Sensações
Rose seguia pelos corredores cheios da escola, mexendo em um dos poucos cachos que haviam em seu cabelo, enrolando-o na ponta do dedo indicador enquanto desviava dos outros alunos que pareciam mais perambular do que fazer qualquer outra coisa. De relance, notou os conhecidos cabelos negros em um grupinho de umas seis pessoas e se dirigiu até lá, os olhos fixos na nuca do garoto.
- Mark.
Ele virou para si, os olhos dos que o acompanhavam a observando curiosamente. Mark Amiles, um garoto do seu ano e de sua Casa, bonito, alto e de porte atlético. De fato, assim que entrou em Hogwarts era um menino gordinho conhecido por ser gago e pelos óculos que sempre caíam do nariz para a boca. No entanto, a partir do Segundo Ano, foi reconhecido por sua habilidade em Quadribol e se tornou o goleiro do time com certa facilidade. Nos anos seguintes, sua aparência foi gradativamente melhorando e hoje era um dos rapazes mais bonitos de toda escola.
- Ah. Oi, Rose. - Ele engoliu seco, rindo levemente. - Tudo bom?
Rose arqueou a sobrancelha direita, mal acreditando no que via. Afinal, Mark era um de seus melhores amigos - desde quando todo esse nervosismo estava ali? Resolveu não se importar, não era problema seu mesmo.
- Hã... Sim, estou bem, sim. - Eu acho, completou em pensamento. Atrás de Mark, algumas meninas cochichavam e apontavam levemente com a cabeça na direção dela. Lembrou-se do estado em que estava. - Mark... Será que você se importaria de conversar... Em um lugar mais, como posso dizer?, vazio?
Mark piscou por alguns segundos e se virou para o grupo atrás de si, dando de ombros. Os adolescentes sorriram e deram de ombros, reiniciando a conversa que tinham antes de Rose interrompê-la. Ao afastarem-se, porém, ela pôde definitivamente ouvir as palavras 'vocês viram o cabelo dela?' saírem da boca de alguma das meninas e suspirou fundo, sentindo Mark ficar tenso ao seu lado. Aparentemente, ele tinha ouvido também.
- Desculpe-me por aquilo... - Mark pronunciou, assim que atingiram o jardim. Rose negou com a cabeça, pouco se importando. -Então... O que você queria conversar, Rose?
Rose parou, olhando para seus pés e para a grama verdinha em volta deles. De alguma forma, ela esperava que eles acabassem murmurando uma resposta para a pergunta que Mark acabara de lhe fazer... Porque, de verdade, ela foi até ele instintivamente naquela hora. Só precisava de alguém para conversar e Mark fora a primeira pessoa que passara à sua frente no momento. E era exatamente o tópico conversar que a desagradava - sobre o quê conversaria com Mark Amiles, céus?!
- Bom, na verdade... Eu tenho que te pedir desculpas. Eu realmente não sei sobre o que conversar, Mark. Desculpe-me.
- Não compreendo, Rose. - O garoto aproximou-se, tomando-a pela mão e puxando-a levemente ao se sentar na grama. Rose sentou-se ao seu lado, abraçando seus joelhos e apoiando o queixo neles. - Sabe que pode confiar em mim. Não tem porque esconder de mim....
- Não é isso. - Ela abanou a cabeça, começando a se sentir realmente desamparada. Se nem mesmo Mark a entendia, quem entenderia? - Você não entendeu mesmo.
- Então, o que houve, Rose? Porque você realmente me assustou quando foi me chamar, antes. Você não estava nada boa... Seu rosto, sabe, parecia... Aflito.
Rose permaneceu muda, tentando assimilar o que Mark acabara de dizer. Por mais que voltasse ao momento em que o chamara, não conseguia se lembrar de estar com uma sensação a mais a não ser de que precisava urgentemente arrumar seu cabelo decentemente. Por um momento, porém, recordou-se da aflição que sentia - da vontade inesperada que teve de puxar o amigo da rodinha em que estava e desabafar... o quê?
Sentiu um aperto no peito, irritada por não saber o que realmente queria. Aliás, ela sabia o que queria... Conversar. Desabafar. Mas não sabia o por que. E isso era o que a perturbava mais que tudo - não queria ser exibida, mas sempre sabia o que queria.
