeira, decepcionada. Fitava o chão, tão chateada, que nem percebeu que Sirius ainda estava ali.
- Lily... – Ele se aproximou, sentando ao lado da ruiva. – Eu sei que você não vai com a minha cara e tal... Mas, não que eu queira me meter na sua vida... Eu percebi que você não ficou muito feliz com o convite do James para a Marlene...
Lily levantou os olhos para olhar o garoto. Estava tão chateada que viu ali uma oportunidade de desabafar, mesmo que Sirius não fosse um exemplo perfeito de conselheiro amoroso.
- Pois é... – suspirou a garota. – Eu... Sei lá! Eu tenho uma raiva tão grande do Potter, mas estou decepcionada por ele não ter me convidado... Também, Lene é mais simpática com ele do que eu, isso eu entendo... Eu nunca fui muito legal com ele.
- E eu nunca fui muito legal com ninguém... – Sirius se lamentou, fazendo Lily fitá-lo curiosamente.
- Como?
- Sabe, Lily... Eu sou um idiota. Às vezes acho que faço tudo errado. Lene é a garota mais fenomenal que eu conheço, mas eu não consigo parar, sossegar o rabo, sabe? Sei lá, deve ser fisiológico...
Lily segurou um riso ao ouvi-lo.
- Jay fala que eu sou um cachorro sem dono, que abana o rabo para todo mundo... Isso pega mal à beça, mas eu acho que ele está certo.
- Pega mal, mesmo! – Lily não agüentou e riu.
- Mas ele também sofre comigo, pode ter certeza... – O rapaz deu um riso maléfico.
- Imagino... Sabe, eu acho muito lega a amizade de vocês... Estão sempre juntos e se apoiam...
- Assim como você e as suas amigas, não é? Acho que temos a mesma filosofia: Amigos vêm primeiro.
- Isso mesmo! – Lily fez sinal de positivo. – É... Você parece ser mais legal do que eu pensei... Estou até me sentindo mal de ter falado mal de você pra Lene...
- Ah, não esquenta! Eu mesmo já dei motivos suficientes para Marlene me odiar...
Lily deu um sorriso meio amargurado. Sabia que na verdade a amiga não conseguia tirar Sirius da cabeça. E agora ela entendia porque. Nem passou dez minutos conversando com ele, e o rapaz já a fizera sorrir. Além disso, Lily reparava como era bonito: os olhos acinzentados, realçados pelos cabelos negros, um sorriso de garoto que não vale nada, mas é perfeito ainda assim.
- Lily... – Sirius parecia ter acabado de ter uma epifania, que pelo risinho estampado no rosto, não era nada boa.
- O quê?
- Tive uma ideia! Vamos juntos ao baile, que tal? Aposto que James vai querer comer meu fígado na ceia...
- E Marlene vai querer minha cabeça em uma bandeja... – Lily ficou- pensativa - Adorei a ideia!
Enquanto isso, no Salão Comunal da Grifinória, Dorcas entrava através da passagem aberta pela Mulher Gorda, ainda de cabeça baixa. Só levantou os olhos ao se aproximar das escadas, mas desistiu de subir, ao ver que Remus estava sentado numa poltrona, sozinho, observando o crepitar das chamas na lareira. Sentiu um impulso de falar com ele. Dos quatro Marotos, Remus era o que Dorcas mais gostava, inclusive, tivera várias vezes conversas realmente legais com ele. Se sentiu na obrigação de ir falar com o rapaz. Se aproximou lentamente, sentando-se ao seu lado.
- Esperando alguém se materializar nas chamas? – brincou, incerta.
- Ai... – Remus parecia assustado. – Desculpa, Dorcas! Nem te vi chegar!
- Vixi, você e Emme são iguais, parecem que vivem no mundo da lua!
Remus riu sem graça. As palavras “Emme” e “lua” na mesma frase o fazia tremer em dobro.
- É, estou meio distante... E você, sem fome?
- Perdi a fome...
- Somos dois...
- O que te fez perder a fome, Remus?
- Ah... – ele mirou a menina, com uma vontade louca de falar, mas se segurou. – Eu ainda não tenho companhia para o baile, acho que não tenho muita sorte com as garotas, sabe?
- Ih, amigo... – Dorcas estendeu a mão. – Toca aqui, somos dois! Eu também estou no mesmo barco... Sabe, eu me sinto o pato feio do grupo...
- Eu também... – Remus mirou Dorcas com uma ruga na testa. Aquela garota era linda, não entendia o motivo do comentário. – Mas Dorcas... Você é linda, garanto que ainda vai receber algum convite.
- Não, não... Remus, é sério... Eu não vou. E desculpa, mas... – ela o mirou de cima a baixo. Remus era um rapaz muito bonito em sua opinião. – Eu acho você um gatinho! Não deve ter companhia porque não convidou nenhuma garota.
Remus não estava muito disposto a discutir, mas adorou o elogio. Apenas tentou sorrir, como se consolasse a menina e demonstrasse que estava feliz por seu comentário, mesmo que não fosse muito sincero. Por um momento, entendeu que aquele convite de Edgar para Emmeline também a fizera entristecer. Então, estavam realmente no mesmo barco.
Foi quando Remus teve uma idéia. “Isso é loucura! Nem pense!” pensou. “Ah, fala sério! É só um baile e estamos na lua minguante!” estava em conflito interno. Olhou novamente para Dorcas, agora olhando para as chamas também. Respirou fundo. Juntou toda a coragem que tinha e soltou sem pensar.
- Gostaria de me acompanhar ao baile, Dorcas?
A menina o mirou, arregalando os olhos. Não falara sua última frase esperando um convite, mas lhe pareceu tão sincero que sorriu, afinal.
- Ora! Seria um prazer, Remus! Vou escolher meu vestido mais bonito para acompanhar o garoto mais bonito!
Remus sorriu, timidamente. Era mais fácil do que pensava. Sempre achou que as garotas o esnobavam, ou que tivesse escrito na testa “Cuidado: lobisomem”. De um abraço em Dorcas, e beijou a bochecha da menina, que corou. Na mesma hora, Emmeline entrava no Salão Comunal, indo encontrar a amiga para explicar o ocorrido, e viu aquela cena. Ficou chocada.
- Ah... cof-cof... – tentou chamar a atenção. Remus e Dorcas a miraram. – Dorcas...? Eu... Er...?
- Ah, Emme! – Dorcas sorriu, triunfante. – Sobre aquilo... Esquece! Estou muito feliz para discutir, acabei de receber um convite para o baile!
Remus corou, olhando para Emmeline. A menina loira o mirou, com um sorriso sem graça. Seria possível? Lembrou-se do que Marlene havia dito, que ele andava olhando para a direção de uma das duas, e agora, sentia uma ligeira tristeza: era de Dorcas que ele gostava. E pelo visto, a amiga estava bastante contente com o convite.
- Que bom... – Emmeline tentou parecer feliz – Eu aceitei o convite do Ed. – Mentiu, não havia aceitado ainda, mas agora, era questão de honra ir ao baile com Edgar Bones.
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