SENSAÇÕES ESQUISITAS
A lua estava cheia e o clima tão frio que Alvo conseguia ver a fumaça saindo de seu nariz enquanto respirava. Pôde sentir algo passando pelas suas pernas e percebeu que estava imerso em uma água lodosa até os joelhos. Procurou sair dali o quanto antes. Não fazia idéia de onde estava e olhou ao redor procurando alguém. O lugar parecia um pântano, com árvores repletas de galhos e com pouquíssimos ramos de plantas que mais pareciam desmaiar do que brotar delas. Não havia ninguém ali, Alvo estava só. De repente, do meio da neblina que surgira misteriosamente, ele pôde ver um vulto. Um vulto que crescia a cada instante em sua direção. Seu coração pulsava a uma velocidade estonteante e por mais que ele quisesse sair correndo, seus pés pareciam ainda presos pelo lodo. O vulto agora havia tomado a forma de uma mulher. Uma forma bonita de mulher. E essa mulher aos poucos foi adquirindo um rosto. Alvo apertou os olhos para tentar ver melhor: aquela mulher era Ravena Corvinal. Ela parou do outro lado do pântando e gritou para ele. “O quê? Não consigo entender!”, disse Potter. Mais uma vez ela lhe gritou. “Eu não entendo!”, repetiu. Do meio do pântano, surgiu um monstro que voou, urrando, para cima de Alvo. O monstro sacou sua varinha e Potter tateou em busca da sua e não a encontrou. Ele viu um clarão violeta e...
− O que você está fazendo?
Alvo foi mais uma vez advertido por Rose, por não estar se concentrando no que deveria. Ele, a prima, Peter e John pegaram livros na biblioteca e, aproveitando-se do grande número de alunos por lá e nas salas comunais, foram estudar próximos à entrada da sala da diretora MacGonagall.
− Al, onde é que você está com a cabeça?
− Desculpa, Rose. Eu estou viajando mesmo.
− Nós temos pré-avaliações nesta semana inteira e você fica perdendo o tempo com outras coisas? Não me diga que é com o campeonato clandestino de figurinhas raras que James está fazendo? Sinceramente...um campeonato de figurinhas raras. Quem é louco de aparecer por lá em plena semana de pré-avaliações?
− Quase todo mundo! – Jonathan falou indignado por Rose tê-lo impedido de ir.
− Ora, Jonathan, aquilo é uma perda de tempo. Sem falar que você está se arriscando muito em baixar suas notas.
− Mas Rose...
− A gente já conversou sobre suas notas em Herbologia, não foi?
− Que droga. Até minha irmã vai!
− Isso porque ela é uma irresponsável e como nós não somos...
Jonathan fez um bico maior do que o de um hipogrifo, mas Rose estava irredutível. Nem os apelos de Peter por 1 hora apenas de recesso a fizeram mudar de idéia. Embora as notas de Jonathan em Feitiços estivessem excepcionalmente altas, assim como as de Peter, em Astronomia, as outras não estavam nada boas e Rose não podia permitir que seus amigos recebessem menos do que Aceitável, nas pré-avaliações de Hogwarts. Quem ficasse abaixo disso teria que tomar aulas extras de reforço, uma nova ferramenta da escola para garantir a excelência da nova geração, que parecia não querer nada com a vida.
Alvo sequer prestou atenção ao que eles discutiam, pois sua mente voltou a aprofundar-se nas letras do livro, como se mergulhasse por elas e fosse parar em um mundo totalmente silencioso em que pudesse pensar e repensar naquilo que aconteceu. Já fazia 3 dias que ele não dormia direito, tinha sonhos esquisitos e, mesmo com os abafadores enfeitiçados por Rose para não ouvir o ronco do Frei Gorducho, não conseguia voltar a dormir. Alvo estava certo de que esses sonhos estranhos estavam ligados com o que aconteceu. Quando dormia, as coisas que sonhava beiravam o absurdo, como no pesadelo em que Malfoy e ele eram grandes amigos e matavam alguém. Sem falar no qual ele caía num abismo sem fim, perseguido por gárgulas de pedra voadoras. E no mais recente, com Ravena Corvinal gritando algo incompreensível e o monstro do pântano. Rose percebeu que os olhos de Alvo quase não mexiam e presumiu que ele não estava lendo nada.
