- O mago e seu caldeirão[...]
Em um vilarejo ao sul de Gales, um senhor curandeiro ajudava as pessoas com seus problemas do cotidiano. Ele era um idoso de estatura mediana, levemente curvado por causa da velhice, com barbas e bigodes muito brancos, era também um tanto magro, contudo, sempre fora muito prestativo a todos seus vizinhos. Usava, além até de sua magia, conselhos para ajudá-los.
Ele possuía um belo caldeirão, o qual utilizava para criar poções, antídotos, dentre outras soluções que eram especialmente para qualquer um que viesse pedir ajuda a ele. Seu caldeirão era algo muito especial para ele, algo que sempre tratou com zelo, algo que significava a solidariedade para ele.
Sempre fora uma bondosa pessoa, incentivando o ‘ser solidário’. Logo cedo se tornara um curandeiro, usando sempre sua inteligência para o bem, visando sempre o bem estar dos outros. Pouco se importava com si. Tinha apenas um filho.
Na medida em que ajudava as pessoas, foi ficando conhecido em seu vilarejo, e seu caldeirão acabou com o nome de “caldeirão de cozer da sorte”. Pois passava horas e horas trabalhando, na esperança de que cada um que saísse dali carregasse consigo um sorriso de satisfação.
No entanto, uma doença mágica o arrebatou. Ele havia vivido o suficiente e se conformava com seu destino, estava ciente do que fizera na vida, e estava feliz pelo que fez. Faleceu, então, deixando tudo para seu único filho.
Ele não era igual ao pai. Era, de alguma forma, arrogante e egocêntrico. Sempre questionara a “perda de tempo” do pai quando este estava trabalhando em novas poções ou dando conselhos. Nunca o apoiara a ser generoso. Procurava sempre o que o deixava bem, o que o confortava. Sempre quando fazia algo de bom, era porque estava visando algum lucro futuro.
Após o falecimento de seu pai, em um dia qualquer, enquanto procurava algo para comer em seu café matinal, na cozinha, encontrou tal caldeirão dentro de um armário particularmente largo. Era um caldeirão bem acabado, com um brilho azulado e um aspecto de distinção.
Ele não achava que valesse a pena vender aquele caldeirão, iria lucrar pouco. Arrastou-o para fora dali, para ver o que poderia fazer com o objeto. Também não via utilidade continuar com algo como aquilo, só se fosse para ocupar espaço.
Entretanto, um único chinelo surgiu no fundo do caldeirão quando o rapaz o tocou. Junto ao chinelo havia um bilhete com os seguintes dizerem: “Na esperança, meu filho, de que você nunca precise disso”. Sentira algo de estranho ao ler aquele bilhete, contudo, enfim o ignorou e retornou a fazer o que antes fazia.
Fechou as portas para os demais vizinhos, não estava nem um pouco interessado em quem não sabia fazer magia. Sentia-se entristecido também, por apenas ter aquele caldeirão em seu nome, mais nada. Fora o que seu pai deixara para ele.
No dia seguinte, bateram à sua porta. Era uma dócil senhora com um triste sorriso cravado em seu rosto muito enrugado. Ela disse que sua neta havia sido empestada por verrugas terríveis.
A reação do bruxo foi a menos esperada: ele bateu a porta na cara da senhora. Ouviu-a choramingar, se afastando, antes de ouvir um estrondo vindo da cozinha.
Correu para ver o que acontecera e deparou-se com uma cena bizarra: seu caldeirão havia adquirido um único pé, só que estava cheio de verrugas feias e grandes. O caldeirão começou a saltitar em sua direção, aos tropeços por tentar se locomover daquele modo. Aquilo, apesar de até ser engraçado, era algo nojento, para o bruxo.
Puxou a varinha e tentou utilizar alguns feitiços para tentar deixar o caldeirão normal novamente, até que este parasse de persegui-lo ou pelo menos eliminar aquelas verrugas. Não adiantou. Nada funcionava contra aquele caldeirão e, quanto mais tentava, mais verrugas surgiam na sua perna.
Conforme o dia passava, o caldeirão o perseguia por todos os cômodos de sua casa e, de noite, quando tentava dormir, este acabava pulando em cima de sua cama o acordado.
O dia seguinte foi seguido de outra visita, desta vez matinal. Era um homem alto, envelhecido pelo trabalho diário exposto ao sol. Ele pedia ajuda para levar suas mercadorias para a cidade, pois havia perdido seu burrinho, o qual carregava o que precisava transportar. Desta forma, sem as mercadorias dentre as quais constava alimentos, sua família iria passar fome.
E novamente o jovem virou às costas para um pedido, fechando a porta antes mesmo de uma resposta rude. Poucos minuto depois, o caldeirão veio saltitando em sua direção, contudo, agora apesar das verrugas, ele estava emitia relinchos de burro e gemidos de fome, algo bem desagradável para piorar a situação de tédio do bruxo. Tentara mais uma vez usar feitiços para calar o caldeirão e, conseqüentemente, os relinchos e gemidos se tornaram mais altos.
E o dia seguinte recebeu mais uma visita. Desta vez era um senhor que pedia ajuda, sua filha estava em profunda depressão e naqueles dias não havia nada que conseguisse melhorar seu humor. Ela ficava o dia inteiro trancada em seu quarto, chorando, era algo ligado a uma decepção amorosa.
O bruxo não fez diferente do que das outras vezes, bateu a porta antes mesmo de terminar de ouvir a história do senhor. O caldeirão começou a derramar lágrimas, soluçando, ao mesmo tempo em que relinchava e gemia.
No mesmo dia ainda recebeu outra visita. Uma mulher que aparentava uns quarenta anos, ela queria algo que curasse uma ferida nas patas de seu cachorro que ficava noites choramingando, e até então não havia encontrado nenhuma ajuda. Bateu novamente a porta, e desta vez teve que agüentar o caldeirão choramingando a noite inteira.
E recebeu mais visitas desde então, sendo que seu caldeirão adquiriu um fedor terrível vindo de um líquido esverdeado dentro dele e, entre suas verrugas em sua perna, apareceram furúnculos.
Estava a dias sem dormir por causa do caldeirão que o perseguia diariamente quando uma jovem que pedia por socorro, pois sua irmã havia contraído terrível doença e até o momento vomitava sem parar, estava ficando desidratada e poderia morrer a qualquer momento.
Uma lágrima escorreu pelo seu rosto, e ele encarou a moça, respondendo:
“Deixem-me dormir!”
Agora, o caldeirão passou a vomitar também...
Estava realmente abatido depois da terrível insônia. Estava debilitado, e tudo por causa de seu terrível egoísmo. Ele não queria fazer o certo, mas teve de fazê-lo. Renunciou o seu modo egoísta e egocêntrico de ser e chamou todos que haviam pedido ajuda até o momento, ajudando cada um com seus problemas.
Quando enfim esvaziou seu caldeirão de tantos fardos, o misterioso chinelo retornou a aparecer em seu fundo. Ele cabia perfeitamente no pé do caldeirão. Calcou aquele pé, agora sem furúnculos ou verrugas, e ambos saíram saltitando iluminados pelo por do sol.
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Há tempo havíamos escrito este capítulo, só que achamos um tanto alegre o final. Infelizmente (ou felizmente) é assim que termina o conto original, sendo que foi a partir da idéia que contruímos o conteúdo destes contos.
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