A discussão
Capítulo 13
A discussão
- Me passa agora aquela tijela de gosma de lesma.
- Tem certeza Rony? No livro diz que é pra juntar primeiro o olho de largatixa. - Harry alertou o amigo.
- Não se preocupe. Sei o que estou fazendo. Vi a Mione trocar a ordem dos ingredientes e nada aconteceu.
- Você há de convir que ela ao menos sabe o que faz.
- O que quer dizer com isso? Tenho a mesma capacidade que ela pra fazer uma poção!! - Disse confiante que o amigo o aprovaria, mas se decepcionou quando notou Harry fazer careta incrédulo naquelas palavras, disfarçando emendou. - Agora o pó de chifre, por favor?
Após a inclusão da nova substância as únicas coisas que se ouviu e viu foi uma barulho semelhante a um trovão e um clarão saindo do frasco levantando uma fumaça acizentada. Espantados os garotos pararam de medo do que tinha acontecido. Harry esfregava as lentes do óculos com fervor e forçava os olhos para tentar enxergar alguma coisa. Como não conseguiu, começou a tatear ao redor até que encostou no braço de Rony. O amigo tremia absurdamente e não conseguia falar. Preocupado Harry chamou por Hermione e achou que a garota demorou além do que devia para vir ao seu encontro. Mas quando isso aconteceu, ficou feliz por que de imediato toda a fumaça foi sugada pela varinha da amiga tornando visível a bagunça que fizeram e o rosto dos garotos. Enquanto Harry estava todo chamuscado e com os cabelos pra cima, Rony tinha a pele esverdeada e bolhas espalhadas pelo corpo. Cada protuberância parecia um pequeno vulcão pronto a erupir. Instintivamente Harry sentiu nojo pensado no que sairia delas se estourassem. Sem que fosse visto deu dois passos para o lado e aguardou a bronca que Hermione daria, já que sua cara não era das mais agradáveis.
- Mas o que que vocês estão aprontando?
- Tentávamos fazer uma poção.
- Que poção Harry?
- Ah, uma... fortalecedora de músculos. Igual aquela que você preparou pra mim no último campeonato.
- E pra que?
- Queríamos treinar quadribol....
- Já não tem o simulador? Pra que fazer esta poção?
- Iriamos jogar contra os caras da vizinhança lá no campinho e...
- Tá, chega, Vocês aprontam e eu que tenho que dar um jeito depois. A minha vontade era de chamar a Sra. Weasley agora pra que visse o que aprontaram. Francamente Harry!!!
- Por favor Hermione, ninguém pode saber se não proibirão a gente de sair. - Harry fez cara de piedade.
- Vou pensar no seu caso. A poção não é difícil, o que deu errado.
Harry explicou pra amiga todo o procedimento adotado e se assustou com a cara que ela fez quando mencionou a troca de ordem para a junção dos ingredientes. Ela ficou furiosa em saber que o namorado inverteu a ordem copiando sua atitude. Principalmente por que a inversão não deveria ter acontecido naquele momento e sim em duas etapas a frente. Xingou, esbravejou e com o mesmo talento de sempre lançou vários feitiços para corrigir os estragos. Rony que permanecia estático só gemia quando cada ferida se fechava e contorcia o cenho. Harry não sabia se ele resmungava da dor que sentia ou da reclamação da amiga. Quando a última foi curada, Hermione lançou um feitiço para restaurar a fala, virou as costas e deixou a bagunça para eles arrumarem. As marcas ficaram no rosto de Rony como lembrança da trágica tentativa de obter uma simples poção e foi motivo de gozação dos irmãos no decorrer da semana.
