O SANTUÁRIO
NA: *lumus*
Sim, eu sumi, mas jamais abandonei a fic. Finalmente consegui fechar o capítulo do jeitinho que eu queria.
Presentinho do dia das crianças adiantado! Sugestão: leiam pelo menos os 3 últimos capítulos para relembrar a ação!
*nox*
Ps: desculpa as várias atualizações. Não me acostumei com a formatação.
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As crianças mal tiveram tempo de gritar, quando tocaram o molhado chão de pedras e deslizaram por alguns metros. Aos poucos foram se levantando entre lamentos de dor e mágoas dos ferimentos anteriores. Rose foi a primeira a colocar uma luz na situação com a sua varinha erguida e notou a porta suspensa atrás de si, ainda a derrubar água, mas sem sinal das criaturas ou sons do outro lado.
Adiante, um largo túnel subterrâneo escavado em terra e pedras que só seria possível existir através da magia se apresentou. Depois de tudo o que já haviam presenciado, aquele lugar era bem comum. Todo o chão era tomado por uma fina camada de água, proveniente do lago anterior. O cheiro era muito forte, o que fez as crianças tamparem o nariz. Havia também finas veias de líquido brotando das paredes e pequenos archotes que davam um tom cobre ao ambiente e acendiam quando captavam movimento.
Enquanto se secavam, Tiago estava inconsolável com o fato de a Esfinge se sacrificar para ajudá-los. Após um breve período para acalmarem os ânimos e recobrarem as forças com as poções e chocolates de Elizabeth, todos trataram de vasculhar o corredor.
Não havia nada de excepcional nele, a não ser o arco cuidadosamente desenhado e a estranha e incrível sensação de que havia um peso enorme acima deles que poderia desabar a qualquer momento. Ninguém queria comentar, mas havia uma tensão sobre o que viria a seguir, já que haviam passado por todas as provações dos fundadores. No entanto, permaneceram caminhando em silêncio, observando os archotes acenderem para então apagarem após a passagem de todos.
Foi assim até chegarem a uma escadaria velha e empoeirada, que descia em forma de caracol com um grande espaço vazio no centro. Não havia mais a iluminação mágica, então Rose sacou sua varinha e clareou o espaço com lumus. A grifinória desceu vagarosamente os degraus pequenos à frente e com muito cuidado para não perder o equilíbrio, pois não havia onde se segurar. A escada foi afunilando e o que antes parecia um vazio agora se revelava uma torre invertida. Isso fez Alvo parar de forma abrupta, com a sonserina a esbarrar nele e quase derrubar a ambos.
— O que pensa que está fazendo, Potter? – perguntou desgostosa. — Está maluco?
— Eu... Eu sonhei com isso – respondeu ainda em choque.
— Do que você está falando? – Peter questionou.
— Naquele dia do sonambulismo. Eu sonhei com isso: essa escada em caracol, a torre invertida e a luz...
As crianças trocaram olhares nervosos e encararam o garoto.
— Foi só uma coincidência, Al – Rose tentou argumentar.
— É. Lembra que você tinha esquecido logo depois? – recordou o lufo.
— Peter, eu sei do que estou falando. Eu sei o que tem lá embaixo – respondeu Potter.
— E o que é? – Malfoy quis saber.
— Uma bolha de luz azul que pulsa como vida, como se fosse um universo repleto de estrelas – descreveu enquanto fechava os olhos.
— E o que isso significa? – John perguntou encarando o amigo.
— Eu não sei. Acordei antes de tocar na coisa.
— E agora? O que fazemos? Será que isso é verdade? – questionou o grifinório.
— Interpretação de sonhos não é uma ciência, John – explicou sua irmã. — Mas no mundo da magia alguns sonhos normalmente são considerados previsões ou profecias. Claro que só descobrem isso depois que acontece, né? Então normalmente não serve de muita coisa, a não ser que o Potter aqui já tenha passado por isso antes e tenha um histórico. Aí sim devemos levar a sério.
— E desde quando você se tornou uma expert nisso? – quis saber Rose.
— Lizzie tem isso – John respondeu automaticamente e depois encarou o rosto zangado da irmã.
— Como assim? – perguntou Malfoy, direcionando seu olhar para a amiga.
— Isso não importa agora – irritou-se Lizzie e desviou o assunto. — Potter, você já passou por isso antes?
— Não – respondeu ainda encarando a garota com surpresa.
— Então pode não ser nada, só uma estranha coincidência - disse.
— Eu não acredito em coincidências. Não quando são fiéis demais – afirmou Tiago. — Isso foi antes ou depois daquela história de possessão quando acharam a pedra?
— Depois – constatou Alvo e empalideceu.
— Isso não é bom – disse Tiago.
— Na verdade, tudo isso não nos ajuda em nada – comentou Rose, sendo prática. — Vamos ter que enfrentar uma bolha viva? Vamos lidar com isso, então. Não podemos voltar e só temos em frente para seguir.
— Ela está certa – concordou John. — Qualquer coisa a gente sai correndo e não vamos para a luz.
Após a concordância da maioria, a grifinória recomeçou a descida, aproximando-se do fim da escada ou topo da torre invertida, dependendo do ângulo que se observava a situação. Assim que Rose chegou ao último degrau, as varinhas de todos se apagaram e com um efeito elástico a torre se recolheu para o alto, como se eles estivessem a muitos metros abaixo dela. As crianças sentiram um leve enjoo e tontura, segurando-se na parede.
— Parece que meu cérebro esticou – afirmou Peter.
— O meu esticou e ainda gira junto com meu estômago – comentou John.
Adiante havia uma passagem iluminada pela luz do próximo ambiente e não era possível usar o lumus ou suas variações na escuridão onde estavam. A abertura era estreita e baixa, permitindo a passagem de um por vez. Alvo estava mais uma vez tendo flashbacks.
— No meu sonho uma luz me encontrava – disse e fechou os olhos. — Eu tinha a sensação de que eu não precisava ir porque ela chegaria até mim, mas não tenho isso agora – concluiu e encarou o corvinal e a sonserina. — Isso é um bom sinal, certo?
