PEÇAS DE UM QUEBRA-CABEÇA



O ar estava um pouco úmido, o vento trazia uma brisa cortante e o céu estava abarrotado de nuvens, mas, por incrível que pareça, não parecia que iria chover. Aos poucos, o campo de quadribol de Hogwarts foi tomado pelos alunos das casas, ansiosos pela primeira partida do ano. O campo estava muito bem cuidado e limpo, depois do longo trabalho de detenção dos sonserinos. Bandeirolas com os emblemas dos times da Grifinória e da Lufa-Lufa eram agitadas com energia pelos inquietos primeiro-anistas: os primeiros a chegar ao campo, diga-se de passagem. Os sonserinos e corvinais também estavam em suas arquibancadas, tremendo de frio. Alvo, Peter, Rose e Jonathan sentaram juntos para assistir o jogo e comentar as famosas jogadas de James. Seria a primeira vez que Alvo veria o irmão jogar para valer e, embora não quisesse demonstrar, estava extremamente animado. Harry também estava no campo, muito ansioso e roendo as unhas. Ele e Neville estampavam sorrisos e torciam, descaradamente, para a Grifinória.

Nas tendas armadas para a concentração dos times, havia muita euforia e nervosismo ao mesmo tempo. Os lufos repassavam as manobras evasivas e os bloqueios das jogadas dos grifinórios. Os grifinórios relembravam as jogadas de ataque e James fazia discursos calorosos para empolgar a galera. Era o primeiro jogo da temporada e significava muito para os jogadores conseguir um placar favorável e, de preferência, com muitos gols. É verdade que a pressão em cima dos apanhadores era muito grande, já que, em até poucos segundos, eles poderiam garantir a vitória para suas Casas. Contudo, James estava excepcionalmente mais nervoso do que o normal, porque o seu pai estaria na arquibancada vendo que seu filho pródigo era o melhor atacante de todas as Casas.

– Nervoso, Potter? – Oliver perguntou.

– Você não faz idéia. Hoje é o jogo da minha vida.

– É...então já vi que vamos botar os lufos pra comer pó de flu – continuou.

– Eles nem vão ver o que os atingiram pelo caminho. – sorriu de volta para o amigo.

Respiraram fundo e entraram no campo, sob aplausos e gritos.

– E aí vêm os campeões do ano passado: os artilheiros James Potter, capitão do time da Grifinória, a linda Georgina Gumbles e Bob Ho; os batedores Hugh Breaksville e Doodle Pankeakes; o nosso incrível goleiro Oliver Woods e nosso experiente apanhador, Jeremiah Newton!!

A Casa Grifinória veio abaixo com a narração empolgada do colega Graham Pompsky, do 4º ano. Os sonserinos aproveitaram para vaiar.

– E aí vêm os desafiantes: o goleiro e capitão do time da Lufa-Lufa, Leo Bernett; os artilheiros Milles Hanksy, Daniel Hoots e Lena Jordan; os batedores Cornélio Colthy e Artemísia Jones e o apanhador Artemus Ruscatcher!

Uma outra onda de ovações surgiu do outro lado do campo e os sonserinos, mais uma vez, vaiaram. Os dois times fizeram um pequeno aquecimento e depois se dirigiram aos seus lugares para dar início à partida.

– O pomo de ouro acaba de ser solto. Os apanhadores das equipes têm que estar muito atentos porque essa bola é a mais danada de todas. Quem pegar o pomo primeiro ganha 150 pontos para sua Casa e encerra o jogo. E lá vão os balaços, doidos para quebrar alguns ossos.

A diretora MacGonagall lançou um olhar repreensivo para Graham.

– Desculpe, diretora.

– Quero um jogo justo, sem trapaças e faltas – disse Madame Hooch – Montem nas suas vassouras!

Madame Hooch assoprou seu apito de prata e lançou a goles no ar.

