Capítulo 5



Capítulo 5 - Encontro com o Inesperado.

A semana que se passou pareceu maior que as demais. Tiago, Sirius e Pedro não se desgrudavam nunca, provavelmente devido à falta que já sentiam de seu último colega, Remus. Os deveres ficavam mais complexos, e eles não tinham seu personal nerd para ajuda-los. Resultado: O trio mal conseguia captar a idéia principal de toda e qualquer matéria que os professores do Castelo falassem sobre.

Fora penoso, ninguém negava, ter de estar cinco ou seis dias sem o colega, que eles já haviam se acostumado a ficar quase que vinte e quatro horas por dia, mas eles estavam mais preocupados com como ele estava, do que com eles próprios.

A outra segunda-feira chegou, e com ela, o garoto de cabelos quase-louros. Tiago pôde ver enquanto ele se encaminhava, desde a entrada dos terrenos de Hogwarts até os portões da escola, de cima da torre oeste, onde ficava o Salão comunal da Grifinória. Assim que o perdeu de vista, correu para avisar os colegas, que ele sentia também estarem apreensivos com a ausência de Lupin.

- Você ta falando sério? - Sirius pulara da cama, quando o garoto de óculos redondos anunciara a volta do último membro do quarto. - Putz, cara! Ele ta bem? - O mesmo mostrara um sorriso no rosto, começando a andar em círculos pelo dormitório.

- Do que estão falando? - A voz de Pedro foi notada pela primeira vez naquele dia, após engolir um grande pedaço do bolo que segurava. Pra falar a verdade, eles mal sabiam que o gorducho ainda estava por ali.

- Lupin. - Tiago sorriu ao falar o nome do colega, e Pedro correu para a janela. - Ele voltou. Em pouco tempo, já deve estar subindo para o dormitório. - E andou até a porta, a abrindo; quanto mais rápido o vissem, melhor. Estaria ele bem?

Aqueles poucos minutos que os separavam pareciam horas. O trio se mantinha em silêncio, mas inquieto; tinham diversas dúvidas não só da matéria, que estava atrasada há dias, mas também do que estaria ele fazendo fora dos campos da escola. A alegação de Dumbledore, "Problemas pessoais", não representava nada para eles. Queriam saber Tim-tim por Tim-tim.

- Que caras são essas? - Todos se viraram para ver de onde vinha a voz que os chamara; Remus estava parado à porta, com um sorriso forçado no rosto, acenando para os três. - Vejo que sentiram minha falta. - E soltou uma risada rouca. Sua voz parecia mais fraca do que o normal, e seu rosto apresentava leves arranhões, que já pareciam praticamente curados.

- Lupin! - Gritou Tiago, correndo em direção ao garoto. - Você não sabe a falta que fez!

- Por onde andou? - Questionou o garoto de cabelos compridos, antes do colega voltar a falar. - Digo, ficamos bastante preocupados contigo. - E sorriu amarelo; não era do feitio de Sirius Black ficar preocupado. Afinal, ele era o soltão, largadão, que não tinha noção de nada.

- O que é isso? - Os olhos dele, ao invés de irem em direção aos colegas, foram aos livros antigos, que estavam jogados sobre os malões dos dois garotos, que não Peter.

- Livros. - Falou o óbvio, Sirius. - São só... livros.

- Eu sei o que são livros, cara. - Movimentou os olhos, lendo a capa de um dos que mais apareciam. - Ensinando feitiços em um método prático, de... Rowena Ravenclaw?! - Frisou as duas últimas palavras, como se não acreditasse. Como ato reflexo, voou em direção ao livro, e o pegou, abrindo-o. - De onde tiraram isso? - Seus olhos se arregalaram; nunca tinha visto um exemplar daqueles. Era especial e diferente.

- Ahn... - Tiago procurou alguma desculpa, mas não a achou. Preferiu, então, falar a verdade, após alguns segundos com um clima pesado, criado por o colega. - Achamos, por aí. - E deu de ombros. Remus abriu a boca, quase estupefato.

- Vocês roubaram estes livros? - E apontou para os outros. Todos haviam sido escritos pelos fundadores do castelo, e deveriam ser raríssimos, senão únicos. - Digo, eles valem ouro! - Seus olhos brilharam.

