Capitulo 7



CAPITULO VII





Harry mal olhara para a cama. Ele havia aberto as portas corrediças, estava olhando o mar por entre os coqueiros e algo na posição de seus ombros trouxe um aperto à garganta de Hermione. Ela não agüentava vê-lo tão infeliz. Em silêncio, foi até ele e os dois ficaram olhando a paisagem.


— É bonito, não? — perguntou ela, finalmente. — Quer ir nadar um pouco?


— Agora não. Acho que prefiro um banho de chuveiro.


— Está bem -— ela falou, desapontada. — Acho que eu vou.


Era quase como se Harry a estivesse evitando deliberadamente. Enquanto colocava o biquíni e passava filtro solar, Hermione disse a si mesma que era besteira ficar magoada.


Pela primeira vez na vida, sentiu-se intensamente consciente do próprio corpo. Harry já a vira de biquíni dezenas de vezes e no passado, ela não teria hesitado nem por um minuto em pas­sar por ele a caminho da praia.


Mas aquilo era antes e agora tudo parecia diferente. Hermione vasculhou a mala até achar uma saída de praia e amarrou-a firmemente em volta do busto antes de voltar para a varanda.


— Então, até mais tarde — disse, o mais casualmente que pôde.


— Está bem. — A voz de Harry estava tensa. Ele ficou observando-a desaparecer pela areia branca por entre os coqueiros e reaparecer alguns momentos depois em uma clareira, mais adiante. Ela havia soltado a canga e caminhava só de biquíni rumo ao mar.


Harry baixou os olhos para as próprias mãos. Estavam tremendo. Como sobreviveria àquela semana?


Era tudo culpa de Aisling. Se ela tivesse ficado de boca fe­chada, ele teria seguido em frente como sempre fizera, confuso e incomodado com a intensidade da nova percepção física que desenvolvera por Hermione, mas capaz de dizer a si mesmo que só estava aborrecido com a rejeição de Aisling e impedido de ra­ciocinar direito.


Agora, não podia mais fazer isso. Estava tudo claro. Era evidente que estava apaixonado por Hermione e que talvez sempre tivesse estado. Enquanto conseguira convencer a si mesmo de que a amava como amiga, tudo havia ficado bem, mas agora que a verdade fora exposta, não havia mais como negar: não era só amor que sentia por Hermione. Ele precisava dela, a desejava, suas mãos tremiam para tocá-la, tomá-la e fazê-la sua.


Só que Harry não podia se permitir sequer pensar no assunto. Hermione havia deixado muito claro que estava ali para apoiá-lo como amiga. Não era certo tirar vantagem dela, especialmente sabendo o que ela ainda sentia por Will.


E mesmo que pudesse dizer que a amava, que motivos Hermione teria para acreditar? Ela o julgaria volúvel por ser capaz de estar noivo de uma mulher na sexta-feira e apaixonado por outra na segunda. Se Aisling não tivesse concluído que seu amor por Bryn era forte demais para resistir, Harry teria se casado com ela.


Ou não? O noivado de ambos sempre tivera um quê de ir­realidade. Quando Aisling sugerira que se casassem, a idéia fizera todo sentido. Agora, Harry estava vendo que tudo não pas­sara de um ato de desespero de Aisling para tentar superar Bryn, mas a forma como as coisas haviam saído de controle era alarmante. Harry não guardava ressentimentos. Estava satisfei­to pelas coisas terem vindo à tona antes que fosse tarde demais.


E agora ele não conseguia pensar em mais nada a não ser em Hermione, na forma como ela sorria e andava, no calor suave do seu corpo, na textura suave da pele, no brilho dos sedosos cabelos, na vivacidade dos olhos, na risada contagiante e no aroma que enchia o ar mesmo depois que ela havia saído.


Harry precisara de muita força de vontade para não passar o braço em torno dela quando Hermione dormira no avião e sofrera ainda mais para ficar ali e deixá-la passar por ele naquela canga sugestiva que implorava para ser aberta. Ela a beijaria e a puxaria de volta para o quarto e para a cama fresca e con­vidativa.


E naquela noite, teria que se deitar ali com ela e fingir que Hermione era apenas uma amiga. Como faria aquilo?


