Superprotegida



Frank Longbottom encarava a namorada como se nunca a tivesse visto antes. Piscava os olhos várias vezes, talvez na esperança de que em alguma dessas piscadas, ao reabrir os olhos, a garota desse uma daquelas suas risadinhas de “mensageiro dos ventos” e dissesse “A-ha, Frank! Te peguei!”.
            Mas Alice Prewett, a tão pequena e frágil Alice, estava séria. Séria demais para ela. Tudo bem que as últimas horas não tinham sido as melhores de sua vida – perdera o irmão, tivera pesadelos terríveis, guardava um segredo que a consumia... – mas, daí a brincar com algo tão sério, isso nem Frank, que já estava acostumado com suas teimosias, conseguia engolir. Ela mantinha-se em silêncio e ele não sabia mais o que falar.
            - Alice, você está brincando, não está? – disse ele, afinal.
            Alice suspirou profundamente, absorvendo um pouco de paciência. Sua vontade era gritar, mas não ajudaria muito naquela hora. Tinha momentos que a calma de Frank a irritava.
            - Olha para mim e responda se eu estou com cara de quem está brincando – ela respondeu, seu rosto delicado estava duro.
            O rapaz balançou sua cabeça, fazendo que não. Depois, sua expressão pasma deu lugar a uma careta quase raivosa.
            - Sem chances! – ele rosnou.
            - Como é, Frank? – Alice ergueu uma sobrancelha, estarrecida. Ela havia escutado mesmo aquilo?
            - Não! Nunca! – ele sacudiu as mãos a sua frente. – Você não vai se afiliar a Ordem nenhuma!
            Alice descruzou os braços, deixando seu queixo cair. Deu um riso sem humor. Dessa vez, ela era quem esperava ouvir dele “Ah! Brincadeirinha, amor!”. Mas isso não aconteceu e Frank, o sempre tão calmo e pacifico Frank, estava revoltado.
            - Não vou deixar! – ele completou.
            - Frank, o que é isso? – Alice sussurrou, sem entender a reação dele.
            - Você tem ideia do que aquelas pessoas combatem? Sabe o que Fabian, Gideon e todos os outros enfrentam? Eles não estão lidando com vampiros do sótão não, Alice, eles estão guerreando com Comensais da Morte, bruxos das Trevas, afiliados a Você-sabe-quem!
            - Eu sei disso, mas...
            - Sabe? – ele a interrompeu, irado. – E ainda assim fala uma besteira dessa?
            Alice estava tentando lembrar como se fazia para fechar a boca, mas a cada nova palavra de Frank, isso parecia cada vez mais difícil.
            - Como besteira, Frank? Você mesmo não vai se alistar? Não é essa sua intenção assim que colocar seu pezinho para fora da Escola?
            - Isso é diferente! – ele grunhiu. – Eu vou, mas você não!
            Por essa, Alice não esperava. Frank nunca sequer ousou detê-la em qualquer coisa – até porque dificilmente ele conseguiria, já que ela sempre fora um vulcão prestes a entrar em erupção, ninguém a detinha mesmo. Mas, agora, ele resolvera bancar o macho alfa da relação e impor sua condição de sexo forte para ela.
            - E desde quando você manda em mim, Frank Longbottom? – Alice o encarou duramente, havia tom de desafio em sua voz sempre doce.
            - Desde quando eu corro o risco de te perder! – ele gritou. Frank perdera a cabeça, essa era uma grande novidade. Ele tinha a face vermelha de raiva e parecia prestes a amarrar Alice, se fosse preciso. – Desde quando eu não posso nem te imaginar lutando contra aqueles... aqueles... malditos! Não você, Alice, não você!
            Frank parou de falar e sua respiração estava falha. Ela não sabia mais o que dizer. Alice sempre teve aquela aparência de quem precisa de proteção extra, estava acostumada com a proteção dos pais, do irmão e até mesmo de Frank, mas nunca precisara realmente disso. Era uma boa bruxa, sabia disso. Sempre foi boa em Feitiços, Defesa Contra as Artes das Trevas, Duelos... Aquela preocupação dele era descabida.
