Harry



Na terça-feira de manhã eu me levantei com um pensamento na mente: "Mas que aposta estúpida eu fiz com a Hermione" . Nunca teria proposto a coisa toda se imaginasse que ela iria até o fim. Mas toda vez que penso que posso prever cada movimento de Hermione ela decide fazer algo inesperado. Daí agora eu tinha de me apaixonar.
Analisando assim superficialmente, pode-se pensar que a tarefa seria mais fácil para mim do que para Mione. Afinal de contas, nunca tive problemas para arranjar encontros, sou confiante e nem um pouco tímido. Hermione, ao contrário, é muito fechada. Ela é uma das garotas mais bonitas da escola, senão a mais. Só que, quando alguém lhe diz isso, sua resposta é um "obrigada" e ela sai pensando que o cara está louco. Ela escapa pela tangente e fala sobre favorecimento, condescendência masculina e homens que pensam que podem fazer uma mulher se sentir bem dizendo a ela alguma coisa que é obviamente mentira. O que posso dizer? Minha melhor amiga tem um complexo.
Mas agora que ela estava decidida a se apaixonar, eu tinha certeza de que cumpriria o trato. Hermione sempre batalha para conseguir seu objetivo. Eu havia lançado um desafio, e ela ficaria pensando sobre o caso até ter um plano. Diferente de mim, que não tenho nem idéia de como elaborar um.
Hermione provavelmente procuraria em sua sala de aula e, batendo os olhos em algum panaca, se apaixonaria por ele. Enquanto isso, eu estaria empacado no banco traseiro do meu carro, lugar predileto para Hermione me imaginar com as garotas, com alguém muito legal, mas que na verdade não se importaria se eu estivesse vivo ou morto. E, para coroar isso tudo, a palavra "perdedor" estaria gravada em meu corte de cabelo esquisito.
Enquanto andava na escola, naquela manhã ensolarada de terça-feira, eu procurava Hermione no pátio. Quem poderia saber? Talvez ela tivesse acordado recusando a coisa toda também. Se fosse assim, eu concordaria de imediato, e ela nunca precisaria ficar sabendo que minha confiança tinha sido abalada. Mas, por azar, ela não estava lá...
Ela provavelmente estaria fazendo um cronograma para o seu primeiro encontro, o seu primeiro beijo e o primeiro "Eu te amo" .
E, conhecendo Hermione, sabia que ela ia adiar o "Eu te amo" até momentos antes de entrar no salão do Baile de Verão com seu amado. Ela tem uma queda por cenas dramáticas.
Eu tinha começado a subir o quarto andar, contando os degraus dos lances de escada, a caminho de minha nova sala, quando Ronald Weasley, meu melhor amigo depois de Hermione, se aproximou. Eu não o via fazia bastante tempo, já que faltei a nosso passeio de barco.
- Oi Potter. Achou algum anjo na fazenda?
- Não, mas encontrei um pão-duro, que é o meu avô. Ele me pagou cem pratas. Depois de eu ter dado um duro danado o mês inteiro.
- Bem vindo ao mundo real. Por isso é que trabalho para o meu pai.
O Senhor Weasley é advogado, e todas as férias Ronald trabalha no escritório dele. Passa a maior parte do tempo tirando cópias e enviando mensagens por fax. Se estivesse no lugar dele, eu ficaria doido.
Chegamos ao último andar. Com uma certa satisfação, percebi que Ronald estava bufando e sem muito fôlego. Meses dentro de um escritório debaixo de luz fluorescente e ar condicionado não deixam ninguém com muito pique.
- Não olhe agora. Debbie Jackson a sua direita.
Disse Ronald me cutucando.
Suspirei. Debbie tinha sido minha namorada por um mês durante o outono passado. Gostei bastante dela no começo, mas depois de certo tempo ela estava me deixando doente. O jeito dela de falar... Parecia que estava sempre perguntando alguma coisa. Mas quando fazia uma pergunta o tom de voz soava como uma afirmação. Eu me sentia num daqueles jogos de programa de televisão com perguntas e respostas.