Os estudantes trocaram olhares relaxados com a súbita mudança no fato de que não precisariam enfrentar a tal bolha. Claro, isso não eliminava a tensão de finalmente descobrirem quem pediu socorro e, quem sabe, o porquê de tantas coisas estranhas estarem acontecendo com a escola. O grupo ficou parado encarando a passagem, repassando na memória tudo o que aconteceu até aquele momento. Subtamente, Alvo tomou a dianteira e ninguém questionou. Pelo contrário: um a um eles seguiram o mesmo trajeto.
O que as crianças viram após a entrada as fizeram prender o ar nos pulmões e disparar o coração, tamanha a supresa. O local tinha o teto elevadíssimo dividido em quadro gomos com alto relevo trabalhado em pedras que pareciam sopros de magia. Além disso, era iluminado por reflexos de um enorme candelabro central. De pé em cada canto de um grande salão subterrâneo, esculpidos em tamanho gigante com pedras e metais preciosos, estavam os fundadores de Hogwarts. Os detalhes eram tão reais que só poderia ser um trabalho dos mais talentosos duendes. Não importava para onde se deslocasse, o olhar dos quatro parecia seguir cada passo dos primeiro anistas.
Godric Gryffindor se destacava por sua expressão feroz e decidida, segurando o cabo da espada cravejada de jóias tão longa que era capaz de chegar até a ponta dos seus pés. Seus vastos cabelos e barbas foram esculpidos em rubi e seus olhos verde-esmeralda brilhavam vibrantes como se fosse capaz de tomar vida naquele instante. Toda a sua veste era trabalhada em rubi e ouro, lembrando a escolha das cores de sua Casa. Havia, contudo, um chapéu pontudo feito em bronze sobre a sua cabeça: um velho conhecido das crianças.
Salazar Sonserina, do lado direito ao fundador grifinório, estava esculpido de perfil, com a mão sobre o queixo e o olhar grave e avaliador, como uma divindade superior. Ele não tinha cabelos na escultura, mas sua barba de prata chegava até o meio de seu peito. Usava vestes trabalhadas em esmeralda e no metal prateado, com anéis nos dedos das mãos e um belo colar com sua insígnea trabalhada.
Na outra extremidade, Ravena Corvinal reluzia como uma dama do mar, com suas vestes trabalhadas em todas as pedras preciosas azuis como a safira e lápis-lazuli, mas também ouro nos detalhes da manga. Seus cabelos longos e olhos negros tomados pelo ônix esbanjavam uma beleza harmonizada com seu sorriso intrigante. O famoso diadema, cravejado de diamantes, reluzia poderoso sobre a sua cabeça, assim como a varinha em sua mão. Seu olhar era profundo e firme, mas ao mesmo tempo, gentil.
Por fim, Helga Lufa-Lufa completava o quarto pilar. Um pouco mais baixa do que os outros e mais rechonchuda, a escultura mantinha uma taça em uma das mãos e a outra aberta como se brindasse e acolhesse aqueles que chegaram até ali. Isso, aliado a um belo sorriso e cristalinos olhos preciosos azuis, transbordava uma aura de segurança, tranquilidade e amor, como uma grande amiga, mãe ou mesmo avó. Seus cabelos foram trabalhados em rubi com um alto coque e suas vestes em ouro e ônix reluziam poderosas, com destaque ao mais comum e precioso dos metais.
Não era de se admirar que as crianças encarassem embasbacadas todas aquelas figuras de queixos caídos e incapazes de emitir qualquer som compreensível, além de exclamações de surpresa. Todo o resto do ambiente foi esquecido diante da honra de encontrar um lugar como aquele, que só poderia ter sido contruído sob as orientações de quatro grandes bruxos. Rose chorava em silêncio, incapaz de se conter, enquanto Jonathan analisava os detalhes de cada coisa, impressionado. Peter nunca tinha imaginado que algo daquele porte pudesse existir e Tiago estava de joelhos, igualmente admirado. Malfoy encarava Salazar com respeito, mas não podia deixar de notar que os outros fundadores eram igualmente imponentes. Khai raras vezes havia se sentido tão bem aceito em um ambiente e Alvo não conseguia se decidir se encarava sua fundadora ou Ravena, que era tão parecida com a do seu sonho. Elizabeth estava tão espantada, que buscava o melhor ângulo para admirar tudo ao mesmo tempo, quando tropeçou de costas e caiu.
A exclamação de susto da garota no primeiro momento chamou a atenção dos amigos, que arregalaram os olhos. A garota sentiu que estava sentada em algo duro e quando pegou o que achava ser uma pedra, descobriu ser um osso humano. Assustada, começou a gritar e se envolver ainda mais nos restos humanos, mesmo com os amigos se aproximando e tentando acalmá-la. Finalmente a sonserina conseguiu se arrastar para fora ainda trêmula e contou com a ajuda do irmão para se reerguer.
— Eu acho que era um aluno – exclamou Rose. — Olhem as vestes!
Malfoy foi até o local e remexeu para verificar o escudo das vestes, mas não havia nada.
— Está rasgado – afirmou. — Alguém retirou o emblema da Casa.
— Quem será ele? – perguntou Tiago. — Será que foi o fantasma dele que ouvimos?
John sentiu sua irmã tremer e a apertou mais forte.
— Skeletus reparum – ordenou Malfoy e os ossos voltaram a se encaixar no corpo sentado próximo a um pequeno lago.
— Olá? – Alvo chamou. — Não vamos lhe fazer mal, está tudo bem. Só queremos ajudar... E também precisamos de ajuda para sair daqui.
Havia apenas o silêncio sepulcral em retorno.
— E agora? Chegamos até aqui para nada? – perguntou Peter.
— Eu não diria nada. Chegamos até este santuário – afirmou Rose. — Deve haver algo aqui que possa ajudar a escola. Vamos nos dividir e vasculhar, com cuidado.
As crianças se afastaram do esqueleto do aluno com o intuito de passar um pente fino em todos os altares dos fundadores. Alvo percebeu que no pequeno lago havia algumas pedras superficiais que formavam um caminho. Assim que pisou na primeira, um estrondo como uma engrenagem foi ativada. Todas as crianças pararam e encararam o lufo. Na segunda mais um clique e um púlpito começou a aparecer no centro do lago.