- Pois é, meu caro Lupin. - Sirius sorriu, maroto. - Tudo para você ler. - Mas não pôde deixar de revelar sua verdadeira intenção. - E então simplificar, para nos ensinar depois.

- Ah, claro. - O garoto pálido revirou os olhos, voltando a se movimentar. Fechou a porta, e se atirou em sua cama, soltando uma espécie de som, que representava certo prazer. - Como é bom voltar para minha cama, e para o meu quarto.

- Acho que não vamos ter muito tempo para isso. - Avisou Tiago, olhando para a mesa de cabeceira do colega; seu relógio estivera lá, marcando as horas para o trio, enquanto Lupin estava ausente. - As aulas já vão começar.

- Quer dizer que o senhor. - E apontou para o garoto de óculos redondos. - Se tornou o responsável e NERD enquanto fiquei fora? - Completou, rindo gostosamente. Tiago assumiu uma expressão que mesclava vergonha e indignação.

- Fazer o quê, né. - Deu de ombros, levantando-se da cama.

- Então, Sr. Remus John Lupin. - Frisou o nome do meio, e o garoto pálido enrugou a testa; ele não tinha os contado sobre seu segundo nome, não gostava dele. - Como perguntei anteriormente, o que fez enquanto não estava conosco, regozijando-se de nossa amizade?

- Como sabem meu nome do meio? - Perguntou, sem dar atenção às últimas palavras de Sirius.

- O diretor. - Explicou-se, antes do garoto de cabelos compridos abrir a boca, Tiago. - Ele nos chamou para avisar da sua ausência. - Lupin engoliu a seco ao ouvir aquilo. Já saberiam eles sobre seu problema?

- Então... - Começou, tentando demonstrar calma e serenidade, quando na verdade seu coração palpitava fortemente contra o peito.

- Queremos saber onde fostes. - Preferiu usar o tom formal. - Dumbledore alegou problemas pessoais. - Um "ufa!" passou pela mente do garoto pálido ao ouvir aquilo.

- Então, são problemas pessoais. - Sorriu simplesmente, e Sirius fez cara de quem comeu e não gostou. Tiago riu. - Deixando sua curiosidade de lado, vamos para a aula? Acho que já estamos atrasados e não quero pegar outra detenção com Fillius Flitwick. - Se levantou, e foi seguido pelo trio.

As aulas da manhã passaram mais rápido, talvez porque Lupin estava com eles e, como conseqüência, conseguiram aprender alguma coisa, ou porque a preocupação não os abalava mais. Apesar de estar com alguns arranhões, seu colega estava são e salvo ao seu lado.

O feitiço Wingardium Leviosa já era passado, e o quarteto já tinha o aprendido com louvor, graças ao garoto pálido, que tivera paciência para os ensinar cinco minutos antes da aula começar. Tiago e Sirius mostraram grande sincronia com suas varinhas, e por isso aprenderam mais rápido. Porém, Pedro demorou mais tempo para conseguir executa-lo perfeitamente, mas ainda assim o fez. Naquela aula, aprenderam um feitiço esquisito usado para queimar pequenas coisas, o feitiço chamado Incêndio.

- Conseguiu faze-lo, Sr. Lupin? - Perguntou a voz esganiçada de Flitwick. Definitivamente, o professor de feitiços achava ter conhecido um gênio, e o aluno não fez por menos. Antes de ensinar a prática do feitiço, o garoto já o executava com facilidade. - Muito bem! - Exclamou, batendo palmas. - Mais dez pontos para a grifinória! - ele sorriu e olhou para os colegas, que fizeram sinal de "positivo". Aparentemente, quem não gostara da situação foram os alunos Corvinais, que viram que o professor, mesmo sendo diretor de sua casa, parecia dar mais atenção ao garoto do que a eles.

Os grifinórios, porém, não cansavam de passar e cumprimenta-lo, por ganhar a maioria dos pontos para a casa dos leões, pelo menos entre os alunos do primeiro ano. Apesar de, de certo modo, gostar de ser reconhecido por sua capacidade, não gostava de aparecer muito, e era deveras tímido. Toda aquela situação estava começando a ficar constrangedora. Até porque todo outro aluno de outra das casas que passava por ele, fazia cara feia, franzia a testa ou até mesmo o ignorava.