– E começa o jogo. Jordan ganha a posse da goles para os lufos e passa para Hanksy, que lança novamente para Jordan...uou!! Esse balaço passou perto! Ela dribla Gumbles e lança para Hoots...excelente roubada de goles de Potter!! Os grifinórios avançam pelo campo, agora, em formação 3-2, os batedores protegendo os artilheiros dos balaços. James passa a goles para Ho, que muda a formação e confunde a marcação dos lufos. Ele está com um bom ângulo para lançar, cruza na pequena área e... Bernett dá um soco nela! Mas a posse ainda é da Grifinória que avança novamente, com Gumbles na frente. Ela dribla Hoots e parte em zig zag para os aros. Jordan tenta roubar a goles e Gumbles atira para cima, direto nas mãos de Potter que...hum!...quase na cabeça. Ele continua com a goles e toca para Ho, que traz a marcação com ele, deixando Potter livre do outro lado. Ele lança para o companheiro e é gol!!! 10 pontos para a Grifinória, do capitão Potter! A galera vai à loucura!

– Vai, vai, Grifinória! Vai, vai, Grifinória! – gritavam os alunos, junto com Harry e Neville.

A diretora MacGonagall lançou-lhes um olhar atravessado e eles pediram desculpas. Mas bastou ela dar as costas que os dois começavam a torcer fervorosamente. Era como voltar no tempo e se sentir garoto novamente. Harry estava adorando aquilo. E estava orgulhoso e com inveja do filho, que agora defendia o emblema de sua Casa.

– Eu quero jogar! – disse Harry a Neville.

– Vamos ver se a equipe da Grifinória vai querer um apanhador de 36 anos e um pouco acima do peso – respondeu irônico.

– Será que eu consigo achar o pomo daqui?

– Se você conseguir, não esquece de avisar ao apanhador da gente, mas sem que a diretora veja, senão ela vai transfigurar você numa porta.

Graham Pompsky continuava narrando o jogo.

– E lá vai Jordan, ninguém consegue pará-la! Ela deixa Potter comendo poeira e se aproxima dos aros...alguém PELO AMOR DE DEUS acerta um balaço nela!!

– Sr Pompsky!

– Desculpe, diretora...gol! 10 pontos para a Lufa-Lufa! E recomeça o jogo. O que é que Potter está fazendo? Ele joga a goles para o ar e gira 360 graus para frente e lá vai ela...uou! Parece que o goleiro Bernett está adiantado. Lá vai a goles em grande velocidade, Bernett se estica todo...vai dar...não vai dar...vai dar...gol!!!! 10 pontos para a Grifinória de uma jogada incrível de James do outro lado do campo! A Lufa-Lufa fica com a posse da goles e arma um novo ataque. Hanksy, que se despede esse ano do time do texugo, leva a Lufa-Lufa para o ataque. Ele faz um vôo rasante e...ai! Direto no rim esquerdo, deve ter doído! Ele solta a goles e Potter está lá para pegá-la. Ele faz um lançamento para Gumbles, a goles pode ser interceptada por Hoots e uou! Há, há! Lá está mais um balaço de Pankeakes para retardar o lufo. Gumbles segue com a bola, ela lança e... defesa espetacular de Bernett!!! Ele tenta ligar um contra-ataque, mas a bola é interceptada pelo Potter, mais uma vez! Ele lança para Ho, que passa para Gumbles que faz menção de atirar no aro direito e desloca Bernett. Ela passa para Ho... que marca! Mais 10 pontos para a Grifinória! Eles estão inspirados hoje.

Os lufos faziam o que podiam, mas o time da Grifinória estava jogando a partida muito bem, graças à James Potter, que aparecia em todos os lugares do campo para interceptar um passe ou roubar a bola. Sem falar em Oliver Wood, que era o melhor goleiro das Casas. A maioria dos lufos achou que seria um massacre, mas a Lufa-Lufa lutava com orgulho. O placar já indicava 90 a 30 e nada de o pomo ser avistado. Graham Pompsky se exaltou em mais um ponto da Grifinória quando James liderou um vôo em V alternado, em que os jogadores mudavam de posição toda hora. Eles voaram rapidamente direto para os aros lufos e a goles passava pela mão de todos os jogadores. De repente, do nada, eles se separaram e ninguém sabia quem estava com a goles. Quando Bernett percebeu, já era tarde demais: James marcou mais um gol. Harry foi à loucura, junto com Neville e todos os alunos da Grifinória.

– Exibido! – Malfoy falou desgostoso – Eu vou embora daqui.

– Onde você vai? – Khai perguntou – Vai ver Elizabeth na Ala Hospitalar?

– Não. Vou só dar uma volta.

– Então eu vou com você. Não perdi nada aqui mesmo.

