E lá vamos nós outra vez...

- ACORDEM!
　　　Um gritinho agudo e eufórico, quase cantarolado ecoou pelo dormitório feminino da Grifinória.
　　　- Quê?! Mas que...
　　　- Louca...!
　　　- Quem é essa desvairada...?
　　　-ACORDA GENTE! – Emmeline Vance gritou de novo, com um sorriso bobo no rosto, pulando de cama em cama.
　　　- Eu juro que hoje vou começar o último ano fazendo aquilo que eu desejei fazer nos últimos seis anos...– Dorcas Meadowes murmurou colocando o travesseiro no rosto. Quando voltou a falar, sua voz estava abafada. – Eu vou dar uma porrada nessa garota!
　　　- Sem agressões, Dork – Emmeline puxou o travesseiro do rosto da amiga – Paz, amor e magia, amiga!
　　　- Emme, só em nível de conhecimento... por que raios está gritando? – Lily Evans esfregava os olhos, bocejando.
　　　- Que horas são, sua lambisgóia loira? – Marlene McKinnon tentava levantar, mas parecia sem forças até para localizar o relógio. Ficou tateando com sua mão por cima da mesinha de cabeceira incoerente, até Emmeline dar um tapa de leve em sua mão.
　　　- É hora de acordar, Lene, para ouvir a última! Ou melhor... A primeira do sétimo ano! – comunicou, pulando de joelhos na cama da amiga, que no impulso, sentou-se. – e Lily... Estou gritando porque estou eufórica! Adivinhem por quê?
　　　- Ah... – Lily também se sentou na cama, os olhos eram duas fendas e sua testa estava franzida de raiva pelo modo delicado como fora acordada. – Deixe-me pensar... hoje é o primeiro dia em 3.000 anos que Júpiter retorna à casa de Gêmeos, enquanto Plutão se alinha com Mercúrio, na casa de Virgem, com ascendente em Escorpião?
　　　- Não... – Dorcas corrigiu, ainda deitada, com o braço cobrindo o rosto. – Hoje é o dia que Marte e Vênus estão alinhados, num ângulo de 90º em paralelo à lua, ficando exatamente perpendicular à casa de Aquários...
　　　- Ih, vocês levaram bomba na aula de Adivinhação! – Marlene comentou divertida, finalmente localizando o relógio que procurava.
　　　- Isso é Astrologia, lesada... – Dorcas retrucou friamente e Lily riu sozinha.
　　　- Vocês não estão tentando adivinhar, demente? – Marlene revidou e Lily riu mais ainda.
　　　- Ah, verdade, faz sentido... – Dorcas tirou o braço do rosto e foi se levantando, pensativa.
　　　- Nada disso! – Emmeline balançava a cabeça freneticamente, mal cabendo em si de emoção. – Hoje é o primeiro dia de lua cheia do mês, ou melhor, do ano letivo!
　　　Emmeline ficou olhando para as amigas, como se esperasse delas um “aê!” mas Lily, Marlene e Dorcas, na verdade, ficaram se entreolhando, tentando entender o motivo de tanta euforia pela lua cheia . Três pares de olhos avaliavam a competência mental da garota. Está certo que Emme era meio exótica, mas nunca mostrou interesse pelas fases da lua, não a ponto de acordar as amigas aos berros em plena madrugada.
　　　- Está explicado... – Dorcas foi a primeira a quebrar o silêncio sepulcral que se abateu, olhando para as outras duas amigas. – Dessa vez é caso de St. Mungus, não adianta mais negar... – e virou os olhos para a loira novamente, incrédula, meneando negativamente a cabeça.
　　　- Emme, meu bem...– Lily sorria sonsamente, com falsa compreensão. – Só por causa de uma lua cheia, você nos acorda às... – ela tentava ver as horas. – Que horas são mesmo?
　　　- 4:30 da manhã... – Marlene respondeu prontamente.
　　　-...Às 4:30 da manhã... Obrigada Lene...
　　　- Por nada, disponha...