- O que eu fiz pra eles? - Murmurou, se servindo de pudim de carne, na mesa dos leões, no Salão Principal, quando um garoto com vestes azul-e-bronze fez cara feia ao passar por ele. Tiago tocou seu ombro, como se quisesse consola-lo.

- Eu sei que não é fácil ser o aluno mais inteligente de todo o primeiro ano, John. - Agora o garoto pálido franzira a testa. - Os corvinais estão inconsoláveis que, mesmo sendo escolhidos para tal casa por sua inteligência, foram ultrapassados pelos conhecimentos de um grifinório! - Ele e Sirius gargalharam, e Lupin remexeu no prato. Ainda estava cansado por seu tempo fora do castelo, e agora isso.

- Temos aula hoje à tarde? - Perguntou Pedro, se servindo de mais alguns pedaços de galinha assada, que ainda estava praticamente intacta na bandeija de prata no centro da grande mesa. Remus tirou o costumeiro horário das aulas, que normalmente habitava o fundo dos bolsos do uniforme do garoto.

- Não. - Falou, logo sorrindo. - Graças aos céus, não? Pelo menos uma tarde livre.

- E logo na segunda feira! - Sirius se levantou, abrindo os braços. - Obrigado, Merlin! - Muitos perceberam tal espontaneidade, mas ele pareceu não se importar com os olhares furtivos que o lançaram.

- O que faremos hoje? - Tiago olhou para o amigo de cabelos compridos, com um sorriso já muito conhecido. O outro repetiu a expressão.

- Podemos... - Sua face mudou de "arteiro" para "pensativo" no mesmo instante; não tinha muita coisa legal que pudessem fazer. De repente, voltou a sorrir. - Que tal aprendermos alguns dos feitiços dos livros? - Tiago e Sirius viraram-se quase que imediatamente para Lupin, que revirou os olhos.

- Têm certeza que não conseguem aprender sozinhos? - Soou quase como se implorasse para não faze-lo. Conseguia sim aprender feitiços dos livros, mas nunca tinha tentado ensina-los a alguém. - Podemos tentar, mas não é garantido. - Os dois se olharam e concordaram. - Certo, então. Depois do café, no dormitório. - Deu o assunto por encerrado, começando a dar mais atenção ao seu próprio prato do que aos outros três garotos, que conversavam animadamente.

Não demorou muito para que parasse de enrolar com a comida que já começara a se desmanchar mais do que devia no seu prato. Com uma expressão nojenta, empurrou-o e levantou-se, caminhando com o olhar vago. Tiago o olhou, sem entender muito, mas pensou que já estava a se dirigir para o Salão comunal, e não deu bola.

Só realmente se preocupou quando viu a silhueta do amigo virar á esquerda no Hall principal, lado que dava acesso aos portões, às longas escadarias e por fim, aos verdes e imensos jardins do castelo. Ergueu uma sobrancelha, em dúvida do que faria. Para ter certeza, resolveu abrir-se aos amigos Sirius e Pedro, que ainda conversavam sobre o aspecto do pudim de carne daquele dia.

- Ele foi feito de carne de ontem, cara. - O garoto de cabelos compridos parecia certo de sua tese. - Ela está mais... como direi... - Procurou uma palavra, enquanto levava uma colher ao pudim, e a mesma, à boca. - gelatinosa, talvez. - e sentiu o forte gosto se espalhar por sua boca.

- Não pode. Elfos nunca usam comida do outro dia. - Pedro cruzou os braços, insatisfeito. Embora aquela fosse a frase que sua mãe usava sempre, o que Sirius e Tiago dissessem, para ele, era verdade absoluta. - Ou talvez seja. - Completou, quase convencido.

- Pessoal... - Tiago olhou de um para o outro, sério. - Eu sei que o papo sobre o pudim ta MUITO interessante, mas vocês viram para onde o Remus foi? - Os dois pararam de encarar o objeto de estudo e direcionaram o olhar para as portas que davam ao hall.

- Ao Salão comunal, para dar uma estudada antes de nos ensinar os feitiços complicados e arcaicos dos fundadores? - Sirius estava ótimo para hipóteses naquele dia, ninguém podia contrariar.

