Ius Sanguinis
Capítulo 6 – Ius Sanguinis
O silêncio pesava a cada passo. O caminho até as masmorras parecia interminável. Severus Snape estava inexplicavelmente nervoso. Gina Weasley, surpreendentemente tranqüila.
Finalmente a porta da sala de poções surgiu à frente deles. O professor de DCAT abriu a porta apenas com um aceno de varinha e fez um sinal para que Gina entrasse primeiro. Ela obedeceu. Ele a seguiu.
Gina parou, próxima a porta, aguardando alguma ordem de Snape, enquanto o último fechava a porta e caminhava apressadamente pelo aposento até outra porta, sem uma palavra. Abriu-a e passou rapidamente por ela, deixando-a aberta. Gina hesitou por um instante, antes de apressar o passo e seguir seu professor.
Foi recebida com uma sobrancelha erguida. E ela sabia exatamente por quê. Olhou para ele como se dissesse: “Pois é, professor Snape, comigo é bem diferente.” A grifinória suspeitava que Snape a compararia com Hermione, inconscientemente, mas compararia. E não estava errada.
Severus Snape não pode dizer, em alguma ocasião futura, que não se surpreendeu com essa pequena atitude da garota Weasley. Granger esperaria do lado de fora até que ele a mandasse entrar. Isso só mostrava que arrancar algo da menina ia ser difícil, e que agora ele pisava em terreno perigoso. Cautela seria o nome dessa conversa.
Enfim, após a passagem da ruiva, Snape fechou a porta silenciosamente e continuou o seu trajeto como se o fizesse sozinho. Caminhou até uma porta de madeira de lei e a abriu, revelando um belíssimo laboratório de poções, que fazia jus a todo o resto de seus aposentos.
Afinal, observadora como era, Gina Weasley nunca deixaria de reparar num ambiente como aquele: refinado, bem decorado e ao mesmo tempo simples e rústico. Não tinha nada muito sonserino, exceto, é claro, uma enorme tapeçaria com o símbolo e as cores da casa. Até que o desenho era bonito; a serpente se movia sinuosamente e seu contorno prateado dava um ar diferente à peça. Como distorcia de tudo ali, talvez fosse uma obra muito antiga, fixa ao aposento; como uma marca que o diferenciava de outros lugares. Havia dois sofás de tecido escuro cercando uma mesinha de centro que aparentava ter uns duzentos anos, apesar de bem conservada. Próximo à porta, encontrava-se uma escrivaninha do mesmo modelo e madeira da mesinha. Um tapete felpudo e totalmente negro cobria praticamente o chão todo e Gina teve que refrear uma vontade imensa de tirar os sapatos e aproveitar aquela sensação gostosa de pisar em algo fofo. A lareira, grande e cheia de detalhes artísticos, transmitia a sensação de que poderia aquecer as masmorras por completo. Agora, os itens que apareciam em maior quantidade no aposento: livros, livros e... livros. Eram quatro estantes repletas de livros, de diferentes tamanhos, cores, idiomas e letras. Três portas e uma janela completavam o ambiente. A janela, obviamente enfeitiçada, já que estavam no subsolo da escola, mostrava o Lago Negro lá fora, refletindo a luz da lua, solitária, em suas águas; uma imagem bela, é verdade, triste, mas bela. Uma porta era o quarto dele, é claro. Outra provavelmente seria a biblioteca, Gina tinha certeza que Severus Snape tinha muito mais do que as dezenas de livros que via. A última porta, a do laboratório, estava atrás de uma figura de negro que a encarava impaciente.
- Terminou a inspeção, Senhorita Weasley?
- Ah, terminei sim, professor.
Snape bufou, ‘garota insolente’, virou-se e entrou no laboratório. Gina o seguiu sorrindo. Era divertido provoca-lo.
Severus Snape 0 x 1 Gina Weasley
No laboratório, Snape retirou o vidrinho com o ditamno do bolso e começou a separar os ingredientes da Ius Sanguinis. Gina tentou ajudar, pegando o material necessário para espremer os pequenos cogumelos sem contaminá-los, mas um olhar de Snape a fez parar no meio do caminho. Era algo como: não-mexa-nas-minhas-coisas-sem-autorização-em-hipótese-alguma! Uma coisa era provocá-lo descaradamente uma vez, outra era cometer suicídio. A ruiva sentou-se e esperou que ele terminasse de pegar as coisas em silêncio.
Quando Snape parou finalmente no banco à sua frente, do outro lado da bancada, todos os ingredientes e equipamentos estavam metodicamente organizados de acordo com a ordem de utilização. Ele dirigiu-se a ela:
- Acredito que você saiba preparar a essência de ditamno, Weasley. Então,...
- Com certeza, professor.