            E somava-se a isso seu sonho na noite anterior. Não quisera comentar com ele sobre o que sonhara, mentira para James e Lily, dizendo que era apenas sobre ter visto como seu irmão fora morto, sabia que Frank tinha certeza de que ela estava mentindo e, ainda assim, não contara o que realmente tinha a aterrorizado a ponto de acordar gritando. Sabiamente, decidiu que aquela não era a melhor hora para falar sobre isso também.
            Ela então se aproximou do namorado e o abraçou, sem dizer mais nada. Frank não sabia muito bem lidar com emoções estressantes, ele precisava de apoio moral. Ele a envolveu, geralmente Alice sumia quando ele a abraçava, e isso sim, a dava a sensação de superproteção, como se nada, nem ninguém, a pudesse fazer mal enquanto estivesse ali com Frank. Ela só precisava dele para ser mais forte que nunca. O rapaz acariciou seus cabelos, a apertando contra si.
            - Eu não posso nem pensar em ver você sofrendo, Alice. Eu ficaria louco se algo de ruim acontecesse a você! – disse ele, num murmúrio digno de pesar.
            Alice engoliu seco. Dessa declaração tirou uma conclusão e prometera a si mesmo que aquele sonho que tivera nunca seria contado a Frank.
            - Frank, eu estarei onde você estiver, e não há nada que você possa fazer para mudar isso – a menina sussurrou, a voz voltara a ser aquela seda de sempre. – Não importa onde você esteja, eu terei que estar ao seu lado, porque sem você eu sou incompleta, lembra?
            Ele desistiu de rebater qualquer coisa que ela o dissesse. Apenas a abraçou mais forte, tentando dizer com aquele abraço que ela era sua vida, tudo o que importava a ele.


Hestia Jones e Rachel Clearwater levantaram-se da mesa da Corvinal, andando juntas e em silêncio para saírem do Salão Principal. Rachel adorava o espaço que Hestia a dava. A amiga sabia respeitar seu silêncio, sua necessidade de meditar sobre sua vida sozinha e, quando precisava desabafar, sempre estava lá pronta para ouvi-la. Às vezes pensava que não merecia uma amiga como Hestia, mas agradecia às forças superiores por tê-la ali.
            - Ai! – Hestia gemeu animada ao seu lado. Mordia o lábio inferior quando a olhou. – Nossa próxima aula é com a Lufa-Lufa! Eu vou ficar com o Ben! Você não se importa se eu sentar com ele, não é?
            A menção da palavra “Lufa-Lufa” fez Rachel estancar no caminho. “Oh, não” pensou ela, e Hestia a olhou confusa.
            - Desculpa, eu digo a ele então que vou ficar com você – a menina tratou de redimir-se.
            Rachel ficou parada por mais uns instantes, depois piscou e sacudiu as mãos e a cabeça, embasbacada.
            - Não, não é isso... é... Tia, não! Imagina, você e Fenwick estão se conhecendo, vá ficar com ele... eu... não me importo... que isso!
            Hestia fitou a amiga por um momento. Rachel desviou os olhos para os seus tênis, sem ter coragem de olhá-la de volta.
            - Ray – Hestia sussurrou. Rachel levantou os olhos, envergonhada. – Eu quero que você conte comigo se precisar desabafar. Sei que já te disse isso hoje, agora a pouco, mas só reforçando a informação, certo?
            Rachel sorriu. Ela e a amiga continuaram o caminho até a próxima aula sem mais conversas. Chegaram no seu destino, juntamente com os demais alunos do sétimo ano da Corvinal, que agora se misturavam com os também formandos da Lufa-Lufa. Hestia correu os olhos, ansiosa, até avistar os cabelos dourados de Benjamin Fenwick. Ele a viu também e acenou. As bochechas da menina ficaram ainda mais vermelhas.