Os dois sonserinos desceram e saíram do campo. Caminharam calmamente e calados por um bom tempo, em direção à escola.

– O que é que você tem? – Khai finalmente quebrou o silêncio.

– Não é da sua conta.

– Olha, eu sei que o Potter é um pé no saco, mas você também não precisa ficar assim.

– Por que é que todo mundo acha que a vida dos Malfoy gira em torno dos Potter??? – gritou.

– Foi mal. – disse enquanto se sentava nas pedras perto do lago.

– Recebi uma carta do meu pai. Alguém comentou do que tem acontecido e ele reage muito estranho. Quer que eu fique amigo dos sonserinos de sangue-puro e mais ligados às artes das trevas, para que ele volte a ter contato com eles. Só que eu não vou bajular ninguém para ter o que eu preciso. Meu avô estava certo...meu pai é um fraco.

– Mas seu pai é um empresário. Todo mundo fala com ele.

– Eu sei. Mas não as pessoas que ele gostaria que falassem.

– Como os Goyle?

– Eles são só um exemplo. Meu pai quer ter a influência que meu avô tinha. Eu já ouvi minha mãe dizer que meu pai vive da sombra do meu avô. Você não sabe como isso é chato. Eu não queria que fosse assim.

– Bom, pelo menos seu pai está sempre do seu lado, né? E deve gostar de você.

– Eu não posso dizer que meu pai não é um bom pai. Eu só queria que ele fosse mais como meu avô. Que fosse mais corajoso e que não precisasse dos outros pra saber quem é.

– A gente não escolhe o pai que tem.

– É.

– Eu, se pudesse...nasceria em outra família.

– Por que seu pai está em Azkaban?

– Ele usou a maldição imperius em um trouxa que trabalhava no parlamento inglês e chegou bem perto de matar o Primeiro Ministro Trouxa. Só que os bruxos do Ministério descobriram e desfizeram o feitiço. Ele foi descoberto dias depois e levado embora. A imprensa trouxa disse que foi um atentado terrorista.

– Nossa. Ele é bom.

– Um excelente bruxo das trevas, meu avô diz. Uma droga de pai, se quer saber. Graças a Merlim que ele foi levado. Meu avô é difícil, mas não é nada comparado a meu pai. Você não sabe como é viver com ele.

– E o que sua mãe acha disso?

– Ela morreu quando nasci. Meu pai achava que eu seria um assassino, porque já nasci matando minha mãe.

– Isso é cruel de se dizer.

– Isso não é nada – falou, escondendo uma lágrima teimosa.

– Droga de vida! – exclamou procurando levantar o ânimo do colega.

– É...droga de vida!

Ao longe eles puderam ouvir o barulho do apito de Madame Hooch. Jeremiah, da equipe da Grifinória, garantiu o placar de 260 a 40. Alguém tinha comprado os fogos da loja de Gemialidades Weasley e estava soltando para o ar. A comemoração iria demorar. Os dois sonserinos trocaram olhares.

– Droga de vida! – disseram juntos, quase sorrindo.

Deymon pegou uma pedra que estava no chão e lançou no Lago. Ela quicou 3 vezes e afundou. Khai procurou uma pedra também e jogou: 4 vezes ela quicou. Eles continuaram a jogar as pedras, apostando quem conseguia jogar mais longe ou fazê-las quicar mais vezes, até que elas quase se esgotassem: estavam se divertindo.

– Quantas vezes será que alguém já conseguiu fazer a pedra quicar no lago?

– Não sei. Deve ter sido mais de 10, né?

Khai pegou mais uma pedrinha e atirou no Lago com muita força. Ela quicou 8 vezes e afundou. Ele vibrou!

– Você viu, Malfoy? Você viu? Uau!!! Eu sou muito bom nisso.

– Espere só até eu achar a pedra perfeita e fazer ela quicar mais de 10 vezes. Espera só!

Deymon se afastou para procurar a pedra perfeita. Khai ainda estava sorrindo quando seu rosto empalideceu e uma sensação fria parecia subir até a sua nuca. Ele tentou emitir algum som, mas seu estado de choque não permitia. Continuava a olhar fixamente para o Lago, tentando chamar a atenção do colega, mas não conseguia. Deymon estava concentrado, olhando para baixo.

– Ahá!!! Agora...