O contrato. Harry disse a si mesmo para concentrar a atenção naquilo. Estava ali para trabalhar e era o que faria. Se con­centrasse bastante em ganhar o contrato, talvez conseguisse domar os próprios pensamentos. Pararia de pensar em deitar ao lado de Hermione à noite e em como seria tocá-la, e começaria a se lembrar que ela era apenas uma amiga querida que só estava ali porque sentia pena dele.


Talvez.


Mais tarde, quando Hermione o encontrou, Harry estava sentado no bar com Aisling, com dezenas de papéis espalhados sobre a mesa. Assim que percebera que estava parado, esperando por Hermione como um bobo, Harry se obrigara a sair, e acabara encon­trando com Aisling. Como ela também estava sozinha, aprovei­taram a oportunidade para repassar a estratégia para a semana e decidir as principais ações a serem tomadas e quais executivos mereciam ser abordados diretamente.


Harry estava se sentindo melhor. Tomar um banho e voltar ao trabalho eram exatamente o que precisava. Felizmente, Ais­ling também era bastante objetiva e em pouco tempo os dois haviam retomado uma excelente relação profissional. Na ver­dade, já estava difícil lembrar-se de que já haviam tido algum outro tipo de relação.


Satisfeito, Harry começava a se sentir confiante quando Hermione entrou, descalça, no bar. Ela havia amarrado a canga na cintura e os cabelos estavam molhados e colados nas costas por causa da água do mar. Como de hábito, ela havia feito um grupo de amigos na praia e todos entraram rindo no bar, sem repararem em Harry e Aisling num canto.


Harry não reconheceu nenhuma das pessoas que estavam com ela, mas reconheceu e ficou profundamente incomodado com as expressões de desejo no rosto dos homens ao olharem-na. Era bom que Hermione fosse ao quarto e vestisse algo mais composto o quanto antes.


— Desculpe -—disse ele a Aisling. — O que você estava dizendo?


Harry tentou retomar o trabalho, mas era difícil se concentrar enquanto os outros se divertiam tanto. Depois que todos pega­ram seus drinques, foram para uma mesa na sombra, com vista para a praia. Só naquele momento, Hermione avistou Harry e Aisling.


Ela parou, murmurou alguma coisa aos novos amigos e ca­minhou na direção do casal.


— Onde está Bryn? — perguntou, friamente.


— Dormindo — respondeu Aisling. — Ele está habituado a viajar na classe executiva, de forma que não conseguiu descan­sar no assento da classe econômica.


Que horror para ele — ironizou Harry, que nunca havia estado na classe executiva mas que, mesmo assim, achara os assentos bastante confortáveis. — Se é tão terrível assim, por que vocês não fizeram um upgrade?


— Um dos objetivos desta semana é estimular o espírito de equipe — comentou Aisling, com uma doçura igualmente for­çada. — Certamente, Bryn acha que, como um dos principais executivos da empresa, não ficaria bem se não viajasse com o resto do grupo.


Hermione não ficou nem um pouco impressionada com o sacrifício de Bryn e desviou os olhos para Harry.


— Parece que vocês estão trabalhando. Eu não vou inter­rompê-los — concluiu, virando-se para sair. — Até mais tarde.


Harry seguiu-a com os olhos enquanto ela levava o copo até a mesa baixa de centro e se reunia aos outros nos sofás de rattan. Assim que viram Hermione se aproximar, dois dos homens se levantaram para deixar espaço entre eles no sofá.


Eles provavelmente mal acreditavam na própria sorte, pen­sou Harry, amargo. Um deles era careca e o outro tinha uma barriga pronunciada. Aqueles homens não deveriam estar todos acompanhados de suas mulheres?


Naquele momento, Aisling suspirou.


— Por que você simplesmente não diz a ela o que sente? — perguntou, resignada.


— O que você quer dizer?


— Olhe para você... Mal consegue tirar os olhos dela! — exclamou Aisling, meio exasperada. — Diga logo a ela que a ama!


— Eu não posso — retrucou Harry, como se as palavras tivessem sido arrancadas de dentro dele. — Ela está apaixonada por outra pessoa e, mesmo que não estivesse, eu não quero arriscar a nossa amizade.


Aisling olhou-o, curiosa.