***
O entra e sai de gente na Toca naqueles dias tinha diminuído consideravelmente desde que Dumbledore deixou de promover reuniões. Todos se questionavam a causa do seu sumiço e do seu silêncio. Uma bruxa magricela e dentuça cogitou a possibilidade dele estar reunindo novos membros para a Ordem, mas muitos não concordaram com a teoria. Lupin contou aos meninos que soubera que ele tinha viajado e que retornaria em breve. Foi uma surpresa quando naquele instante uma coruja cinza de Hogwarts pousou sobre a mesa de madeira no jardim onde quase todos estavam, trazendo uma carta do professor. Nela, ele solicitava que Lupin, Arthur, Tonks e Olho Tonto fossem imediatamente para a escola para uma conversa sem demora. Como sempre Molly se levantou esbravejando sobre a repentina conduta e endireitando a camisa do marido consentiu com a sua ida. Intrigados os mais jovens se entreolharam especulando o ocorrido.
Horas mais tarde o Sr. Weasley reuniu todos na sala e falou dos assunto que fora tratado no encontro com o professor. Foi graças a esta conversa que Fred soube do paradeiro de Lucy. A jovem bruxa, assim como outros companheiros da Ordem, foi enviada em missão para vários condados a fim de obter informações precisas sobre o paradeiro de Lord Voldemort. Dentre as novidades relatadas estava a exata localização de cinco Comensais da Morte que atacaram um dos condados, o resgate de Loren Peterson Morrisson (uma bruxa muito famosa pelo seu poder de clarividência que vivia na Ucrânia e tinha sido seqüestrada a três meses), o término do treinamento de novos aurores que se uniriam a causa para evitarem o retorno de você-sabe-quem, e a volta da Srta Müller que deveria permanecer com eles por uns dias.
- Legal. A Lucy voltará pra cá. - Jorge deu um cutucão no irmão.
- É cara. Já tava na hora.
- Eu só queria entender por que ninguém nos enviou também para essas visitas... - Rony resmungou a um canto.
- Isso é óbvio. Eles nos consideram jovens e inexperientes demais... - Gina continuou. - ... já devia estar acostumado com isso. Enquanto não terminarmos a escola e fizermos outros cursos de formação, seremos sempre vistos como incapazes.
- Credo Gina, do jeito que você fala até parece que não percebe os perigos que rondam uma missão dessas. É claro que Dumbledore não arriscaria a nossa pele. Até por que sua mãe arrancaria a dele. - Hermione se pôs a defender.
- Aí é que tá o problema. Nunca deixam a gente fazer nada e quando a bomba estoura sempre estamos lá no meio, perdidos, sem saber o que fazer. Acho que temos muita sorte de sempre sairmos sem nenhuma lesão mais grave. - Harry disse pensativo.
- E vocês não tem nada a dizer? - Gina perguntou aos gêmeos.
- Quer saber? Não. - Dessa vez acho que Dumbledore está certo. Esta é uma missão pra aurores e não pra principiantes. Acho que só atrapalharíamos.
Todos os presentes olharam boquiabertos para Jorge.
- Eu discordo. Bem que eu queria estar lá quando aquela bruxa foi resgatada. - Fred se manifestou.
- Ãhn.???? Você e o Jorge estão discordando!!! Merlin, é o fim do mundo. - Rony ficou estupefato.
- Claro que Fred discorda. Ele queria era estar perto da Lucy e não estourar cativeiros ou coisas parecidas....
- Nisso eu tenho que concordar com a Hermione.- Jorge se aliou
- Nada a ver. Vocês estão variando se pensam que este é o único motivo. Claro que eu adoraria participar ao lado... bem a questão é outra. Vocês ouviram o que o papai disse? Cinco Comensais foram encontrados, imagina a circunstância, imagina a cara de desespero deles quando foram pegos. Ah eu daria meu dedo mindinho para estar lá.
- Que exagero Fred. Não é pra tanto. - Gina bronqueou o irmão.