Tum! Malfoy havia acabado de receber uma pedrada na cabeça e ficou desorientado. Quando tudo pareceu entrar em foco novamente, ele bradou:

– Que idéia foi essa de jogar essa pedra em mim?

– Não fui eu! Foi...foi...veio do Lago.

– Agora você vem dizer que veio do Lago. O quê? Um sereiano jogou ela em mim?

Khai abriu a boca e fez menção de falar, mas refletiu e se calou. Voltou atrás e resolveu dizer logo de uma vez:

– Foi.

– Não seja ridículo.

– Não estou sendo. Eu vi!! Eu vi ele colocar a cabeça pra fora, depois se apoiou na cauda e jogou a pedra com força e acertou você. Eu tentei avisar, mas não deu. E...hum...você está sangrando bem aqui, ó.

E mostrou o lugar de onde um fio de sangue começava a escorrer.

– Você é ridículo. Eu vou embora.

Deymon jogou a pedra na beira do Lago e se virou em direção ao castelo. Poucos segundos depois, Khai gritava:

– Olha, Malfoy, tem alguma coisa aqui! Não é uma pedra normal.

Quando Deymon se aproximou, pôde perceber que algo na água emitia um brilho. Ele e Khai se agacharam para ver de perto e notaram que inscrições apareceram, misteriosamente, na borda da pedra, num azul celeste cintilante.

– Eu não disse que foi um sereiano que jogou? – Khai falou vitorioso – Deve ser coisa de sereiano escrito aí. Acho que ele não gostou da gente jogar pedras no Lago. Pode ser uma maldição!

– Não seja idiota. Sereianos não têm magia para isso.

Malfoy tirou a pedra do lago para examiná-la melhor. Ela estava coberta de limo, tinha um formato oval e cabia na palma da mão. Tinha pouco mais do que três dedos de espessura e a borda havia sido polida por mãos habilidosas. Ela era quase lisa, só tinha alguns pedaços arrancados de um dos lados. Pouco depois de o sonserino tirar o objeto do Lago, ele parou de brilhar.

– Esconde isso! – Khai alertou.

Malfoy escondeu a pedra embaixo das vestes, bem na hora em que Alvo, Peter, Jonathan e Rose passavam por eles. Os quatro lançaram olhares desconfiados e continuaram seu caminho. Quando James passou, seguido pelos seus novos e velhos fãs, viu os sonserinos na beira do Lago.

– Vocês são os próximos a perder pro time dos sonhos! – e seguiu rindo e celebrando.

– Não se a gente fizer alguma coisa antes – balbuciou Malfoy – Vem, vamos contar para Elizabeth o que achamos.

– Tá.

Eles entraram na escola e viram a bagunça que estava na Câmara das Passagens, como agora era chamada. Uma fila - ou o que deveria ser uma fila - de grifinórios que deveriam subir para o sétimo andar estavam jogando James para o ar. Os sonserinos ignoraram a comemoração e passaram pelo quadro que os levava para o quarto andar.

– Eles estão escondendo alguma coisa.

– Por Merlim, Rose, deixa eles pra lá! – disse Alvo – Você implica demais.

– Eles não são pessoas boas.

– Você viu para onde foram? 4º andar! Provavelmente foram ver a irmã do John – continuou.

– E como ela está, falando nisso? – Peter perguntou ao amigo.

– Melhor. Depois de uma semana de molho para evitar danos cerebrais com um outra queda dessas, ela tá bem. Mas ainda fica um pouco tonta quando levanta.

– Horrível essa história de trancarem ela no banheiro, não é Rose? – Peter comentou.

– É. Isso foi golpe baixo, até mesmo para uma sonserina. Todo mundo sabe que ela tem medo de fantasmas.

– Todo mundo? – Jonathan perguntou, surpreso.

– É. Já viu como ela fica na aula de História da Magia? Toda hora que o Prof Binns passa perto dela, ela congela. Tenho certeza de que ela odeia aquela aula – e sorriu – Olha, Alvo: seu pai!

– Oi, pai!

– Oi, Al. Tudo bem crianças? Belo jogo, hein?

– A Lufa-lufa perdeu, pai – Alvo falou de propósito.

– Ah, é...

Harry passou a mão pelos seus cabelos, eternamente bagunçados, visivelmente desconcertado.