— Você sonhou com isso? – Rose perguntou ao primo, assim que alcançou a estrutura no centro.
— Não – respondeu com sinceridade.
— Então como sabia? – Malfoy questionou.
— Não sei. Eu... – o garoto encarou a todos e baixou os olhos. — Eu senti que devia fazer isso.
— Tem o símbolo de Hogwarts aqui – John informou a todos ao examinar a bancada de pedra do púlpito. Assim que passou a mão para limpar o local, pôde constatar a famosa frase da escola talhada e as luzes do candelabro vibraram, o que deu a sensação de que os fundadores ganhavam vida.
— Acham que deveríamos falar? – perguntou Tiago.
— E se ficarmos presos aqui e a água invadir novamente? – Lizzie ponderou receosa.
— E se um dragão de verdade aparecer? Quero dizer, isso daqui tem que estar protegido por alguma coisa – refletiu Rose.
— E estava: por quatro provações absolutamente fatais – respondeu Malfoy.
— Olha, acho que não tem mais para onde a gente ir. Não tem saída deste lugar. Se temos que fazer isso, é melhor fazermos logo – Peter disse.
— Ele está certo – concordou Potter.
— Então lá vai – John limpou a garganta e prossegiu enquanto todos sacavam as varinhas. — Draco dormiens nunquam titillandus.
Uma vibração ecoou por todo o santuário. As crianças prenderam a respiração e esperaram pelo pior. Esperaram e esperaram, mas ele não veio.
— E agora? – perguntou Khai.
— Voltamos ao plano A – afirmou Rose. — Vamos vasculhar.
Assim que todos voltaram para o chão de pedras, algo cintilou no candelabro. Uma pequena luz que distoava das outras ao pulsar. Alvo foi o primeiro a notar e apontou para os outros. A luz branca envolveu a todos em um torpor e foi aumentando até possuir um tamanho capaz de encobrir Hagrid. Repentinamente, saltou do objeto e pairou no ar logo abaixo. Aquilo despertou as crianças do transe, que procuraram uma escada para fugir ou a porta para voltar com medo do que viam. Contudo, não havia nada além deles e a estranha luz num salão oval.
— Eu sonhei com isso – repetiu Alvo num sussurro.
Como se escutasse o lufo, a luz pulsou com mais intensidade e passou a assumir uma luminosidade externa azul como se fosse um universo repleto de estrelas.
— A bolha – Tiago afirmou. — Isso foi o que você viu, Alvo?
O lufo concordou enquanto olhava hipnotizado para ela. Seus colegas estavam assustados, mas Alvo sabia o que devia fazer e sentia como se todo o seu corpo pedisse por isso. Uma força estranha o chamava toda vez que uma descarga de energia fazia a bolha pulsar em raios de luz dourada. Deu um passo à frente e sentiu que alguém o segurava.
— Não – pediu Rose com um olhar intenso. — Por favor, não. Você não sabe o que isso vai fazer. E se... E se você ficar estranho de novo? E se... E se você não voltar ao normal?
— Rose, eu sonhei com isso...
— Mas acordou antes de tocar nessa coisa. Você não sabe o que isso vai fazer – defendeu Peter. — Não vá.
— Mas eu sinto... Eu sei...
— Se ele disse que sabe, então devemos deixá-lo ir – Lizzie afirmou.
— Você diz isso porque não é seu primo – Rose argumentou furiosa.
A sonserina deu de ombros.
— Olha, daqui ele é o único que sonhou com isso. Só acho que devemos levar em conta e deixá-lo fazer o que acha que deve – reafirmou.
— É claro que não – negou a grifinória.
Alvo ignorou a prima e se desvencilhou dela, caminhando calmamente em direção à luz. Rose tentou impedi-lo novamente, mas foi segura por Malfoy e Khai, enquanto Peter, Tiago e John tentavam dialogar sobre a questão. À medida que se aproximava da bolha, o barulho das discussões se tornaram cada vez menores para o lufo até desaparecerem completamente. O único som capaz de escutar era o pulsar daquela energia que o atraía de uma forma muito peculiar.
— Alvo! – gritou em desespero Rose no mesmo instante em que o lufo alcançou a bolha.
As crianças assistiram atônitas ao garoto ser sugado lentamente pela luz, que passou a pulsar ainda mais intensa, emitindo raios amarelos. No centro, Alvo flutuava com os olhos fechados, inerte. Rose de desvencillhou dos meninos e caminhou para mais próximo, com as mãos na cabeça e sem saber o que fazer. Os outros estudantes trocaram olhares nervosos. Por um tempo curto, mas que parecia infinito, não houve barulho no local. As crianças mal pareciam respirar e esperavam que aquilo terminasse com o retorno do lufo, mas não houve nada além do eterno pulsar da luz.
— Você fez isso! – Rose virou-se furiosa para a sonserina, que se afastou. — Você... Você... Se ele... Eu vou... Você é a culpada disso! – vociferou e partiu para cima da garota, jogando-a no chão e brigando com ela, esquecendo-se momentaneamente das varinhas.
Os meninos correram até elas para apartar a briga de socos, chutes, arranhões e puxões de cabelo. Os sonserinos seguraram Elizabeth enquanto Peter, John e Tiago acalmavam uma grifinória enfurecida.
— Isso não vai ajudar em nada, Weasley – Malfoy disse com veneno.
— Mas me faz sentir muito melhor – respondeu com a cabeça erguida, a bochecha vermelha fruto de um soco e os cabelos enlouquecidos.
— Você só vai se machucar, garota – disse Lizzie, que tinha alguns arranhões no braço.
— Você colocou meu primo nisso! – rebateu Rose.
— Não coloquei – disse e ergueu o dedo desafiadoramente. — Ele foi porque quis.
— Se você não o tivesse encorajado...
— Ei! Olhem! – Tiago interrompeu a grifinória. — Está se movendo. Ele está saindo!
Vagarosamente, Alvo escorregou para fora da bolha e foi seguro por John e Peter. Abriu os olhos e se pôs de pé, com a expressão encantada. Quando olhou para a prima e a sonserina, uma ruga de preocupação surgiu em seu rosto.
