Um beijo, um chá, um vulto
Horas depois, quando Rony já tinha se recuperado do susto, Hermione já tinha sido abraçada por todos, Simas, Neville, Luna e os outros já tinham ido embora e só restavam os anfitriões (um deles meio alterado pala ação do vinho), Harry e Bia, Gina chegou acompanhada de Richard.
Harry se levantou e a cumprimentou com um beijo e cumprimentou Richard com um aperto de mão.
-Uau, o famoso Harry Potter…-Richard disse enquanto apertava a mão de Harry.
-Muito prazer- ele respondeu, ignorando o tom irônico na voz de Richard.
Gina,um pouco vermelha, comentou:
-Belas vestes, Harry!
-Obrigado, Gina – ele respondeu ligeiramente sem jeito.
-Ah, então quer dizer que já se conheciam.- disse Richard, levantando as sobrancelhas e com um sorrisinho no canto da boca.
-Claro! Nós até…-Harry já ia dizendo. Por sorte olhou para Gina no momento exato em que ela lhe lançava aquele olhar de não-fale-nenhuma-besteira. Ele engoliu em seco e continuou - estudamos na mesma época em Hogwarts.
-Sim, claro…Hogwarts…
-Sentem-se!-interveio Hermione.
-Que…hic!querem beber hic!alguma coisa?-perguntou Rony um poucoalterado.
-Um pouco de vinho.Se tiver sobrado, é claro!- Gina respondeu. Rony levantou-se cambaleante e foi buscar uma garrafa e taças.
Como estavam todos sentados no chão ao redor de uma mesinha, Gina ajoelhou-se e perguntou, num sussurro, dirigindo-se a Hermione:
-Então, você já deu a notícia?
-Claro- Mione respondeu, servindo-se de umas castanhas.
-O que é claro?-perguntou Rony, servindo a todos com um bom vinho do Porto.
-Quer dizer que Rony vai virar papai?-disse Richard.
-Fazer o que…
-RONY!- gritou Hermione
-Estava só brincando, amor!-Rony respondeu rápido, mandando um beijinho para a esposa do lado oposto da pequena mesa.
Eram duas horas da manhã quando Hermione acompanhava Harry e Bia até o portão. Quando ela os deixou a sós, os dois continuaram ali parados na rua escura. Bia acendeu um cigarro.
-Não sabia que você fumava - ele disse, encostado no muro.
-Não fumo muito.
-Isso vicia…
-…eu sei, mas acalma.
-Pensei que você fosse calma
-As aparências enganam.
Num impulso, Bia tirou a varinha e pôs-se em posição de duelo.
-O que foi? - perguntou Harry, também tirando a varinha. -Lumus!
A luz iluminava uma boa parte da rua. Olhou para os lados; não via nada - o que houve?
-Nada. Um barulho. Deve ter sido um gato.
Mas nenhum dos dois baixou a varinha por um tempo, até verem que estava realmente tudo bem.Eles ficaram em silêncio um pouco. Bia mais a frente, de costas para ele.
-Hum…eu tenho…que ir.-ele disse.
-Tchau- ela disse, seca, ainda de costas.
-Tchau.
CRAQUE – alguém na rua ouviria, pois os dois aparataram juntos.
Harry aparatou em seu quarto. Foi ao banheiro e trocou de roupa, vestindo apenas a calça do pijama. Deitou-se na cama e fitou o teto por um tempo. Ficou ali cerca de dois minutos até que ouviu um enorme CRAQUE.
Levantou-se de um salto puxando a varinha. Baixou, pois era apenas Bia.
-Ah!Olá!- ele disse, meio sem graça.
Ela veio andando a passos largos em sua direção. Harry sabia o que ela pretendia e não sabia o que fazer. Ela o segurou pela cintura e o empurrou até que ele encostasse na escrivaninha. Aproximou seu corpo do dele e sentiu sua pele quente. Eles se beijaram. Para ela, paixão em forma de gesto. Para ele, um gesto seco, sem paixão.
