Reconstruindo a vida



Aonde quer que eu vá

(Paralamas do Sucesso)



Olhos fechados pra te encontrar

Não estou ao seu lado

Mas posso sonhar




‘ Nossa, até posso ver esses dois se casando.’


‘ Remo, você tinha que contar para mim, pelo menos!’


‘ Eu acredito em você.’


‘ Eu... eu... te amo.’


Remo levantou de súbito, com a testa molhada de suor. Tentou afastar as lembranças com que estava sonhando, mas era difícil demais para ele. De algum modo, por algum motivo, ele queria se lembrar dos momentos felizes com Cindy no passado.


A lembrança apareceu clara em sua mente, tão rápida que não teve como afasta-la.


‘Eu quero ficar aqui em Gondor, ao lado de... Aragorn.’


A voz soava clara como se Cindy estivesse falando em seu ouvido. Remo sacudiu a cabeça, e enxugando o suor da testa, se deitou novamente.


Mas não adiantava tentar dormir. Aquela cama de casal estava vazia demais sem sua noiva. Ele se sentou novamente, e puxou uma caixa debaixo da cama. Acendeu a luminária, e delicadamente tirou a tampa.


O anel de noivado reluzia lá dentro, junto com o vestido de casamento. Remo tinha a garganta apertada demais para falar alguma coisa. Sem nenhuma vergonha, afinal estava sozinho e em casa, ele abraçou o vestido dela e chorou.




Aonde quer que eu vá

Levo você no olhar

Aonde quer que eu vá

Aonde quer que eu vá




- Você está com uma cara péssima, Aluado.


- Sim, eu sei. Não consegui dormir.- Remo pegou a panqueca que Camila estendia.


Ele estava na casa de Sirius. Aquele era o primeiro dia depois da Comitiva do Salvamento, e ele havia descoberto que não ia conseguir tomar café sozinho. Sirius e Bárbara, a filha mais velha de Sirius e Camila estavam sentados junto com Remo na mesa. Matheus, o filho mais novo, estava sentado em uma cadeirinha, e Camila preparava panquecas.


- Sabe, eu não acredito como vocês não me convidaram para ir para a Terra Média junto com a tal Comitiva de Salvamento.- Bárbara começou, em tom de conversa.


- Bárbara...- Remo ia começar a se explicar, mas Bárbara levantou a mão.


- Tio, você não tem nada a ver com isso.- ela falou, ainda normal; porém, depois dessa frase, seu tom começou a ficar mais explosivo. – O fato é que esses dois seres que dizem ser meu pai e minha mãe me obrigaram a ficar em casa, sem saber onde eles estavam, e ainda por cima me obrigando a ficar com esse moleque pentelho.


Ela apontou para Matheus, que colocava nesse instante, inocentemente, uma panqueca na cabeça, usando-a como chapéu.


Camila correu para tirar a panqueca da cabeça dele.


- Não fale assim do seu irmão. Sem falar que nós não queríamos que você se arriscasse... não é Sirius?


O homem concordou com a cabeça, mais preocupado em passar mel na panqueca do que na mulher.


- Interessante pai, você não queria que eu me arriscasse, mas deixou o seu afilhado se arriscar, certo?- ela pronunciou as palavras em voz alta e com ironia.


Sirius parou de passar mel nas panquecas, e olhou para a filha.


- Pode ficar brava o quanto quiser, Bárbara, mas isso não muda nada. Nós já fomos e já voltamos, e pretendo nunca mais pisar naquele lugar.- Sirius falou com autoridade.


- Ótimo.- Bárbara não abaixou o tom.


- Ótimo.- Sirius falou o mesmo.


- Ótimo.- Camila falou, sentando-se a mesa.


- Ótimo.- Remo disse, agradecido pelo fim da dicussão


- Ó... pi... mu.- Matheus tentou falar, e todos riram menos Camila que olhava para o filho com lágrimas nos olhos, emocionada.




Não sei bem certo

Se é só ilusão

Se é você já perto

Se é intuição




- Aonde você vai agora, Aluado?- a família Black já havia terminado de tomar o café, e Sirius estava com Remo na sala.


- Tenho que ir ao hotel bruxo onde iria ser o casamento... Se não terei que pagar por um casamento que nem vai acontecer.


- Sirius olhou para ele, sem saber o que dizer. Ele abriu a boca, mas Remo balançou a cabeça.


- Não precisa dizer nada, Sirius. Ela que escolheu assim, então eu só vou fazer minha parte, que é cancelar tudo.


Sirius balançou positivamente a cabeça, e Remo aparatou no hotel.


O local estava em silêncio. Ele olhava para o salão onde ia ser o casamento, e se lembrava de tudo que Cindy tinha dito quando olhou o salão pela primeira vez. Somente a voz suave de uma das funcionárias o despertou.


- Posso ajudar?- ela disse.


- Sim. Eu gostaria de cancelar a locação do salão para um casamento.


- Seu nome?


- Remo John Lupin.


- Qual seria o salão?


- O número 2.