- Ele seguiu pelo outro lado. - Disse o amigo, e o outro levantou uma sobrancelha, pensativo. Pedro, por sua vez, se viu quase que suando frio. Era uma guerra de verdades, para ele.

- Então ele deve ter ido... descansar à sombra das lindas e majestosas árvores do castelo? - Sugeriu o garoto de cabelos cumpridos; a fase de preocupação já havia passado.

- Acho que não vamos ter mais nossa aula particular, pelo menos por enquanto. - Resolveu também dar de ombros, voltando-se novamente ao seu resto de café, que parecia se reproduzir pelo prato. - Vou dar uma volta. - Avisou aos outros dois, antes que os mesmos voltassem a falar de pudim.

- Boa volta. - Desejou Pedro, quando o garoto de óculos redondos se levantou e começou a andar em direção ao Hall de entrada.

Seria uma tarde ótima para não se fazer nada, qualquer um diria isso. O grande porém era que apenas os primeiranistas tinham folga à tarde daquele dia, portanto a maioria dos mesmos ficou ou nos salões comunais, ou no salão principal. Apesar de fazer já um mês que estavam estudando, muitos ainda não tinham ninguém com quem contar a toda e qualquer hora.

Não precisava-se de muita massa cinzenta para concluir, então, que para ter uma tarde mais calma, era necessário ultrapassar os portões principais de Hogwarts, e tirar uma soneca à grama, ou caminhar pelos vastos e verdes jardins. Mas não foi a isso que Tiago se propôs.

Com as mãos nos bolsos do casaco, que ora iam automaticamente em direção aos óculos no rosto, que desde os dez anos teimavam em se entortar com o simples movimento do caminhar, o garoto andava seguindo pedrinhas enterradas que formavam uma espécie um tanto ridícula de caminho ondulado, cujo início se dava nos jardins e o fim, na orla da floresta proibida, ou também na cabana do guarda-caças.

Tinha uma grande curiosidade quanto a gigantes, e desta vez mal sabia o nome do que auxiliava o diretor nos dias de seleção, ou em qualquer tarefa que um guarda-caças tivesse que cumprir. Uma tarde livre poderia muito bem significar uma nova amizade. Uma grande amizade. - com o perdão da palavra.

Quando finalmente chegou à porta da cabana, tirou uma das mãos do bolso e bateu levemente na porta, que só agora percebera, era feita da mais rude das madeiras, com um método quase arcaico. Pequenas brechas nela davam um campo de visão quase que total internamente à cabana, que não era muito grande e contava apenas com uma peça, em formato oval.

- Quem é? - Pôde ouvir a voz rouca já conhecida desde o seu primeiro dia de aula. Aquele era com certeza o gigante. Bateu mais uma vez. - Diga quem é e o que quer, droga. - Murmurou, antes de caminhar pesadamente até a porta e a puxar de uma vez só.

A cena seguinte foi bizarra, em todo e qualquer aspecto. Tiago foi puxado quase que instantaneamente para dentro da cabana, batendo de barriga na mesa quase ao lado à porta. Caiu de quatro pés no chão, levando as mãos ao local dolorido. O guarda-caças o observou, com uma sobrancelha arqueada. Trajava, além de sua roupa muito marrom e rústica habitual, um avental cor-de-rosa florido, muito sujo. Sua barba aparentava estar maior que antes, e ele parecia não tomar banho há dias.

Foi levantando-se aos poucos, no rosto uma expressão de dor intensa. Quando o gigante já abrira a boca para falar, Tiago chamou-o atenção com a mão; um gesto mudo para avisar que pedira para falar antes.

- D-desculpe... - Massageou a barriga mais um pouco, e finalmente pôde erguer a cabeça o suficiente para ver o rosto do guarda-caças. - Não devia ter feito uma entrada tão... brusca. Não foi minha intenção, senhor...

- Sem o senhor. - Deu uma risada rápida, e indicou uma das poucas cadeiras da mesa. - e é Hagrid. - Sorriu simplesmente. - Então. O que veio fazer aqui... - Também não sabia o nome do garoto, que prontamente o respondeu.

- Tiago, Tiago Potter. - Hagrid arregalou os olhos ao ouvir o sobrenome.