− Alvo!
Ele olhou para a prima, assustado.
− Desse jeito, você não vai conseguir fazer nenhum pré-teste!
− Você tem razão, Rose. Desculpe. É que...
− Ele não tem dormido direito, sabe? – Peter interveio – Já acordei duas vezes de noite e ele estava em frente ao quadro do quarto, vendo a neve cair, super distraído.
− Alvo, porque você não fala com Madame Pomfrey? Tenho certeza que ela pode te ajudar com essa insônia! – Jonathan sugeriu.
− A não ser que você ainda esteja pensando naquilo – Rose acertou em cheio – Al, você tem que entender que a gente não vai encontrar resposta pra tudo, em Hogwarts. A escola é um mistério desde que fundaram.
− Mas aconteceu comigo!
− Como poderia ter acontecido com qualquer um de nós. Se isso está te assustando tanto, por que não fala com alguém? Com a diretora ou com seu pai?
− E dizer o que? Pai, eu acho que fui possuído? Eles iriam me internar no St Mungus! Além disso...
Ele hesitou. Sua cabeça estava a mil, mas Alvo não sabia se deveria ou não compartilhar com os amigos as possibilidades que sua mente criativa estava lhe oferecendo para encontrar uma explicação plausível sobre tudo isso. Ele suava frio e suas mãos estavam encharcadas de suor. Rose olhava para ele, tentando compreender o que estava consumindo os pensamentos do primo. Queria ajudar de alguma forma, mas Alvo tinha que falar o que estava acontecendo.
− Além disso o que? Fala! – pediu John – Nós somos seus amigos. Se você não confia na gente pra te ajudar, a quem você vai pedir ajuda? Aos sonserinos?
Todos esboçaram um sorriso teimoso, mas Alvo continuava com um gosto amargo na boca.
− O que é Alvo? O que tem a mais que você não está contando pra gente? – perguntou Rose.
− Não é nada.
− Claro que não “não é nada”. O que é que você anda pensando? Que isso pode acontecer de novo? – Peter perguntou.
− É que...é que...- hesitou por um instante e desatou a falar - E se foi um feitiço e esse feitiço tiver algum efeito colateral, como esses pesadelos que ando tendo? E se foi uma pessoa que ainda tenha controle sobre mim? E se foi a voz? Como vocês vão saber que eu sou eu? E se essa...essa coisa voltar e eu machucar vocês? Dessa vez foram inofensivos morcegos-lagartos, mas e da próxima? Se for algo mortal? E se vocês tiverem que me matar...
Alvo finalmente expôs tudo o que o estava consumindo nesses dias e as lágrimas saltavam descontroladas de seus olhos. Suas mãos tremiam e sua expressão oscilava entre desespero e angústia. Ele estava enlouquecendo e há tempos queria falar, mas tinha medo da reação dos amigos.
− Pára, Alvo! Tá maluco? Ninguém aqui vai te matar!
− Que história é essa de matar, Sr Dumbledore? O que vocês estão fazendo aqui, Srta Wesleay? E por que o Sr Potter está chorando?
Todos levaram um baita susto quando a figura de McGonagall apareceu de surpresa onde eles estavam sentados.
− Ainda estou esperando uma resposta de vocês – falou firmemente.
− Então... – Jonathan começou, mas Rose tomou a dianteira.
− O Alvo está chorando porque ele está tão preocupado e estressado com essas novas pré-avaliações que está tendo crises.
− Ele nem tem dormido direito, diretora – Peter interveio em apoio.
− E ele achou que a gente ia matar ele porque ele não fez a pesquisa que precisamos pra estudar Herbologia, já que nossas notas estão péssimas. Ele realmente está surtando – Jonathan comentou.
− E a biblioteca está cheia de gente, assim como as salas comunais, diretora McGonagall. Então, nós achamos este lugar onde quase ninguém passa e resolvemos estudar aqui para poder concentrar melhor e, assim, nos prepararmos para as pré-avaliações desta semana. Tem algum problema se ficarmos por aqui, diretora? Por favor?