— O que houve? Vocês brigaram? Diga que não foi por minha causa – disse, dirigindo-se ao final para a prima, que estava visivelmente constrangida.
— O que houve perguntamos nós. O que foi isso? – quis saber Tiago, apontando para a luz.
— Vocês precisam ver isso – disse o lufo, animando-se novamente. — Ela vai ficar feliz em mostrar a todos.
— Ela? Ela quem? – perguntou Malfoy.
— Ela – Alvo apontou para a luz.
— Isso... É uma pessoa? – duvidou Peter.
— Não. São várias. É complicado – o lufo coçou a cabeça pensando em como explicar. — Ela... É magia. A mais pura magia que os fundadores sabiam existir e tentaram reproduzir no castelo, mas não podiam imaginar no que resultaria. Ela surgiu sozinha, aos poucos, mas por muitos corações com vontade. Ela é Hogwarts!
Os estudantes trocaram olhares preocupados.
— Ele não está bem – sussurrou Khai e o lufo o encarou chateado.
— Eu posso provar. Venham. Ela vai mostrar para vocês e temos tantas coisas a fazer... – disse e caminhou para a bolha. — Fiquem ao redor e toquem nela quando eu disser. Não tenham medo. É Hogwarts! – afirmou com um brilho ansioso no olhar.
Aos poucos e ainda desconfiadas, as crianças se posicionaram ao redor da bolha azul, que pulsava continuamente.
— Isso não vai nos matar, né? – perguntou Peter ao colega lufo.
— Isso vai ser incrível – respondeu Alvo. — Toquem agora.
Assim que tocaram, a luz pulsou com uma violência extrema fazendo o ambiente tremer. Sentiam a magia fluir por suas veias e escorrer para dentro da bolha, mas aquilo não os assustava. De alguma forma estranha, faziam parte da luz e a luz fazia parte deles. Fecharam os olhos e podiam sentir o corpo leve, sem qualquer ruído que pudesse desviar a atenção das sensações. De repente, a mente ficou cada vez mais leve, em paz e harmonia. Quando sentiram o corpo tocar o chão, abriram os olhos e não acreditaram no que viram: estavam de pé no mesmo local, sem estátuas ou candelabro. Tochas flutuantes iluminavam uma pequena reunião entre adultos, diante de um púlpito de pedra. Dois homens e uma mulher de baixa estatura discutiam sobre finalmente conterem a infiltração dentro do castelo estabelecendo aquele pequeno lago subterrâneo ao redor de onde estavam, quando alguém surgiu por uma passagem e chamou a atenção de todos por sua voz imperativa. As vestes azuis e o cabelo negro davam uma pista, mas a tiara estabelecia a certeza: era Ravena Corvinal.
— Estou afirmando. A tiara ampliou a minha sabedoria. Esta será a Escola de Magia e Bruxaria de maior referência no mundo inteiro, exatamente como sonhamos. Será única, mas terá um preço terrível a pagar. Haverá uma provação e temo que não encontre magia suficiente para se reerguer.
— Ravena, querida. Sei que sua tiara é admirável, mas nós tomamos todos os cuidados ao lançar os feitiços em cada parte deste Castelo – uma senhora pequena caminhou calmamente até ela, com uma expressão tranquilizadora. — Não existe nenhum local em que tenhamos deixado de verificar duas vezes. Seria capaz de suportar a mais terrível das guerras, se precisasse.
— Não estou falando de guerras, Helga. Sei que resistirá.
— Haverá uma guerra? – perguntou o senhor de cabelos cor de fogo, de voz grave.
— Sempre há, Godric – Ravena respondeu entristecida. — Mudam as eras, mas os bruxos continuam falhos, ambiciosos e mesquinhos.
— Reitero o que disse: não devemos permitir a mistura de nossa raça. Isso nos levará à guerra. Esta escola deve ser exclusiva para os nascidos bruxos – uma voz melodiosa e firme revelou o homem sentado em sua cadeira.
— Salazar, já disse que discutiremos esta situação mais adiante, em outro momento – afirmou Godric, tocando sua testa em sinal de impaciência. — Ravena, o que deseja? Esta escola está segura.
— Neste momento.
— Por Merlim! O que pode ser pior do que uma guerra, a qual você mesma informou que esta escola não sucumbirá? – questionou Godric, desgostoso.
— A noite elemental – disse a morena erguendo seu olhar e todos a encararam com atenção.
— Prossiga – pediu Salazar, cruzando os braços visivelmente interessado.
— A noite elemental desencadeará acontecimentos e descobertas que lançarão uma nova luz ao mundo ou o cobrirá com a mais profunda treva. E será esta escola que definirá, para sempre, a vida da comunidade bruxa e trouxa. Precisamos manter a magia de Hogwarts viva até o juízo final, se quisermos ter uma chance de direcionar o momento para a luz. Não viveremos para ver este dia, mas somos responsáveis por esta criação.
— Como lutar sem estar presente? O que sugere? – questionou Godric.
— Traditi Elementaribus Verum Interiorem, Recupera Occultum Lapidem.
— Magia antiga – sibilou Salazar. — Criar um Tevirol não resolverá. Não há poder suficiente para todo o castelo.
— Trata-se de um processo, Salazar. A magia do Tevirol, como o próprio nome diz, significa “Entregue-se à elemental verdade interior e recupera a pedra oculta”. O que muitos confundem com a pedra filosofal, na verdade é o lastre oculto que todos carregamos. É preciso conhecer a nós mesmos profundamente para alcançar este entendimento. A pedra fundamental da magia está em cada um de nós.
— Amor – sibilou Salazar em reflexão.
— A magia em seu estado puro está esquecida, Ravena – Helga disse. — Não é comum hoje em dia. Posso contar poucos bruxos que ainda se lembram de como conjurá-la de forma intencional e você sugere que, no futuro, esta será a única salvação? Que bruxos adultos estariam despertos para este poder?
— Há pouca esperança nos bruxos adultos – respondeu a Sra Corvinal. - Mas a magia está latente até mesmo neles. Devemos focar nas crianças.
