Verdade




Jeff voltou-se aos integrantes da Ordem da Fênix presentes que ainda mantinham em seus semblantes a surpresa pela atitude do patriarca Homes. Aquela era a hora de contar a verdade, e ele decidira não perder a chance.

-Quando a Claire tinha 6 meses – começou ele – ela começou a despertar dotes estranhos, de início, eu e a mãe dela, bem, achamos que ou estávamos enlouquecendo, ou tinha algo de errado com nosso bebê, o que nos deixou assustados. Não entendíamos o que estava acontecendo com ela. A Claire era... como posso dizer – hesitou procurando a palavra – acho que o termo ‘especial’ é o mais próximo possível do que ela é, ela começou a falar e andar com menos de um ano, e com dois já conversava conosco, coerentemente, lia e escrevia com habilidade, e outras coisas que seriam, hum... estranhas para a idade que ela tinha, nós não...

-Espera um pouco – interrompeu Hermione claramente desconfiada, quase com um tom de deboche – isso é impossível, mesmo uma criança bruxa não desenvolve a fala, por exemplo, com menos de um ano, muito menos conseguiria estabelecer uma conversa coerente com dois, isso está em todos os livros conhecidos, não há meios disto ser verdade.

-Na época Srta. Granger eu pensava exatamente como você – recomeçou Jeff sem demonstrar nenhuma mágoa ou chateação pelo tom desconfiado dela – li todos os livros que falavam do assunto, todos os livros trouxa, pelo menos, mas ainda assim estávamos preocupados, como disse antes, eu e Melissa queríamos saber o que estava acontecendo e eu não conseguia achar uma resposta objetiva ou mesmo coerente, fomos até a alguns psicólogos infantis e pediatras na tentativa de obter uma explicação para este desenvolvimento, digamos, precoce dela, mas a única coisa que eles nos diziam era que a medicina que conheciam não tinha uma explicação razoável para o que estava acontecendo a Claire, um deles chegou a sugerir que internássemos Claire para estudos, mas a Melissa se recusou e quase processou o médico.

-Ok! - recomeçou Hermione ainda pouco convencida, os livros nunca lhe tinham faltado antes, não via por que começariam agora – e então? O Sr. tem uma resposta hoje? Descobriu por que a Claire era tão diferente?

Jeff hesitou por um momento, olhava diretamente nos olhos de Hermione, que era a única que o inquiria. Queria que ela acreditasse, afinal de contas era a verdade, a grande verdade, a terrível verdade, a que magoara e destruíra sua família há 12 anos. Respirou fundo ainda a olhando atentamente e então começou.

-Além dos motivos óbvios, por que, afinal de contas, ela é bruxa, o que já a tornaria não exatamente normal para um casal trouxa, a Claire possui alguns talentos especiais, e isso atrairia a cobiça de alguns. Acho que devo contar a história desde o começo.

-Na realidade – continuou Jeff – tudo começou a ficar realmente ruim quando a Claire completou três anos, as coisas aconteceram rápido a partir daquela noite, era o aniversário dela, tínhamos feito uma festa mais cedo, nada muito chamativo, uma pequena reunião para alguns amigos meus do jornal e algumas amigas da Melissa, em maioria nossas vizinhas, tínhamos cuidado em não expor muito a Claire, tínhamos medo que ela tivesse alguns dos seus ‘comportamentos não convencionais’ na frente de outras pessoas. Não tínhamos vergonha dela – acrescentou rápido ao notar o olhar inquieto de alguns– mas achamos melhor manter o que ela podia fazer em segredo, tínhamos medo de que o fato de outras pessoas saberem muito sobre ela pudesse trazer para ela problemas futuros. Mas a Claire não tinha apresentado poderes mágicos até aquela noite. – Jeff parou para respirar naquele momento, doía à simples memória do que acontecera durante aquelas horas, relembrar não era agradável, mas eles precisavam entender, para que pudessem ajudar sua garotinha, e foi com este pensamento em mente que o patriarca Homes continuou – Tínhamos colocado a Claire para dormir para finalmente começar a arrumar a casa, mas não demorou muito para ouvirmos os seus gritos, corremos para o quarto dela, me lembro que nunca tinha sentido o que senti aquela noite quando a vi se contorcer na cama, ela chorava, gritava, era como se estivesse deitada em brasa, suava muito – continuou com os olhos fechados, como se revivesse a cena – nunca me senti tão incapaz como quando a coloquei no colo, eu estava gritando também, tentado acordá-la, nunca vou me esquecer dos gritos cortantes que saíram de sua garganta, até que finalmente ela abriu os olhos. Ela olhou pra mim, mas havia tanta dor nos seus olhos, tanto desespero, ela se agarrou ao meu pescoço com tanta força, ainda chorando, demoramos quase meia hora para acalmá-la.

