Ainda vai me amar amanhã?



No meio do corredor escuro, apenas iluminado pela fraca luz do luar que ainda insistia em brilhar lá fora, Sirius e Marlene se beijavam intensamente.
    A mão do rapaz estava entre os cabelos dela, enquanto a menina o apertava contra si, como se tivesse medo que ele saísse correndo ou que ela acordasse daquele sonho. Não era a primeira vez que eles se beijavam, mas dessa vez, havia uma grande diferença: Sirius se declarara.
    Contra tudo e contra todas as amigas, Marlene sabia que por trás daquele garoto metido e arrogante estava o homem da sua vida. Por noites, ela chorou por Sirius, a cada nova garota na vida dele, a cada nova gracinha que ouvia das meninas enlouquecidas pela beleza arrebatadora do rapaz e por sua popularidade. E então, ele estava ali, na sua frente, com uma sinceridade nunca antes percebida no olhar, dizendo que estava completamente apaixonado por ela. Se fosse um sonho, Marlene estava implorando para nunca mais acordar.
    Depois de aceitar o fato de que fora pego pelo cupido, Sirius não conseguia mais esconder seus sentimentos por Marlene. Grande parte disso ele deveria agradece a Remus, que desde sempre fora sua luz. O que sentia por Amanda não era nada além de atração física, já que a garota era simplesmente linda. Não que Marlene não fosse linda, porque ela o era, e talvez mais linda que Amanda, mas Sirius não conseguia vê-la como uma garota qualquer. Marlene era especial, perfeita. Perfeita até demais para ele. Contudo, ela, aquela garota que qualquer cara daria um braço para ter ao lado. Ela o escolhera. Era sorte demais, ele pensava.
    E a Dama se apaixona pelo Vagabundo...
    Marlene sentiu os dedos de Sirius lhe acariciando o rosto, abrindo os olhos para enxergar o rosto perfeito do garoto pelo qual suspirava desde o 3º ano. O sorriso de Sirius era algo inexplicável, a deixava com os joelhos trêmulos. Logo ela, cuja força era a principal característica, perto de Sirius sentia-se como uma garotinha boboca. Ela sorriu, os olhos ainda estavam úmidos.
    - Eu ainda preciso fazer uma coisa... – ele disse, deixando a menina e se inclinando um pouco na sua frente.
    Ela ficou confusa, sem saber o que ele estava fazendo, mas quando entendeu, levou a mão à boca, abafando um quase grito de emoção. Sirius se abaixou, se ajoelhando na frente de Marlene, erguendo o olhar como se fosse um cachorrinho pedindo carinho, e pegou a mão da garota, dando um beijo em seguida.
    - Marlene McKinnon. – ele começou –, você é a pessoa mais linda, meiga e forte que eu já conheci e eu quero poder passar minha vida inteira com você. Quer ser minha namorada?
    Se ela não tivesse chorando tanto, ela poderia até ter respondido mais rápido. Ao invés disso, ela puxou a mão dele, fazendo-o levantar no meio de uma crise de choro e o abraçou forte. Ele acariciava os cabelos compridos da menina, pedindo calma, mas ela continuava soluçando.
    - Eu te peço em namoro e você chora assim? Nossa, é tão ruim assim ser minha namorada? – Sirius brincou, beijando o rosto dela.
    A menina balançou a cabeça, ainda chorando, tentando juntar fôlego para falar algo.
    - Você não sabe, Sirius – falou, entre soluços – o quanto eu sonhei com isso... o quanto eu pedi a Merlin para você me notar, me olhar, me querer...
    - E olha, Merlin te ouviu...
    - Eu sei, mas estou com medo de não ser verdade!
    - Não confia em mim?
    - Você ainda vai me amar amanhã? – ela perguntou olhando-o nos olhos.
    Sirius ficou sério, em silêncio. Marlene sentiu uma pontada no coração.
    - Eu não vou te amar amanhã como te amo hoje...