— Crianças? De forma alguma! – Godric se ergueu com firmeza. — Não podemos escolher crianças para lidar com uma tarefa tão complexa como um Tevirol. Um artefato que nem mesmo nós temos certeza de que funcionará. Salazar está correto. Essa magia não tem poder para manter este castelo diante das trevas oriundas de uma noite elemental.
— Quatro poderiam...
— Quatro?! – sobressaltaram-se Helga e Godric.
— Está sugerindo que cada um de nós crie um Tevirol? – Salazar se ergueu, sem demonstrar emoções. — Seu plano é nos matar, Ravena? – sibilou venenoso.
— Não, Salazar – respondeu altiva. — Meu plano é abraçar a morte como uma amiga.
Aquilo pareceu estabelecer um caminho claro a seguir para os adultos e acalmou os ânimos rapidamente. As crianças podiam notar que a Sra Corvinal tinha posto fim à discussão com este breve argumento.
— Não podemos usar crianças, Ravena. Seria irresponsável e perigoso – afirmou um Godric aparentemente cansado.
— Podemos testá-los no que será necessário – sugeriu Salazar.
— Prossiga – pediu Godric.
— Quando as crianças forem selecionadas, poderemos marcá-las com magia antiga. Marcaremos apenas as que tiverem forte laço e potencial para o nosso objetivo. As que passarem por nossas provações terão acesso a este segredo. Terão a honra e o dever de salvar esta Escola.
— E as que não passarem nestas suas provações? – questionou Helga.
Salazar a olhou com frieza e a Sra Lufa Lufa levou a mão à boca.
— De forma alguma! Não aceitarei morte de crianças! Não farei parte disso.
— Acalme-se, Helga. Não concordo tampouco, mas a ideia não deve ser descartada.
— Godric?! – sobressaltou-se a ruiva.
— Acalme-se. Eu tenho algumas observações sobre esta ideia de Salazar – disse e começou a caminhar lentamente pelo local. — Há algum tempo me pus a questionar como será o futuro nesta escola sem que estejamos presentes na seleção das crianças e pensei em utilizar este meu velho chapéu para fazê-lo em nosso lugar – retirou-o de sua cabeça e revelou a calvície que começava a atingi-lo no topo. — Podemos encantá-lo com o que mais prezamos nos alunos de nossa Casa e ele poderá marcar as crianças mais suscetíveis ao amor. Quando chegar a hora, a marca dessas crianças será despertada e aquelas que estiverem no Castelo serão capazes de encontrar o caminho.
— Excelente ideia, Godric – afirmou Ravena. — Apenas os mais atentos e fortes compreenderão o chamado. O ano da noite elemental deve desencadear situações no terreno da escola e aqueles com a capacidade de observá-los estarão prontos.
— Estou de acordo, meu amigo – concordou Salazar.
— Eu também – disse Helga. — E as provações?
— Devem ocorrer – afirmou o ruivo. — Precisamos testar a coragem, lealdade, sabedoria e ousadia dessas crianças. Garantir que são capazes de crescer em desvantagem mágica e isso certamente eliminará a possibilidade de estudantes muito novos passarem no teste. Não deixaremos nossos Tevirols sem grande proteção e a tarefa poderá ser letal, caso a aceitem.
— Caso a aceitem? – questionou Salazar.
— Não haverá morte de crianças, Salazar – respondeu categórico. — Durante o chamado, quem falhar nas provações perderá a memória de ter sido testado. Quem escolher não aceitar esta missão que pode custar sua vida, também deve esquecer. São crianças. Estarão assustadas. É nosso dever lhes dar a escolha. Quem chegar aqui terá se mostrado capaz, mas não há vergonha em optar pela sobrevivência. O risco de morte, fora deste Castelo, será real e cada um deve tomar a decisão em seu coração.
— Como vamos ajudar as crianças a encontrar cada Tevirol? – questionou Helga.
— Nossos quadros podem ajudar. Podemos realizar a mais poderosa pintura em óleo mágico que já se viu. Conheço o bruxo para o serviço: Florenzzo Filius Piatomanzine – afirmou Ravena.
— Que seja feito, então – determinou Godric. — Sugiro que este seja o local em que revelaremos o segredo para sobreviver às intempéries da noite elemental. Uma chave de portal é o meio mais seguro e discreto de transporte.
— Duas – rebateu Helga. — Toda esta tarefa é muito complexa e injusta para que apenas uma pessoa tenha sobre os ombros. Precisamos de no mínimo quatro, um representante de cada um de nós, que entenda nossos valores.
— É justo – concordou Ravena. — E precisaremos de uma chave comum para ativar o feitiço no momento em que os desígnios da existência bruxa e trouxa alcancem seu ápice.
— O local deve ser aqui, na pedra fundamental de Hogwarts. Extremamente significativo, Godric. Isso certamente ativará a magia antiga com mais poder – ressaltou Salazar.
— Vamos construir um Santuário neste local. Colocar um pouco de nossa essência, assim fortaleceremos a magia além do que os Tevirols podem oferecer – sugeriu Helga. — Mas como as crianças ativarão os artefatos?
— Presumindo que elas consigam encontrar os quatro – Salazar desafiou. — A magia não funcionará sem estar completa. Sugiro uma chave mestra para ativar a magia, neste púlpito - apontou.
— De acordo – respondeu Godric. — Com isso estabelecemos uma forma segura de utilizar a nossa própria magia, ampliada e preservada por longos anos.
— Precisamos informá-los de todos os pormenores desta breve reunião – afirmou Ravena e com a sua varinha retirou um fio prateado de sua mente e com floreios complexos o protegeu em uma bola de luz que subiu ao teto até desaparecer na superfície de pedra. — No momento certo, apenas nesta época, a magia mostrará o caminho e somente aqueles marcados saberão encontrá-lo.
— E no momento próximo de nossa morte, abriremos mão de nossa existência e poder para a proteção de Hogwarts e do futuro do Mundo Bruxo. Por amor, abraçaremos a morte como uma amiga. – completou Helga.
— Por amor – repetiram os outros três, em uníssono, selando o contrato mágico.
O local se desfez para outro momento no qual já havia as estátuas dos bruxos, enquanto diversos floreios de luz surgiam das paredes do Santuário e se uniam à pequena luz criada por Ravena Corvinal.