-Vocês chegaram a saber o que aconteceu? – perguntou o Sr. Weasley com uma voz preocupada.

-Assim que ela se acalmou, ela disse que vira um ‘homem mal’ machucando algumas pessoas, disse que pôde sentir o que as pessoas sentiam, que era uma cena ‘feia’ e que não pôde fazer nada para ajudar. Mas ela lamentava mesmo pela criança, o tal ‘homem mal’ machucava a criança, um bebê. Ela recomeçou a chorar depois que descreveu a cena. Melissa e eu levamos horas para acalmá-la novamente. No início achamos que era só um pesadelo bizarro ou algo assim, mas este foi só o primeiro. Os sonhos continuaram por dias, ela já estava temerosa mesmo antes de dormir, não importava quantas vezes dizíamos para ela que era só um sonho, ela sempre acordava no meio da noite chorando depois de ter o mesmo sonho, de novo e de novo. Não sabíamos mais o que fazer, a quem recorrer, até que recebemos uma visita, exatos dois meses depois do primeiro sonho, conhecemos o professor Dumbledore.

-Profo Dumbledore? – Perguntou Hermione surpresa – Mas o que ele queria com vocês? Como os achou?

Antes que Jeff respondesse, a Profa McGonagal interveio.

-Hogwarts – ela respondeu segura – a Claire já despertara seus poderes, foi escolhida para entrar na escola assim que começou a apresentar a magia, e como era filha de trouxas e ela parecia ter, de alguma forma, já despertado os poderes apesar da pouca idade, o diretor de Hogwarts é aconselhado pelo conselho da escola a visitar os pais e explicar o que está acontecendo antes que as coisas saíam do controle.

-Como assim saíam do controle? – perguntou Rony confuso.

-Alguns pais trouxas tendem a tomar decisões precipitadas quando notam que seus filhos não são exatamente ‘normais’, já tivemos que tirar crianças bruxas de clínicas especializadas em pessoas com “comportamento especial” por que os pais não sabiam mais o que fazer.

-Nossa! Mas isso é terrível! Como eles têm coragem de... – começou Rony, mas foi interrompido por Jeff.

-Não os julgue tão rapidamente Sr. Weasley – disse ele – isso não quer dizer que não amamos nossos filhos, mas você tem que entender que, ante tais atitudes, ficamos desnorteados, eu mesmo quase recorri a este recurso, se o professor Dumbledore não tivesse nos visitado, eu teria internado Claire por não saber mais o que fazer.

-Mas, e depois disso? – perguntou a Sra. Weasley quase chorando – o que aconteceu com a Claire? O que o professor Dumbledore disse?