- Não me interrompa. Então, deverá pegar cada ‘cogumelo’, corta-lo em fatias de...
- Aproximadamente dois centímetros, amassa-las com o moedor, sugar o líquido com a varinha, para evitar contaminação por contato da essência com a pele humana, e deposita-lo neste pequeno caldeirão. Depois que fizer isso com todos, acender o fogo a 95° durante sete minutos e meio e deixar o líquido resfriar a temperatura ambiente. – Gina concluiu para provar que realmente sabia o que deveria fazer.
- Ah, então não é só a Srta. Granger. Agora vejo que os grifinórios possuem uma memória e tanto. Apenas grifos decoram livros-textos tão facilmente! – Snape retrucou, sorrindo enviesado e empatando o placar.
Severus Snape 1 x 1 Gina Weasley
Gina resmungou alguma coisa bem baixinho, algo realmente parecido com um palavrão bem feio. Sorte que Snape escrevia em um bloco e não parecia estar prestando atenção em mais nada a sua volta. A garota começou a realizar o procedimento com o primeiro ditamno e não pôde evitar pensar em sua amiga.
Tenho certeza que ela desmaiaria se entrasse nos aposentos de Severus Snape. Imagina se visse todos aqueles livros? E esse laboratório perfeito? Mas, com certeza, ela amaria, mais do que tudo, o tapete da sala. Ela deitaria ali e não sairia nunca mais. Quem sabe ela ainda não tenha essa chance? Esperava que sua amiga fosse feliz, ela merecia, depois de tudo que passou ao lado do Harry e do meu irmão. Sorte da Hermione – Gina continuou seu raciocínio – ter esquecido Rony, porque admito que ele não tem muita inteligência e logo sua amiga ficaria entediada com a convivência. Agora, ela arranjou um problema maior, que causou outro problema, tão grande como o primeiro e mais grave. Ela podia morrer agora e tudo porque...
- Ai! – Gina deu um grito e levantou do banquinho rapidamente, segurando o dedo indicador esquerdo na mão direita e soltando a faquinha no chão. Snape levantou o rosto de suas anotações, que anteriormente fazia com uma ruga de preocupação entre as sobrancelhas, e observou o sangue em alguns pontos da bancada, porém não se moveu. Apenas assistiu a Gina fechar um corte relativamente fundo com sua varinha, limpar as gotículas de sangue espalhadas e esterilizar novamente a faca sem uma palavra ou olhar até ele. Quando a garota sentou-se novamente para recomeçar o trabalho, Snape perguntou:
- Algum problema, Srta. Weasley? – educado, todavia sempre irônico.
- Não professor, nenhum.
- Então, a que devo essa ‘falta de concentração’?
- Não é nada, professor. Apenas lembrei da Hermione.
- E? Eu dificilmente me corto, sabe, quando lembro dos meus amigos. – Snape retrucou, cruel.
- Que amigos? – Gina devolveu.
Severus Snape 1 x 2 Gina Weasley
Severus Snape encarou-a por um longo período depois daquela frase, como se pensasse em suas palavras e depois voltou novamente seu rosto para as anotações. Entretanto, não conseguia ler uma palavra. As palavras ecoavam em sua cabeça como uma verdade incontestável. Ele tivera Lílian, é verdade, contudo participara de sua morte. Indiretamente? Sim, mas isso não tirava sua culpa. Agora tinha Dumbledore, apenas Dumbledore. Não menosprezava a amizade do diretor, não era isso. Mas sentia falta de alguém para conversar e até para discutir e Alvo parecia tão distante, tão superior às vezes, que o deixava desconfortável. E ouvir sua realidade da boca de uma pessoa que não o conhecia completamente só confirmava tudo e causava uma dor diferente na alma. Talvez tenha errado tanto na vida que não merecia amigos.
Gina percebeu, pela expressão do seu professor, que fora cruel. Não deveria ter dito aquilo.
- Desculpe-me. – ela pediu. – Eu...
- Apenas continue com o seu trabalho. – ele a cortou, seco.
- Eu não queria...
- Escrúpulos grifinórios não são necessários. Apenas continue com o seu trabalho. – repetiu. Gina engoliu em seco.
Severus Snape 2 x 2 Gina Weasley
Droga! Eu não deveria ter dito aquilo. – Gina pensou enquanto cortava um pequeno cogumelo. – Preciso consertar isso urgente!
- Professor, ouça-me por favor. Eu realmente não tinha a intenção de feri-lo. Na verdade, eu nunca pensei que o senhor pudesse sentir alguma coisa...
- Compreensível, senhorita. Todas as pessoas têm esse pensamento. – Snape respondeu sem aquele seu sarcasmo tão característico. Ele apreciava sinceridade e as palavras dela exalavam franqueza.
