Hermione
1 – HERMIONE
Naquele dia alguma coisa mudou em mim de verdade, e nunca vou saber ao certo por que isso aconteceu. Pode ter sido o céu muito azul ou o cheiro forte e gostoso das rosas no ar. Ou porque passei os anos todos do colégio só assistindo de longe aos namorados, enquanto minhas colegas entravam nessa o tempo todo. Talvez porque já fazia quase dois meses que não via Gina e por isso me sentisse um pouco perturbada. Ou, quem sabe mesmo, pode ter sido apenas porque eu estava a fim de me apaixonar.
- Você sabe qual é o seu problema, Hermione Granger?
- Sim, eu sei. Meu problema é você me perguntar a toda hora se eu sei qual é o meu problema - respondi a Harry Potter ele, meu melhor amigo e, infelizmente, meu crítico mais severo.
- Errou de novo. - ele fez que não com a cabeça e deitou-se na grama.
Nós estávamos em um piquenique no Lago Gambler, numa conversa meio sem graça sobre como tínhamos passado às férias de inverno. Isso provavelmente estava aborrecendo Harry.
Passar o feriado do Dia do Trabalho no lago era desde muito tempo uma espécie de tradição entre nós. Quando uma pessoa é nossa melhor amiga e vice-versa, certos rituais se tornam tão importantes que passar por cima deles faz com que ambos se sintam como se algo muito grave estivesse acontecendo. Foi por essa razão que não aproveitei a oportunidade de ficar á toa, curtindo com minhas colegas do Acampamento de Verão, e acabei vindo de avião do Minesota dois dias antes do fim do período de férias.
Não estou querendo me fazer de vítima, porque sei que Harry também deixou de ir a um passeio de barco com seu amigo Ronald Weasley, para passar aquele dia comigo. Por outro lado, isso não significava que eu estivesse louca para uma sessão "vamos analisar Hermione". Para deixar bem claro meu tédio, suspirei da maneira mais dramática que pude.
- Certo, doutor Potter. Por favor, então me esclareça.
Harry sentou-se e tirou da boca o talinho de grama que estava mordendo.
- Falando diretamente, você é tipo de garota que segue ao pé da letra a dieta do chá gelado. E, o pior: é sempre sabor de limão, nunca pêssego ou morango.
Harry sorriu (meio irônico para o meu gosto) e tornou a deitar-se. Ele se comportava como se tivesse acabado de resolver o problema da fome no mundo, mas para mim tudo não passava de um papo-furado confuso sobre chá gelado.
Se eu tivesse um pingo de cérebro, trataria de colocar o fone de ouvido de meu walkman e ignorar aquele comentário. Mas Harry tem essa mania irritante de me encaixar na marra dentro de suas teorias.
- Mais alguma coisa – perguntei - Ou você acha que só preciso parar de tomar chá gelado e, assim, meu último ano no colégio vai me trazer fama, fortuna, beleza e um grande e verdadeiro amor?
- AHHHHH!!!!! A senhorita ficou curiosa! - ele dramatizou enquanto falava, olhando pra frente, como se essa conversa estivesse sendo testemunhada por milhares de pessoas muito interessadas.
- Na verdade tem mais. Veja, Mione. Quando vamos ao mercado, temos muitos tipos de bebidas para escolher. Mesmo para quem procura um simples chá, é possível escolher entre dúzias de sabores diferentes.
- Sim, e daí?
Se eu não apressar Harry enquanto ele fala, poderemos ficar sentados por horas, eu ouvindo e ele dando milhões de voltas em torno de um assunto.
- Então porque você nunca escolhe maça, por exemplo? Ou até mesmo manga?
- Nunca ouvi falar que manga fosse um sabor de chá.
- Está certo, mas a questão não é essa. O fato é que você nunca varia. Não diz: "Ei, manga pode ser interessante. Acho que vou experimentar". Em vez disso, segue sempre a mesma dieta de chá gelado e faz dele a sua única companhia.
- Chá gelado não é a minha única companhia. Você é que é.
Harry pegou a garrafa de chá gelado de minhas mãos, já meio vazia, e tomou um grande gole.
- Mione, eu estou falando por metáforas, vê se me acompanha no raciocínio.
- Sim, estou acompanhando. Estou acompanhando...
- Em qualquer situação, você escolhe sempre o caminho mais seguro. Tem medo de tentar coisas novas. Tem vivido a sua vida toda como uma freira que prometeu seguir apenas um caminho, e só aquele caminho. Encare a verdade, você precisa variar.