— Estranho — comentou. — Você passou a maior parte da sua carreira colocando-se em situações de risco. Eu também não pensei que fosse um covarde emocional. Você estava dis­posto a se arriscar comigo, não?


— Não é a mesma coisa.


— Hermione não vale o risco?


Harry olhou para a piscina, onde começava um animado jogo de pólo aquático.


— Ela é importante demais para eu arriscar alguma coisa. Eu não quero perdê-la.


— Talvez ela sinta o mesmo por você — sugeriu Aisling. — Você já pensou nisso? Está na cara que ela não gosta nem um pouco de mim. Eu acho que ela tem ciúme.


— É que Hermione é superprotetora. Ela acha que você me ma­chucou — confidenciou Harry. — Não. Ela me contou o que sente por Will. Primeiro, precisa superar isso e eu preciso ajudá-la em vez de colocar a nossa amizade em risco quando ela mais precisa de mim.


Era hora de mudar de assunto. Determinado, Harry pegou um dos papéis na sua frente.


— Vamos repassar este último ponto outra vez...


Mas era impossível se concentrar com toda a alegria que vinha da mesa de Hermione e não muito tempo depois, Harry desistiu. Aisling também estava distraída e toda vez que ele ouvia a risada de Hermione, esquecia o que estava dizendo.


— Venha — ele chamou, reunindo os papéis com um suspiro. — Vamos nos reunir aos outros.


Harry pegou uma bebida para Aisling no bar e foram para a mesa. Lá, Harry viu que um dos homens estava com a coxa pró­xima demais da perna de Hermione. Incomodado, Harry encarou-o com firmeza até o homem se levantar e oferecer seu lugar ao lado dela.


— Obrigado — Harry agradeceu, espremendo-se ao lado dela. No momento seguinte, se arrependeu. O corpo dela estava tentadoramente quente e próximo. Ela estava corada por causa do sol e Harry viu o sal dá água seco em suas costas.


A canga cobria suas pernas, mas o torso e os braços estavam nus. Ao lado de Harry, que vestia calça jeans e camisa de manga curta, ela parecia sensual, exótica e praticamente nua.


Hermione estava inclinada para a frente com o rosto animado e um sorriso tentador e Harry percebeu que suas mãos haviam voltado a tremer. Queria que todos desaparecessem, que os dei­xassem a sós para que ele pudesse deitá-la e fazer amor com ela ali mesmo.


— Olá para todos! Desculpe, Harry, eu assustei você? — Cassandra deu um tapinha no ombro de Harry, divertida por tê-lo feito saltar. — Todos estão se divertindo? Que bom que eu en­contrei alguns de você juntos — prosseguiu ela, olhando vaga­mente para a prancheta e sem esperar respostas. — Preciso avisar aos instrutores de mergulho quantos querem se inscre­ver no curso. Para quem estiver interessado, começa amanhã logo pela manhã. Se alguém quiser, eu também posso provi­denciar caça submarina e durante a semana programaremos passeios de barco para as ilhas.


Cassandra fez uma pausa para respirar e olhou para todos, ansiosa.


— E então? Quem quer mergulhar?


— Eu não — disse Hermione, com firmeza. — Me contento em aproveitar a praia na companhia de um bom livro.


Cassandra piscou.


— Eu vou trazer mais umas revistas para você amanhã. E quanto ao resto de vocês?


— Eu sei que Bryn adora caça submarina — disse Aisling. — Mas eu gostaria de aprender a mergulhar.


— Ótimo! — Cassandra, entusiasmada, anotou o nome de Aisling. — Alguém mais?


Harry hesitou. Naquele momento, Hermione inclinou-se para pe­gar a bebida e ao sentir à pele nua e delicada tocando na sua, Harry tomou uma decisão abrupta. Quanto mais longe ficasse dela, melhor.


— Eu também vou mergulhar — ele avisou Cassandra. Hermione virou-se para encará-lo.


— Mas você já sabe mergulhar! — protestou. — Não precisa fazer um curso.


— Faz tempo que eu não mergulho — defendeu-se ele. — Vai ser bom recapitular.


— Certo. Eu já tenho Harry e Aisling — disse Cassandra. — Mais algum interessado?


A maioria dos outros optou por relaxar na praia, com Hermione, em vez de se matricular numa atividade intensa.