Os olhos de Rose pareciam olhos carentes de um gatinho, ao mesmo tempo que emanavam uma certa determinação já conhecida e a diretora achou-os charmosos demais para dizer não.
− Podem estudar aqui, Srta Weasley, contanto que se contenham nas discussões fervorosas como a de agora. E o Sr, Potter, precisa descansar a mente. Recomendo que vá até Papoula Pomfrey e conte a ela o que o está afligindo, meu rapaz. Se você continuar assim, não terá condições de ter uma atuação satisfatória nas pré-avaliações.
− Sim, diretora McGonagall.
Ela se retirou e eles puderam ouvir o barulho da gárgula se movendo para dar lugar à escadaria que levava à sala de Minerva. Os quatro trocaram um sorriso triunfante.
− Pronto! Uma parte do plano já foi.
− A gente vai fazer isso agora? Durante os testes?
− Claro que não, Jonathan. As pré-avaliações são prioridade absoluta! Mas temos que garantir que ela não suspeite que estamos tentando invadir a sala dela, né? Aí, depois, é só dizer que nós gostamos de estudar aqui, deu certo e pedimos para continuar.
− Hum...nossa, você realmente pensa em tudo! – Jonathan falou, admirado.
− E você, Alvo, pára de pensar essas coisas. Provavelmente foi algum feitiço maroto que ficou preso naquela sala e pegou em você, já que foi o primeiro a abrir a porta.
− Mas isso não explica a gente ter achado aquela pedra estranha – comentou John.
Rose o olhou atravessado. Ela havia tentado encerrar a discussão e Jonathan havia estragado tudo. Lógico que um simples feitiço não explicava o fato de eles terem encontrado aquela pedra misteriosa.
− Você precisa mesmo descansar, Alvo – Rose falou, afável.
− Quer que eu vá com você até a Ala Hospitalar?
− Não, Peter. Tudo bem. Eu vou sozinho. Vou ver se consigo dormir um pouco e não quero atrapalhar seu estudo.
− Eu posso ir com você, sem problemas – disse John - Não acho bom você ir sozinho nesse estado.
Mas antes que Alvo dissesse alguma coisa, Rose pôde perceber um certo brilho nos olhos de Jonathan.
− Nem pensar, Jonathan. Você não vai sair daqui pra participar de uma jogatina clandestina! – falou, enérgica.
Jonathan voltou a ficar com seu bico de hipogrifo. Alvo sorriu e se despediu dos colegas. Foi caminhando vagarosamente pelos corredores da escola em direção ao terceiro andar, onde a Ala estava desta vez. Pelo caminho, permitiu-se afundar em novos devaneios, que o deixavam completamente distraído. Alvo andava com os olhos fixados no chão, brincando com as linhas das pedras que formavam o piso do castelo. Quando se sentiu tonto, voltou a olhar para frente e, de repente, foi como se as linhas das pedras da parede em frente ascendessem como raio e, como um raio, apagassem.
Alvo esfregou os olhos e tornou a olhar para a parede, que estava normal. Potter pôde apenas distinguir alguns rabiscos que nem chegavam a completar uma palavra, como se a tinta da pena estivesse acabando. Eram cinco letras, mas ele não conseguiu entender muito bem. Seria Hogwarts dando uma nova pista? Ou a sua mente brincando com ele? Depois de refletir um pouco sobre as besteiras que pensava, concluiu que, definitivamente, estava tendo alucinações porque não dormia direito há dias. Assim que chegou na Ala Hospitalar, Madame Pomfrey já sabia o que fazer.
− Só um segundo, Potter! Não sei quantos alunos já receitei poção do sono para conseguir dormir desde o início desta semana. Essa geração de vocês...deixando para estudar tudo nas vésperas. Não dormem e é nisso que dá!