    - Outch... – Marlene gemeu
    - ... Eu vou te amar ainda mais – ele continuou. – Porque a cada dia que passou até hoje, Marlene, eu pedi aos Céus um motivo para não me apaixonar por você, para não fazer uma garota tão perfeita como você cair na lábia de um vira-lata como eu... mas eu não consegui. Eu te amo cada vez mais, a ponto de ser difícil lidar com isso. Eu nunca fui bom garoto, nunca fui educado ou gentil... Mas o amor está me transformando. Acho que eu entendo James agora. Entendo Remus. Eles estão amando, assim como eu. Eu sei que deve ser muito difícil acreditar em mim... mas estou falando sério, talvez pela primeira vez na minha existência medíocre.
    - Eu acredito... Acredito! – Marlene riu, secando as lágrimas.
    - Então...?
    - Então... o quê? – Ela ergueu uma sobrancelha.
    - Você não me respondeu...
    - Ahh... – Marlene deu uma tapinha na testa. – Mas é claro que eu quero ser sua namorada!
    Sirius abriu um sorriso e abraçou a menina, erguendo-a do chão e rodopiando com ela, fazendo-a dar um gritinho.
    - Sirius! Para! – Ela falou entre risos.
    - Não, não... eu nunca mais vou te deixar! Você vai ter que me aturar para sempre!
    - Até que a morte nos separe?
    - Ah, sim, daqui a uns 100 anos... Que tal?
    - Uh, vamos viver tanto assim?
    - Só se for ao seu lado...

Enquanto Sirius e Marlene viviam seu conto de fadas moderno, Frank acompanhava Alice com os olhos, sentado displicentemente numa poltrona no Salão Comunal da Grifinória. A namorada andava de um lado para outro, apertando as mãos, com um sorrisinho no rosto e nitidamente eufórica.
    - Minerva me disse que Dudy vem aqui amanhã! – ela falou, olhando para Frank
    - Você já disse isso, Alice...
    - Ah, já? – ela fez uma careta – Desculpa, acho que eu tenho perda de memória recente...
    - Eu sei, parece até um deja-vu... – Frank revirou os olhos.
    - Quando eu ver Edward, eu juro que vou chutar aquela bunda magra dele... – Alice tinha um brilho de malícia no olhar.
    - ALICE!?! – Frank fez uma expressão de horror. - Que isso?!
    - Ai, desculpa, amor! – A menina riu inocentemente. – Mas ele precisa aprender a não me deixar preocupada...
    - Mas ele não tem culpa se você teve uma visão.
    Do nada, Alice parou na frente de Frank, imóvel, como se nem respirasse, fechando o sorriso e o olhando atentamente. O rapaz se ajeitou na poltrona, alerta.
    - Que houve, Alice?
    - O que você disse? – ela perguntou, sua expressão era grave.
    - O que eu disse? Sobre o quê?
    - Você disse que eu... tive uma... visão?
    - Mas não foi? Quando aquele bosta do Snape leu a carta em voz alta? Você começou a gritar que seu irmão ia morrer.
    Alice não parecia estar ali, o que começou a deixar Frank seriamente preocupado. O olhar dela estava longe, parecia estar meditando sobre suas palavras, como se fossem de um pensamento muito profundo de algum super filósofo da idade média.
    - Eu fiz isso? – por fim, ela falou.
    - Alice... Você está me assustando... Não se lembra de nada?
- Não, eu não me lembro disso.
    - Como não lembra, Alice! Por Merlin! Você ficou em pânico e eu te levei para Ala Hospitalar! Não me diz que não lembra disso também?
    - Não, disso eu lembro, não estou tão maluca assim também, Frank... – Alice fez uma expressão de decepcionada. – O que eu não lembro é ter tido alguma visão. Como eu fiz isso? Para mim, eu tinha ouvido alguma tragédia na carta, lembro de um mau presságio, eu estava com medo de ler aquela carta. Mas... que tipo de visão foi essa?
    - E eu que vou saber? – Frank deu de ombros. – Você quem viu, como eu vou saber o que foi? Só posso te dizer que você gritou que ele ia morrer, ficou gelada e pálida como um inferi e desmaiou no chão quando aquele saco de batatas do Bletchley te largou.
    Alice olhava para o namorado com os olhos arregalados e sem piscar. Depois, sua expressão se tornou de terror e Frank podia jurar que ela acabara de ter uma nova visão.
    - NÃO ACREDITO! – ela gritou, chamando a atenção de outros alunos que estavam ali – Frank... eu estou ficando maluca!
    - E só agora você percebeu? – Frank murmurou.