O Sr. Weasley já tinha saído para buscar uns documenos esquecidos no Ministério quando um vento forte abriu e fechou a janela da sala algumas vezes causando arrepios nos presentes, que se assustaram com o barulho repentino. Do lado de fora era possível observar pesadas e escuras nuvens se unirem avisando que em breve a chuva de verão cairia. A Sra. Weasley imediatamente trancou-a e fechou as cortinas como se pressentisse que algo mais estava por chegar. O silêncio imperava no ambiente e ninguém era capaz de rompe-lo. De repente viu-se um clarão saindo pelas frestas da cortina e um trovão ensurdecedor fez alguns pularem em seus lugares. O barulho da água caindo no telhado incomodava, era como se estivesse camuflando o som de passos. Mesmo sabendo da segurança do lugar, Hermione não pôde deixar de sentir um calafrio com a situação. Voltando-se para a realidade notou que o amigo pressionava com força a cicatriz. Seria aquilo um aviso do perigo que estava por vir, ou era apenas mais uma coincidência? Assim que Molly voltou para os seus afazeres na cozinha, a garota correu até o amigo que agora gemia baixinho.
- Harry? Harry fala comigo. Você está bem?
Notando que o jovem bruxo era amparado por Hermione, todos se levantaram e foram ao seu encontro. Como já havia ocorrido anteriormente, estava pálido, suando frio e tremia compulsivamente.
- Não. Nem um pouco.
- Vem Rony, vamos levá-lo para o quarto antes que a mamãe o veja. - Jorge agarrou por um braço enquanto o irmão pegava o outro.
- Gina vai buscar um copo com água. - Hermione disse a um canto.
- Ok!
- Não era mais fácil conjurar um? - Rony quis saber.
- Nem pensei nisso. Pelo menos confirmaremos se sua mãe ainda está na cozinha. Se ela vir como o Harry fica quando a cicatriz dói, aí teremos um problema. Você não reparou como a cara dela estava nervosa quando fechou a cortina?
- É, notei.
- Os dois querem parar de conversar. Ele tá pesado. - Jorge reclamou referindo-se ao amigo que tinha desmaiado nos seus braços.
- Espera um pouco. - Hermione deu um floreio com a varinha e imediatamente o amigo foi posto em uma maca que voava sobre os degraus da escada.
Mal o apetrecho entrou no quarto, Gina surgiu ofegante atrás.
- Pronto. Aqui o copo.
- Obrigada. Sua mãe ainda estava na cozinha quando subiu?
- Estava. Por quê? - Disse sem entender.
- Ela não pode ver o Harry desse jeito...
- Ei pessoal... - Fred que estava próximo a janela interrompeu a conversa de Gina e Hermione para alertar que a mãe acabara de sair. A Sra Weasley vestida com uma capa de chuva, se dirigiu até o centro do jardim e desapareceu.
- Aonde será que ela foi?
- Sei lá Jorge, mas acho que alguma coisa está acontecendo. Alguma coisa grave.
- O Fred está certo. Tem alguma coisa estranha no ar...
- Ah! Beleza, mas antes de tentar descobrir não era melhor acordar o Harry? - Gina se revoltou.
- Merlin, é verdade. Só um instante. - Com alguns feitiços lançados Hermione secou o suor do amigo, normalizou a temperatura e aguardou que ele se restabelecesse. Estressada com a demora, virou o copo que estava em sua mão no rosto do amigo que assustado levantou de um salto.
- Cof, cof, cof.
- Você está bem Harry?
- Não sei. Sinto-me fraco. - Pressionando a cicatriz resmungou de dor fazendo com que todos não desviassem os olhos de cima dele. - Calma gente, tô melhorando.
- O que você viu desta vez? Você-sabe-quem aprontou mais alguma? Tem pessoas envolvidas? Fala Harry! Afinal se você desmaiou não foi à toa. - Hermione o questionava.
- Se ao menos parasse de falar, quem sabe eu conseguiria lembrar! - Respondeu contrariado.
- Desculpe. Me excedi.
- O pior é que não me lembro de ter visto nada de mais, ou melhor, quase nada. De repente me vi perambulando por uma rua repleta de árvores quando senti que estava sendo seguido. Olhei para todos os lados e não vi ninguém. Olhei para o céu e tudo escureceu. Foi então que comecei a sentir como se alguém tentasse invadir a minha mente. Foi estranho, tinha que me concentrar em mim mesmo aqui na sala e na minha visão, mas era interrompido por alguém.
- Ah, mas isso é óbvio. Você-sabe-quem estava penetrando na sua mente...