- Por quê?
- Por quê?, POR QUÊ? Porque se fizer isso, coisas incríveis podem acontecer.
- Por exemplo? - como comentei antes, Harry tem a mania de me meter na marra dentro de suas teorias.
- Você poderia ser uma inventora, como o cara que inventou o telefone. Poderia ser uma cantora de sucesso. E, o que é mais excitante, poderia se apaixonar. Ou arranjar um namorado, ou pelo menos ter um encontro.
Suspirei profundamente. Minha vida amorosa, ou melhor, minha falta de uma, era um dos assuntos favoritos dele. Nos momentos mais inesperados - por exemplo, quando estávamos estudando matemática, eu podia contar com ele para me lembrar de minha existência sem namorados. "Esta equação é igual a sua vida amorosa, um monte de fatores desinteressantes que são iguais a zero."
Sei que estou passando a impressão de que Harry é uma pessoa insensível e só fala sobre coisas sem graça, mas não é nada disso. Acontece que ele não entende como nós, as pessoas normais, levamos a vida. Por normal eu quero dizer aqueles que não tem quase um metro e oitenta, cabelos sedosos e lindos, olhos verdes e um corpo absolutamente incrível. Para quem ainda não adivinhou essa é a descrição de Harry, como meu amigo também é chamado, se não citei essa observação antes. Ele também é muito charmoso e tem um jeito irritante de fazer todo mundo gostar dele logo de cara.
Mas aquilo que ele estava dizendo sobre o medo, na verdade, tinha sentido. Eu sinto medo, em relação a um monte de outras coisas. E, principalmente, convivo com o terror da rejeição. Quero dizer, tenho visto tantas garotas chorando no banheiro, com o coração partido por causa de algum cara que decidiu lhes dar um fora bem no meio do pátio da escola! Daí, quando olho para essas garotas, sempre retocando o batom e saindo para o pátio para se mostrarem de novo disponíveis para a tortura, experimento a maior simpatia por elas. De Verdade. Mas me pergunto também porque é que elas se colocam nessa situação. Ter um namorado é mesmo tão bom assim? Vale a pena sentir-se tão mal toda vez que se vê o garoto de quem se gosta colocar o bração em volta de outra garota? Eu acho que não, de jeito nenhum!
Sou o que minha mãe costuma chamar de Dona Arrepiandinha. Ela quer dizer com isso que não deixo ninguém chegar muito perto, papo de psicologia popular. Mas sempre digo a minha mãe que odeio psicologia popular. Ter todo mundo rotulado bonitinho, como se fosse apenas uma caixa de absorventes ou de lâminas usadas descartáveis, me parece uma coisa desumanizadora. Nós somos todos indivíduos diferentes, e até mesmo excêntricos. Por que reduzir nossa vida a uma definição que se pode ser encontrada num dicionário ou numa enciclopédia.
Como Harry estava dizendo, sou muito travada pelo medo. Mas, pergunto de novo, quem não é?
- Medo, é? - Apertei os olhos e encarei Harry.
Ele tinha voltado de um período na fazenda de seu avô. Eu não pude deixar de notar que o trabalho na fazenda tinha feito maravilha por seus músculos do braço e do peito. Se, ao menos, ensinar jazz a um bando de meninas de dez anos pudesse fazer o mesmo por meu corpo!
Harry concordou muito sério.
- Olhe para si mesma. Você tem dezessete anos e nunca namorou. Tem certeza de que quer passar seu último ano de colégio sozinha?
Assim já era demais! Agora era a hora de virar o jogo.
- E você, Harry? Está certo que você tem uma coleção de namoradas, dessas que vai pegando por aí afora, de qualquer jeito. Vai me dizer, que quando está no seu carro, com uma dessas garotas, você não se sente sozinho, solitário?
- Pelo menos estou tentando arranjar companhia.
- EU TAMBÉM tento...apenas não tenho o mesmo sucesso.
Harry deu um risada.
- Você colocou isso na sua cabeça e não muda. O seu príncipe encantado poderia vir, com seu cavalo branco e tudo o mais,que você o deixaria passar.
- Não é bem assim não.
Infelizmente, quanto mais essa conversa se prolongava, mais eu sentia que Harry estava levantando uma questão importante. Como desejava que ele fosse direto a questão e depois me deixasse comer meu sanduíche em paz!
- Prove então.
- Provar o quê?