            - Vem, Ray! – Hestia puxou Rachel pela mão, seus cabelos negros e cumpridos voaram, batendo do rosto da outra, fazendo-a rir, inclusive. Rachel não tinha muita vontade de rir nas últimas horas, mas aquele jeito tão fofo e meio impulsivo de Hestia a dava ânimo.
            Benjamin exibia um lindo sorriso, típico seu mesmo. E quando sorria, duas covinhas nas bochechas e seus olhos quase se fechavam. Hestia suspirou antes de chegar mais próximo dele, também dando seu melhor sorriso, aquele que dissipava trevas. Rachel olhou de um para outro, reconhecendo como começava um romance e, dessa forma, rindo pela felicidade quase boba deles. Benjamin e Hestia pareciam ser feitos um para o outro, ambos tão alegres e gentis. Contudo, quando olhou para o lado, seu sorriso se fechou imediatamente.
            - Oi, meninas – Edgar Bones falou em tom baixo e educado.
            - Oi, Eddie – Hestia cumprimentou, depois sem reparar a tensão da amiga, voltou-se novamente para Benjamin. – Ben...
            - Hestia, você está radiante essa manhã – disse ele, pegando a mão delicada da menina. – Na verdade, você sempre está radiante.
            A menina deu um riso bobo e envergonhado. Rachel e Edgar não viram isso, estavam se encarando.
            - Vamos entrar? – Benjamin disse a Hestia e, sem mais demoras, ela o acompanhou.
            Edgar e Rachel, no entanto, não se moveram.
            Depois de um momento em silêncio sepulcral, o rapaz olhou para a entrada da sala.
            - Acho melhor entrarmos agora – disse, e voltou a fitá-la. – Mas, Rachel, eu precisava muito... falar com você.
            Ela separou os lábios, como se fosse falar, mas não emitiu nenhum som. Piscou os olhos e concordou com a cabeça.
            - Está bem, eu também preciso conversar com você – falou, por fim.
            - Podemos nos encontrar depois do almoço? – sugeriu ele.
            Rachel meneou a cabeça. Ele também balançou a sua cabeça e, sem mais nenhuma palavra, entraram para assistir a aula. Nenhum dos dois, entretanto, prestou atenção na matéria do dia.


Os alunos da Grifinória já estava desocupando sua mesa, partindo para seus respectivos afazeres. Porém, Sirius Black não parecia muito apressado para sua primeira aula. Estava olhando para a mesa da Sonserina. James Potter, Remus Lupin e Peter Pettigrew, que estavam mais próximos dele, repararam isso.
            - Almofadinhas – James sussurrou ao seu lado. – Vamos nessa, temos aula agora...
            - Não, vão vocês... – ele rebateu na hora. – Eu estou logo atrás de vocês.
            Os outros três se entreolharam. Sirius desviou o olhar para eles, incrédulo.
            - Nossa, vocês não confiam mesmo em mim, não é? Pode consultar o Mapa do Maroto, estarei exatamente nos seus calcanhares!
            James deu de ombros de Remus suspirou.
            - Sirius, não vá arrumar mais enc...
            - Aluado – Sirius o cortou sem piedade e com um sorriso ácido no rosto. – Eu agradeço sua preocupação, mas eu não estou para confusões hoje.
            - Ah, eu sei que não – Remus riu debochadamente. – E os Duendes de Gringotes vão anunciar greve hoje para exigirem respeito para a classe.
            Agora, foi a vez de Sirius, James e Peter se entreolharem. Eles riram entre si.
            - Remus até quando quer ser engraçadinho é “nerd” – James disse em tom de pesar.
            Sirius gargalhou junto com James e Peter, fazendo Remus ficar ruborizado. Depois, despediu-se dos amigos, colocando seus olhos novamente na mesa verde e prata.