- Não. Não era ele. Eu senti como se uma terceira pessoa tentasse descobrir algo dele através de mim. Acho que a pessoa que seguia Voldemort conhecia a minha história, a minha ligação com ele e por isso invadiu a minha mente para descobrir alguma coisa sobre ele, ou sobre mim.
- Quem poderia ser? - Rony se perguntou confuso.
- Alguém que domine legilimência... - Jorge respondeu.
- E quantas pessoas nós conhecemos que tem este dom? - Fred levantou a questão.
- Dumbledore, Voldemort e... - Hermione se adiantou
- SNAPE. - Todos disseram em uníssono.
- Não. Impossível e improvável.
- Ah Hermione não começa a defender não...
- Harry todas as vezes em que acusa o Snape acaba caindo do cavalo. Aposta quanto que agora é mais uma teoria infundada?
- Ela tem razão. Mesmo não gostando dele, é demais acreditar que estava seguindo você-sabe-quem e tentando invadir sua mente ao mesmo tempo. - Gina concordou com a amiga.
- Mulheres! - Rony bufou alto, mas foi ignorado pela namorada que prosseguiu.
- Você não se lembra dos detalhes?
- É difícil se atentar a eles quando se sente uma dor infernal!! - Harry se impacientou.
- Tente lembrar. Puxe pela memória... você conhecia o lugar?
- Não. Eu sei que a rua era de paralelepípedos e pouca iluminação. Tinha umas casas razoáveis e não se parecia com nenhum dos povoados bruxos que visitamos. Se não me engano, parecia mais um bairro trouxa. Ai... - Harry interrompeu o relato por voltar a sentir dor.
- O que foi?
- Voltou a doer... mais fraco, mas ainda dói.
- Dá pra continuar?
- Dá. Bom tinha um bar no meio do caminho... com uma placa torta escrito... escrito Taberna do arteiro e um gato cinza rodeava a porta. Espera.
- O que foi agora? - Hermione se assustou.
- Está acontecendo de novo... nossas mentes se conectaram mais uma vez e...
- ...e?
Harry ficou alguns instantes quieto absorvendo informações para transmiti-las aos amigos. Como dissera antes, sua mente e a de Voldmort se conectaram e algo suspeito estava acontecendo. O Lord das Trevas se encontrou com um homem alto, de semblante animalesco e adentraram na Taberna. Lá dentro ainda com a capa sobre o rosto ele perguntou sobre o material solicitado e não ficou surpreso quando o outro homem jogou o jornal sobre a velha mesa de madeira. Cautelosamente abriu e no meio das páginas encontrou o que desejava. Debochadamente sorriu, olhou ao redor e como não havia ninguém por perto proferiu um encantamento sem usar varinha e o ser robusto a sua frente petrificou na mesma hora. Pegou o jornal e quando se dirigiu para a porta sentiu a presença de mais alguém ali. Mesmo estando em um ambiente considerado por ele indigno de sua pessoa, preferiu não chamar atenção. Seus olhos pararam em um ponto próximo ao balcão vazio e seus lábios sibilaram baixinho. Na mesma hora ele sentiu um vulto passando ao seu lado e mesmo Harry não vendo nada, sabia que Voldemort não estava sozinho e de certa forma isto o inquietava. Se era alguém da Ordem, por que não agia? Os pés da criatura não tocavam mais o chão e o garoto notou que ele flutuava até a porta. Quando chegou do lado de fora, sem olhar para traz, ergueu a mão e algo foi lançado de imediato contra a parede. A dor na cicatriz era latente, mas Harry não podia se deixar vencer por ela. Pressionou-a com força e fechou os olhos como se não quisesse perder nenhum passo do inimigo. Do lado de fora da taberna a marca do ataque ficou notável. Voldemort se aproximou e com o pé cutucou o invisível. Quando se abaixou recebeu um golpe no rosto desferindo sangue de suas vias aéreas. Irritado baixou a capa e Harry pode ver o seu rosto ainda ossudo e desforme se contorcer. Ele queria saber quem era o causador daquela agressão, mas por um motivo que o garoto não entendia, ele não conseguia desfazer o feitiço que circundava o estranho. Proferiu vários feitiços e teve a certeza de que muitos deles atingiram sua vitima. Talvez não com a intensidade desejada, pois sempre recebia de volta os golpes que enviava. Como um último acesso de fúria lançou o que o jovem bruxo imaginou ser um feitiço convocatório e notou no chão surgir o rastro de alguém que provavelmente estava sendo arrastado contra sua vontade e no momento em que seria revelado sua identidade, um novo golpe, certeiro e doloroso acertar o peito de Harry. Um redemoinho surgiu e Voldemort desapareceu no meio dele. Sentindo a dor desaparecer aos poucos, Harry foi abrindo os olhos e quando se recuperou da dor lancinante em seu peito contou aos amigos o que tinha presenciado.