– Mas foi pro James, então está tudo bem. Ele foi muito bom, não foi?

– Não foi? Ele é muito bom nisso. Melhor até do que a Gina e olha que a sua mãe era durona! Vou até ali, um instante.

Alvo ficou observando à distância enquanto Harry chamava a atenção de James e comemorava com o filho a vitória da Grifinória. Harry abraçava James e bagunçava seus cabelos, enquanto o garoto tentava se desvencilhar da situação embaraçosa.

– Você foi genial, James! Eu não acreditei na sua antecipação ao goleiro.

– Valeu, pai!

– Estou muito orgulhoso. Não vejo a hora de escrever para sua mãe os detalhes das suas jogadas. Ela vai ficar morta de inveja por não ter visto o seu jogo.

Harry abraçou de novo o filho.

– Pai...pai, pára! Pára, pai! Tá me fazendo pagar mico!

– Ah, desculpa! No próximo jogo vai ser ainda melhor, não é?

– É contra a Sonserina e eu tenho jogadas especiais reservadas para esse jogo. Vamos acabar com eles!

– É assim que se fala, filhão!

James revirou os olhos.

– Pai, olha o mico, por favor!

– Ah, tá. Então...hum...eu vou indo.

– Tá bom, pai. Tchau.

Harry se afastou ainda sorrindo bobo e acenando para o filho. Ele seguiu para o segundo andar a fim de encontrar Neville. Ainda no campo de quadribol, eles combinaram que comemorariam a vitória com muitas cervejas amanteigadas ou, quem sabe, um velho uísque de fogo Ogden, da Madame Rosmerta. Alvo estava distraído em pensamentos e nem percebeu quando James se aproximou do grupo.

– Você foi demais, James!! – Jonathan falou, super animado.

– Valeu, Dumbledore. Ano que vem tem uma vaga disponível, porque não se candidata?

– Ele? É mais fácil um trasgo virar poliglota do que Jonathan conseguir voar bem com uma vassoura – Rose disse, irônica.

– Verdade, sou muito ruim – sorriu, sem graça.

– E aí, Alvo. Belo jogo. A Lufa-Lufa lutou bem.

– É, mas no ano que vem a gente ganha.

– É sempre isso que eles dizem.

– É. Só que no ano que vem, eu vou estar no time.

– Não me diga que meu pai já comprou o seu lugar no time.

– É claro que não! Eu não preciso disso. Posso muito bem passar no teste.

– Vai sonhando. Vai ver o meu treino para o jogo com a Sonserina semana que vem?

– Pensei que você ia começar a trabalhar, mesmo, no nosso projeto secreto – Alvo aproveitou para dar uma espetada no irmão.

– Ah, é! Tem isso ainda! Nossa, é tanta coisa para fazer e eu ainda tenho que melhorar minha média em História. Rose, você poderia...

– Não.

– Oh, minha priminha...

– Nem vem, Potter. Por que não pede para uma das suas mais novas fãs?

James olhou para um grupo de meninas que suspiravam à distância.

– Boa idéia, Rose.

Ela olhou para o primo, indignada, e continuou:

– Sabe, James, Alvo tem uma coisa muito importante para dizer.

– Tenho?

– Sobre a nossa decisão? – continuou, olhando-o atravessado.

– Por que eu?

– Do que é que vocês estão falando? O que é, Alvo?

– É que...é que...nós achamos que é melhor a gente se dividir.

– Mas já fizemos isso: vocês procuram saber dos quadros e a gente da voz.

– É, mas... a gente acha que, com duas equipes trabalhando para procurar as duas coisas, vai ficar mais fácil acharmos uma pista.

Rose olhava para Alvo com uma cara muito zangada, afinal, não era exatamente isso que ele deveria falar com o irmão.

– É...pode ser. Pode dar certo sim. E aí? Descobriram alguma coisa?

– Nada! – antecipou Rose, antes que Alvo dissesse alguma coisa.
James a olhou desconfiado.

– Sei...

– Bom...hu-hum! - Alvo limpou a garganta - É melhor que você repita essas jogadas para derrotar a Sonserina.

– Eu tenho algo muito melhor reservado para ela.

– A gente já vai indo, né pessoal? – disse Alvo.

Rose continuava com aquela expressão zangada e Alvo já estava sentindo seu estômago embrulhar. Ele detestava quando ela olhava para ele assim.