Ele a afastou com o braço tentando ser o menos grosseiro possível. Aquela situação era muito embaraçosa. Ela se sentia um lixo. Harry via em seus olhos. O silêncio ensurdecedor foi quebrado pelo CRAQUE de Bia partindo.
Harry simplesmente ficara sem palavras, sem ação. Deitou na cama e tentou relaxar. Estava agitado. Levantou-se e pôs-se a escrever para Remo contando o que havia acontecido. Assim, talvez, conseguiria acalmar-se. Afinal, também para isso serviam os amigos.
-VOCÊ?E A…Bia?-Remo conseguiu se conter, ao olhar do amigo. Cho acabara de entrar na sala. E parara para ouvir. Ao ver que eles a fitavam, ela apressou-se em retirar-se do lugar levando consigo uns cadernos.
-Poxa, cara, fala mais baixo! Assim, você vai fazer com que Londres inteira saiba!
-Mal, aí, Harry.- ele parou um pouco, depois deu um sorriso que Harry não esperava ver em seu rosto ...
-Para com isso, Remo, foi muito chato.- Harry olhou sério para o amigo, que percebeu que ele não estava para brincadeiras.- Não sei com que cara vou falar com ela hoje na reunião!
- Calma. Talvez ela nem venha. Não chegou até agora. - Remo disse, olhando no relógio. Eram dez para as três.
-Sei não - Harry falou, encostando-se na cadeira e pondo os pés na mesa - Bia não é dessas de baixar a cabeça assim tão fácil. Ela virá.
Às 3:00 em ponto, todos, inclusive Bia (que era sempre muito pontual) estavam na sala de reuniões. Cho iniciou:
-Bem, finalmente terminamos tudo!O ministério aprovou nossos projetos, todos foram muito bem aceitos, parabéns. Tudo muito bom, tudo muito lindo. Começamos a trabalhar em janeiro, na segunda semana.
Ela foi até a mesa e pegou umas pastas.
-Aqui estão os portfólios com as “regras da casa”, com alguns pontos importantes das legislações bruxas e trouxas, que já é pressuposto que saibam, mas em todo caso…
-O que é isso de “oficiais do ministério da magia”? – Luna perguntou
-Essa foi uma decisão do ministério, eu acho que Remo e Harry podem explicar melhor.
-É porque nós precisamos punir os criminosos.Mas, como nós não somos do governo…não podemos fazer isso por conta própria.
-Isso quer dizer que perdemos boa parte de nossa independência.- completou Douglas, um homem de estatura mediana, com um rabo de cavalo negro e um brinco no alto da orelha, pele morena-clara e olhos da cor dos cabelos.
-Exatamente. Mas seria querer demais, achar que iríamos fazer tudo por conta própria! -retrucou Harry.
-E quem serão esses oficiais?- perguntou Douglas.
-O ministério ainda não divulgou.
-Aí também estão as escalas dos dias de folga. Haverá, no mínimo uma reunião geral a cada 15 dias.
-E a questão dos computadores?- Bia manifestou-se pela primeira vez naquele dia.
-Nem vem.- disse Remo.
Com essa, a reunião se prolongou. Era um assunto muito simples na opinião de Harry, que preferiu não interferir muito. Mais uma vez eles falaram, falaram e nada ficou decidido.
- Nos esquecemos de alguma coisa, Harry? - Cho perguntou.
-A parte mais importante.- ele disse, sorrindo. Ao ver o olhar de Cho, logo completou – Nossa festa de Halloween, claro! Se alguém tiver alguma sugestão de local, a gente aceita!
-Prometemos que vamos pensar, agora, vamos embora.-disse Bia com uma cara de não-agüento-mais. Todos ficaram espantados com a atitude dela, e a reunião terminou aí.
Os dias se arrastavam lentamente e Harry mantinha-se, a maior parte do tempo, trancado em seu quarto estudando e praticando o máximo que suas forças permitiam. Ultimamente, ele andava muito cansado e não dormia direito.
As vezes, saia com os amigos, ia bater papo, beber alguma coisa. Outras vezes, iam a Hogsmeade, lembrar e rir dos tempos de escola.