-Dumbledore nos explicou que a Claire era uma bruxa, que as transformações que ela estava tendo poderiam ser em decorrência de sua magia, da transformação que seu corpo estava sofrendo e, nossa, por um instante ficamos tão aliviados, eu e Melissa finalmente começávamos a entender o que estava acontecendo com nossa garotinha, mas aí ele disse que, de alguma forma, ela era ainda mais especial. Até mesmo para os bruxos, o que acontecia com ela não era ‘comum’, então ele pediu para vê-la. Deixamos que ele fosse ao quarto dela para que ele a conhecesse, preferimos deixá-los a sós, para que ela não ficasse constrangida em dizer nada ao professor por estarmos por perto. –Jeff parou novamente de falar, abaixou os olhos para as mãos e disse quase num suspiro - Nunca vou me esquecer do que vi no rosto dele quando ele voltou a sala.

-Nem Alvo podia explicar o que estava acontecendo, ou pelo menos, a época, mesmo que ele tenha desconfiado, não estava seguro o suficiente para compartilhar suas teorias. – começou McGonagal a explicar - Ele começou a cuidar do caso dela pessoalmente, ia visitar a Claire pelo menos uma vez por semana, algo nela chamou a atenção dele aquela noite, lembro-me de como ele voltou à escola, estava diferente, preocupado, ficou sério por dias.

-E o que era diferente afinal? – perguntou Harry, entrando na conversa pela primeira vez – O que a tornava diferente?

-A Claire possui um dom raro, principalmente para sua linhagem – recomeçou Jeff, mas foi interrompido por uma voz vinda da porta.

-A Claire é vidente – disse Matt tomando a atenção dos presentes.


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Claire saiu apressada da biblioteca da toca e seguiu direto para a sala da casa, localizada no andar inferior, não queria chorar, mas as lágrimas insistiam em querer transbordar, as palavras ditas por Matt ainda ecoando em seus ouvidos como se estivessem sendo ditas repetidas vezes em sua mente. Apoiou-se a uma das poltronas aconchegantes que ficavam a borda da lareira quando sentiu uma mão em seu ombro e virou-se para descobrir Matt ao seu lado.

-Claire, me escuta... – começou ele.

-Não, por favor – cortou ela com a voz embargada tanto quanto furiosa – não quero falar com você agora.

-Pois você vai – respondeu firme – sei que não foi o melhor momento pra falar no assunto, mas você sabe que eu estou certo.

-Em sua opinião.

-Na opinião de qualquer pessoa minimamente sensata! Por favor! Você só tinha 10 anos, o que poderia ter feito?

-MORRIDO – gritou a morena, as lágrimas agora rolavam abundantemente, Claire tremia dos pés a cabeça – eu preferia ter morrido no lugar dela, esse tormento teria acabado, a mamãe estaria viva, você não vê que todos os nossos problemas teriam sido solucionado se ele tivesse me encontrado aquela noite, se eu não tivesse tido medo, me escondido, ele teria me achado...

-E nós? – perguntou Matt não menos irritado e frustrado que a irmã – Como você acha que todos nós estaríamos se tivesse sido você? Pode doer para você ouvir isso, mas a mamãe morreu pra te proteger, por que ela sabia que se ele tivesse chegado até você, nós nem sabemos o que poderia ter acontecido, nem sabemos o que ele realmente quer de você. – Matt parou um segundo, tomando fôlego e suavizando o tom – ela amava você, nós amamos você, por favor, para de viver deste jeito, se sentindo tão culpada, você não percebe que te ver assim todo o tempo nos machuca, te ver sempre triste deixa a mim e ao papai tristes também, você carrega uma culpa que não é sua, aliás, não somente uma culpa, você carrega várias culpas que não são suas.

-Você não entende – ela disse, agora fria – eu poderia ter feito algo e não fiz, nunca vou me perdoar por isso, por ter fugido e não ter cumprido com a responsabilidade de proteger quem eu amo, não importa o que você diga, ou o que o papai diga, mesmo porque, tenho certeza que, um dia, vocês vão acabar me culpando, e com toda a razão, e quando este dia chegar, não sei se vou suportar.

Matt estava segurando seu temperamento firmemente até a última frase da morena, mas quando ela acabou, ele não conseguiu mais se segurar, pegou-a pelos braços e falou, sem rodeios.