Ainda pensei em me agachar atrás de um armário, mas já tinha sido visto.
- Oi, Harry? - Ela falou, me beijando no rosto. Percebi que estava mais bonita do que no ano passado. Tinha cortado curto o cabelo loiro, e sua franja caía sobre os olhos de um jeito bem legal.
- Oi, Debbie.Como passou as férias?
Pensei que poderia estar errado sobre Debbie. Talvez ela fosse meu verdadeiro amor, e eu tivesse me enganado por sua forma de falar. Talvez não tivesse percebido isso antes.
- Foi muito bom. Eu trabalhei em uma butique. E você?
Naquele momento soube que não havia futuro para mim e Debbie. Podem me chamar de maluco, mas gosto de uma conversa que não seja inteiramente irritante para mim. Pude sentir Ronald a meu lado se segurando para não dar risada. Considerando a maturidade, ele está no mesmo nível de Barney, o vizinho de Fred Flinstone nos desenhos da TV.
- Foi bom. Bom. - Respondi olhando para o relógio. - Caramba! O primeiro sinal já vai bater, e o senhor Slughorn é o nosso orientador.
- Eu entendo. Ele foi meu orientador no segundo ano. - ela então falou virando-se para ir embora - Você gostaria de sair um dia desses?
- Sim pode ser - Adiantou-se Ronald respondendo por mim. Não foi legal, mas não consegui segurar um início de risada. Minha própria maturidade parece que me faltou àquela hora.
Debbie deu uma olhada meio estranha para nós e foi embora para o pátio.
Sentei-me em uma carteira no fundo da sala do Sr. Slughorn e fiquei pensando. Eu tivera encontros com algumas garotas muito legais mas, também saíra com outras que ainda nem deveriam andar sozinhas pela rua, quanto mais ser minhas namoradas.
- Cara, não tem nenhuma garota que valha a pena nessa escola. - Reclamei com Ronald.
Ronald fez que não ligava encolhendo os ombros.
- Você lembra de quando estávamos no primeiro grau. Parecia que todo o segundo grau estava cheio de garotas bonitas e excitantes. Pelo jeito elas todas devem ter se formado há muito tempo.
- Harry, eu acabei de fazer uma lista de vinte tremendas gatas, com as quais eu gostaria de sair e ter um encontro esse ano. Como é que você vem me dizer que aqui não tem garota bonita?
Eu balancei a cabeça negativamente.
- Estou falando de alguém especial. Alguma garota por quem eu pudesse me apaixonar.
- Apaixonar? AHHHH, dá um tempo cara... - Ronald me disse isso, e voltou para a sua lista de nomes.
Dei uma olhada no caderno para ver a lista. À medida que ia lendo os nomes, ia fazendo mentalmente o cruzamento com a minha relação de garotas com quem já tivera um encontro. Quando cheguei ao número onze, meus olhos se arregalaram.
- Mione?
Pronunciei quase me engasgando.
- Claro. – Ronald confirmou - Ela preenche todos os meus requisitos. - E desenhou um asterisco ao lado do nome de Hermione.
Fiquei contemplando a lista fixamente. Ele tinha colocado o nome de Hermione entre os de Padma Patil e Lilá Brown. Inacreditável! Não que eu não ache Hermione atraente, inteligente e outras coisas mais. Só que o fato de ver o nome dela incluído em uma lista com outras intenções me incomodou. Era com se Ronald não entendesse que Hermione era um caso especial. Ela não é do tipo que se coloca em uma lista feita só pelo tesão de sair com uma garota gostosa. Ela é uma pessoa.
- Você é um babaca. – desabafei - Faz idéia de como ela ficaria furiosa se soubesse disso? - Perguntei, pegando a folha de papel e sacudindo na frente de seu rosto.
Ele deu de ombros.
- Eu pessoalmente duvido que Hermione esteja preocupada em como eu gasto meu tempo durante as palestras de orientação, antes do início das aulas. – ele disse, olhando para mim e levantando as sobrancelhas. - VOCÊ é o único que parece se importar com isso, Potter.
- O que você quer dizer?