            Onde seus olhos claros apontavam, dois olhos negros também o fitavam. Regulus Black, seu irmão mais novo, tinha expressão de quem tomara limonada sem açúcar enquanto se levantava de seu assento. Sirius o observou erguer-se e o imitou. Pegou seus pertences e deu passos precisos até encontrar o irmão mais novo. Regulus tinha um brilho estranho nos olhos negros.
            - Mamãezinha brigou com você, foi? – Sirius debochou.
            Regulus deu uma risada sarcástica.
             - Eu não sou um traidor do sangue fedorento como você, Sirius. Minha mãe tem orgulho por eu defender a moral da nossa família.
            - Uau, que moral a família tem!
            - Vai caçoando Sirius. Vamos ver quem vai rir por último.
            - Hã... Regulus, seu idiota, você é muito fraco mesmo, sabia?
            Regulus o olhou com mais raiva. Seus dedos se fecharam com força contra os punhos.
            - Como ousa, seu...!
            - Claro que é um fraco! – Sirius repetiu. – Olhe para você, nem tem idade para discernir o que é certo do é errado e fica por aí fazendo pose de “oh, eu sou do mal”, é muito idiota mesmo!
            - Eu sei exatamente quais são meus ideais, seu porco imundo! – Regulus gritou. Alguns alunos retardatários pararam para vê-los. Com sorte, rolaria outra briga, e briga era sempre uma boa distração.
            - Sabe mesmo, Regulus? – Sirius falou em tom contido. – Pois eu acho que não sabe não, você é só uma marionete a mais nesse teatrinho de fantoches criado pela família Black. Os únicos que realmente sabem quais são seus ideais somos eu e Andrômeda, que, embora seja irmã e até pareça fisicamente com aquela naja de saias da Bellatrix, tem estilo e personalidade própria, a ponto de entender que, se deixasse, seria manipulada também nesse tabuleiro de xadrez, como você está sendo, seu grande babaca!
            Alguns alunos gemeram, sentindo vontade de aplaudir o discurso que Sirius fazia. Esses, claro, não eram alunos da Sonserina. Os dessa casa, porém, estavam prestes a atacá-lo. Uma aluna em específico se aproximou dos dois irmãos, tendo no rosto um sorrisinho de malicia, jogando os cabelos loiros para trás. Narcissa Black colocou a mão delicadamente no ombro de Regulus, olhando com desprezo para Sirius.
            - Não dê ouvidos a ele, Reg – disse a bela loira, medindo Sirius com os olhos. – Fracos são ele e a minha irmãzinha demente que não sabem o que os aguarda se opondo à nossa família. Quando nós estivermos no topo, estivermos com aqueles que governarão o Mundo Mágico, eles se darão conta disso.
            Sirius deu uma risada sem humor. Depois, balançou a cabeça e jogou as mãos para frente, como se estivesse se rendendo.
            - Eu não vou discutir isso com você, priminha, porque pouco me importa seu futuro ou presente. Aliás, vamos combinar, Malfoy que deveria se preocupar com o que você anda fazendo pelos corredores de Hogwarts na ausência dele na escola...
            Narcissa Black ficou pálida instantaneamente. Seus olhos azuis se arregalaram de tal forma que estavam a ponto de saltarem das órbitas. Novamente, a pequena plateia gemeu um “oh!” coletivo.
            - Não sei do que você está falando, seu imundo! – a garota ficou histérica.
            - Claro que não sabe – ele deu uma piscada cínica para ela. – Claro que não.
            Sirius deliciou-se um pouco mais com a expressão de terror no rosto da prima e de confusão no rosto do irmão antes de girar nos seus calcanhares e começar a correr para não perder sua primeira aula. Havia alguém monitorando seus passos, assim como ele estivera monitorando os da prima na noite anterior, antes de dormir.
            Narcissa rolou desoladamente os olhos para encarar Travis Lestrange, que estava parado um pouco atrás dela. Ele também parecia estarrecido com tal acusação feita por Sirius.

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