-Sou capaz de te culpar sim, mas por viver como uma múmia, sem vida e sem felicidade, isso sim me faz ter raiva de você.

Claire não pôde mais suportar o olhar do irmão, desvencilhou-se dele com destreza antes de dizer:

-Preciso ficar sozinha.

Matt não sabia mais o que dizer, sentia-se derrotado, ‘quando ela vai se perdoar?’ pensou frustrado.

-Como está a dor? Passou? – perguntou incerto se receberia uma resposta sincera – você deve estar cansada, acabou de sair do hospital, deveria descansar um pouco, esta conversa...

-Não importa como me sinto, por favor Matt, se você presa pela minha sanidade, me deixa sozinha.

-Mas...

-Por favor! – exclamou ela olhando-o novamente – saia.

Matt ainda lançou um último olhar para a irmã antes de virar-se e rumar novamente para a biblioteca.

Assim que Matt deixou o cômodo, Claire deixou-se levar pela dor que a engolfava desde que saíra da biblioteca. Sua cabeça parecia prestes a explodir, as antes pontadas agora pareciam ferroadas constantes, deixando-a quase sem ar, ela apoiou-se mais pesadamente na poltrona até que a sala parecia estar saindo de foco, ela piscou várias vezes, tentando fazer seus olhos verem o que estava a sua frente novamente, mas ela logo percebeu o que estava por vir, a sala outrora a sua vista agora dera lugar a um terreno muito verde, de mata rasteira rodeado de árvores frutíferas, no horizonte, um lugar que a morena conhecia a muito tempo, era onde estudara e onde agora trabalhava, um lugar que amava.

-Por Merlin, por que eu estou vendo Beauxbatons? – se perguntou num suspiro aflito.

Mas Claire não teve muito tempo para imaginar o por que de sua visão, por que só havia uma explicação para o que estava acontecendo agora, ela estava tendo uma visão, e esta visão, ela tinha certeza, não era de nada boa, e como que para confirmar as suas suspeitas, ela ouviu um grito as suas costas, um grito que conseguiu arrepiar sua nuca com uma velocidade quase impossível, virou-se e o que viu fez a morena perder o fôlego.

Vários homens encapuzados estavam ao redor de um grupo de criança, de aparência bem jovem, entre 11 e 12 anos, que estavam protegidas por uma mulher que ela reconheceu imediatamente.

-Deixem as crrrianças irrrem, são só crrrianças, não von fazer nad contrrra vocêss – dizia Fleur tentando claramente convencer os homens a sua frente.

-Está com medo professora? – perguntou um deles com um tom sarcástico.

-Só querrro que eles ficon ban – respondeu ela apressada – não acrredit que vocêss tenham vind aqui por caus delas.

-É, parece que burrice não é uma de suas qualidades professora, mas a senhora com certeza sabe por que estamos aqui, não sabe?

-Non faço idéia – respondeu com um tom quase desafiador.

O homem encapuzado deu uma gargalhada alta, estridente, que fez a maioria das crianças começarem a chorar assustadas, e em meio a tudo isso, fez sinal para outro homem, que, sem perder tempo, pegou um dos garotos que estavam a frente do grupo pelo braço e, tirando uma adaga das vestes, a colocou a centímetros do pescoço da criança.

-Ou fala, ou ele morre – disse a Fleur, seu tom claro, mostrando que ele teria coragem de concretizar sua ameaça.

O garotinho, assustado, começara a chorar intensamente, Fleur parecia não saber o que fazer, seu rosto demonstrava a clara dúvida que a dominava, mas quando viu a adaga tocar a pele do garoto, não conseguiu manter-se neutra, reagiu imediatamente.

-Eu conto, parre, porr favorrr – suplicou – o que vocês quererr saber?