　　　- ...Aos berros? – Lily completou seu raciocínio. – É nosso primeiro dia no sétimo ano! Enfrentamos o Expresso ontem, a seleção dos primeiranistas... E eu particularmente, enfrentei a cara feia de idiota da minha irmã dizendo que sou uma anormal... Estou morta de cansaço, sabe?
　　　- Engraçado, eu ia mesmo perguntar o mesmo que Lily... Mas ia fazer assim: Está louca, sua maluca oxigenada, me acordar às 4:30 da madruga por uma merda de lua cheia? – Dorcas expôs seu ponto de vista.
　　　- Ou isso... – Lily concordou com Dorcas – Escolhe qual das duas você vai responder...
　　　- Liberdade de escolha! Democracia! – Marlene bradou solenemente. – Você não adora isso, Emme?
　　　- Nossa, acho que só eu penso aqui... – Emmeline ficou ofendida com a ignorância das amigas – Eu explico então... Lembra que estamos há seis anos querendo saber o que acontece na lua cheia, para que do nada, Potter, Black, Lupin e Pettigrew sumam?
　　　- Oh, não... – Lily se jogou de bruços na cama, mal-humorada – E lá vamos nós outra vez... Pelo sétimo ano seguido...
　　　- De novo essa história! – Marlene fechou a cara.
　　　- Caraca, Emme, de boa... Bicho... Acho que você não tem mais o que fazer... – Dorcas tacou um travesseiro na loira. – Aposto que gastou as férias pensando “como eu vou perturbar a primeira noite das meninas, mesmo?”
　　　- Será que podem me escutar? – Emmeline tentava completar sua linha de raciocínio. – Agora é sério! Eu fiquei acordada hoje! E vi... Os quatro... Saindo... – ela falava com ar de suspense. – No primeiro dia em Hogwarts... Só pelo fato de ser lua cheia...
　　　- E por que não foi com eles? – Lily falou abafado, pois estava com seu rosto afundado na cama
　　　- “Hellou”! Porque eu estava escondida... Argh... Que pergunta! – ela respondeu como se fosse algo óbvio. – Então, eu os vi saindo! Não é estranho? Não, porque chegamos ontem e...
　　　- Emme, vai dormir, vai... – Lily voltou a falar abafado. – Sua obsessão por Remus Lupin já está ficando doentia.
　　　Emmeline deixou seu queixo cair estarrecida pela declaração da amiga. Se tivesse um pouco mais claro o recinto, elas perceberiam que a bela loirinha estava ruborizada. Era verdade mesmo, por seis anos Emmeline Vance tomou por meta de vida descobrir os mistérios daquele comportado e tímido menino, Remus Lupin, mas anos de pesquisa vinham sendo frustrados constantemente. Resolveu então fingir-se indiferente e enfiar o dedo na ferida de Lily. Afinal, se você tem teto de vidro, não atire pedra no telhado do coleguinha.
　　　- Oras, aposto que no fundo você gostaria de saber onde seu namoradinho anda...
　　　- Repete isso e te faço dormir por mal... Talvez nem acorde! – Lily virou o rosto com raiva para fitar Emmeline.
　　　- Ah, lily, não precisa fazer cena, estamos só nós quatro por aqui... – Marlene deu uma risadinha baixa e começou a cantarolar uma música improvisada – Potter e Evans... Se amando... Na sombra da laranjeira... Beijando na boca...
　　　- Sua mãe vai bem, não é, Lene? – Lily se levantou, sentando na cama com cara de tédio.
　　　- Não tão bem quanto a sua quando descobrir que será sogra de James Potter...
　　　- Ô, Lene... – Dorcas levantou a mão e a agitou, como se pedisse atenção. – Se eu fosse você, calaria a boca... Afinal, não foi bem a Lily que pegaram no maior amasso com o Black...
　　　- Ai, como você é má! Tinha que tocar nesse assunto! – A menina corou na hora. – Sabe que eu sempre gostei do Sirius...
　　　- E que ele só te beijou porque é um cachorro... – Dorcas completou, friamente.