- Todas, não. A maioria. – Gina corrigiu.
- Ah, sim. A senhorita Granger, certo? – Snape decidiu ser mais cordial, estava chegando perto de onde queria. Gina apenas sorriu e voltou ao seu trabalho.
Passaram-se alguns minutos, durante os quais, os dois trabalharam silenciosamente, até Gina parar e perguntar:
- O que o senhor verdadeiramente acha da Hermione, professor? – Pergunta direta demais, Snape pensou. Essa menina é mesmo imprevisível.
Severus Snape 2 x 3 Gina Weasley
O que ele diria? Talvez fosse melhor falar a verdade. Mas com cuidado, pesando cada palavra. E, é claro, omitindo algumas coisas, afinal era um sonserino.
- Eu realmente não sei o que pensar sobre Hermione Granger depois de tudo o que me foi revelado hoje.
- Entendo. Já passei por isso também. – recebeu uma sobrancelha erguida como resposta. – Em relação ao senhor. – a outra sobrancelha juntou-se à primeira. Porém, após alguns segundos, a expressão dele se anuviou, dando lugar a uma de compreensão. E como resposta:
- Granger. – A garota ruiva assentiu. – Eu não consigo entender...
- Eu sei que não. Eu gostaria de ajudá-lo.
- Então porque não o faz? Eu gostaria de entender tudo isso...
- Não posso. Hermione me mataria. – Snape bufou. – Estou falando sério, senhor. – Gina afirmou.
- E isso pode ser assim tão sério?
- É claro! Porque Hermione o salvaria dessa maneira se não fosse algo extremamente sério?
Silêncio.
Severus Snape 2 x 4 Gina Weasley
Durante o silêncio que durou um tempo bem maior do que os outros, Gina terminara de cortar e amassar todos os cogumelos e acendera o fogo abaixo do caldeirão na temperatura adequada, com toda a essência que colhera.
Agora observava a mistura borbulhante no seu caldeirão e lançava olhares rápidos ao diretor da Sonserina. Ele continuava com suas anotações, mas parecia ter encontrado um problema. Sua expressão tornou-se mais séria e até preocupada.
- O que foi, professor? Alguma coisa errada?
- Temo que sim. – hesitou um pouco antes de continuar. – Senhorita Weasley, o que sabe sobre a ‘Ius sanguinis’?
- Bom, eu já ouvi falar sobre a poção. Acho que foi Hermione que comentou sobre ela, mas não sei sua função nem seus ingredientes.
- Como sua ajuda será fundamental, creio que não haverá problema em lhe dizer. A ‘Ius sanguinis’, cujo nome significa “direito do sangue”, é uma poção utilizada raramente e tem a capacidade de repor todo o sangue perdido e restaurar a energia vital do paciente. Só é utilizada em casos muito graves, como o da Srta. Granger. A poção é eficaz e tenho certeza de que será capaz de curar completamente sua amiga, porém utiliza ingredientes, por falta de palavra melhor, ‘exóticos’ e tem algumas conseqüências bem sérias.
- Com as conseqüências, nos preocupamos depois. Acredito que o problema seja com os ingredientes. Quais são?
- A senhorita não deveria menosprezar as conseqüências dessa poção. Ela pode ser a solução dos nossos problemas, mas só a farei com o consentimento do diretor.
- O que pode ser tão sério assim? – Gina perguntou.
- Só poderei dizer-lhe a gravidade da situação quando possuir todos os ingredientes.
- Então, pare de enrolar! – Snape ergueu uma sobrancelha diante do tom autoritário da garota. Ela se corrigiu. – Desculpe-me, mas o senhor está me deixando nervosa. Diga-me os ingredientes para que eu possa ajudar! – Snape suspirou, como se se preparasse para soltar a bomba. Para dar-se um tempo, desligou o fogo do caldeirão de Gina com a varinha, já que o tempo se completara, antes de continuar.
- Eu possuo todos os ingredientes para essa poção, por mais raros que possam ser, exceto um.
- Qual? – Gina estava quase explodindo de nervoso.
- Para que a poção surta o efeito desejado e para que o sangue seja reposto totalmente, precisa-se de sete gotas de sangue de alguém que ela goste muito e que também goste muito dela.
- Ah, isso não é problema. Podemos pegar o meu sangue ou o do Harry.
- Não, senhorita Weasley. Alguém que ela ame e que a ame. Não o amor fraterno que vocês compartilham. O outro tipo de amor.
Gina arregalou os olhos e encarou o professor de DCAT desesperada. Sentou-se com estrondo, só agora percebendo que tinha se levantado durante a conversa. Perguntou, num fio de voz:
- Não... não tem outro jeito?
- Você não acha que se tivesse, eu já teria feito a poção?