Enquanto ouvia o sermão de Madame Pomfrey, Alvo permanecia de cabeça baixa. Tudo bem que ele também havia deixado para estudar na última hora, mas não era esse o real motivo de estar ali. Contudo, preferiu não comentar com a bruxa sobre sua possível possessão e sua recente alucinação. Essas coisas não eram bem-vistas aos olhos dos bruxos. Agradeceu pelo pequeno frasco verde, do tamanho do seu polegar e saiu da Ala. No caminho para sua Casa, Alvo teve a impressão de que alguém o seguia e, volta e meia, olhava para trás.
− Quem está aí? – perguntou, sem nenhuma resposta.
Com medo, Alvo correu para chegar até a entrada da Lufa-Lufa. No caminho, esbarrou em alguém.
− Oh, me desculpe! Eu...
O rosto de Alvo empalicedecu ao notar que uma longa cabeleira ruiva, cuidadosamente trançada e amarrada. Tinha acabado de esbarrar justamente no professor mais carrasco de Hogwarts: Prof Pratevil. Os olhos, aqueles olhos frios e sem vida, eram realmente aterrorizantes e só perdiam para o horror apocalíptico que seria a prova dele.
− Correndo pelo corredor, Sr Potter? Fico me perguntando por quê?
− É que...é que eu...estou atrasado.
− Atrasado? Não há nenhuma aula agora.
− É mas...é para estudar. Lá na sala comunal. Então...hum...com licença.
Ele segurou o garoto pelo braço.
− Está tudo bem, Sr Potter? Parece que não tem dormido bem.
− São as provas! – respondeu prontamente.
− Espero que tenha se preparado para a minha.
Alvo engoliu seco e não pôde deixar de expressar todo o seu pânico.
− Você sabe que eu não faço distinção entre meus alunos e os filhos de celebridades.
– Sim senhor. Com licença, professor.
Deu a volta pelo professor e seguiu com passos apressados, sentindo o olhar desconfiado e a respiração pesada de Pratevil bem na sua nuca. Assim que chegou na entrada de sua Casa se sentiu aliviado. Ao passar pelo quadro, Alvo tomou um susto ao presenciar uma cena atípica na Sala Comunal. Ele pôde perceber o quanto as pré-avaliações mexiam com os alunos: alguns rostos pareciam extremamente concentrados na leitura, outros tinham expressões confusas e outros desesperadas, que combinavam com uma grande bagunça nos cabelos. Ele não conseguiu deixar de esboçar um sorriso por isso. Lucy e Lena surgiram pelo jardim das maçãs pouco depois e vieram ao encontro dele.
− Olhe, Alvo! Consegui a figurinha de minha mãe!
− Você foi para o campeonato clandestino de figurinhas raras?
Alvo pegou a figurinha e pôde ler no verso: “Luna Lovegood, membro da Armada de Dumbledore e da elite que derrotou Aquele-que-não-deve-ser-nomeado. Conhecida por sua intimidade com a natureza, por suas frases enigmáticas e por catalogar uma praga até então desconhecida para o mundo bruxo: o narguilé”. Alvo deu um sorriso amarelo e devolveu a figurinha à amiga.
− Claro que sim. Senti uma boa vibração, como se algo positivo fosse acontecer se eu aparecesse por lá, sabe? E é o James que está fazendo, então...
− Você não vai, Alvo? James estava apostando que você não ia – Lena comentou.
− Ele estava é? Pois eu só vim pegar algumas figurinhas raras para participar!
− Você está com a cara de quem precisa dormir, Alvo – disse Lucy.
− Só um joguinho não vai fazer mal, não é? – disse Lena – Vamos, eu acompanho você.
− Eu vou junto! Ainda estou com excelentes vibrações.
O campeonato estava acontecendo no corredor do 3º andar, numa ala pouco limpa e aparentemente abandonada do lado esquerdo. James havia pensado em cada detalhe desde que decidiu fazer um campeonato de figurinhas raras e nada melhor do que agendá-lo justamente na semana das pré-avaliações, pois, aí sim, ele teria garantia de que só os apaixonados pela coleção apareceriam. Ele tinha até posto um feitiço ilusório para que Filch não percebesse a movimentação na sexta sala à direita do corredor, onde a jogatina e a barganha rolavam soltas. Além disso, havia passado o dia anterior caçando ratos e aranhas e os enfeitiçando para que deixassem um rastro que Madame Norra pudesse seguir. Bastava que os alunos tivessem muito cuidado e eles eram advertidos pelos agentes de Potter espalhados, casualmente, pelos caminhos que davam acesso ao corredor.