    - Que deselegante, Frank Longbottom... – ela fez uma cara de tédio – Não se chama a mulher da sua vida de maluca assim, de graça...
    - Mas eu não disse nada...! - o rapaz passou a mão desoladamente pelo rosto. - Alice, na boa... Você me dá medo.
    - Você já disse isso, “deja-vu”...
    - Não disse nada... Eu disse antes que você estava me assustando, e não que me dá medo...
    - Ahh, tanto faz! O que eu quero dizer é que não é possível ter visões sem instrumentos divinatórios! Como eu fiz isso, eu não sei. A única explicação é que eu sou paranormal, maluca, idiota ou sei lá...
    - Eu prefiro paranormal – Frank comentou, calmamente. - É bem intrigante.
    - Frank, se eu ficar maluca, uma velha gagá que conversa com gatos e prevê o tempo sentido dores no joelho... você vai me largar? – Alice estava falando sério.
    - Nunca. Eu vou é aproveitar seus dons e montar uma tendinha - Frank jogou as mãos para o ar, como se visualizasse uma placa fictícia. - Madame Alice, presente, passado e futuro em um segundo.
    - Ow, e você é meu heroi!
    Alice gargalhou escandalosamente, correndo e se jogando nos braços do namorado. Frank a segurou com facilidade e os dois se beijaram, como se nem tivessem a um passo de se desentenderem antes. Alguns alunos que prestavam atenção neles se entreolharam, confusos.
    - Eles realmente foram feitos um para o outro... Não é? – Emmeline, que estava observando uns alunos do 1º ano apavorados com a cena, comentou sorridente enquanto folheava uma revista com Dorcas ao seu lado.
    - Oh, e como – Dorcas concordou. – Mas não se assustem, isso é o normal deles. Quando eles estão atacados, costumam matar as pessoas a mordidas...
    - Dorcas! – Emmeline recriminou a amiga, olhando a expressão de terror dos alunos mais novos.
    - É brincadeirinha... Desculpa, não faço mais...

Remus sentia uma vontade enorme de rir da cara que o amigo fazia enquanto desciam para o Salão Comunal. James estava se sentindo o mais idiota dos idiotas depois da conversa que tivera com ele. Os meninos foram para perto de Emmeline e Dorcas, olhando de relance para Frank e Alice, ainda aos beijos.
    - Uh, o negócio ali está bom, heim? – James comentou, dando um risinho.
    - Ih, vocês perderam a crise – Emmeline falou, enquanto puxava Remus para sentar-se ao seu lado.
    - Ei, Emme, espera até eu sair primeiro! – Dorcas tentou se levantar quando Remus se desequilibrou e caiu em seu colo.
    - Ai, desculpa, Dorcas... – Remus ficou corado – Emme!
    - Opa, foi mal... é a saudade! – Emmeline abraçou Remus, ignorando completamente a amiga, que agora se levantava para sentar-se ao lado de James.
    - Que crise foi essa? – James perguntou para Dorcas.
    - Emmeline que conte, ela é a fifi daqui...
    - Eu não sou fifi... Aliás... O que é fifi? – Emmeline ficou pensativa.
    - Fofoqueira, amiga...
    - Eu não sou fofoqueira! Eu só comentei...
    - Shhh! – Dorcas chiou, apontando com o queixo para o casal que se aproximava.
    Alice e Frank se aproximavam dos quatro, mas permaneceram de pé, aparentemente normais. Alice sorriu graciosamente para eles, era tão simpática que dava até pra pensar que era normal mesmo. Frank era mais sério, então, ninguém pensaria no quão estranho ele poderia ser.
    - Está melhor, Alice? – Emmeline perguntou, sorridente.
    - Ah, sim! Foi só um susto, está tudo ótimo! – Ela abraçou Frank, que lhe deu um beijinho na testa. – Eu não sei o que seria de mim sem o meu braço forte aqui...
    - Ih, você nem viu Longbottom encarando o Ranhoso! – James comentou, dando um soco no ar. – Aquilo foi... Demais!
    - Não foi nada – Frank corou.
    - Ow, meu heroi super protetor – Alice o beijou na bochecha.
    - Aquele covarde... – Frank resmungou. – Quero ver ele tirar sarro comigo sozinho... Com uma garota em gangue é fácil...