Severus Snape 3 x 4 Gina Weasley
Gina segurou o rosto com as mãos desesperada. O que ela faria agora? O segredo de Hermione estava em suas mãos, assim como a vida dela. E ela tinha que escolher entre os dois. É claro que lutaria pela vida da amiga, mas contar tudo a ajudaria de alguma forma? Ela não tinha como saber como Snape se sentia. Já percebera que ele se preocupava com ela, isso ficou claro durante a conversa, mas daí a pensar que...
Contudo, ela tinha que fazer alguma coisa. O quê? Ela não tinha com quem falar. Não podia contar a alguém o que Hermione lhe confidenciara. Estava num beco sem saída. Lágrimas enchiam seus olhos e ameaçavam cair enquanto olhava para suas próprias mãos, pensativa.
Snape a devolveu a realidade, falando:
- Senhorita Weasley, a essência de ditamno já esfriou. Gostaria que levasse até a Ala Hospitalar.
- Professor, o senhor não poderia fazer isso? – ela perguntou, tentando se controlar. – Eu preciso pensar...
- Entendo, senhorita, mas preciso falar com Dumbledore o quanto antes.
- Dumbledore! – Gina gritou. É claro! Por que não pensara nele logo de início? Ele já dera a entender que sabia de tudo. Então ela podia contar a ele e contar com ele!
A garota saiu correndo. Ela sim tinha que falar com Dumbledore o quanto antes e, preferivelmente antes de Snape.
O ex-professor de poções assustou-se um pouco com a atitude repentina da menina e suspirou. Pelo jeito, o problema era maior do que pensava. De início, acreditava que Granger possuía algum romance secreto ou algo parecido e que sua amiga não quisesse revelar por pura infantilidade e teria que pedir que Dumbledore interviesse. Não, definitivamente, não era isso.
Recolheu mecanicamente a essência num frasco de vidro e saiu de seus aposentos rumo à Ala Hospitalar.
- Mais uma visita, Senhorita Granger. – murmurou durante o caminho. Suspirou. – Às vezes, me pergunto se tudo não seria mais fácil se eu estivesse no seu lugar.
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Bom, gente. Aqui está o sexto capítulo, também não-betado. Perdoem-me a demora. As coisas por aqui aconteceram uma atrás da outra e eu realmente não pude escrever. Depois das provas, veio a entrega das provas e o meu aniversário ( 04 de junho! =D ), simultaneamente, meus professores passaram muitos trabalhos e a fadinha da imaginação pareceu ter tirado umas pequenas férias.
Cada comentário que lia, quando entrava correndo na internet, eu sussurrava: “Calma gente, eu prometo que vou postar. Por favor, esperem e me perdoem.” Eu me sentia muito mal mesmo por não postar. Vou tentar voltar a pontualidade, prometo. E nas férias de julho, a produção será em massa, tá?
Além disso, tentei fazer um capítulo maior, espero que tenha ficado maior mesmo! XD
Ah, para quem não entendeu, a marcação do placar é feita quando um dos dois deixa o outro sem fala e eu achei divertido deixar a Gina ganhar. ; D
Agradeço aos comentários da Rosy SS (seus pedidos de ‘atualiza!’ me comoveram muito, adorei! Obrigada mesmo! Bjs.), da Lety Snape (fiz de tudo para postar o capítulo nesse final de semana. E também me deu um aperto no coração deixar a fic parada. Obrigada pelo apoio! Bjs.), da Lih Freitas (leitora nova é sempre bom, né? Espero que continue gostando e acompanhado a fic! Bjs.), da Gislene B.Pizzol Tristão e da Pathy Potter (que bom que gostaram do capítulo anterior e tomara que gostem desse também! Ah, fui bem nas provas! Valeu pela torcida! Obrigada! Bjs.), Dinha Prince (fiz de tudo para aumentar o capítulo, espero que tenha conseguido! =D Eu também tiro a Rosy e a Lety como referência para ler fanfics e também amo AdA! Obrigada! Bjs.), molambo (que bom que gostou do capítulo anterior! Tomara que a conversa Gina/Snape tenha atingido suas expectativas! Obrigada você por lê-la! Bjs.) e da Sophie Granger ( que bom que você gostou do capítulo! Tomara que tenha conseguido bons resultados na sua pesquisa. E para qual fanfic? Quando escrever, me avisa! Quero ler! Obrigada. Bjs.)... E também agradeço a todos os outros que lêem e não comentam.
Estou super feliz com a quantidade de comentários que tenho recebido! Não esperava isso nunca! Obrigada mesmo, gente!
Espero que gostem desse capítulo também e para não perder o hábito, comentem! Muuuito! =D
Bjs e até o próximo capítulo!
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