– Até mais, James! – Peter tentou apoiar o amigo, que sorriu.

– Foi um jogo incrível. Eu agora sou fã de quadribol também, mas não abandono o Liverpool de jeito nenhum! – disse Jonathan enquanto se juntava aos amigos.

Rose foi a única que seguiu calada.

– Pára, Rose! Já foi difícil o suficiente.

– Você precisa parar de ter medo do James! Isso é ridículo!

– Podemos conversar em outro lugar? – pediu o primo, desconcertado.

– Vamos pro 3º andar. Tem pouca gente andando por lá no fim de semana.

Não tinha ninguém no corredor quando Rose começou a brigar com o primo.

– Sinceramente, Alvo, eu esperava mais de você!

– Mas Rose, eu não queria que ele ficasse chateado!

– Bobagem! Ele merecia sim.

– Então por que você me empurrou para falar com ele?

– Porque você é o irmão dele. Você tem medo do James, não tem?

– Não.

– Mentira!

– Eu não tenho.

– Mentiroso!

– Pára, Rose! Ele é meu irmão mais velho. Você não tem um irmão mais velho pra saber como é.

– Você já brigou com ele tantas vezes em casa, por que aqui você está diferente?

– É que James quis juntar esse grupo pra procurar a voz.

– E daí? Garanto a você que nós fundaríamos um grupo mesmo que ele não tivesse falado naquela hora. E mais: somos nós que estamos levando adiante essa história, porque o Senhor Potter, todo poderoso capitão da Grifinória, está muito ocupado com outras coisas.

– Ela tem razão, Alvo – Jonathan falou – Ele começou empolgado, mas agora isso não é mais importante. E você tem que começar a achar um espaço pra você, porque do jeito que ele é...quero dizer, ele se acha o bam-bam-bam que nem minha irmã e isso é um saco. E desse jeito você vai ficar sempre em segundo plano. Eu sei o que é que eu tô falando.

– Eles têm razão, Alvo. Eu sou seu amigo, mas acho que você e James não têm que fazer tudo junto não, até porque vocês são totalmente diferentes – Peter argumentou.

– Mas ele é meu irmão.

– Só porque vocês não fazem as coisas juntos vocês não deixam de ser irmãos. Eu e minha irmã sempre dizemos que o laço do sangue é um laço muito forte.

– Deixa o James pra lá. Você não tem que ser o irmão do James, você tem que ser o Alvo, entendeu?

– Entendi sim, Rose. É que o James sempre liderou as coisas: as bagunças, as confusões. Sem ele eu fico meio perdido, sabe? Não sei o que fazer.

– Putz, cara! Eu sei exatamente o que você está falando. E isso é ruim mesmo – disse Jonathan enquando repousava sua mão no ombro do amigo.

– E como você superou isso? – Rose quis saber.

– Quem disse que eu superei?

Todos riram.

– A gente vai levando, né? Pra que ficar se preocupando com isso, quando você tem amigos? Antes eu tinha os amigos da Lizzie, mas agora eu tenho os meus amigos. Acho que isso é um passo importante.

Alvo deu um largo sorriso para o companheiro ao lado.

– Oh-oh!

Rose parou de repente e impediu que os outros continuassem.

– Shhh!! Façam silêncio. Venham comigo! – disse num sussurro quase inaudível.

– O que foi? – Peter perguntou bem baixinho.

– Pirraça!

As crianças lentamente se viraram e começaram a voltar por onde vieram quando o poltergeist percebeu a presença deles.

– Oooooooohh!! Calouros!!

Ele deu uma risada malvada e mergulhou sobre as crianças que se abaixaram, assustadas. Todos começaram a correr e a gritar, para fugir do poltergeist que atirava pedacinhos de giz em suas cabeças.

– Mais rápido, mais rápido! – gritava Rose.

– Mais rápido, mais que rápido, rapidinho! Corram, corram, aluninhos, mas nada vai adiantar, porque Pirraça sempre vai te alcançar!

Alvo corria na frente, guiando os amigos para fugir de Pirraça, que fazia algazarra e derrubava armaduras pelo caminho. Se Filch visse isso, com certeza colocaria a culpa em cima dos alunos. Alvo olhou de relance uma pintura que lhe indicou um caminho. Ele abriu a porta e deu de cara com um corredor extenso e mal limpo. Deu alguns passos e entrou por uma porta que estava semi-aberta, fechando-a assim que Rose entrou.