Na ultima sexta tinham feito isso. Foi muito engraçado quando passaram em frente ao Madame Puddifoot e Harry e Cho começaram a rir…
-…como o tempo passou rápido… - comentou Cho quando parou de rir.
É… Harry Potter era feliz agora que tudo havia passado e ele era um cara (quase) normal.
Foi assim, perdido em pensamentos, que Harry adormeceu co um sorriso esboçado no lábios.
Uma gota de sangue na água, um homem ajoelhado em meio a cadáveres, um grito
Harry acordou ofegante. Não era a primeira vez que aqueles flashes lhe vinham à mente. Estava suado como se tivesse estado em intenso movimento e sua cabeça latejava de dor. Foi tomar um banho quente.
Um ódio de algo que não sabia o que era, de repente, começou a crescer dentro dele. Olhou-se no espelho e não conseguiu conter algumas lágrimas. Olhou-se fixamente por uns instantes, dentro dos olhos verdes do reflexo. Teve vontade de desfaze-lo em pedaços, mas dentro de si algo dizia …como eu sinto pena de você…. Abaixou a mão o parada no ar. Apagou a luz.
No dia seguinte, enquanto tomava seu café da manha solitariamente, como era de costume, se pôs a prestar atenção na conversa de dois senhores da mesa de trás que seguravam seus respectivos exemplares do Profeta Diário:
-Você viu? – perguntou o de chapéu.
-O que? O caso do marido, ou o resultado do jogo entre Vratsa Vultures e Braga Bromfleet?
-O resultado do jogo…
-Ah! Um absurdo! É como eu sempre falei: depois de Krum, não adianta mais, não haverá outro igual…
-…realmente…
-Mas, você disse… caso do marido? Do que se trata?
-É, está aí, você deve ter pulado essa notícia…
-Ah! Aqui está. “Homem é acusado de assassinar esposa utilizando maldição imperdoável”…por Merlin!
-E tem uma cosia muito estranha: aí diz que esse homem era casado há 15 anos, era perfeitamente são mentalmente e parece abaladíssimo com a morte de sua mulher…
-É teatro, esse tipo ama um teatro…
Terminando suas bolachas, Harry saiu do bar andando sem rumo pela Londres trouxa, como gostava de fazer para espairecer.
Passou em frente a uma loja de eletrodomésticos. Uma cidade do Nordeste do Brasil havia sido inundada pela chuva. Era o que dizia a mulher de terninho cor-de-rosa na tela de 29 polegadas.
Atravessou a rua, entrou num bar e foi ao banheiro. CRAQUE. Aparatou.
Desaparatou no parque. Do nada, lhe viera uma vontade de voltar ali. Olhou ao redor e constatou que nada mudara. A não ser uma coisa. Ele mesmo. Fez o caminho que seus pés já sabiam de cór. Estacou quando percebeu estar em frente àquilo que lhe servira lar- se é que poderia chamar aquilo de lar.
Rua dos Alfeneiros, número 4, Surrey. Nada mudara. A não ser alguns muros ao redor que aumentaram de tamanho.
Continuou caminhando, indo sem pensar sobre isso, em direção á casa da Sra. Figg. Harry tocou a campainha.
-Pois não…?- atendeu a velha com ar ligeiramente carrancudo.
-Senhora Figg, sou eu Harry…
-Potter! Como vai?! Por favor, entre. Olha só, parece que vai chover… - Harry passou e ela fechou a porta. Na verdade, Harry não tinha intenção de se demorar, mas, quando deu por si, estava sentado em uma cadeira baixa, à uma mesa redonda posta para o chá, com os gatos roçando sua perna. Começara a chover
Sra. Figg falava como se tivesse estado em silêncio durante anos! Incrível! E sem parar!, Harry pensou, sorrindo.
A chuva engrossava.
De repente, a senhora a sua frente desabava em prantos e Harry sentiu toda a sua alegria sugada para fora de si.
Não pode ser…, pensou ele, não de novo…
Olhando na direção da janela, podia-se distinguir uma forma negra sob a tempestade.
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