    - Ei, calma, Frank... – Dorcas se meteu. – Eu sei que você quer fazer a segurança de Alice, mas será que me empresta sua namorada um instantinho?
    - Ah, claro – Ele riu, largando a cintura da namorada.
    - Ah, que ótimo! – Dorcas pegou Alice pela mão e a puxou para as escadas.
    James, Remus e Frank se entreolharam.
    - Garotas são estranhas – Frank balançou a cabeça.
    - Não são? – James concordou.
    - Dorcas está agindo tão estranhamente – Remus meditou. – Será que é por causa desse baile infernal?
    - Não, não é, meu amor... – Emmeline passou a mão pelos cabelos do namorado. – É que ela cismou que vai ficar com o Bones no baile.
    Frank deu um gemido. Os três o olharam.
    - Que foi, Frank? – James o olhou, confuso.
    - Ahh, eu acho que isso é culpa minha. Eu andei falando sobre Edgar com ela. Sei lá, mas eu estava conversando com ele hoje e... Ai, droga, Dorcas vai ficar arrasada...
    - Por quê? – Os três perguntaram ao mesmo tempo.
    - Porque ele me perguntou se a Clearwater ainda namorava o irmão de Alice!
    - E...? – Emmeline foi a única que ainda precisava de mais palavras.
    - Bom, como você e Remus estão namorando... E ele vai ao baile com você... Ele pensou em ficar com ela no baile...
    Emmeline deixou o queixo cair.
    - Puxa, que merda, heim? – James olhou diretamente para Remus.
    - Por que você está olhando para mim? – Remus ficou desconfiado.
    - Parece que esse baile vai ser realmente infernal...
    - Não entendi. Por que infernal? Por que vai ser quente? – Emmeline falou.
    James não agüentou e caiu na gargalhada com o comentário idiota da garota. Remus o olhou com raiva e Frank prendeu o riso também. Emmeline, entretando, estava boiando.
    - Não liga para o James, ele come alfafa no café da manhã, esse quadrúpede ruminante – Remus atacou.
    - Você me chamou de cavalo? – James perguntou, ainda rindo.
    - Não, eu chamei de vea...
    - Opa, não completa a frase, seu porcaria! – James parou de rir na hora.
    Dessa vez, foram Frank, Remus e Emmeline que riram, enquanto James fechava a cara.
    - Qual foi a piada? – Sirius perguntou, se jogando na poltrona ao lado de James.
    - Pelas barbas de Merlin, de onde esse cão veio? – James deu um pulo no susto que teve.
    - Do céu, meu caro amigo – Sirius respondeu, reparando que ninguém tinha visto mesmo de onde ele viera, pois os outros três olhavam para ele com caras de idiotas.
    - Uhh, pensei que vocês tivessem na sala de Minerva... – Emmeline falou, enrolando uma mecha de cabelos com os dedos.
    - Na de Minerva, não, mas na do tio Slugh...
    - Caraca! – Remus ficou espantado. – E você se drogou lá? Não, porque dizer que veio do céu quando se vem de lá...
    - Eu sempre desconfiei que Tio Slugh apertava uma ervinha... – James comentou malicioso.
    - Isso explica o interesse dele nas estufas – Frank riu.
    - Não... Não estou falando da sala do pedófilo, não... Estou falando dos corredores... – Sirius parecia realmente drogado, visto a cara de babaca que fazia.
    - Depois a maluca é a Alice... Coitada... – Emmeline balançou a cabeça e Frank a olhou, espantado.
    Antes de Sirius falar mais alguma coisa, Marlene surgiu por trás de Frank, tão sorridente quanto o rapaz. Ela os cumprimentou, parando os olhos nos de Sirius, trocando com ele um olhar tão intenso que rapidamente todos entenderam.
    - Certo, está respondido, não? – Emmeline comentou, olhando de Sirius para Marlene, se levantando – Acho que chega de emoções fortes por hoje... Vou dormir antes que minha cabeça inche com tanta informação...
    - E isso não tem nada a ver com a cor do seu cabelo, certo? – James redarguiu.
    - Olha que eu completo a frase na frente da Lily, heim... – Remus ameaçou.
    - Ok, parei... Acho melhor ir dormir também.

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