E, finalmente não saber pela primeira vez, a deixava totalmente angustiada.
- Eu... Não entendo. - Abaixou o rosto, sentindo as lágrimas começarem a cair. O rosto de Albus veio à sua mente e o choro aumentou, um aperto no peito apossando-se dela. - De repente, essa vontade doida de chorar...
Mark não sabia o que fazer. Desamparado, vendo a garota que por mais de três anos amava, chorar tão abertamente e facilmente como estava o deixou confuso. Rose Weasley, a garota nunca demonstrou fraqueza para ninguém, estava chorando por algo que nem sequer fazia ideia bem à sua frente. Não teve muita escolha a não ser se aproximar e abraçá-la, afagando seus cabelos sedosos e sentindo sua fragância de grama fresca.
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Scorpius viu Albus se aproximando com um sorriso maroto nos lábios e as mãos nos bolsos da calça negra do uniforme. Cumprimentou-o com um tapinha no ombro e, sem dizerem nada, andaram um ao lado do outro, como sempre faziam. O jardim estava cheio de alunos sem nada de interessante para fazer ou copiando tarefas sentados nos bancos de mármore espalhados. Ao seu lado, Albus deu uma risadinha somente por dar e começou a assobiar uma canção qualquer da extinta banda As Esquisitonas.
O louro bufou e revirou os olhos.
- Não há pessoa mais brega que você em toda Hogwarts, Potter.
Albus riu e levou a mão até o pescoço, coçando-o com as unhas curtas.
- Não minta, Malfoy. Só fala isso para me embaraçar, sabe melhor do que eu disto.
- Também sei que deu certo. - Acrescentou, ironicamente, sinalizando com a cabeça o braço levantado de Albus. Rapidamente, o moreno o abaixou, corando.
- Você me conhece demais, cara.
- Gostaria de não conhecer tanto...
Albus arqueou as sobrancelhas, cético. Era mais uma das manias que havia adquirido com os anos de convivência com Scorpius Malfoy, o louro mais conhecido da escola. Embora soubesse o porque da revelação do melhor amigo, era impossível evitar fingir inocência. E embora Scorpius já estivesse cansado de repetir sempre a mesma história, sentia-se aliviado por poder saber que, mesmo do jeito dele, Albus continuava se importando com Scorpius como Scorpius de importava com Albus.
Era o segredinho deles.
Mergulhado em seus pensamentos, Scorpius somente retornou à realidade quando Albus soltou um sonoro assobio ao seu lado. Um som só e prolongado... Um conhecido 'fiu', personalizado por Albus.
- Parece que alguém está se dando bem, Corpie. - Justificou, sinalizando com a cabeça a direção em que Rose Weasley era consolada por Mark Amiles. - E, pela primeira vez em todos nossos anos de Hogwarts, esse alguém não é você.
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Rose dirigia-se ao Salão Principal com três grandes e pesados livros nos braços, um sorriso no rosto e a sensação estranha da manhã praticamente nula em seu peito. Sentia-se revigorada após a sessão de choro e estava realmente agradecida por Mark tê-la apoiado, mesmo que não soubesse do quê - apesar de a própria Rose também não fazer a mínima ideia.
Seu estômago roncou - estava faminta. Não comera nada durante a tarde e estava cerca de quinze minutos atrasada para o jantar... Para muitas pessoas, quinze minutos não era muita coisa - mas, céus!, Rose era neta de Molly Weasley e filha de Ronald Weasley - era de se esperar algo do gênero, não?
Distraída em seu caminho, seu grito foi abafado por uma mão pesada e um corpo atlético que a prensou entre a parede de um armário de vassouras. A porta fechou com um pequeno baque e Rose encarou os orbes verdes do primo pela segunda vez naquele dia. Demorara mais que meia hora para se recompor durante a manhã... E menos de dez segundos para perder a compostura novamente.
Continua....
Meninas! Muito obrigada pelos comentário, novamente! Espero que gostem desse capítulo! E fiquem atentas porque em breve farei algumas alterações nos outros!
Beijos!
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