— Eu já me exercito bastante em casa, cuidando das crianças — disse uma mãe exausta.


— Então, serão apenas Harry e Aisling no mergulho — con­cluiu Cassandra. — Vamos ver se encontramos mais pessoas para que você e Bryn não tenham que se preocupar, Hermione — acrescentou ela, com uma risada extremamente irritante.


— Eu não estou preocupada — mentiu Hermione que, na verdade, estava furiosa com Harry. Por que ele não facilitava as coisas para si, mantendo-se longe da tentação? Se queria bancar o bobo, seguindo os passos de Aisling, quando estava claro para todos que ela estava louca por Bryn, era problema dele, mas Harry devia ao menos pensar em como aquilo seria do ponto de vista de Hermione.


— Eu devo dizer que admiro a independência de vocês — comentou uma das novas amigas de praia de Hermione. — Quando eu fiquei noiva, passava o tempo todo atrás do meu marido, fazendo as coisas que ele gostava e não as que eu gostava, só de medo do que ele poderia fazer se eu não estivesse por perto.


— Ah, eu nunca penso nisso! — Hermione colocou uma mão pos­sessiva no joelho de Harry, o que parecera uma coisa perfeita­mente normal a fazer, até senti-lo se contrair. Mortificada, ela recolheu a mão. Por que ele não gritava bem alto que não gos­tava que ela o tocasse?


Assim era difícil, pensou Hermione. Estava tentando desempe­nhar um papel ali, mesmo que Harry não fizesse a menor idéia de como uma noiva se comportava. Determinada, ela colocou a mão na perna musculosa novamente.


— Eu sei que Harry jamais seria infiel — disse ela aos outros. — Não é, fofinho?


Harry odiaria ser chamado de fofinho. Era bem feito, pensou Hermione. Se ele simplesmente relaxasse e se comportasse naturalmente, em vez de se contrair ao menor toque, talvez ela não precisasse recorrer aos apelidos carinhosos.


— Não — respondeu ele numa voz que soou estranhamente rouca. — Nunca.


Bem, aquilo era um pouco melhor, pensou Hermione. Cassandra havia deixado a prancheta na mesa de centro e se acomodara no sofá da frente.


— Você teve chance de dar uma olhada naquela revista que eu lhe dei na praia, Hermione? — perguntou ela inclinando-se.


— Vi, sim. Muito interessante. — Na verdade, Hermione ficara bastante constrangida ao ser flagrada com um exemplar da revista Noiva que Cassandra insistira em lhe dar. Hermione sempre acreditara que não dava sorte olhar uma revista daquelas a não ser que houvesse planos concretos de casamento, mas já que tinha uma boa desculpa...


— Eu achei umas idéias ótimas nela — respondeu, olhando Harry pelos olhos semicerrados. Sua mão continuava na coxa dele e, evidentemente, o estava deixando tenso. — Eu andei pensando se não deveríamos fazer um casamento temático — disse ela. — Sabe, como as Mil e Uma Noite, ou algo assim. Poderíamos decorar o altar como uma tenda árabe, com tapetes e lamparinas de latão, e eu poderia usar muitos véus. Harry se vestiria de sheik. O que você acha, Harry?


— Nem morto — disse ele. Hermione fingiu fazer bico.


— Ah, eu pensei que seria divertido trazer à tona o nosso lado pouco convencional — brincou ela. — E seria apropriado também. Você já passou muito tempo em desertos.


— Eu também passei muito tempo na Inglaterra — comen­tou Harry, e Hermione ficou secretamente aliviada ao ouvir a res­posta arisca dele. — Eu prefiro ficar com o meu lado conven­cional, obrigado. O máximo que eu ousarei será uma cerimônia matutina.


A idéia de Harry em um terno claro provocou nela uma pon­tada. Imaginou-o na igreja local, onde os futuros sogros viviam, esperando por Hermione... e ela estaria usando um vestido maravi­lhoso, escolhido diretamente da revista de Cassandra.


Quando voltou a si, Hermione percebeu que Cassandra estava explicando os detalhes do seu casamento tradicional.


— Mas o tema geral será o mar. As daminhas de honra e os pajens vão estar vestidos de marinheiros, haverá conchas nas mesas, e até os cartões para indicar os lugares de cada um serão decorados com estrelas do mar.