-Onde ela está? – perguntou frio

Fleur hesitou novamente, estava visivelmente em um dilema, mas quando a adaga começou a perfurar levemente a pele do garotinho assustado, ela gritou:

-Inglaterra, ela estar em Hogwarts – disse em um só fôlego

-Ótimo – respondeu o homem - tudo que eu precisava saber.

Mas ele não soltou o pequeno garoto que estava a seu lado, ele segurou a adaga com mais firmeza e passou-a sem hesitação pela garganta da criança. Claire chegou a ouvir o som da navalha rasgando a pele da criança antes de ouvir o grito desesperado da amiga, mas o homem nem perdeu tempo, assim que o corpo, já sem vida, do pequeno garoto atingiu o chão, ele pegou a varinha, apontou-a para Fleur e disse sem hesitar:

-AVADA KEDAVRA.

Claire ainda teve tempo de ver o corpo da amiga cair na grama antes de sentir sua cabeça doer com uma intensidade que ela não lembrava ter experimentado em nenhum momento de sua vida.

-Nããããããããããão! – gritou ela em desespero – Fleurrrrrrrrrrrrrr!

Não conseguiu se manter de pé por mais tempo, sentiu os joelhos atingindo o chão e a sala da Toca entrar em foco novamente enquanto seu corpo clamava por alívio. Mas a mente dela, por mais incrível que pudesse parecer, ainda trabalhava para mantê-la consciente, ela tinha que avisar aos outros, tinha que avisar a Gui, a vida de crianças, de Fleur dependia da consciência dela, de sua capacidade de suportar a dor que estava sentindo, concentrou todos os seus esforços em conter os gritos que queriam sair, mas a luta estava começando a ficar mais difícil. Sentiu-se desesperada, toda a energia de seu corpo parecia ter sido sugada, e, não suportando nem mais manter seus joelhos firmes, a morena caiu no chão com estrondo, a dor em sua cabeça aumentando mais um nível, queria se acalmar, precisava manter-se consciente, precisava avisá-los, nunca mais deixaria alguém que ama morrer, nunca mais cometeria o mesmo erro, nunca mais.



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-Mas isso é impossível! – exclamou Hermione ao ouvir as palavras de Matt, surpresa e incredulidade em seu tom – vidência é um dom hereditário, ela não pode ser nascida trouxa e ser vidente, simplesmente não pode!

-Exatamente – falou Jeff – é impossível, e foi exatamente isso que o professor Dumbledore me falou a alguns anos atrás, assim que confirmou a teoria que criou quando viu a Claire pela primeira vez, mas de alguma forma aconteceu com a minha filha.

-Então esse é o motivo para esse tal de Oreon ter tanto interesse na Claire? – perguntou Harry depois de um momento de silêncio incômodo – pelo dom que ela tem?

-Acreditamos que, em parte sim – respondeu Matt – mas a Claire tem outros talentos que também podem interessá-lo – completou evasivo.

-Então Sr. Homes, devemos supor que sua esposa morreu por causa disso certo? – perguntou o Sr. Weasley com cuidado – Por isso a Claire sente-se culpada?

-A Claire tinha dez anos quando aconteceu – começou Jeff respondendo a pergunta – tínhamos tirado a Claire da cidade, o professor Dumbledore nos avisou que Oreon estava chegando perto de nossa localização e sugeriu que mantivéssemos a Claire fora por um tempo, a mandei para a França, ela iria morar com a irmã de minha esposa, o professor Dumbledore fez o favor de conversar com a diretora de uma escola bruxa de lá, pedindo para que a Claire freqüentasse aquela escola, achamos que tudo estaria bem, mas admito que subestimamos o empenho que este Oreon tinha em achar a Claire.

-Mas por que não Hogwarts – perguntou Neville – é um dos lugares mais seguros do mundo, ela estaria a salvo na escola, por que mandá-la para uma escola francesa?

-Tínhamos que escondê-la porque sabíamos que um dos conselheiros da escola era um dos espiões de Oreon.

-Malfoy – esclareceu Matt com o rosto fechado.