Perguntei desviando o olhar para o chão, já arrependida por ter prolongado aquela conversa. Até comecei a pensar em algumas piadas sobre garotas de dez anos a quem ensinaria jazz. Faria qualquer coisa para que Harry deixasse de lado os assuntos pessoas.
- Mostre-me que você quer mesmo se apaixonar.
- Como?
- Ora como? Se apaixonando, é claro.
- Harry, isso não é como tirar um dez em história. A gente não sai simplesmente por aí e se apaixona porque quer.
- Como você sabe, se nunca tentou?
O papo já estava ficando ridículo. Harry não iria desistir, e eu já estava me sentindo envergonhada. Ele adorava me ver em situação embaraçosa. Por algum motivo achava isso uma demonstração de afeto. Eu achava humilhante.
- Esqueça.
Disse com firmeza e mordi meu sanduíche e liguei meu i-pod. Se não prestasse atenção nele, talvez Harry acabasse desistindo.
Harry se aproximou e tirou meus fones de ouvido. Ainda pude ouvir a voz de Aretha Franklin abafada e meio estridente saindo dos fones.
- Preste atenção no que eu vou falar Hermione. Eu DESAFIO você a se apaixonar.
Já tinha percebido antes que virar o jogo contra ele acabava dando errado. Mas que chance eu tinha? Fiz uma tentativa desesperada.
- Está certo! Pois eu desafio VOCÊ a se apaixonar. E não estou me referindo a um namorico de duas semanas com a garota que trabalha no Pizzas Hut, não tá?
De repente fiquei animada, pensando em todas as condições que poderia impor sobre o romance de Harry.
- Nem estou falando de alguns encontros com a Daphne Greengrass, aquela peituda nanica. Estou falando de COMPROMISSO. Um encontro de personalidades.
Ele deu de ombros.
- Está certo. Você conseguiu.
- O quê?
Eu não esperava que ele realmente aceitasse isso tudo. Contava apenas obter um recuo de Harry e uma chance de esquecermos toda aquela conversa.
- Eu desafiei você. Você me desafiou. Aquele que conseguir vence.
Sua expressão era muito séria, mas eu ainda tinha esperança de que a idéia toda fosse uma brincadeira.
- Você quer mesmo que nos desafiemos mutuamente a nos apaixonar?
- Por que não?
Perguntou ele, cruzando os braços e ainda sério.
Confesso que, para minha surpresa, eu estava começando a me interessar pelo assunto. Quem sabe Harry não tinha razão? Talvez já fosse tempo de Hermione Granger mostrar aos garotos, ou ao menos a um dos garotos do colégio Jefferson, do que ela era capaz. Além disso era nosso último ano do segundo grau. Se desse uma mancada, o pior que poderia acontecer seria ter de sofrer pelo resto do ano, e depois o jeito seria nunca mais mostrar minha cara nas reuniões. De qualquer modo, eu provavelmente não iria mesmo as reuniões de turma do colégio. Mas se quisesse continuar com a idéia maluca de Harry teria de fazer direito.
Eu não estava disposta a correr o risco de ter meu coração magoado só para encarar um desafio do meu amigo.
Então concordei, balançando a cabeça lentamente.
- Você está certo.
- Estou?
Pela primeira vez ele me pareceu um tanto inseguro.
- Claro que está. Mas vamos fazer disso uma aposta.
Os olhos de Harry se iluminaram. Ele adora apostar.
- Agora você sacou o lance, Mione. Vamos fazer uma aposta das grandes.
Eu estava deitada, apoiada nos cotovelos e então me sentei.
- Alguma idéia?
- O perdedor tem de preparar o almoço do vencedor por um mês?
Balancei a cabeça negativamente. Se a gente ia entrar nessa de desafio, então precisávamos fazer da forma correta. Se ganhar não tivesse muita importância, provavelmente nós dois deixaríamos a aposta de lado e logo voltaríamos a nosso antigo comportamento.
Ele tentou de novo....
- Que tal o perdedor ter de limpar o quarto do vencedor uma vez por semana, durante um ano?
- Isso não seria muito justo. Eu sou uma verdadeira maníaca por arrumação, e você, um bagunceiro.
- O perdedor deverá usar uma placa com as palavras "chute-me" por uma semana.
- Não. Isso não seria muito original.
- Cinqüenta pratas?
- AH, qual é Potter? Você pode fazer melhor que isso!
Harry deitou-se na grama de novo, espreguiçou-se e fechou os olhos por causa do sol.