— Uau! — exclamou Hermione. Era evidente que pôr trás da aparência falante de Cassandra havia uma planejadora de ca­samentos e tanto. — Quando será o casamento?


— Só no ano que vem. E o de vocês?


Do jeito que as coisas vão, nunca. Mas era melhor se ater ao seu papel, pensou Hermione, aninhando-se a Harry e beijando-o no rosto.


— Se depender de nós, quanto antes, melhor, não é, Harry?


— É — disse ele abruptamente. Então, acabou com a pouca credibilidade conquistada no papel de noivo ao praticamente derrubar Hermione do sofá quando se levantou. — Está ficando tar­de. E melhor eu ir e me aprontar para a recepção desta noite.


Aisling também se levantou.


— É melhor eu ir também e acordar Bryn.


Certo. E por que os dois não anunciavam logo ao mundo que queriam uma desculpa para passarem mais alguns minutos sozinhos?


Hermione, que já estava se sentindo humilhada pela rejeição brus­ca de Harry, olhou-o com raiva. Ele não só deixara de estender a mão para ajudá-la a levantar, como não a incluíra em sua decisão de entrar e se trocar. Mas estava muito enganado se achava que Hermione ficaria ali, calmamente, enquanto ele ia rastejando atrás de Aisling. Os dois já haviam ficado tempo suficiente juntos tra­balhando no bar.


Hermione contraiu os lábios e esvaziou o copo. Estava ali como noiva de Harry e era como esperava ser tratada.


— Eu vou com você — avisou ela. — Quero tomar um banho antes do jantar.


Foi com prazer quase infantil que ela obrigou-o a segurar sua mão quando saíram do bar na companhia de Aisling, mas no momento em que saíram da vista dos outros, Harry soltou-a abruptamente. Deprimida, Hermione abraçou o próprio corpo para ter algo o que fazer com as mãos.


Deixaram Aisling na porta do quarto dela e caminharam juntos num silêncio tenso. O sol estava se pondo no horizonte, tingindo o céu de tons de rosa e laranja, e havia certa expec­tativa no ar. Até o oceano parecia ter se aquietado para esperar a noite que se insinuava.


Era um desperdício sentir-se mal em um lugar maravilhoso como aquele, pensou Hermione. Mesmo que ela e Harry voltassem a ser apenas bons amigos, seria melhor que aquilo. Precisavam relaxar e conversar.


— Vamos dar um passeio pela praia? — sugeriu ela, imagi­nando que nem mesmo Harry resistiria ao apelo do pôr-do-sol em uma praia tropical.


Mas, aparentemente, estava enganada.


— Eu pensei que você quisesse tomar banho — ele comentou.


— Eu quero, mas não estou com pressa.


— Você deveria ter ficado no bar com os outros — disse ele, exasperado. — Parecia que estava se divertindo.


Hermione estava perdendo a paciência rapidamente.


— Eu teria ficado — respondeu ela, irritada. — Mas não me esqueci de que, teoricamente, estou aqui como sua noiva e ne­nhuma noiva que se preze ficaria feliz deixando o noivo passear ao pôr-do-sol com outra mulher.


Harry olhou-a, exasperado.


— Nós não estávamos indo a lugar algum. Aisling voltou para o quarto dela e você sabe disso.


— Eu posso saber, mas talvez os outros não saibam. As pes­soas já estão comentando a quantidade de tempo que você passa com ela e nós só chegamos há poucas horas.


Naquele momento, os dois chegaram ao quarto e Harry pegou a chave no bolso da camisa.


— Basta você dizer que Aisling e eu trabalhamos juntos — sugeriu ele, impaciente, enquanto abria a porta.


— Será preciso mais que isso para fazer com que parem de comentar — Hermione afirmou, entrando no quarto. — Acho que estão começando a perguntar-se quem é realmente a sua noiva. Porque você certamente não está querendo passar tempo algum comigo!


— Pelo amor de Deus, Hermione. Você mesma disse que chega­mos há poucas horas.