-Numa noite – continuou Jeff a contar – enquanto eu estava no jornal e Matt na universidade, Oreon finalmente no achou – Jeff conseguiu dizer antes de sentir a garganta fechar, não conseguiria continuar, olhou para Matt, num pedido silencioso para que o filho continuasse.

-Quanto chegamos em casa – começou então Matt – a achamos quase toda destruída e a mamãe estava... estava morta no quarto da Claire, Oreon ainda teve a delicadeza de deixar uma mensagem para Claire no espelho do quarto – Matt parou por um momento tomando fôlego – a mensagem dizia que a mamãe era apenas a primeira, e que ele faria tudo para chegar até ela. A Claire nunca se perdoou por não estar lá, por não estar em casa, por não ter conseguido impedir.

-Mas o que ela poderia ter feito, era apenas uma criança – disse uma Sra. Weasley as lágrimas – o que ela poderia ter feito?

-Nada – disse Jeff voltando a conversa – mas nunca conseguimos convencê-la disso. Ela ainda...

Antes que Jeff conseguisse completar seu pensamento, um grito estridente cortou a calmaria da casa como uma navalha, Jeff deu um pulo da cadeira onde estava e olhou Matt assustado, e como um flash de entendimento entra os dois, eles falaram juntos.

-Claire – exclamaram e correram para a porta, sendo seguidos de perto pelos outros.


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Matt foi o primeiro a cruzar a soleira da porta da biblioteca, seguido de perto por Jeff e os outros membros da Ordem que estavam na sala. Correu o mais rápido que pode, os gritos da irmã ainda ecoando em seus ouvidos como uma música insistente. Mas quando os gritos cessaram, o silêncio que se ouviu conseguia ser mais ensurdecedor ainda. ‘O que será que aconteceu para ela parar?’, pensou aflito. Continuou a correr, parecia que o caminho entre um andar e outro da casa tornara-se infinito, parecia que quanto mais corria, mais tinha a impressão de que estava indo lento demais, mas quando finalmente entrou na sala de estar, desejou que nunca tivesse chegado.

Claire estava deitada no chão, suava visivelmente contorcendo-se em uma dor visível. Apertava as têmporas com uma força que deixava os nós de seus dedos brancos. Seus gritos sufocados com visível esforço, os dentes cerrados e uma agonia que paralisou Matt a porta da sala. Ele não conseguiu correr até ela, e também não conseguiu ir embora, nem que quisesse.

Não teve coragem nem capacidade de prosseguir, tal visão tirara-o completamente do ar, e ele só voltou a respirar, o que tinha parado de fazer assim que pousou os olhos na irmã, quando seu pai passou por ele indo em direção a morena, Jeff estava falando, gritava desesperado, e Matt teve que concentrar-se severamente para entender as palavras do pai:

-Filha? – gritava o patriarca Homes visivelmente aflito, correndo em direção a garota e ajoelhando-se ao seu lado – o que está acontecendo? Amor? O que foi? Fala comigo, por favor!

A essa altura, todos os integrantes da Ordem estavam também ao redor da morena, e não havia uma só expressão que não tivesse preocupação estampada em todas as linhas do rosto.

-Sr. Homes? – começou o Sr. Weasley – temos que levá-la para algum lugar, ela precisa de atendimento médico, o que quer que isso seja...

-Não podemos levá-la a um hospital – disse McGonagal depressa – não podemos montar um sistema de proteção pra ela tão rápido, precisamos tratá-la aqui mesmo...

-Matt – chamou Jeff o filho, que ainda estava paralisado a porta.

Matt pareceu acordar com a voz do pai, mas ao contrario do que todos pensaram que ele faria, ele dirigiu-se para ela calmo, andou até a irmã, sentou-se ao lado dela e colocou a sua cabeça em seu colo.

-Precisamos ficar calmos agora – ele disse aos presentes – Claire, pode me ouvir? – perguntou sereno.