- Oh, Tiago! - Sorriu e chegou mais perto, de um jeito que aparentava estar quase no céu. - Como não o reconheci! - Se aproximou do garoto, de um modo quase selvagem, deixando a mostra os dentes amarelados que possuía. O grifinório tremeu nas bases quando as grandes mãos o envolveram em um forte abraço. - Acho que você que não deve saber quem eu sou, não é?

- Então. - Conseguiu se desvencilhar do homem, e ficou do modo mais confortável, se é que era possível, sentado na cadeira.

- Conheço os Potter desde que vim para Hogwarts, meu amiguinho. - Falou entre um suspiro, indo em direção a um fogão à lenha, talvez o objeto mais moderno presente na casa. - Quer um chá?

- Boa pedida! - Tentou transparecer soltura, mesmo estando de certo modo envergonhado.

- Então certo. - Abriu a torneira da pia e encheu de água uma chaleira muito velha, com toda a parte externa, que fora feita preta, já enferrujada. Apenas se mantinha intacta a parte de dentro, onde a água ainda se remexia. - Já está saindo! - Colocou-a em cima do forno e foi à procura de xícaras.

- Hagrid... - Ao ouvir seu nome, o meio-gigante se virou em direção a Tiago. - Como é ser um guarda-caças? - Perguntou, sem jeito. - Digo, o que você faz?

- Ah... guarda-caças é só uma espécie de nome que eu zelo. - Pegou duas xícaras de porcelana muito gastas, colocando-as uma em frente a outra, na mesa. - Dumbledore, me acolheu em Hogwarts, quando eu... - Olhou para a janela. Seus olhos expressavam certa tristeza, e o garoto reconheceu isso. - deixa para lá. São águas passadas. - E tocou com uma das grandes mãos a chaleira. - Eu na verdade alimento alguns animais para as aulas de Trato das Criaturas Mágicas para a professora Grubbly-Prunk, e cuido da horta de abóboras, para o Halloween.

- Ah, as abóboras. - Elas ficavam por toda a volta da cabana, e era mesmo de se esperar que fora o gigante que as tratasse, pois elas também não eram de um tamanho considerado normal. Avistou pela janela algumas, já deveras grandes. A festa estava próxima e, como uma das maiores do ano, precisava de adereços tão grandes quanto.

- E você, Tiago. O que faz aqui? - Tirou a chaleira do forno, quando ela já liberava vapor pelo bico, levando-a em direção às xícaras. - Cuidado. - Avisou, derramando a água quase fervente.

- Não tinha nada para fazer nesta tarde, então resolvi vir aqui. - Olhou, por pura precaução, para onde Hagrid colocava a água, tentando tomar uma distância segura caso algo acontecesse. - Não sei se tem algum problema. Tem?

- Não, não. - Sorriu, sem olhar na direção do garoto, terminando de encher as xícaras e levando a chaleira à pia. - Estava realmente entediado, e foi bom você vir aqui! Quase nenhum estudante vem me visitar, você sabe. - O meio-gigante tinha plena noção de que seus hábitos um pouco selvagens e seu tamanho sobrenatural realmente faziam diferença quando o assunto era amigos. - Mas é bem melhor assim. Pelo menos, fico longe daqueles sonserinos, você sabe. Não gosto de frescuras. - O garoto riu gostosamente da brincadeira, quando o outro já trazia em mãos folhas de chá, derramando-as nas duas xícaras.

Foram duas horas de conversa descontraída, em que riram e conversaram. Hagrid também o contou algumas poucas histórias de seus tempos como estudante, que davam para notar obviamente que o meio-gigante era também um grande trapalhão desengonçado. Quando já eram quase três horas da tarde, teve de se levantar e se despedir de Tiago, pois tinha que ir falar com o diretor.

- Bom te conhecer, Hagrid. - Se despediu com um aceno do gigante, que sorria da porta da cabana. O garoto pensou ir procurar os amigos, para contar do guarda-caças, quando se lembrou que Lupin havia desaparecido no meio do almoço. Subiu o pequeno morro que separava as abóboras gigantes do resto dos jardins, quando pôde avistar novamente a escadaria de Hogwarts. Essa que subiu, em direção à torre oeste, para descansar um pouco.