Quando Alvo entrou na sala, pôde perceber que ela estava incrivelmente cheia para a véspera das primeiras pré-avaliações. Grifinórios, lufos, corvinais e sonserinos dividiam a sala e alternavam grupos de disputa nas mesas. Uma estava particularmente cheia, com torcida e gritos. Malfoy acabara de derrotar mais um grifinório, desta vez, do terceiro ano.
− Quem será minha próxima vítima? – perguntou confiante – Alguém aqui se habilita a perder? – e soltou uma risada maquiavélica.
− Ele está terrível hoje – Lena disse – Está ganhando várias mãos seguidas. James acha que ele está roubando de alguma forma, por isso Oliver está de olho na mesa dele. Até agora não conseguiram pegá-lo.
− Por que ele não joga com Malfoy?
− Tá doido? Hoje é o dia dele, não há o que se discutir.
Eles viram um corvinal do 5º ano sentar na mesa do sonserino e iniciar uma nova partida. Alvo se aproximou para olhar a técnica de Malfoy.
− A aposta. – disse Deymon friamente.
− Tenho algo que lhe interessa: Salazar Sonserina!
Muitos alunos ao redor exclamaram. A figurinha dos fundadores era a mais rara de se conseguir. Deymon não parecia se abalar pela aposta.
− Muito bem. Harry Potter!
A agitação foi ainda maior na mesa. Harry Potter era uma das mais raras figurinhas e todos matavam e morriam para tê-la! James se aproximou da mesa para observar melhor.
− Pensei que não vinha, Alvo.
− Pensou, é?
− Conseguiu fugir do grupo de estudo de Rose?
− Dei um jeito.
− Harry Potter, hein? Aposto que o pai comprou pra ele essa figurinha.
− Ele parece ser um bom jogador, James. Lena disse que ele ganhou várias mãos seguidas.
− Ele está roubando. É só uma questão de tempo para que eu descubra como.
O juiz da mesa era Nicolau e nem era preciso dizer que ele suava como um porco pela grandiosidade das apostas na mesa. Não era todo dia que se podia observar um jogo dessa magnitude. Os dois pegavam 5 figurinhas e mantinham em suas mãos. O novo jogo funcionava à base de memória, boa dedução e sorte. Era preciso saber o máximo sobre a história dos bruxos que estavam estampados nas figurinhas para ganhar a partida. Funcionava assim: primeiro, os jogadores faziam as apostas com suas cartas raras. Depois, escolhiam as 5 cartas que ficariam em suas mãos e as mostravam para o juiz, para evitar roubo no jogo. Em seguida, lançavam pistas sobre suas próprias cartas para que o adversário pudesse adivinhar. Aquele que conseguisse acertar as 5 cartas primeiro, vencia. O grande truque era dar dicas gerais, que poderiam ser encontradas em qualquer figurinha. O corvinal começava.
− Bruxa louca.
− Alice Longbottom.
− Não – disse o corvinal, sem graça.
O rosto de Nicolau inchou e se avermelhou, ao mesmo tempo que ele lançou um olhar fulminante para Malfoy, que olhou sério para ele.
− É um jogo, Longbottom. Você tem que conviver com isso. Dançarino.
− Pietro Lacarmare.
− Não.
− Bruxa louca e internada no St Mungus.
− Não é Alice Longbottom? – provocou um pouco mais – Deixe-me pensar... hum... Madame Katarina Hughley!
− Droga! – exclamou o corvinal enquanto descartava sua carta.
Como Malfoy havia acertado, tinha direito a uma outra pista.
− Ainda vivo.
− Kingsley Shacklebolt.
− Não.
− Dançarino e sedutor.
− Alfie, o terrível!
− Não – sorriu maliciosamente.
