Lembranças e Novo Cargo



No espelho da penteadeira, Gina examinou os olhos ainda inchados e abafou um gemido. Não havia dormido na noite anterior.

Um choro melancólico a fez desviar rapidamente o olhar. Do outro lado do quarto, seu bebê agarrava frustrado as grades altas do berço. As chaves de brinquedo estavam caídas no carpete. Quando a mãe devolveu o brinquedo às suas mãozinhas ávidas e sorriu, o pequenino rosto desanuviou-se tal qual mágica.

Thiago estava com seis meses de idade. Seu cabelo era escuro e sedoso. Também tinha imensos e ternos olhos verdes. E covinhas. Suas feições ainda eram arredondadas e indistintas, mas já exibia uma semelhança marcante com o pai no tocante à cor dos cabelos, da pele e dos olhos, reconheceu Gina com melancolia.

E não havia como negar que ela estava infeliz. Na véspera, Harry a tinha olhado com hostilidade. A atitude dele a magoara de verdade. Mas houve uma ocasião, em que ela e Harry não tinham destruído o melhor da amizade, e a dor daquele rompimento cruel persistia sempre que olhava para seu filho adorado.

Enfrentar a vida como mãe solteira não tinha sido fácil. Seu irmão Carlinhos, que trabalhava no exterior, permitiu que ela morasse em seu apartamento sem pagar aluguel. Sem essa generosidade teria sido forçada a viver em um abrigo da assistência social. A creche de Thiago, na Devlin Systems, engolia quase metade de seu salário. O restante não daria para pagar um aluguel em Londres e ainda bancar as despesas domésticas.

No ônibus, a caminho do trabalho, lembrou-se constrangida da reação de Lilá ao presenciar o encontro.

– Bem, então você estava escondendo o jogo – criticou Lilá. – Por que não contou que conhecia Harry Potter?

Então Gina relatou apenas uma parte da verdade. Embora tivesse diploma de curso superior, ela estava trabalhando temporariamente como auxiliar de escritório quando conheceu Harry Potter. A gripe derrubara dois de seus auxiliares diretos quando ele estivera em Londres a negócios. Gina tinha chegado à suíte de seu hotel, orgulhosa de ter conseguido a oportunidade, mas, em seu íntimo, tremia nas bases.

Ela se apaixonara desde o primeiro momento em que seus olhos viram aquele sorriso sedutor.

Em menos de um segundo, ele deixou de ser o poderoso e intimidador magnata grego, a quem ela queria impressionar com sua eficiência, para ser, simplesmente, o homem de seus sonhos.

Quando Harry a convidou para jantar, ela ficou eufórica. Seguiram-se seis semanas de felicidade e êxtase, antes de tudo começar a dar errado.

Gina apressou-se para entrar no edifício da Devlin Systems e deixar Thiago na creche do andar térreo.

Como sempre, deixá-lo era uma tristeza. E como todos os outros empregados que utilizavam o benefício da excelente creche, ela se perguntava ansiosa se Harry Potter manteria tal luxo para os funcionários.

Ao chegar à recepção, Lilá empurrou uma folha de papel para cima dela.

– Parece que você vai ganhar uma promoção…

Gina franziu a testa.

– O que é isso?

– O Departamento Pessoal mandou. Você tem uma entrevista com Harry Potter amanhã à tarde. – A inveja de Lilá era evidente. – Você deve tê-lo impressionado muito bem da última vez em que trabalhou com ele…

As dez para as três do dia seguinte, Gina se apresentou no último andar. Vestia um conjunto verde-escuro de saia e casaco longo. Seu cabelo vermelho estava com os cachos amarrados. Os olhos cor de mel estavam defensivos e a palidez marcava suas delicadas feições.

Passara as duas últimas noites em claro. Permanecera acordada, preocupada, perguntando a si mesma se Harry saberia agora que ela tinha um filho. Ele, que uma vez manifestara com raiva sua opinião, quando o fato acontecera com um amigo:

– Preso em uma armadilha pelos próximos anos por uma mulher grávida, que deu o golpe da barriga para subir na vida!

Será que Harry havia visto sua ficha pessoal? Em caso positivo, certamente descobrira que ela dera a luz a um bebê prematuro, oito meses depois que eles haviam rompido!

Mandaram que ela seguisse por um corredor que dava direto na sala do diretor-geral. Com os nervos à flor da pele, Gina bateu à porta e depois entrou.

Harry atendia uma ligação telefônica. Seu perfil severo e bem delineado ouvia atento. Ele indicou uma cadeira a alguns metros de sua mesa e concentrou-se novamente na ligação. Gina sentou-se e tentou manter as mãos quietas. Procurava loucamente lembrar qual postura indicava a linguagem defensiva do corpo, pois certamente Harry sabia. À medida que o olhava, crescia nela uma dor emocional, quase física, que a deixava tensa.

Ele a trocara por outra mulher sem lhe dizer nada. Mas, na ocasião, as circunstâncias atenuaram esse comportamento. A verdade era que Gina precisava ainda se restabelecer de seu caso de amor com Harry Potter.

– Desculpe, não pude deixar de atender – Harry colocou-se de pé, pondo o telefone de lado. Emanava dele uma energia poderosa e isso era bem o seu feitio. – Pare de me olhar como um ratinho assustado, Gina. Eu não mandei chamar você até aqui em cima para demiti-la ou ofendê-la. Acredite ou não, posso me livrar de pessoas indesejáveis sem ter que me comportar como o homem de Neandertal!

Há quatorze meses, fora esse mesmo homem que rosnara ao telefone para ela:

– Nenhuma mulher me dispensa!

Conectada com aqueles impressionantes olhos verdes, Gina sentia-se magnetizada. Seu coração batia como um tambor, e sua mente estava completamente tonta. Felizmente, Harry continuava a falar, e sua pronúncia arrastada e cheia de sotaque soava em seus ouvidos como música, que há muito ansiava escutar.

– Vou precisar de uma secretária social.

Ágil como um gato selvagem, ele se aproximou das janelas coloridas.

– Você é rápida, esperta e não me irrita com perguntas idiotas. Quando eu for embora, você será uma executiva do quadro de diretores.

Desconcertada por essas palavras, Gina caiu em estado de choque. Evidentemente, no dia da chegada, ela estava muito melindrada e deve ter confundido sua surpresa natural em vê-la com hostilidade.

– Secretária para atividades sociais?

Harry citou um salário que fez sua cabeça girar. Em seguida, olhou com impaciência para seu relógio de ouro.

– Se quiser, o cargo é seu e você começa amanhã. Discutiremos suas tarefas depois. Estou sem tempo hoje.

– Com certeza eu quero. – Ouviu-se dizer, embora a indiferença de Harry quanto ao antigo relacionamento deles a espicaçasse como faca afiada.


Mayra: Tá ai o novo capítulo, na verdade são dois que eu juntei, porque os capítulos estão muito pequenos, beijos e obrigada pelo comentário.
Tonks: Eu também adoro H/G, essa semana eu não vou ter tempo de passar nas suas fics, mas prometo que semana que vem eu dou uma olhada, beijos.
Carol: Tá ai o próximo capítulo, beijos e obrigada pelo comentário.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.