— É como se estivéssemos em uma penseira – registrou Rose, quebrando o silêncio.
— Sim – respondeu Alvo. — Esta é a magia dos alunos, escorrendo pelas paredes da escola até se juntar a luz inicial criada pela fundadora. Cada ato de amor, lealdade, coragem e astúcia nos terrenos deste castelo são transformados em magia e escorrem para o Santuário. Então, cada aluno de Hogwarts, mesmo sem saber, doou parte de sua magia para manter a escola.
— Como você sabe disso? – questionou Malfoy.
— Hogwarts me disse. Acho que como fui o primeiro a ter contato, posso... – o garoto coçou a cabeça e pensou em como explicar melhor. – Posso sentir e entender o que a magia diz - ponderou.
O ambiente mudou novamente. As crianças assistiram atônitas a um jovem entrar no local, absolutamente assustado com um grande objeto retangular coberto em suas mãos. Usava um uniforme escolar e um rasgo estava no lugar onde deveria ser o emblema de sua Casa.
— É ele – sussurrou Tiago, referindo-se ao esqueleto.
O garoto percorreu todo o Santuário, mas não parecia enxergar as grandes esculturas como se estivessem ocultas por um véu. Procurou uma saída ou passagem secreta, mas não obteve sucesso. Efetuou um feitiço cabeça de bolha e mergulhou no pequeno lago apenas para retornar minutos depois, lívido. Começou a chorar desesperadamente e repetir que iria morrer. Passou a implorar por sua vida, prometeu que seria um bom aluno, bom filho e bom pai, no futuro. As crianças começaram a sentir pena dele. Em um ímpeto de fúria, o garoto passou a explodir o local na tentativa de abrir caminho, contudo, a cada fragmento que saltada da parede, outro era criado em seu lugar. Respirou fundo e chorou. Depois, em novo ataque de fúria, acusou o que seriam garotos da escola, professores e o diretor. Em seguida, começou a rir estericamente.
— Ele vai morrer – disse a sonserina.
— A magia é muito objetiva e acho não era a hora – deduziu, Alvo.
— Ele deve ter achado algum caminho para chegar aqui. Provavelmente o mesmo que os fundadores utilizaram, no início – respondeu Tiago.
O tempo parecia acelerar e o garoto perdia a cor no rosto e a força para manter-se vivo. Arrastou-se até encostar a uma parede, sem ter mais como lutar contra o seu destino. Estava, contudo, inconformado. Repetia que se vingaria. O momento da morte se aproximava e Elizabeth chegou mais perto do garoto, desvencilhando-se do irmão. Queria ver aquilo de perto. Então, quando o fim chegou, ainda lutando contra ele, puderam ouvir um sussurro baixo, rouco, quase inaudível, mas que fazia arrepiar até os pêlos da nuca. Algo conhecido:
– Dor... Está escuro... Por favor... Liberte-me... Liberte-me... Liberte-me...
As crianças então despertaram quando tocaram o chão de pedras, colocados para fora da bolha. Estavam impressionadas e tristes.
– Por Merlim! A voz que ouvimos... Foi ele! – constatou Rose.
– Será que ele morreu naquela hora? – perguntou Peter.
– Não seja idiota. Olhe as vestes dele: são muito antigas. Nem meu avô tinha vestes assim – respondeu Malfoy.
– Não seja grosso, Malfoy – Alvo se irritou. – Poderia acontecer. É Hogwarts, afinal. Mas acho que não foi isso. O Santuário estava lacrado até o momento certo, lembra? O início do ano da noite elemental deve ter ativado tudo. Quando chegamos já havia a infiltração, por isso acho que o seu último suspiro deve ter ficado preso aqui.
– Você sabe que essa coisa de você entender Hogwarts é bem esquisita, certo? – questionou Peter.
Alvo deu de ombros. Não havia nada que pudesse fazer.
– Onde está o objeto que ele trouxe? – perguntou John, de repente, apontando para o esqueleto.
– Verdade! Sumiu! Alguém esteve aqui! – Khai exclamou.
– Vejam essas marcas antigas – alertou Lizzie. – Parece que alguém puxou para a água.
– Para a água? Sereianos? – duvidou Deymon.
– Mas o garoto mergulhou e não achou a saída – Peter lembrou.
– Talvez não fosse a hora – respondeu Rose.
– Então... O que fazemos? Temos uma escolha, de acordo com Sr Grifinória. Podemos esquecer tudo, não é? Se quisermos? – Peter perguntou.
– Eu não quero esquecer. Eu vou ajudar Hogwarts – afirmou Alvo.
– Mas não sabemos de que exatamente a estamos salvando. Não sabemos o que a noite elemental despertou. Quero dizer, estamos falando das trevas no mundo? Isso pode ser muito ruim, não é? – questionou John.
– Eles fizeram essas provações para que alunos mais velhos passassem, mas nós passamos. Somos crianças! Como podemos arcar com uma responsabilidade tão grande? Acho que deveríamos falar com os adultos. Tenho certeza de que o tio Harry pode ajudar – sugeriu Rose. – Ele também ouviu a voz, lembra, Al?
– Hum... Não podemos contar a ninguém. Eu esqueci de contar umas coisinhas de quando eu mantive contato sozinho com Hogwarts – disse, abrindo suas mãos em defesa. – Ela pediu para não contar, ok? Quero dizer, eu entendi assim. Às vezes não fica muito claro. É confuso falar com alguém que não é alguém, mas parece ser.
– Al, desembucha! – exigiu Rose.
– Quando todos nós tocamos na luz, criamos um feitiço fiel do segredo. Não vamos poder falar com ninguém sobre isso.
– E você é o fiel do segredo? – questionou Malfoy, irônico.
– Não. É o segredo de Hogwarts, então, ela é o fiel.
– Mas ela não é nem uma pessoa! – exclamou Lizzie.
– Eu sei – disse o lufo passando a mão nos cabelos. – Eu disse que é confuso. Fica mais fácil se tentarmos pensar nela como uma pessoa normal, senão eu vou começar a pirar.
– Que outras coisinhas você não nos contou, primo?