O corvinal olhava para o juiz, mas ele fez sinal de que o jogo estava limpo. Alvo observou que Malfoy sabia escolher muito bem as palavras. Os sonserinos atrás dele sorriam animados.
− Ainda vivo e aposentado.
− Filio Flitwick.
− Merda!! – e descartou furiosamente outra carta. Malfoy estava calmo, apesar da euforia de sua torcida. – Traidor.
Malfoy sentiu um nó lhe apertar a garganta. Se fosse alguém da Sonserina, ele poderia até imaginar que seria a figurinha do seu pai ou do seu avô, mas só podia ser um plano ardiloso para confundi-lo e fazê-lo se humilhar na frente dos outros. Não poderia ser nenhum deles.
− Bartolomeu Crouch Junior.
− Não – e sorriu.
− Dançarino, sedutor e ex-farsante.
− Gilderoy Lockhart!
Malfoy descartou calmamente sua carta, enquanto o grupo que apoiava o quinto anista fazia a festa. O rapaz estava mexendo com quem não devia e Deymon iria deixar isso muito claro.
− Traidor e da sonserina – disse e lançou-lhe um olhar provocador.
− Severo Snape – disse, seco e viu o adversário descartar sua carta.
− Morto.
− Alastor Moody – o corvinal abaixou a carta, abobalhado.
Só lhe restava uma carta.
− Morta.
Malfoy baixou o olhar e repassou mentalmente as bruxas mortas estampadas nas cartas. Acertar Alastor Moody de primeira havia sido de muita sorte e ele tinha que acertar agora para que o adversário entendesse com quem estava lidando. Ficou mais alguns segundos pensandoe levantou sua cabeça vagarosamente, olhando diretamente para o corvinal. Quando ele abriu a boca, seu rival não pôde acreditar.
− Ninfadora Tonks.
− Não é possível! Você roubou! Você viu minhas cartas! Você lançou algum feitiço aqui. James, isso está errado! – reclamou.
− Eu concordo com você de que algo cheira muito mal, mas ainda não tenho como comprovar – e lançou um olhar inquisidor para o sonserino.
Malfoy se aproximou do corvinal que era quase o dobro do se tamanho e tomou a carta de Salazar Sonserina de suas mãos.
− Não subestime um adversário pelo que ele parece. E pelo que vejo, o Potter aqui não acredita que alguém possa ter um talento que ele não tenha.
Alguns sonserinos sorriram desdenhosos.
− Eu enfrento você agora, Malfoy! – disse, enérgico.
− Eu dispenso – disse friamente e com um ar esnobe – Para mim, os ganhos de hoje são suficientes. Quem sabe em um próximo torneio?
O sonserino deu as costas para Potter que inchou como um polvo-bolha.
− Isso é covardia, Malfoy? Não tem coragem?
Ele se virou calmamente para o grifinório.
− Não é uma questão de coragem, Potter. É uma questão de estratégia. Que artifícios baixos você vai usar para que eu jogue com você? Que desespero, hein! – sorriu e se juntou a Khai e Lizzie.
James fez menção de pegar sua varinha, mas foi impedido por Lena Jordan.
− Deixa ele, James. É um idiota.
− Ele não pode falar assim comigo no meu torneio. Eu nem deveria ter deixado os sonserinos entrarem. Ele estará na minha lista de restrições da próxima vez.
− Se você fizer isso, aí o covarde será você – alertou Alvo.
− Seu irmão está certo – foi a vez de Oliver falar.
− Mas não foi justo o que ele fez com Nick!
− Não foi mesmo. Ele provocou – disse Oliver – Mas a avó dele está nas cartas, não está? Assim como o pai dele, o seu e o do próprio Malfoy. Infelizmente é um jogo.
− Ei, Potter! – Détrio se aproximou de Alvo – Estamos fazendo uma melhor de três. Quer fazer parte do nosso grupo?
− Claro!
Alvo foi levado por Détrio para a última mesa da sala, onde Tiago, da Corvinal, esperava.
− Seremos nós três contra Timmy, Gus e Bruce.