Claire não parecia apta a falar, ainda estava com o rosto contorcido, em evidente dor, os destes serrados e os olhos apertados, mas com um esforço evidente, ela inclinou a cabeça parecendo concordar.

-Ótimo – disse Matt ao lado dela – você teve uma visão não foi?

Novamente, ela acenou afirmativamente.

-Agora, ousa a minha voz, e somente a minha voz, acha que consegue?

E, como se entrasse em uma espécie de transe, Claire começou a se contorcer menos.

-Isso, continua comigo ok! Não dorme, você não pode dormir agora, ouviu o que eu disse?

O rosto de Claire parecia mais calmo agora, como se as palavras do irmão estivessem penetrando sua mente e a acalmando. Ela respirava menos pesadamente, e seu rosto já demonstrava menos dor. Todos na sala pareciam surpresos com a calma do médico, e em como ele parecia experiente na situação. Ele continuou.

-Agora, eu quero que você tente abrir os olhos, com calma está bem? Devagar, preciso que você tente relaxar e nos contar o que aconteceu.

Como se cada palavra de Matt fosse uma ordem, devagar Claire abriu os olhos, que estavam encharcados com lágrimas que escorreram abundantemente, tanto pela dor como pela emoção que a transbordava, com esforço ela separou os dentes e começou a falar:

-Ataque... Rápido...

-Onde é? – voltou a perguntar Matt, sabendo exatamente como questioná-la.

Ela fechou os olhos novamente, agora parecendo completamente esgotada, mas abriu-os novamente e respondeu.

- Beauxbatons!

A sala toda pareceu congelar, várias pessoas engasgaram, mas a pior reação foi a de Gui, ele aproximou-se de Claire para ouvir melhor. Matt continuou, treinado.

-Quando? Sabe dizer?

-Logo...

-Como vai acontecer?

-Machucar... Alunos... Matar... Jardins... Ajuda – dizia a morena entre suspiros.

E nessa hora os olhos de Claire pareceram querer sair das órbitas, ela agarrou o braço estendido do irmão que estava perto dela, tentava dizer alguma coisa, e com muito esforço conseguiu colocar o nome pra fora, mais lágrimas rolando pelo rosto.

-Fleur...

Gui arfava agora, aproximou-se mais da morena e perguntou:

-Eles vão machucar a Fleur? É isso que você está dizendo? Ela vai se machucar?

Mas não foi necessária uma resposta da morena, ela apenas fechou os olhos e confirmou com a cabeça. Gui levantou-se com um salto e saiu em direção a porta, mas foi impedido pela diretora de Hogwarts que o segurou pelo braço.

-ME SOLTA – Gritou pra ela Guireagundo imediatamente – eu tenho que...

-Vamos agir Sr. Weasley, mas precisamos nos planejar primeiro, a Claire acaba de nos dar uma vantagem, precisamos pensar...

-Não vou esperar nada, é a vida da minha esposa que está em risco, me deixe ir...

-Calma, entendo a sua angústia, mas precisamos nos organiza - ela falou e olhou para o patriarca Weasley.

-Vamos nos dividir – declarou tomando a decisão – Você, George e Carlinhos, vão para Beauxbatons e vejam como as coisas estão lá. Arthur, você e Quim entrem em contato com o ministro Francês, mandem um aviso para ele o quanto antes, passem por cima da Umbridge, ela não pode saber que estamos interferindo, peçam sigilo sobre a fonte. Eu vou falar com Madame Maxime, ela não está na escola, está em um encontro de diretores de magia na Suíça, vou falar com ela agora mesmo. O restante fica aqui para a proteção a Srt. Homes e o Sr. Potter, não saiam, me entenderam?

Todos pareceram concordar com as instruções da diretora que, com um aceno de cabeça complementou:

-Vamos, agora é hora de agir, nos encontramos na sede da Ordem assim que possível, vão.