— Escute aqui — disse ela, abrindo a canga, aborrecida de­mais para preocupar-se com o próprio corpo e com a presença dele. — Eu só estou dizendo que você não é um noivo muito convincente. — Apesar do esforço, Hermione não conseguiu esconder a mágoa da voz. — Você se contrai quando eu o toco, se apresenta na mesma hora quando tem a chance de passar seu tempo com outra mulher e não parece querer fazer nada comigo. Não faz sentido eu estar aqui se você vai ficar me tratando desse jeito!


Os dois se encararam por um longo tempo até que Harry bufou alto e passou a mão pelos cabelos, num gesto de cansaço.


— Eu sinto muito, Hermione. — Harry suspirou. — Você tem razão. É que eu não sou bom em fingir.


A irritação de Hermione evaporou quando ela viu a expressão de derrota no rosto dele. A incapacidade de Harry de afastar-se de Aisling podia feri-la, mas ela sabia exatamente como ele se sentia, não?


— Não. A culpa é minha... Eu sei que é uma situação difícil para você, Harry. É fácil dizer que você deveria seguir com a sua vida e que não há por que se torturar ficando com a pessoa que você ama, se sabe que ela não o ama e que você não pode tê-la. Mas quando a gente ama alguém de verdade, é difícil desistir.


Hermione hesitou. Queria abraçá-lo, mas não confiaria em si mes­ma se o fizesse.


— Eu entendo, Harry.


— É. Parece que entende — disse ele, com pesar.


— Espero que essa semana não seja muito difícil para você — Hermione comentou. Ela havia jogado a canga sobre uma cadeira e estava só de biquíni, procurando uma escova de cabelos na mala.


Harry olhou-a corada, linda e praticamente nua no quarto, com a cama de casal entre os dois.


— Acho que vai ser... Muito mais difícil do que eu imaginava.


Hermione sentou-se na beirada da cama e jogou os cabelos para a frente para escová-los vigorosamente. Apesar de todas as lo­ções e poções caríssimas que comprara a peso de ouro, que ga­rantiam que seus cabelos seriam uma chuva de ouro brilhante e sedosa, eles agora não passavam de uma massa salgada e embaraçada.


— Eu acho que você não deve desistir — ela começou a falar, orgulhosa da firmeza da própria voz. — Quero dizer, é óbvio que Aisling ainda gosta muito de você. Ela pode estar envolvida por Bryn, mas ele é um grande boboca. Eu falei com ele apenas por alguns minutos, mas foi o bastante para perceber que ele é profundamente irritante. E você viu como ele estava se ga­bando no aeroporto? Eu não ficaria surpresa se, após uma se­mana na companhia dele, Aisling caísse em si e o mandasse de volta para a esposa, que provavelmente também está aliviada por ter se livrado dele!


Confiante de estar novamente arrumada, Hermione se emperti­gou e jogou os cabelos sobre os ombros.


— Quando isso acontecer, é bem provável que ela volte para você — disse ela a Harry, que estava em pé, admirando o céu que escurecia, com as mãos nos bolsos e os ombros ligeiramente curvados.


— Então, eu só preciso ser paciente?


— Se for o que você quer.


Ele se virou abruptamente.


— E quanto a você, Hermione? Eu não tenho sido uma companhia muito boa até aqui. Sinto muito.


— Não se preocupe. Eu entendo. — Ela levantou-se sorrindo e começou a desfazer a mala. — Além disso, estou me divertindo muito. A maioria das pessoas parece excelente e eu estou hos­pedada de graça, em um hotel maravilhoso, tenho uma semana inteira pela frente para tomar sol e ler. O que mais eu poderia desejar?


— Will? — sugeriu Harry.


Hermione parou, petrificada, por um momento, até conseguir vol­tar a pendurar as roupas no armário. Era uma boa desculpa para ficar de costas para ele e impedi-lo de ver sua expressão.


— Nem sempre podemos ter tudo o que queremos — disse ela. — Às vezes, temos que tirar o melhor proveito do que está ao nosso alcance.


Naquela noite, deitado sem dormir ao lado dela, Harry pensou no que ela havia dito. A luz da lua penetrava no quarto por uma abertura das cortinas e banhava Hermione, deitada de costas, com o rosto voltado para a janela e os cabelos espalhados sobre o travesseiro. A luz acinzentada iluminava a curva dos ombros e o canto da boca de Hermione, lançando uma luz suave pela face e pintando os cabelos de cinza, para morrer no travesseiro e na parede.