– Hogwarts sabe quem somos – explicou encarando a todos. – Quando tocamos na luz, nossos poderes se misturaram e ela pôde enxergar toda a nossa linhagem bruxa e tudo o que nossos antepassados fizeram na escola. Ela entende que somos crianças e por isso, para nos ajudar a ajudá-la, nos deu alguns presentes.
– Que tipo de presentes? – Lizzie ergueu uma sobrancelha, desconfiada.
– Não sei. Não foi clara nisso. São coisas que já são nossas e vamos precisar, entendi assim. Acho que é para saber somente na hora – respondeu.
– Certo. Vamos tentar definir o que fazer e se entendemos o que está em jogo aqui – Tiago disse e chamou a atenção de todos. – A noite elemental vai despertar uma coisa boa, mas também uma tão ruim que pode colocar o mundo inteiro nas sombras.
– E a Escola pode ser destruída – completou John.
– Certo – continou o corvinal. – Pensando nisso, os quatro bruxos mais incríveis do mundo resolveram criar quatro artefatos mágicos, chamados Tevirol, para salvar a Escola porque é aqui que a luz pode ser mais forte e derrotar as trevas. Certo? – todos concordaram. – Essa missão só pode ser aceita por pessoas marcadas com a magia mais antiga: o amor. Por isso o chapéu seletor nos marcou na cerimônia de abertura.
– Isso é o que eu não entendo – comentou Khai e quando todos olharam para ele percebeu que tinha dito em voz alta.
– O que? Fale! – instigou Lizzie.
– Eles escolheram pessoas marcadas com amor – disse e fez uma pausa desconcertante. – Eu não sou uma delas – comentou baixinho.
Depois de um silêncio constrangedor e troca de olhares entre as crianças, Rose quebrou o silêncio.
– Talvez a magia não marque o quanto fomos amados, mas nossa força de vontade para fazer o que ninguém mais faria em nome do amor. Uma força que a gente nem sabe que pode ter, na verdade. Isso faz sentido? – concluiu a garota, olhando para todos.
– Totalmente – respondeu John.
– Continue Tiago – pediu Alvo.
– Então para salvar Hogwarts e o mundo temos que encontrar os Tevirols que estão escondidos em algum lugar e protegidos por uma magia fatal. Isso nos leva a escolher: vamos entrar de cabeça nessa clara aventura insana que pode matar a gente enquanto tentamos salvar todo mundo sem poder contar com a ajuda de um adulto, como sei que vou fazer, ou vamos deixar para lá e seja o que Merlim quiser? Ou Morgana?
– Sinceramente, não vejo uma escolha nisso – afirmou Malfoy. – Depois de saber de tudo, como podemos esquecer e voltar para nossas vidinhas patéticas apenas aguardando o fim do mundo? Quero dizer, mesmo que a gente não tenha lembrança é muito covarde desistir sem tentar. Até porque a gente pode morrer de um jeito ou de outro.
– Não quero esquecer – disse John. – Se eu fui escolhido e posso fazer alguma diferença para o mundo continuar bom, vou tentar. Por mais que estejamos entrando em uma aventura feita para gente mais velha, não foram eles que chegaram até aqui. Fomos nós. Pode até parecer que não vai dar certo, mas podemos conseguir se trabalharmos juntos como fizemos durante as provações. Sozinhos não somos lá grande coisa.
– Eu não sei quanto a salvar o mundo, mas se eu puder salvar a Escola para mim já é o suficiente – admitiu Khai. – É o único lugar em que me sinto em casa. Hogwarts me deu esperança e... Amigos – disse, encarando os sonserinos.
– Meus pais já salvaram o mundo bruxo uma vez – comentou Rose. – Não foi uma tarefa fácil. Por mais que eles não entrem em detalhes, tiveram que abrir mão de muita coisa e nem sempre parecia que iam conseguir. Eu não posso fazer menos do que meus pais e não quero. Além disso, sinto ser o certo a fazer. Então eu acho que já decidi que faria qualquer coisa para salvar a Escola quando começamos a procurar o dono da voz.
– É muito ruim se eu disser que estou me borrando de medo? – perguntou Peter. – Até um ano atrás eu não fazia ideia do mundo bruxo e agora eu tenho essa responsabilidade de salvar os dois mundos e a Escola? Vamos combinar: isso tudo é muito grande. Eu não sei se posso fazer isso e não tenho ideia do que é essa treva que vamos lutar contra. E se não tivermos poderes o suficiente? Meus pais são trouxas, pelo amor de Deus! Com certeza eu tenho menos poder aqui e vou ser o primeiro a morrer, como sempre acontece nos filmes que vejo. Como vocês iriam me encarar sabendo que eu desisti?
– Peter, ninguém vai te julgar. Você acha que eu não estou com medo? – questionou Alvo. – Logo eu, o Potter mais sem graça da família? Não sou um aluno brilhante como Rose e John. Eu tirei um Deplorável no meu boletim parcial, então com certeza tudo isso é demais para mim, mas não posso dar as costas e fingir que não aconteceu. Eu te garanto que vamos continuar amigos até porque a gente vem para a escola aprender a nos defender do que protege os Tevirols, não é? Por isso, relaxa. Todo mundo tem o direito de escolher.
– A decisão tem que ser sua, Peter. Como pular – lembrou Rose.
– Entendo você – disse John. – O mundo era muito mais simples quando a nossa vida envolvia provas de múltipla escolha, trabalhos com colagem e cartolina. Ver desenho animado na TV e entrar escondido na Internet para jogar RPG – continuou com um sorriso saudoso diante da expressão confusa de alguns. – Eu tenho medo também do que pode rolar no caminho: das coisas boas e ruins. Mas se ajuda em alguma coisa, tudo pode acontecer tanto no mundo trouxa quanto no bruxo. Você pode assistir ou tentar fazer a diferença.
– Eu sei, mas vocês tomam essas decisões tão rápidas como se não fosse lá grande coisa arriscar a vida. Eu não quero morrer, só isso – admitiu Peter.
– E quem aqui quer morrer? – perguntou Malfoy revirando os olhos. – Eu quero viver, muito obrigado. Vou lutar cada segundo por minha vida e pela forma como quero viver. Faço isso desde que entendi como funciona esse mundo. Eu prefiro fazer alguma coisa a ficar olhando a vida passar e lutarem por mim.