***
Já era tarde e todos estavam em seus dormitórios. Rony roncava jogado na cama, Harry revirara a mente em busca de respostas, Gina se exercitava próximo a janela, Hermione colocava em dia sua leitura e os gêmeos discutiam a nova propaganda da loja. Mesmo estando quase todos acordados o silêncio imperava, a chuva havia passado e mais ninguém estava na casa. Foi por isso que a chegada abrupta de pessoas na Toca chamou tanto a atenção dos presentes. Como que combinado os membros da Ordem iam chegando um a um, inclusive o Sr e a Sra. Weasley, com os ânimos exaltados. Dos andares de cima era possível distinguir os passos apressados de Molly circulando pela pequena sala. Estampidos eram ouvidos no jardim e a lareira recepcionava os visitantes. Interrompendo o que estavam fazendo, os jovens bruxos se encontraram no corredor como de costume. Aproximando-se da escada perceberam o quanto o clima estava tenso. A um canto Lupin discutia com Tonks sobre o seu sumiço repentino durante a missão. A metamorformaga defendia-se dizendo que tinha se transformado para não chamar tanto atenção. Pela primeira vez presenciaram uma discussão entre os donos da casa. Ele acusava a esposa de deixar os filhos sozinhos durante o conflito e ela destacava que não tinha sido informada sobre as condições do suposto ataque. Tudo estava meio confuso e entre optar por usar orelhas extensíveis e ouvir mais de perto, talvez a conversa mais esclarecedora dos últimos tempos, Harry optou por usar sua capa da invisibilidade. Correu para o quarto e com o intuito de colocar o amigo a par da situação, tentou tolamente acordá-lo. Rony apenas resmungou alguma coisa e virou de lado na poltrona. Sem querer perder mais tempo correu até a ponta da escada e juntamente com Hermione e Gina desceu silenciosamente as escadas. Se do alto imaginava que algo ruim tinha acontecido, lá em baixo tinha certeza. A maioria dos membros ali presente estavam machucados e com hematomas. O próprio Lupin exibia uma arranhão no braço que até parecia com um daqueles ataques de lobisomem. Hermione não acreditava no que via, o antigo professor tinha uma fisionomia de fúria muito diferente da que estavam habituados e sentiu certo medo caso descobrisse que bisbilhotavam sem permissão.
- Acho melhor trancar esta porta. - Disse alto. - Logo, logo os garotos estarão aqui.
Hermione sentiu um calafrio percorrer-lhe a espinha e empurrou os amigos rapidamente para o lado para que Molly encostasse a porta. Na mesma hora Arthur lançou um feitiço observador, que consistia em um grande olho mágico que verificava do lado de fora quem se aproximava. Desta vez foi Harry quem suou frio e com um sinal pediu silêncio absoluto para as suas acompanhantes.
- Isso não poderia ter acontecido. Foi um absurdo você te-los deixado aqui sozinhos Molly. - O Sr. Weasley recomeçou a reclamar.
- Assim que eu percebi o que estava acontecendo foi mais forte do que eu. Eu não podia ficar aqui esperando por notícias.
- E quase estragou tudo.
- Me desculpe Arthur, mas não foi culpa dela. - Tonks a defendeu.
- Claro que não, foi sua. - Acusou Lupin.