Quando já estava no sétimo andar, a poucos metros do quadro da mulher gorda - embora não aparecesse, por a torre oeste ter um último andar em formato circular. -, que avistou uma silhueta conhecida. Os olhos negros, cabelos sebosos, nariz empinado e um brasão da serpente no peito. Severo Snape o esperava com uma varinha em punhos e com os lábios finos formando uma expressão maliciosa

- Te peguei, Potter!

Mal pôde ver a pele pálida do sonserino ser iluminada totalmente ao ser atingido por um feitiço certeiro no peito. Voou para trás, girando no ar. Quando caiu, em um baque surdo, bateu nas portinholas de uma estante do sétimo andar, talvez a única, que estava ali naquele momento quase que apenas para atrapalhar.

- O quê... - Alinhou os óculos no rosto e enfim conseguiu ver o rosto de Severo Snape o olhando fixamente. Puxou imediatamente a varinha do cós das calças e, mesmo não sabendo fazer muita coisa com ela, o ameaçou. - O que faz aqui, Snape? É você quem interdita o corredor lavando seus cabelos oleosos nas pias do sétimo andar? - Um sorriso malicioso passou por seu rosto, e a expressão do sonserino mudou bruscamente no mesmo instante.

- Eu vim buscando vingança! - Bradou, remexendo a varinha e um feitiço púrpura veio na direção do grifinório, que rolou no chão. Todas as partes do corpo que haviam batido no armário doíam fortemente, mas ele não podia deixar nada o atingir novamente. O feitiço de Snape acertou a parte esquerda do armário, que ficou com um aspecto gelatinoso, como se estivesse a derreter.

- Parece que sua vingança vai ter de esperar, Severo. - O sonserino, que ainda olhava para Tiago, virou a cabeça para o lado esquerdo. Lílian o olhava seriamente, com a varinha apontada para seu pescoço. - Ou prefere arriscar?

- O que faz aqui, Evans? - Se aproximou da garota, e ela remexeu a varinha mostrando que ainda estava no controle da situação. Parou imediatamente, mas não pôde deixar de falar. - Por que se mete em uma briga que não é sua?

- Porque vocês dois são meus amigos! - Gritou, chamando a atenção da maioria dos alunos que rapidamente formaram um círculo em volta de toda a área, e isso incluía o lugar onde estava Tiago.

- Então acho que vou ter que azarar vocês dois. - Snape se jogou para o lado no momento em que um feitiço vermelho-escarlate saiu da varinha da ruiva. Correu na outra direção e, em poucos segundos, chegou ao outro lado do círculo, se deparando com as costas da amiga. A empurrou, deixando-a caída no chão, e voltou a ir na direção de Tiago. - Agora é a sua vez, Potter.

- TIAGO, NÃO! - Quando Snape já murmurava palavras que não podiam ser entendidas, Lupin apareceu. - Saia já daí, Severo. - O sonserino o olhou com desprezo.

- Não vou sair, já disse.

- Então acho que vou ter de fazer isso. - Chacoalhou com força sua varinha. - Estupefaça! - Um feitiço prateado, quase branco, saiu da ponta da varinha de Remus, atingindo Snape no peito. Este caiu, inconsciente, no chão.

- O que está acontecendo aqui?! - Mal dera tempo para Lupin guardar a varinha, quando um homem chegou ao local da briga. Ao contrário do tom de irritação que emanara, sorria gostosamente, como se gostasse daquela situação. - Ora ora, o que temos aqui? Três grifinórios e um sonserino, em uma briga. - Tirou lápis e papel do bolso, anotando as informações da briga. Lílian acabara de se levantar, mostrando seu nariz, que sangrava. Provavelmente o impacto da queda era o motivo do corte. - Senhores, vamos à Mcgoonagall.

- Não será preciso, Sr. Filch. - Minerva apareceu entre os montes de estudantes, com seu olhar rigoroso analisando a situação. - Já soube de tudo. - Olhou de Lílian para Tiago, e depois para Lupin. - Que desgosto! Vocês, novamente?! Não aprendem com as detenções simples, não é? - O sorriso de Filch se iluminou mais ainda; todos, mesmo os iniciantes, já sabiam que ele defendia totalmente as torturas como modo de detenção. - Já para o meu escritório. Quero ter uma conversa séria com vocês.