- Que você está com ciúmes. - Respondeu ele estalando so dedos.
- Você pirou. – respondi.
Há anos que eu tenho esse problema de as pessoas me provocarem sobre eu curtir uma paixão secreta pela Mione. Mas nunca nenhuma dessas idiotices me perturbou.
Naquele instante tocou o segundo sinal. Pulei para o meu lugar vendo o Sr. Slughorn tirar um maço de documentos de dentro da pasta. Ele pigarreou e começou seu discurso sobre os males de chegar atrasado e perambular pelos corredores. Depois de três anos de colégio esse era o tipo de conversa a que não era preciso prestar muita atenção. Se alguém já ouviu um desses discursos sobre o primeiro dia de aula, conhece todos.
Eu podia sentir meu rosto ficando vermelho enquanto pensava no que Ronald tinha dito. Está certo que sempre fui bastante paternalista quando o assunto era Hermione. Mas isso porque eu sei como são os caras. E não quero que ninguém fique falando dela do mesmo jeito sacana e grosseiro como falam sobre as outras garotas.
Depois de alguns minutos, Slughorn terminou seu discurso de boas-vindas ao colégio Jefferson. Então deu início a chamada dos alunos pela lista, outra coisa muito chata do início das aulas. Lá pelo meio da letra D a porta abriu com um estrondo. Pude perceber pelo rosto de Slugorn que ele não gostou. Os professores sempre acreditam que, se conseguirem controlar os alunos no primeiro dia de aula, então poderão passar o resto do ano sem enfrentar maiores problemas. Claro que Slughorn detestou ver seu "plano A" em relação a disciplina ir por água abaixo.
Virei a cabeça para olhar quem estava entrando. Ela deu alguns passos para dentro da sala e parou como se não estivesse certa de poder entrar. Carregava um monte de cadernos que pareciam prestes a cair a qualquer momento.
Seu cabelo preto e comprido estava preso por um rabo de cavalo meio frouxo, mostrando o queixo muito bonito e os olhos arredondados. Vestia mini-saia e uma camiseta listrada de alças. Suspeitei profundamente, absorvendo os efeitos de olhar para aquelas pernas bronzeadas. De repente a lista de Ronald era a última de minhas preocupações.
-Nome?- Rosnou o Slughorn.
A garota deu uma olhada pela classe como se estivesse procurando por amigos. Cruzamos nossos olhares. Por uma fração de segundos nós nos encaramos. Então eu sorri.
- Cho Chang. - Respondeu ela, calma e indiferente ao fato de que toda a classe havia parado por causa dela. Acho que percebeu bem a situação e deve ter concluído que não havia motivo para se sentir intimidada.
Slughorn correu o dedo pela lista.
- Chang, Chan... – murmurou para si mesmo - Sabe que horas são, senhorita Chan?
Ela deu uma olhada para o relógio na parede atrás da mesa do Sr.Slughorn...
- HAmmm...nove e dezoito?
- Sim. – concordou ele - O horário de entrada e ás oito e cinqüenta e cinco. Qual é a sua desculpa?
Ela andou até a frente da classe e entregou a ele um papel verde.
- Eu estava na secretaria da escola por causa de minha transferência.
Slughorn pareceu alvoroçado, a classe inteira permanecia quieta. Existe alguma coisa nas mulheres muito bonitas que leva as pessoas a parar de conversar e prestar atenção nelas.
- Então está certo. – concordou Slughorn - Por que não se senta? Mais tarde eu passo as instruções que você perdeu.
Cho armou um sorriso gracioso e deslizou para uma carteira na primeira fila. Ficou olhando direto para o Sr.Slughorn como se ele fosse um grande sábio a revelar os segredos da vida. Praguejei comigo mesmo por ter escolhido um lugar tão no fundo da sala.
Slughorn pegou sua lista e continuou de onde havia parado, mas com uma voz mais descontraída e amistosa. Acho que ele resolveu mudar para o "plano B": faça com que os garotos amem você e eles ficarão contente por se comportar direitinho.