- Me deixe pensar um minuto. Vou fazer uma proposta que vai deixar o cabelinho da sua nuca arrepiado.
Eu me deitei de bruços, apoiando a cabeça nos braços. Estava a fim de descansar meus olhos e pretendia pensar em uma aposta legal, mas tinha problemas para me concentrar. Então, enquanto Harry pensava, deixei a imaginação correndo solta.
Eu me vi, no primeiro grande jogo de futebol do ano, segurando uma bandeira do Jefferson. Assistia a tudo, enquanto meu anônimo verdadeiro amor caminhava pelo campo. Ele se virava olhando a platéia, até que seu olhar encontrasse o meu. Então faria o sinal de positivo para mim, antes de chamar seu time para o começo do jogo.
Ri da idéia. Jogadores de futebol não fazem o meu tipo.
Então eu me vi no palco, dançando o lago do cisne. Ao final da apresentação, três dúzias de rosas vermelhas eram lançadas aos meus pés. Em meus sonhos, eu sorria ternamente e lançava um beijo a meu maravilhoso namorado. Esta seria uma cena muito linda, com um detalhe: o Lago do Cisne está totalmente superado.
Harry sentou-se de repente e bateu palmas.
- Já sei! Se você está querendo mesmo um desafio, acaba de conseguir um.
Eu me ergui, apoiando-me nos cotovelos.
- Então me diga.
- Está certo. Se perder, você terá de cortar o cabelo bem curto e tingir de loiro oxigenado - Propôs, me olhando e mexendo as sobrancelhas.
- O QUÊ????? – gritei.
Harry devia estar maluco. Ele sabia muito bem que o cabelo era meu único ponto forte, cheio, escuro e comprido. Quase sempre quando estava no banheiro do Jefferson e alguma garota de cabelos ralos entrava, ela suspirava de inveja quando olhava para meus cabelos. Essa era minha única vaidade, e Harry queria tirá-la de mim?
Acho que ele percebeu minha indignação.
- O que foi Mione? Você tem tanta certeza assim de que vai pedir?
Como odeio o orgulho! O orgulho obriga a gente a fazer cada bobagem! Naquele caso foi o orgulho que me fez concordar com os termos de Harry.
- Tudo bem, senhor Invencível. E o que acontece se eu ganhar?
- Simples, eu terei de furar minha orelha.
- AHHH, não!!! De jeito nenhum! Você está falando toda hora sobre furar a orelha. Isso não conta.
- Está bem. Então pense em alguma coisa.
Não costumo ter momentos de brilhantismo, mas quando acontecem são muito inspirados mesmo. Aquele foi um de meus ápices de inspiração.
- Se eu ganhar a aposta, então, VOCÊ, Harry Potter, terá de cortar o cabelo com a inscrição da palavra "perdedor". Para facilitar o acordo eu mesma farei o corte. – disse, lançando minha proposta.
Ele não pareceu muito contente com a idéia de ter o cabelo cortado de forma a proclamar ao mundo em alto e bom som que era um perdedor. Mas Harry não recuaria agora. Não é de seu estilo.
- Vamos selar o acordo.
Então apertamos as mãos solenemente, e foi quando me lembrei de que nosso acordo não dizia nada sobre o prazo.
Imaginei que precisássemos de tempo suficiente para nos apaixonar, mas não tanto tempo até estarmos como dois velhinhos gagás, quando fôssemos comparar as respectivas anotações.
Parece até que Harry leu meus pensamentos.
- Nosso acordo vai até o Baile de Verão. Aquele que aparecer primeiro com seu verdadeiro amor vence a parada.
Um novo pensamento me ocorreu.
- Ei, e o que acontece se nós dois nos apaixonarmos?
Ele se ergueu e me deu um tapinha na testa.
- Então nós dois vencemos. Dá empate.
Enquanto Harry e eu guardávamos a comida, a manta e nosso material de leitura, comecei a experimentar uma estranha sensação de frio no estômago. Nos próximos meses iria precisar mais do que trabalho duro e uma boa dose de sorte. Eu precisaria de um milagre...
N/A: Oi, gente. Essa é minha primeira fic 'grande' , por dizer. Escolhi esse livro porque eu gostei muito da história e achei que combina muito com o shipper.
Comentem se gostaram do primeiro capítulo ou até pra deixar crítica. Se quiserem ver minhas outras fics, basta clicar no nome da autora. ( Já avisando, elas têm conteúdo adulto.)
Até!
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