– Peter, você ama seus pais? – questionou Tiago, colocando a mão no ombro do amigo.
– Claro!
– Você ama esta escola? – continuou o loiro.
– Ela me deu tudo e muito mais. Me mostrou tanta coisa...
– Você ama a sua vida? – o corvinal perguntou sério.
– Mais do que tudo.
– Estaria disposto a fazer qualquer coisa em nome desse amor, certo? – Potter interveio também colocando a mão no outro ombro do amigo, enquanto um estalo de compreensão passava no rosto do lufo. – Então você é capaz. Por isso Hogwarts lhe escolheu.
– Faz sentido... Têm razão. Certo, eu vou embarcar nessa aventura. Estamos juntos desde o trem, não é? – Peter encarou Rose e Alvo. – Só... Só não me deixem para trás se alguma coisa der errado, está bem?
– Não vou deixar ninguém para trás – Alvo afirmou seguro de si. – Bom, agora que todos já decidimos...
– Espere. Ela não disse nada – interrompeu Rose, apontando para Elizabeth.
– Eu não sabia que precisava de um discurso bonitinho como vocês fizeram. Era uma escolha em nossos corações e já fiz a minha. Como se vocês pudessem dar um passo sem minhas poções e providências – respondeu com soberba. – Além disso, meu irmão não vai a lugar algum sem minha supervisão. Ele é meio irresponsável com a própria vida, como deixou claro nessas pequenas aventuras.
John fingiu estar contratiado, mas sorriu. Sabia que era o jeito torto de Lizzie dizer que se importava e, de qualquer forma, ele não iria a lugar algum sem que pudesse ficar perto dela.
– Então todos decidimos ir. Onde está a saída? Não deveria abrir uma porta mágica? – perguntou Peter para Alvo e todos encararam um Potter confuso.
Antes de o pânico atingir a todos, uma melodia passou a ressoar pelas paredes. As crianças trocaram olhares nervosos e tentaram entender de onde vinha. Khai foi o primeiro a notar ondulações na superfície do lago, o que significava que algo estava a caminho.
– Sereianos? - Malfoy perguntou ao Potter.
O lufo deu de ombros.
– Não faço ideia.
– Eu achava que sereianos não poderiam emitir sons fora da água. Li isso em um livro – ressaltou Lizzie.
– Deve ter uma magia especial aqui. Lembra que os fundadores conteram a infiltração fazendo este lago? – lembrou Rose.
Uma belíssima melodia reverberou pelo ambiente até que uma letra suave a acompanhou, envolvendo a todos em uma aura de tranquilidade e leveza, como se flutuassem embalados por uma lua minguante no céu estrelado. O cansaço os abateu e, vencidos, sonharam com muito mais do que poderiam esperar.
Pequenos bruxos, ouçam-nos cantar,
Enquanto seus olhos fecham-se a embalar.
Para o sucesso dos Quatro e de vocês
Vamos revelar o necessário no sonho sereiês.
Já existe em cada um o poder para o revés
Do passado, presente e através.
Apenas os mais puros de coração podem convocar
A magia mais intensa e verdadeira a restaurar
Aquilo que outrora mais alguém abalou
E a noite elemental com poder sacramentou.
A árdua tarefa começa pelo início do fim
E aqui termina a nossa ajuda, outra vez, enfim.
Hogwarts sempre ajudará a quem com o recíproco oferecer,
Mesmo que a charada final liberte para morrer.
Comentários (6)
Eris, Gabriel, bem vindos de volta. Muuuuito obrigada mesmo por retornarem à fic e comentarem. Sei que mantive um hiatus grande, mas minha cabeça já está a mil, pensando na aventura seguinte. Tenho tudo na mente para ser incrível! Gabriel, eu também tive que reler a fic toda e acabo encontrando um erro aqui, outro ali, um dado que não foi incluso acolá...rs Eris, e que venha a busca pelo amuleto-que-tem-nome-difícil \o/ Sei que o capítulo pára em um momento que queremos a continuidade e eu farei até as férias (preciso terminar o semestre do curso atual primeiro, sorry). Não sei se será 1 grandão ou 2, tenho que escrever para ver como vai ficar o tamanho. Obrigada pela passagem e eu volto em breve, promessa.
2016-11-21Gente, comassim?? Vc ainda ainda vai me infartar Sheila, sério. Como vc me para assim? Com eles voltando pro castelo? Ai ainda vai ter toda a busca pelos amuletos-q-tem-nome-dificil e ent]ao salvamento da escola? E isso sem eles poderem pedir ajuda? Adorei a memória dos fundadores, essa ligação com o passado e tudo mais, foi um elemento fantástico. E acho q não parou por ai, já que foi citado que eles ainda terão conversas com os quadros dos fundadores. Essa ligação com a magia de Hogwarts sinto que será ainda melhor q o Mapa do Maroto hahaha Irá falar mais sobre esse aluno que morreu? E por favor continue com essas milhares de novas questões não fique sem postar bjus e até o próximo
2016-10-28Bom dia Scheila!! Desculpa a demorar para comentar eh q eu reli toda fic de novo kkkk e mais uma vez vc me surpreendeu c esse capitulo do Santuario, mto lindo e emocionante e agora o q acontecera c nossos herois? Mal poso esperar para ler a conclusão dessa historia!!! E tb na torcida para que vc continue escrevendo a sequencia dessa fic contando os proximos anos dessa galera em Hogwarts!! Grande beijo do seu fa numero 1!!!
2016-10-26Mas o suspense no final é essencial! :^D Se fosse um livro te levaria avidamente a passar à página seguinte, sem se permitir interromper, né? Penso nisso quando escrevo. Além disso, mostra que a parte do Santuário acabou (que leva o título do capítulo), logo, em frente pessoal! 0/ Eles precisam voltar, não é? Desculpa o atraso, mesmo. Às vezes isso deixa a fic meio solta. Eu mesmo tenho que voltar a ler, pegar as minhas anotações do que ficou solto, foi dito e tudo o mais para amarrar o último capítulo. Até janeiro concluo.
2016-10-10uou! E agora? Sacanagem esse suspense do final
2016-10-09