- Olha, não estamos aqui pra ficar achando o culpado disso ou daquilo. - Kingsley disse a um canto. Era a primeira vez, desde que chegaram a Toca, que avistaram-o por ali. - Temos que os preocupar com os que ainda não chegaram. Como o Olho Tonto por exemplo.
Desta vez os três estremeceram com o nome. Se ele chegasse, aí sim teriam um problema já que facilmente seriam descobertos. Por medida de segurança dirigiram-se para trás de um armário e ali permaneceram. Na mesma hora um novo estampido se ouviu e Dumbledore surgiu repentinamente com os longos cabelos rebeldes esvoaçando. Os três mal respiravam colados a parede.
- Onde estão os outros. - Disse olhando cada canto do lugar como se já esperasse encontrar os garotos.
- Ainda não chegaram!
- Como não? Quando foram vistos pela última vez?
- Olho Tonto estava conosco quando dois Comensais foram soltos pelos seus comparsas. Ele não se conformou e travou luta com os outros para tornar a prende-los...
- E vocês por que não fizeram nada? - Dumbledore estava enfurecido.
- Tentamos. Arthur estava sozinho protegendo alguns trouxas, até que a Molly chegou. Tonks e eu lutamos o quanto pudemos. Olho Tonto estava inconformado e quando eles debandaram os seguiu. Quando fomos em seu encalço ele já tinha desaparecido. Foi neste instante que o Kin chegou e nos ajudou a fazer uma busca mais completa. - Lupin pôs-se a falar.
- E o objeto Kin?
- Hugh Stwart está com ele.
- Onde?
- Não sei. Não pude segui-lo. Ele derrubou um prédio com vários inocentes dentro, e assim como o Arthur fiquei impossibilitado de prosseguir.
- E Lucy onde está? - Dumbledore bateu com força na mesa.
- Acho que foi atrás dele. - Kin respondeu.
- Merlin.. Temo pelo pior...
- Por quê professor? - Tonks se preocupou.
- Ela me pediu ajuda, mas eu estava ocupado na hora e quando tentei localiza-la já não conseguia. Tentei ler sua mente para me situar, mas ela travou, talvez por medo que...
- ...quê?
- Fosse descoberta.
- O senhor não acha que ela... que ela... descobriu e seguiu? Acha? - Lupin inquietou-se.
- Pra ser sincero, existe a possibilidade, mas só saberemos quando todos voltarem.
Embaixo da capa, os amigos se olhavam receosos lembrando-se do que Harry tinha dito a respeito de sua visão. Seria Lucy a pessoa que lutava com Voldemort? Repentinamente o garoto sentiu uma admiração pela jovem ao se lembrar que provavelmente ela conseguira machucar seu inimigo.
No relógio marcava três horas da manhã. Dumbledore já tinha saído para procurar os que não tinham regressado, Kin fazia uma ronda no entorno da casa e os demais cuidavam dos ferimentos uns dos outros. Atrás do armário, já sem posição os três cochilavam desajeitosamente sob a capa. As pernas começavam a doer e ninguém arredava pé da cozinha. Precisavam de uma brecha para sair dali, mas ela nunca aparecia. Quando estavam quase se rendendo ouviram a porta da cozinha bater ferozmente e Lucy surgir mancando com vários cortes nas pernas. Assombrada Hermione tapou sua boca para impedir que algum barulho fosse ouvido enquanto os outros abaixavam mais a capa para cobrir os pés que começavam a aparecer.
- Lucy querida. Onde esteve? - Molly se antecipou.
A jovem visivelmente sem fôlego e fraca nada disse.
- Sente-se, sente-se querida.
- Não obrigada. E Dumbledore?
- Ah ele esteve aqui há algumas horas, mas já foi.
- Que ótimo. Quando eu mais preciso dele, desaparece. - A raiva saltava aos olhos.
- Ele disse que recebeu o seu pedido de ajuda... - Lupin começou a falar, mas foi interrompido.
- É e por que não foi ao meu encontro? - Lucy deu a volta na mesa com cara de poucos amigos.