- E o Sr. Snape, professora? - O sonserino continuava imóvel no chão, olhando para o teto, quase sem mostrar respiração. - O que faremos com ele?

- Leve-o para mim até o meu escritório também, Argo. - Virou-se de costas para todos. - Isto se trata de um Estupefaça, eu conheço o contra-feitiço, então ficará tudo bem.

Snape não ficou muito tempo paralisado, mesmo que quase todos concordassem que ele era muito mais amigável imóvel que quando em movimento. Após o extenso e terrorífico sermão da diretora da Grifinória, os quatro - inclusive o sonserino. - descobriram que ficariam em detenção, e que aquela seria à noite, diferentemente das outras, que se davam ao fim da tarde.

- Estamos conversados. - Suspirou fortemente a professora, se levantando de sua cadeira e indo em direção à porta. - Hoje, às vinte e duas horas, nos jardins. - Apontou-os a saída. - Dispensados.

Lílian olhou para Tiago, como se ele tivesse sido o culpado. Ela provavelmente não tinha assistido o início do duelo. Na verdade, ninguém mais devia ter o assistido, e só ele e Snape sabiam da verdade. Mas agora não era mais hora de conversar sobre aquilo, não para causar mais stress. Lupin olhava ainda para o chão, coisa que fizera durante quase todo o discurso de boas maneiras da professora, com expressão triste.

Quando chegaram ao salão comunal - com exceção de Lílian, que teve de ir à ala hospitalar para cuidar do nariz que ainda não tinha parado de sangrar. -, todos os olharam, tornando o silêncio quase que geral. Após aquilo, como sempre faziam, começaram os burburinhos, entre os grupos de amigos, sobre o que havia acontecido. Os dois garotos preferiram subir para os dormitórios, para descansar. Seus amigos também deveriam estar lá, já que não os tinham avistado no salão.

Dito e feito. Sirius e Pedro os esperavam, deitados em suas respectivas camas, no dormitório. Quando abriram a porta, quase voaram para cima da dupla, para saber Tim-tim por Tim-tim do duelo contra Snape. Como Tiago, os outros três também nunca gostaram da pose do garoto.

Contaram a história com todos os detalhes que conseguiram lembrar, e foram acompanhados de palmas - de Sirius - e exclamações de espanto - de Pedro - toda vez que um feitiço dos grifinórios atingiam o Sonserino na história. Quando a terminaram, já estava quase na hora de descer para a detenção, já que o céu, visto pela janela, já adquirira um tom azul marinho.

- Nos vemos, então. - Se despediram, com um aceno, dos outros dois, que ficaram com alguns dos livros dos fundadores nas mãos, para tentar aprender algo novo, e desceram em direção aos jardins.

Lá, Snape, Lílian, McGoonagall, e para a surpresa de Tiago, também Hagrid, que empunhava um arco-e-flecha em mãos.

- Sua detenção de hoje é ajudar Hagrid a cuidar de um dos centauros que ele viu ferido no meio da floresta proibida, garotos. - Disse a professora, em um tom quase educacional. - Boa sorte, e boa detenção. - O sonserino tocou a professora quando ela já estava quase a caminho do castelo.

- Eu não vou me embrenhar nessa mata suja com um gigante, dois grifinórios e uma... sangue-ruim. - Aparentemente pegara certo rancor da "amiga" ao ver o lado que ela tomara da briga. A ruiva, por sua vez, se mostrou surpresa e se virou de costas, choramingando.

- Ah, vai. - Olhou-o fixamente, por entre os óculos redondos a professora. - Ou prefere um dos aparelhos de tortura do Sr. Filch? Se quiser, posso chama-lo agora.

- Erm... - Tremeu nas bases ao ouvir que podia ser torturado. - Prefiro ficar por aqui mesmo. - Tiago e Lupin só não riram da situação porque estavam com a ruiva, tentando a confortar.

- Sem mais delongas, vamos à floresta proibida, garotos! - Com uma risada seca, Hagrid começou a andar em direção à orla da floresta, e os primeiranistas a acompanhavam seus passos descomunais o mais rápido possível.

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