Será que aquele era o único jeito que tinha de observá-la, pensou Harry, em desespero? Quando ela estava dormindo?


Ela estivera maravilhosa mais cedo, na recepção de boas-vindas da CBC, mas Harry não pudera olhar para ela como que­ria. Havia muitas outras pessoas por perto, diversas buscando a atenção dela e outras tantas no caminho, separando-os. Hermione escolhera um vestido vermelho sem mangas e outro par de san­dálias absurdamente frágeis. Harry não entendia muito de rou­pas, mas percebeu que o traje fizera Hermione brilhar e ser o centro das atenções. Entre todos os convidados vestidos em cores de tons pastel, ela se destacava como uma chama.


Dividido entre o orgulho e o ciúme, Harry a vira encantar todos os presentes. Aparentemente, não havia problema se ela o ignorasse, pensara Harry, amargo, lembrando-se das queixas que Hermione havia feito poucas horas antes.


Mas era difícil não admirá-la. Ela estava com aquelas pessoas há menos de vinte e quatro horas e já parecia conhecer todo mundo e, voluntariamente ou não, já conseguira aproximar-se de diversas pessoas-chave que tomariam a decisão sobre dar ou não o contrato mundial a Harry. Todos não paravam de ir até Harry para comentar como ela era linda, simpática e divertida.


Como se ele não soubesse.


Ele deveria estar orgulhoso. E grato. Deveria tê-la estimu­lado. Harry sabia disso tudo, mas só o que queria era abrir ca­minho entre os homens que a cercavam, pegá-la pela cintura e levá-la para o quarto. Em vez disso, tinha que sorrir e agrade­cer. De fato, Hermione era uma pessoa excepcional.


O jantar depois do coquetel também foi um suplício e em seguida todos foram para o bar, continuar a confraternização. Harry descobriu-se ansiando pelo momento em que teria Hermione só para si, mas quando eles finalmente se despediram para voltarem para o quarto, foi ainda pior.


Em outras épocas, eles teriam rido e comparado suas im­pressões sobre quem haviam conhecido e Hermione teria feito uma crítica extensa sobre as roupas das outras mulheres. Naquele momento, qualquer tentativa de conversa acabara ficando sus­pensa no ar e o único ruído que quebrava o silêncio era o dos zumbidos dos insetos tropicais.


Os dois estavam determinados a ir para a cama. Harry vestira a calça de um pijama velho e Hermione vestira uma camisola que evidentemente escolhera pela falta de detalhes sedutores, mas cuja simplicidade apenas realçava o tom corado da sua pele e escondia as curvas do corpo bem-feito.


Harry esperara na varanda, ouvindo os insetos, o murmúrio do mar e tentando não pensar em tirar a camisola de Hermione enquanto ela passava o que pareciam ser horas no banheiro. Ele só precisara de alguns minutos e quando saíra, a encontrara deitada, com o lençol puxado até o queixo.


— Você está com frio? — perguntara Harry.


— Não. Estou bem.


Decidido, Harry cerrara o maxilar, puxara o lençol do seu lado e se deitara. Poderia passar a noite toda ali, sem nem tocá-la, mas estava loucamente consciente da proximidade dela.


— Posso apagar a luz? — ele pediu, numa voz que nem pa­recia sua.


— Sim, por favor.


No momento seguinte, o quarto mergulhara na escuridão e apenas o ruído do ar-condicionado quebrava o silêncio.


— Isso é estranho — disse Harry, pigarreando.


— Eu sei. — Hermione parecia grata por ele ter quebrado o silêncio. — Ainda bem que somos tão bons amigos, não é? Imagine como foi para Luna e Rony. Eles acabaram dividindo a cama com pessoas que nem conheciam. Deve ter sido muito mais esquisito.


Harry pensou que certamente não havia sido pior do que ele estava achando naquele momento, deitado ao lado de Hermione e sabendo que, o que quer que fizesse, não poderia tocá-la.


— Nós temos sorte — concordara ele.





Obs: Oiiii pessoal!!!Eu peço mil e uma desculpas pela demora mais que demorada para atualizar minhas fics....vou tentar voltar a postar com mais frequencia....bjux a todos!!!!!

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