‘ O maior e mais caro.’ Ele pensou, mas não falou nada.


- Infelizmente, para você cancelar o salão, deverá esperar 2 semanas.


- Por que duas semanas?


- São ordens da direção do hotel.


Ela apontou para um cartaz que dizia que para cancelar as locações dos salões 2 e 5, tinha que esperar até menos de 1 mês da data da cerimônia.


Remo achou esquisito, mas agradeceu a atendente e aparatou para casa.




Longe daqui

Longe de tudo

Meus sonhos vão te buscar




Remo não sabia exatamente o que fazer em casa. Ele estava perdido em seus próprios pensamentos, de modo que a primeira coisa que fez ao chegar em casa foi sentar em uma cadeira, e ficar com cara de paisagem.


- Isso é estranho. – ele disse para si mesmo em voz baixa.- O fato do hotel só cancelar o casamento daqui a duas semanas. Duas semanas...- ele franziu a testa. Não deixava de pensar no fato que se Cindy não voltasse em duas semanas, ela não voltaria mais.


Ele se levantou e foi para o escritório. Mexeu em alguns papéis, mas não conseguia se lembrar o que mais teria que cancelar. Sem nada para fazer, ele começou a olhar a rua pela janela.


Uma coruja foi voando em direção a ele, no momento em que teve uma idéia. Levemente, a ave parou no parapeito. Remo retirou com cuidado o pergaminho.

‘ Venha almoçar aqui’.


O bilhete não precisava de assinatura, afinal ele reconheceria a letra de Sirius em qualquer lugar. Pegou uma pena e escreveu no verso.


‘ Não vou almoçar aí, mas agradeço se puder jantar.’


Colocou a pena no lugar. A ave estendeu a perna, onde Remo amarrou o pergaminho. A coruja deu um beliscão no dedo do homem, e levantou vôo.


Remo saiu da janela. Pegou um casaco, e colocou por cima da roupa de bruxo. Saiu do escritório, foi até a sala, e então abriu a porta e saiu de casa.


Ele aspirou a brisa leve, e começou a andar sem muita direção. Há muito tempo ele não saia de casa para andar pela rua. O fato de estar sem ninguém agora contribuía para as saídas dele.


Remo andou pro várias ruas. Algumas ele conhecia, outras não. A única coisa era o fato que ele não parava em lugar algum. Somente na hora do almoço, quando sentiu fome, entrou em um restaurante trouxa.

Quando estava quase terminando de comer, ele olhou para frente e quase se engasgou. Ele tinha parado na frente do Ministério da Magia.




Volta pra mim

Vem pro meu mundo

Eu sempre vou te esperar




O fato de ter parado ali era perfeito. Remo pagou a conta do restaurante, e então saiu do lugar. Ficou parado na frente da cabine de telefone, sem muita certeza do que queria fazer ou não.


‘ Você não vai fazer nada maluco, Remo Lupin. Não faça nada para se arrepender depois.’ Ele pensou.


Entrou na cabine, e então discou 6-2-4-4-2. A voz já conhecida da atendente falou, e ele deu seu nome, e objetivo da vista: uma dúvida sobre idas para outro mundo.


O crachá saiu do telefone, e ele pegou. Levemente, a cabine começou a descer, e ele chegou no Ministério.


Sem ligar para as outras pessoas que o olhavam, desconfiadas, ele entrou na mesma sala onde havia saído na noite passada. Mas dessa vez ele se dirigiu à parte onde se entregavam varinhas. Um funcionário olhava para a porta fechada (onde ficava o portal) com uma cara de tédio. Remo se aproximou.


- Com licença, eu tenho uma dúvida.


- Sim...- o funcionário disse, sem olhar para Remo.


- O que acontece com a varinha de quem passou pelo portal para morar?


- Ela fica aqui, e se a pessoa não voltar em duas semanas, nós quebramos a varinha.


Remo engoliu em seco, e então olhou para a parede à direita do funcionário. Tinha 5 caixas de vidro, cada uma contendo uma varinha e uma inscrição em prateado. As caixas estavam penduradas na parede.


Ele disse ‘obrigado’ para o funcionário entediado, e foi para a direita.


Dentro da caixa existia uma almofada de veludo vermelha, onde descansava uma varinha. A inscrição prateada dizia o nome da pessoa. Remo foi andando.


Na penúltima caixa estava a varinha de quem le procurava. ‘Cindy Black’, escrito na placa prateada, e a varinha que ele tanto conhecia. Abaixou a cabeça, pois aquilo era difícil demais para ele.


O funcionário tinha desviado a sua atenção, e agora estava do lado de Remo, olhando para a varinha também.


- O que ela era sua?


Remo olhou assustado, mas então disse.


- Minha noiva.


- Eu lamento.- ele disse, em voz baixa.- Eu mesmo a atendi. Ela parecia feliz em deixar Londres.


- Ela estava. E espero que esteja agora.


Remo saiu da sala. Estava tão atordoado, que quando chegou em casa não tinha a mínima idéia de como tinha feito isso.

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