　　　- E porque ele já pegou todas as garotas de Hogwarts, exceto Lily, Dorcas e eu... – Emmeline parecia tentar lembrar-se de mais alguma que Sirius não tivesse tocado – Acho que Alice também... E as feiosas e as da Sonserina...
　　　- E por que ele, assim como sua trupe, não vale nada...E quanto às Sonserinas... Eu não afirmaria isso, não... – e Lily completou a sessão “massacrem a Lene” da noite.
　　　- Que amigas! Quem precisa de inimigas com vocês? Obrigada, acabaram com meu sono! – Marlene afundou o rosto no travesseiro
　　　- Oh, amiga! – Lily olhou Dorcas e Emmeline , mas as garotas deram com os ombros – A gente sempre avisou que Black não era boa coisa...
　　　- Mas eu gosto dele! – Marlene contestou.
　　　- Mas esquece!
　　　- Não dá!
　　　- Arre! – Dorcas deu um gemidinho, balançando seus cabelos castanhos, impaciente. – Para com essa sacanagem agora, Lene! Onde já se viu uma poderosa assim, pra baixo?
　　　- Onde? Aqui... Bem na frente de vocês – a morena não parecia querer mais conversar com as amigas e virou-se para o outro lado.
　　　- Falando no Potter... – Lily comentou tentando parecer indiferente. – Estranho ele não ter falado com a gente ontem, no Expresso... Não acham? Black é um metido mesmo, mas ele, Potter, sempre falou conosco.
　　　- Ué? Comigo ele falou, na estação ainda! – Dorcas franziu a testa e virou-se de Emmeline para Lily, confusa. – Com vocês não?
　　　- Comigo também ele falou – Emmeline disse para Lily, enrolando uma mecha do cabelo loiro distraidamente com o dedo. – Ele falou logo quando a gente entrou, não foi Lene?
　　　- É, eu estava com a Emme... ele falou com a gente e depois sumiu com aquele... puff... aquele cachorro sarnento do Black – Marlene disse quase sem voz, ainda chateada.
　　　- Mas e essa...? – Lily arregalou os olhos. – Então foi só comigo que ele não falou?
　　　- Sentiu falta? – Dorcas alfinetou. – Você o mandou mil vezes nunca mais te dirigir a palavra, vai ver ele obedeceu. Arrependida?
　　　- Claro que não! – Lily alterou o tom de voz para um quase grito. – Por mim, ele que se dane... Que nunca mais me dirija a palavra mesmo, me faz um favor!
　　　- Ah, a gente sabe... Você o odeia mesmo – Emmeline piscou para Dorcas, que riu debochadamente.
　　　- Ei! – Ouviu-se uma quinta voz vinda do outro canto do dormitório – Será que a conversinha poderia esperar pelo menos até o amanhecer?
　　　- Uia! Foi mal, Alice... – Emmeline deu uma tapinha na boca. – A gente não faz mais, juro – e voltou-se para  cochichar com as amigas, assim que viu a menina voltar a deitar. – É, mas quando ficou se esfregando com o Longbottom até meia-noite e meia, ela não estava com tanto sono assim...
　　　E as meninas, incluindo Marlene que parecia até ter esquecido as provocações, caíram no riso, fazendo Alice Prewett dar um chiado no outro canto daquele recinto.

Sempre fora assim. Lily Evans, Dorcas Meadowes, Emmeline Vance e Marlene McKinnon eram as melhores amigas que o Dormitório Feminino da Grifinória já tivera registro. Foi amizade à primeira vista.
　　　Desde o primeiro ano, as quatro garotas eram inseparáveis. Já estavam juntas pelo sétimo ano consecutivo, se conheciam umas as outras como ninguém. Eram consideradas as garotas mais bonitas da Escola, o que as tornavam muito populares, tanto que foram intituladas as “Adoráveis Poderosas” por James Potter e o apelido virou o nome oficial do quarteto. Na verdade, elas eram as únicas garotas de Hogwarts que não se derretiam pelos “Marotos”, os quatro garotos, que como elas, eram os mais populares de Hogwarts. Viviam mais em clima de guerra com eles.
　　　Está bem, na verdade, não era bem assim...

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