– Aluninhos? Aluninhos fujões, onde vocês estão? Saiam, saiam de onde estiverem. Marco.... Marco... VOCÊS TÊM QUE DIZER PÓLO!!!!

E saiu do corredor atravessando a parede, irritadíssimo com as crianças e xingando muito.

– Ufa, essa foi por pouco! – Peter disse.

– Que fantasma mais louco – Jonathan falou.

– É, ele é bem chatinho mesmo – Rose adimitiu – Que lugar é esse?

– Parece uma sala de armários - observou Peter.

Alguma coisa fez um barulho tão esganiçado que fez até o pêlo do dedo do pé se arrepiar.

– Va-vamos embora daqui. – Peter disse – Não gosto desse lugar.

– Certo – Jonathan concordou rapidamente.

Eles tentaram abrir a porta, mas ela não se movia.

Alorromora! – Jonathan tentou, mas não conseguiu.

– E agora? Estamos trancados??? – Peter já estava assustado.

– Deve ter um outro jeito de sair daqui – Rose disse – Minha mãe me contava que tinha certas portas em Hogwarts que só abriam se a gente pedisse por favor ou se fizéssemos cócegas nelas no lugar certo.

– Por favor, portinha, deixa a gente sair! – Jonathan pediu e esperou alguns segundos – Não funcionou.

– Então vamos fazer cócegas nela! – Peter falou.

Ele, Rose e Jonathan trataram de apertar, bulinar e arranhar todas as partes da porta e nada conseguiram. Alvo permanecia distante, com um olhar perdido para a última estante de armários, à esquerda.

– Ei, Al, o que você está fazendo aí? Vem ajudar! – disse Rose.

– Tem alguma coisa ali – disse, apontando.

– Deve ser algum bicho, Al. – Peter argumentou.

– Pode ser, mas acho que não é - disse enquanto se dirigia para o armário.

– Sai daí, Alvo! Não seja maluco!! – Jonathan gritou.

– Alvo, não dê mais nenhum passo! – Rose, disse enérgica e ele parou. – Você quer colocar a gente em perigo? Estamos todos trancados aqui. Não teremos para onde correr se tiver uma coisa perigosa dentro desse armário!

Alvo virou o rosto lentamente para os amigos e deu um sorriso de quem estava disposto a fazer uma travessura. Ele apontou a varinha para o armário e lançou um feitiço para abri-lo. Em seguida, todos estavam gritando e correndo, inclusive ele próprio, que parecia atordoado. De dentro do armário saíram morcegos-lagartos em fúria por alguém tê-los despertado. Eles voavam sobre as cabeças das crianças, dando linguaradas que atingiam à distância e faziam arder.

– Alguém faz alguma coisa! Ai! – disse Peter.

– Alvo, por que você fez isso?? – Rose gritou.

– Fiz o que? Ai! Isso arde!

– Rose, você não conhece nenhum feitiço??

– Não consigo lembrar com eles...ai!

Jonathan pegou uma vassoura que estava esquecida no canto e tratou de bater em todos os morcegos-lagartos que cercavam Rose.

– Agora pensa!

Estupefaça!

O morcego-lagarto foi lançado longe, pelo feitiço de Rose, onde caiu desmaiado. Os amigos logo começaram a lançar o mesmo feitiço, mas os morcegos logo acordavam.

– Não está funcionando!

– É, eu já notei, Peter! – Rose disse contrariada.

– Não tem nada para imobilizar? – Jonathan perguntou.

– É isso! – Rose disse triunfante – Immobilus!

Todos os morcegos-lagartos ficaram flutuando no ar, como se estivessem com gravidade zero, no espaço.

– Minha mãe usou esse feitiço contra Diabretes da Cornuália, uma vez.

– Você é um gênio, Rose.

– Não tente mudar de assunto, Alvo Severo. Por que você abriu o armário? A gente disse pra não abrir!

– Mas eu não fiz nada!

– Como não, Alvo? A gente viu! – Jonathan tinha cara de poucos amigos.

– Mas...mas...eu só lembro de entrar na sala e depois esses bichos já estavam em cima de mim.