Eu estava tão concentrado analisando a nuca de Cho que Slughorn precisou chamar meu nome duas vezes. Pode ter sido minha imaginação, mas juraria que Cho até se endireitou na cadeira quando pigarreei e respondi à chamada.
Rony enviou um bilhete curto e direto: "Garota linda à sua frente". Fiquei encabulado, rasguei a folha e coloquei os pedaços no bolso. Não permitiria que ele transformasse Cho em apenas mais um nome de sua lista. Achei nela alguma coisa especial. E o friozinho no meu estômago avisava que ela seria minha. Logo.
Passei o resto da aula pensando muito. Como eu chegaria até ela? Deveria ser forte e agressivo? Ou calmo e educado? Como não sabia nada sobre a garota,era difícil planejar a aproximação. Não fazia a menor idéia da espécie de cara com quem ela namorava. Não sabia se era do tipo que gosta de música, de praticar esportes, ou romântica. E também não sabia se tinha algum namorado. Em silêncio, rezei para que ela tivesse sido transferida de um lugar bem longe, porque assim o namorado não seria um problema.
Não são muitas as pessoas que deixam passar a oportunidade de ter um bom relacionamento com alguém só por causa de um namorico à toa. É o que chamo de síndrome dos acampamentos de verão. A pessoa vai acampar, então conhece alguém, e todas as noites trocam beijos debaixo de uma árvore ou em uma canoa. Terminado o verão, os dois declaram seu amor um pelo outro e dizem que até o próximo acampamento do ano que vem o tempo vai passar voando. Depois de poucas cartas e um ou dois telefonemas meio embaraçosos, a coisa toda cai no esquecimento. No ano seguinte os dois vão achar que já estão muito velhos para o acampamento de verão. Sim, estou falando por experiência própria. No entanto, nunca me esqueci das noites estreladas que passei ao lado de Elaine Mason.
Minhas ruminações sobre Cho e os romances desastrosos dos acampamentos de verão não estavam me levando a lugar algum. Então decidi voltar a ser eu mesmo – ou mais ou menos isso – e esperar que o melhor acontecesse. Esta é a tática que normalmente uso com as garotas. No segundo ano do colegial conheci uma garota na pista de atletismo, Kate Bell, e então lhe disse que era praticamente avançado em salto de vara. Ela pediu uma demonstração, e quase quebrei o queixo quando cai de cara no colchão duro. A experiência (assim como algumas palavras sábias de minha amiga Hermione) me deixou ciente de que as mulheres, em sua maioria, são muito espertas para conferir as informações. E, assim que descobrem uma jogada em falso, elas caem fora.
Quando o sinal tocou, continuei em minha carteira. Ainda estava indeciso sobre me aproximar ou não de Cho. Então ouvi o Sr.Slughorn pedir que ela ficasse um pouco mais para que ele pudesse repetir as normas sobre a rotina do colégio Jefferson. Essa era a minha chance para fazer um primeiro contato simpático com ela.
Antes de seguir atrás de Rony, dei uma última olhada na direção de Cho. Ela sorriu e fez um movimento disfarçado, mexendo com os ombros. Senti um calafrio. Naquele exato momento tive a certeza de que ganharia a aposta com Hermione.
E era ela quem estava me esperando no saguão. Nós assistíamos a aula de física juntos no primeiro período.
- Sobre a nossa aposta... – Hermione começou a falar.
Levantei a mão interrompendo a frase.
- Nem pense em desistir, Granger. – cortei - Acabei de encontrar a garota dos meus sonhos. Você já pode ir preparando a tesoura e a água oxigenada.
Ela fez uma cara de surpresa.
- Ahh, eu não ia desistir. Só queria dizer que o nosso acordo deve ser colocado por escrito. E nem pense em inventar um jeito de se livrar.
- Que o melhor romance ganhe. – concordei.
Enquanto voltamos para a sala eu mal podia esperar até nossa próxima aula de orientação.

N/A: Aqui está o segundo capítulo. Obrigada pelas pessoas que comentaram. Mas o terceiro capítulo só saí com pelo menos 5 comentários...
Preciso saber se vocês estão gostando da fic,ok?
Até!

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