- Não pôde de imediato, mas quando tentou localiza-la não conseguiu. Disse que sua mente se bloqueou.
- Claro. O que ele esperava? Que eu desse sopa e fosse descoberta? - A jovem virou um copo de água com açúcar que a Sra. Weasley lhe entregara. - Eu quase fui descoberta, passei por apuros, fiz o que ele me pediu e sequer me ajudou quando mais precisei. Sinceramente estou farta de tudo isso.
- Farta? Mas como assim? - Desta vez quem se alarmou foi Kingsley. - Você não pode...
- ... não posso o quê? Desistir? Não só posso como vou. EU NÃO QUERO MAIS arriscar a minha pele por causa do Harry...
- Você está sendo injusta. - Molly se pôs a defender. - Dumbledore não gostaria de ouvi-la dizer isso.
- Pena que ele não está aqui. - Lucy desdenhou.
Como de costume Dumbledore apareceu repentinamente, causando espanto nos três amigos. Harry sentia uma certa raiva de Lucy desde que mencionou o seu nome. Não era justo ela afirmar que todo aquele cerco estava sendo formado por sua causa. Ele acreditou que agora na presença do professor ela mudaria sua postura e quem sabe se desculparia da grosseria que disse, mas se surpreendeu quando Lucy enfrentou o diretor.
- Minha cara, eu estou aqui. O quê quer tanto me dizer? - Disse paciente.
- Ora, que bom que o senhor chegou. Bem na hora. Estava dizendo a todos que eu estou cansada desta luta e que não estou mais interessada em sacrificar-me por ela.
- Que isso? Você sabe tão bem quanto qualquer um de nós de que estamos lutando contra um inimigo poderoso e perverso que se tomar o poder todos pereceremos. Não podemos abandonar o barco agora, nem mesmo você. Sei que tem consciência disso, afinal foi graças as suas descobertas que estamos evoluindo em nossas buscas. Hoje, mesmo encurralados conseguimos uma vitória. O objeto foi transmitido para o Stwart, os comensais soltos foram recapturados pelo Alastor... Sei que foram feridos em combate, mas seremos gratificados no futuro quando o nosso grande inimigo for destruído e...
- Engraçado, o senhor fala como se estivesse lá. Não podemos abandonar o barco... conseguimos a vitória.. seremos gratificados... Sempre somos os mesmos a dar a cara a tapa, a enfrentar o perigo de frente. Mais uma vez a seu pedido eu deixei minha vida de lado para me empenhar na defesa de Harry Potter e olha só o resultado. - Lucy estendeu as mãos em carne viva para Dumbledore. - Fui atacada várias vezes e estava sozinha. Pedi a sua ajuda e o senhor estava ocupado com outras coisas. E se eu tivesse morrido? O que diria a minha família? A minha avó que já perdeu um filho e uma nora pela mesma causa? Eu não quero mais! E por isso hoje eu me despeço.
- Lucy eu sei que falhei. Sei que essas feridas estão doendo, mas não abandone a Ordem por conta do dia de hoje. Pense na sua importância para a equipe, para o futuro do Harry...
- Harry, Harry, Harry. Sempre ele em primeiro lugar. Como disse agora a pouco, eu não vou mais me sacrificar. Minha avó precisa mais de mim do que ele.
- Sua avó é uma mulher sábia que reconhece o seu esforço. Já conversamos inúmeras vezes e ela jamais disse sequer uma palavra de contrariedade. Pelo contrário, ela apóia e confia na Ordem.
- Pois é? Mas eu já dei o meu melhor. Agora eu SINTO que preciso passar mais tempo com minha família. Eu não sei no que isto vai dar e eu não quero sentir remorsos depois. Se tenho a oportunidade de estar com quem se preocupa comigo não vou desperdiçar.
Dito essas palavras Lucy e Dumbledore se olhavam fixamente como se o restante da conversa seguisse por telepatia. Ninguém desviava os olhos dos dois e aguardavam ansiosos o desfecho daquela discussão. Com os olhos cheios de lágrimas, Lucy continuou.