Como uma avalanche, todos os que receberam as ordens da diretora saíram apressados da sala em direção aos jardins para aparatar. Matt, que ainda estava ao lado da irmã continuava a falar com ela, com o intento de mantê-la acordada.

-Claire, continua com agente certo, você não pode dormir, não agora, está fraca demais, precisa continuar consciente.

-Matt, não acha que devemos levá-la para um hospital, mesmo que trouxa, ela está pálida, precisa de atendimento... – começou Jeff.

-Ela vai ficar bem pai, mas temos que mantê-la acordada – cortou o médico – Sra. Weasley, será que podemos levar a Claire para um quarto, ela precisa...

-Claro... Claro que sim filho – respondeu a matriarca – leve-a para o quarto da Gina, é o mais perto daqui.

Matt pegou a irmã no colo com certa facilidade e dirigiu-se as escadas da casa, com Jeff logo atrás.

O restante dos integrantes da sala ainda pareciam chocados demais para fazer qualquer comentário, e a primeira a achar a própria voz foi Hermione:

-Mas o que foi isso? – perguntou para ninguém em especial.

-Eu não sei – respondeu um aéreo Harry – mas o que quer que tenha sido, não foi nada prazeroso para a Claire.

-Acha que deveríamos subir e tentar ajudar? – perguntou Luna sem muita certeza.

-Vamos deixar o Matt cuidar dela agora – disse a Sra. Weasley conclusiva - vamos ficar aqui, muita gente no quarto não vai ajudar. – concluiu pensativa – só espero que ela fique bem.


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Duas horas já haviam se passado e a Toca permanecia quieta. Ninguém tinha coragem de subir pra saber se Claire estava bem, e os integrantes da Ordem restantes na sala ainda não tinham recebido nenhuma notícia de Beauxbatons. Harry estava quase se levantando e subindo as escadas quando Matt cruzou a soleira da porta da cozinha e sentou-se pesadamente em uma cadeira.

-Ela vai ficar bem – declarou pesadamente, com a aparência muito cansada – tiveram notícias da Fleur?

-Ainda não – respondeu Hermione – Matt, o que aconteceu? O que houve com a Claire?

Matt olhou Hermione nos olhos, e pela primeira vez, não viu nenhum traço de desconfiança em seu olhar, havia preocupação ali, genuína, e foi por isso que ele resolveu responder sinceramente.

-Vocês acabaram de presenciar a Claire tendo uma visão – ele respondeu cansado – normalmente ela não fica tão esgotada, mas como ela já estava em processo de recuperação, o corpo dela não agüentou a pressão que ela sofre quando vê alguma coisa, mas ela está apenas cansada. Vai se recuperar logo.

-Mas por que você disse que ela não poderia dormir? – perguntou Rony intrigado – não seria melhor para ela descansar se pudesse dormir?

-Ela não pode dormir quando está naquele estado – respondeu ele automaticamente – se ela cai na inconsciência, pode não voltar, o corpo dela adapta-se ao seu estado, a inconsciência dá conforto a ela, e se ela desmaia, pode entrar em coma mágico.

-Minha nossa – exclamou Hermione com as mãos cobrindo a boca – Mas por que?

-Este poder que ela tem, lhe consome força vital, por isso a consome tanto, por isso ela fica tão fraca, ela não pode se stressar muito, se preocupar assim pode custar muito a ela.

-Eu lamento – disse a Sra. Weasley verdadeiramente sentida – Podemos ajudar de alguma maneira?

-Ela só precisa descansar agora Sra. Weasley, tudo vai ficar bem.

A sala entrou em um silêncio incômodo depois disso, todos pareciam absortos em seus próprios pensamentos, mas depois de um tempo, Rony quebrou o silêncio perguntado:

-Mas como vocês conseguem viver assim? – perguntou a Matt - Vendo-a sofrer desse jeito?

-Nós a amamos – ele respondeu simples – o que mais poderíamos fazer.

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