O jogo foi bem emocionante e demorado. O grupo de Alvo ganhou por 2x1 de virada e levaram as figurinhas de Ronald Weasley, Severo Snape e Beatrix Fairetaile.
− Olha o horário! Eu tenho que ir, gente.
− Poxa, Alvo. Fica aí pra mais uma partida!
− Pra mim não dá, Détrio. Eu tinha que estar dormindo esse tempo todo. Até consegui uma poção do sono da Madame Pomfrey.
− Por que? Não está conseguindo dormir?
− Não. Ando tenho pesadelos.
− Eu também! – disse Détrio – Sonho que a diretora MacGonagall vai até minha casa no Natal e diz que minhas notas estão num nível que nem tem qualificação de tão negativo. Ela me expulsa da escola. E esse sonho tem se repetido muito.
− Pelo menos você sonha com a diretora MacGonagall! Eu sonho que não consigo transfigurar a minhoca-de-duas-cabeças-e-três-rabos em uma pena e o professor Pratevil me joga para ser comido pelas lesmas de Hagrid a pontapés! – contou Tiago.
− Nojento! – Alvo exclamou.
− E não é o pior! Aí aparece Ravena Corvinal me dizendo que eu nunca deveria ter entrado na casa dela, e depois a Dama Cinzenta e depois o diretor da minha Casa, o Prof Mikael Marstrovich... aí eu acordo porque já é ruim demais!
Os outros riram.
− E você, Potter? Com o que sonha?
− Sonho que o Prof Pratevil me transfigura numa vassoura por eu ser tão burro e meu pai é obrigado a me usar para trabalhar – mentiu.
Todos riram muito.
− Qual carta você quer? – perguntou Tiago – Você foi o cara da virada, então, pode escolher primeiro.
− A de Beatrix Fairetaile. Eu ainda não tenho essa.
− Eu fico com a de Severo Snape.
− Ainda bem! – disse Détrio – Porque eu queria muito a de Ronald Weasley.
− Tchau! A gente se vê nas aulas – disse Alvo enquanto ia até James se despedir.
− Pronto pra outra, Tiago?
− Não. Eu tenho que dar uma última lida em História. Até mais!
Détrio deu de ombros e foi procurar alguém para formar uma dupla.
− Isso aqui pra mim já deu. E aí? Vamos?
− Deixa só o Khai terminar de jogar. Posso ver? – Lizzie se referia à carta que Malfoy ganhou.
− “Salazar Sonserina: um dos fundadores de Hogwarts e criador da Casa Sonserina. Brigou com os outros fundadores por discordar da aceitação de alunos que não fossem puro-sangue na escola. Criou o mito da Câmara Secreta que foi encontrada por Harry Potter, cuja localização continua um segredo.”
− Nessa Câmara Secreta tinha um basilisco que Salazar Sonserina deixou para matar os sangue-ruins, mas Potter o matou – Malfoy complementou – A pele dele está em eterna exposição no Museu da Guerra.
− Onde fica esse Museu da Guerra? – Lizzie perguntou.
− Dentro do Ministério. Os alunos de Hogwarts visitam o lugar quando chegam ao 4º ano.
− Tenho que esperar tudo isso para ver o que tem lá?
− A não ser que alguém te leve.
− Você já foi? – perguntou.
− Sim. Uma babaquice, se quer saber minha opinião. Homenagem aos mortos, aos heróis de guerra, às aventuras de Harry Potter e blá, blá, blá. Pura repetição de baba-ovo.
− E nada sobre Voldemort?
Lizzie parecia não ter noção do que esse nome significava. A simplicidade com que ela encarava Voldemort chegava a irritar Malfoy.
− Só sobre como ele e seus Comensais da Morte foram derrotados por Harry Potter.
− Parece que isso é regra no mundo dos bruxos e dos trouxas: os vencedores sempre contam a história pelo ângulo deles. Não existe neutralidade.
− Oi!
Malfoy olhou surpreso para o corvinal que se aproximou deles, enquanto Lizzie deu um longo e pesado suspiro.
− O que é, Tiago?
− Sei que você não tem figurinhas de Hogwarts, então queria te dar essa.