– Fala sério, Alvo! – Jonathan ironizou.

– Não, não. Espera! Ele tava com uma cara estranha mesmo. Eu vi isso em filmes trouxas e é quando alguém fica no seu corpo no seu lugar – Peter falou em suspense.

– Ou controla você por uma Maldição Imperdoável – Rose completou.

– Vocês estão dizendo que tinha uma outra coisa me vestindo como roupa ou me controlando? Mas eu não senti nada!

– Só pode ter sido Pirraça! – Jonathan falou irritado – Deve ser ele que está segurando a porta e não deixando a gente sair! Pirraça, abre essa porta! Pirraça!!!

Alvo estava bem confuso tentando entender o que tinha acabado de acontecer. Como nem ele e nem seus amigos podiam não perceber que ele estava sendo controlado? Deparou-se com o mesmo armário que ele, ou outro alguém usando ele, abrira.

– Ei, gente! Vem dar uma olhada nisso!

Em pouco tempo todos estavam ao redor do armário.

– Tem um fundo falso! – continuou – Acho que consigo empurrar ou puxar isso.

Ele fez um pouco de esforço até conseguir retirar o fundo falso do armário e jogá-lo para fora.

– Ótimo! – disse Rose – Uma parede de pedras! Vamos tentar sair daqui, gente!

– Espere aí...

– O quê?

Rose retornou para os colegas a tempo de ver Alvo empurrar todas as pedras até que a última da direita afundou.

– Legal! – Jonathan exclamou.

Como se tivesse acionado uma alavanca, o armário central de moveu cerca de 30 cm e, atrás dele, estava uma outra parede de pedras. Entre elas, uma parecia não pertencer ao lugar. Era oval e parecia estar apenas encaixada, sem nenhum rejuntamento. Alvo esticou o braço e tirou com facilidade a pedra que cabia na palma de sua mão. No mesmo instante, a estante voltou para o seu lugar e a porta se abriu, assustando-os.

– Ok...agora eu fiquei assustado! – disse Jonathan, com os olhos arregalados.

– Que tipo de pedra é essa?

– Não sei, Peter. Mas não é uma pedra qualquer. Foi bem polida dos lados, está vendo?

– Acho que você quebrou ela quando puxou, Alvo. Aqui atrás está faltando uns pedaços, olha!

Alertado por Rose, ele virou a pedra e pôde perceber que pedaços realmente haviam ficado grudados na parede.

– Deve ter sido por causa do tempo que ela ficou aí, escondida.

– Isso tudo é muito estranho – Rose disse e continuou com seu raciocínio, caminhando pela sala – Primeiro a gente entra nessa sala sem querer, depois ela tranca a gente aqui, aí o Al é tipo...possuído, aí ele acha o fundo falso que leva a gente até a pedra e, do nada, a porta simplesmente destranca. Isso é tudo muito estranho.

– Deve ser coisa de Hogwarts! – Jonathan disse despreocupado – Acho que a escola queria que a gente encontrasse isso. É a única explicação, gente.

– Será que ela quer que a gente entregue para a Diretora MacGonagall? – Alvo perguntou.

– Se a escola quisesse mesmo, tinha trazido a diretora aqui, não acha? Vamos guardar a pedra por enquanto, até a gente descobrir pra que serve. Fique com ela, Al. Você encontrou. Eu acho que a gente tem que pesquisar um pouco sobre as utilidades das pedras na biblioteca.

Os amigos reviraram os olhos. Pesquisar na biblioteca em pleno fim de semana, quando tinham tempo para as atividades livres era realmente pedir pra morrer. Contudo, eles não ousaram enfrentar o olhar bravo de Rose diante da falta de interesse deles pela intelectualidade. Pelo menos, eles conseguiram estabelecer um tempo máximo para a pesquisa.

Embora Alvo tentasse se concentrar no que lia, sua mente vagava de volta à sala misteriosa, onde ele deixou de ser ele mesmo por alguns instantes. Ele estava tentando se lembrar de alguma coisa que poderia ter sentido naquele momento. Uma pista, quem sabe, de quem havia feito isso com ele, mas sua mente não tinha nenhuma informação a ceder. Seria um fantasma? Um bruxo escondido ali? Alguma maldição ou algum feitiço que estava preso naquela sala? Ou algo mais?

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