- Passo a maior parte do meu tempo pesquisando e viajando atrás de algum vestígio de você-sabe-quem, arrisco o meu pescoço, faço das tripas coração e quando preciso de ajuda me vejo só. Isto não é uma equipe.
- Não seja injusta menina. - Dumbledore se exaltou.
- Injusta? Eu? Injusto é o que você está fazendo com a minha vida. Sabe a quanto tempo estou fora de casa? A quanto tempo não vejo minha avó? Então não me venha falar de injustiça porque eu vivencio ela na pele. Estou farta de abrir mão da minha vida por uma causa tola....
- Você está fora de si. Depois que descansar conversaremos.
- Não! Não conversaremos mais...
- Você está precisando de cuidados agora, não é o momento para discutirmos...
- Claro que não. Os meus sentimentos e o meu desejo nunca são levados em consideração.
- Chega! - A Sra Weasley berrou do outro lado da mesa. - Acho que já nos exaltamos demais por hoje. Venha Lucy a sua cama já está preparada e...
- Muito obrigada, mas eu não pretendo ficar. - As palavras saíram abafadas por um choro contido. - Só preciso de uns minutos para tratar dos machucados e vou embora.
Os três ainda colados a parede assistiam a tudo boquiabertos. Não acreditavam na petulância da jovem que peitava o professor. As suspeitas da visão de Harry continuavam e a mágoa também. Não era justo colocar a culpa de tudo aquilo nele. Tudo bem que ela se arriscava muito, mas se conseguia sair das situações mais arriscadas é por que tinha capacidade para tal, caso contrario Dumbledore não a deixaria desamparada. Ou deixaria? Muitas coisas passavam pela cabeça de todos e não viam a hora de tudo aquilo acabar. Os garotos já estavam a muito tempo na mesma posição e precisavam deitar o quanto antes. Dumbledore olhava para Lucy como um pai desapontado e a jovem sequer ousada retribuir o olhar. Estava chateada, talvez também desapontada como ele. A única coisa que Harry conseguia assimilar é que no final das contas tudo sobraria pra ele. Afinal, como ela mesma tinha dito, não suportava mais se sacrificar por ele. Um misto de remorso e raiva invadiram seu peito.
- Pronto. Já estou melhor e posso ir. - Voltando se para a dona da casa emendou. - Muito obrigada pelo acolhimento Sra Weasley e me desculpe pelo desabafo. Precisava dizer aquilo se não enlouqueceria. Aos demais foi bom enquanto durou. Boa sorte a todos em suas batalhas.
- Nossa batalha Lucy. Você não pode nos deixar assim, você sabe muito...
- Sim Lupin. Eu sei. É por isso que ainda nos falaremos. Pretendo transmitir tudo o que descobri, principalmente sobre o objeto que..- Desviou o olhar. - ...que o Stwart acabou de adquirir. Não... por favor, mais nenhuma palavra. Agora preciso ir. - Olhando firmemente nos olhos do professor continuou. - Adeus professor Dumbledore.
- Prefiro... até logo. Antes do que imagina conversaremos com calma.
Com um último aceno Lucy saiu para o jardim deixando na cozinha muitas caras estupefatas. Sem mencionar mais nenhuma palavra cada um entendeu que era hora de se despedirem. Dumbledore e Kin foram embora em seguida. Lupin e Tonks seguiram Molly que agora improvisava duas camas na sala. Arthur subira para o quarto ainda abalado e os três companheiros quando notaram a cozinha vazia compreenderam que o diálogo sobre aquela cena deveria ser analisada num outro dia. Tudo foi muito intenso e precisavam refletir com calma para tentar entender o que aconteceu de verdade.
***
Olá
Como presente de ano novo postei este capítulo e espero que tenham gostado.
Talvez tenha ficado meio confuso, mas nos próximos muita coisa será esclarecida. Agora o cerco está se fechando e uma revelação será feita.
Espero que todos tenham passado as festas de final de ano com muita saúde e alegria, e torço para que 2009 seja de muitas realizações.
Um grande beijo e FELIZ ANO NOVO!!!!
Graziela
02/01/09
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