− Olha, se for de Dumbledore...
− Não, não é. Eu não te daria se fosse dele. Sei que não gosta.
Ela olhou para a figurinha de Severo Snape, que estava vazia.
− É muito raro ele aparecer aí, mas tenho certeza que ele vai aparecer pra você. É meu presente de natal.
− Hum...tá. Obrigada.
− Tchau e até mais Malfoy.
Deymon deu para ele um breve e imperceptível aceno de cabeça.
− O que é que tá acontecendo?
− Ele sempre fala comigo, por mais que eu seja rude. Eu já desisti dele. Quando eu estava na biblioteca pesquisando sobre a pedra, ele sentou pra estudar comigo. Eu já desisti de mandar ele embora.
− Eu acho que ele gosta de você.
− Eu acho que ele gosta do fato de eu não gostar dele.
− Mas você não gosta de ninguém.
− Verdade.
− Oi gente. Ganhei Alastor Moody!
− Elizabeth ganhou Severo Snape e nem precisou jogar.
− Como?
− O admirador dela deu pra ela.
Khai parecia ter se engasgado com caroço de abóbora de pálido que ficou.
− Deymon, pára de encher o saco. Eu não ia recusar uma carta boa dessas, né? Você tinha dito mais cedo que ela era uma boa carta. Uma carta de blefe.
− Verdade.
− Bom, eu não sei quanto a vocês, mas eu realmente preciso treinar para feitiço e transfiguração. Com essa varinha eu tô perdida!
Os sonserinos riram.
− Se quiser eu tomo a poção polissuco e faço o teste por você – disse Khai e os dois sonserinos riram.
− Falando em poção, como anda a nossa? - disse Malfoy.
− Está tudo do jeitinho certo. Eu já consegui as amostras dos monitores. Em alguns dias vamos poder tomar. Isso é, se Khai tomar conta dela direito.
− Eu sei o que fazer. Você já me deu as instruções.
− Eu sei, eu sei. Mas é a minha poção, então, se alguma coisa der errado com ela, você vai se arrepender.
− Eu sei, eu sei!
− E aquela outra coisa?
− Eu já fiz a minha parte, só que ele precisa tomar, né?
− Eu já sei como – disse Malfoy, sorrindo – Vamos embora. Não quero chamar atenção.
Eles saíram da sala e correram para não serem pegos por Filch e Madame Norra. Na Câmara das Passagens encontraram Alvo levando um sermão de Rose Weasley.
− E eu lá, toda preocupada com você porque não estava conseguindo dormir à noite!
− Mas Rose, o James...
− Não importa o James! Você tem é que estudar pra melhorar as notas e não precisar das aulas extras!
− Pára, Rose! Você não é a minha mãe!
Os sonserinos riram e caminharam em direção a sua sala comunal.
− Ótimo!
Rose virou as costas e caminhou com passos pesados em direção ao sétimo andar para estudar sozinha. Ela estava profundamente magoada com o primo, porque só queria ajudá-lo. Rose sentia um misto de emoções, com muita raiva por Alvo tê-la feito passar vergonha na frente dos sonserinos e tratá-la daquele jeito, ao mesmo tempo que algo lhe doía por dentro. Ela não estava chorando, mas era como se uma nuvem tivesse passado pela sua face e deixado algumas gotas de chuva pousar em seus olhos.
Alvo se sentiu arrependido por falar com a prima daquele jeito, mas ela já estava exagerando. Ele caminhou até seu quarto, mostrou as figurinhas para um Peter revoltado, contou o que houve com Rose e tomou a poção para dormir. Peter enfeitiçou um galho de árvore para que ele crescesse a cada hora e cutucasse Alvo bem cedo, afinal, ele tinha que repassar algumas coisas antes das pré-avaliações.
Comentários (2)
Merlim! Nunca vi esse comentário, desculpe! O jogo das figurinhas, você gostou.... *______*obrigada!
2012-11-10aaaaaaaaaah, o alvo é uma graça. adorei o negocio das figurinhas ! é isso ainda estou lendo bjs :*
2011-03-21