O Fim das Férias



Lily entrou em casa naquele fim de tarde e jogou a mochila que levara para o clube no sofá da sala de estar.
Exausta, entrou na cozinha para pegar algo para comer e deu de cara com Gina sentada na mesa segurando um papel nas mãos.
- Oi, mãe – Cumprimentou, abrindo a porta do armário e pegando um pacote de bolachas.
- Oi – Respondeu Gina, em um tom frio.
Lily se virou para a mãe.
- Mãe, qualé? Que cara emburrada é essa?
Gina mostrou a filha o papel que estava em suas mãos:
- Sabe o que é isso?
- Um papel – Respondeu Lily com pouco caso, mas logo acrescentou – Só falta falar que o James bagunçou toda a lista da feira de novo e você quer saber se eu ajudei, que nem da outra vez.
Gina deu uma risada sarcástica.
- Você é engraçadinha, não, senhora Potter?
Lily revirou os olhos.
- Ih, quando você vem com isso de senhora pro meu lado é porque vem bronca. O que foi dessa vez?
- Lily, como você arruma um namorado e não diz nada nem pra mim nem pro seu pai?
Lily largou o pacote de bolachas na mesa e arrancou o papel das mãos da mãe.
- Mãe, você não tem o direito de mexer nas minhas coisas! – Bufou.
- E você não tem o direito de esconder algo tão importante de seus pais, Lily! Ainda mais que você mentiu o verão todo dizendo que ia passear com os colegas quando na verdade saia para namorar! Com um garoto que não vale nada, ainda por cima! Filho do McLaggen!
Lily, enfurecida, retrucou:
- Só porque ele é filho do McLaggen não significa que ele seja igual ao pai! E além do mais, a gente não tá namorando.
Gina olhou estupefata para a filha.
- Como assim não ta namorando? Ele escreveu aí que está apaixonado por você, Lily!
- Mãe, a gente tá só ficando, tá legal? Eu nunca tive namorado!
- Mas, Lily...
- Mãe, me deixa em paz! – Retrucou Lily dando as costas para a mãe e subindo as escadas batendo os pés.
- Lily, volta aqui, a conversa não acabou! – Berrou Gina.
Uma porta bateu com força.
- Essa menina ta ficando impossível! – Suspirou Gina.

* * *

- Mione, você não podia ter feito isso! - Comentou Ron, irritado.
- Ron, a chefe do Departamento de Execução das Leias da Magia sou eu e eu vou fazer o que é justo!
- Se você chama isso de justo, faça como achar melhor. Depois quando der errado não diga que não avisei.
O ruivo subiu as escadas e Hermione se largou na poltrona, o rosto enterrado nas mãos.
- Mamãe? – Chamou Rose, entrando na sala.
- Oi, Rose – Cumprimentou Hermione levantando o rosto.
- O que estava acontecendo?
- Nada, filha. Só um desentendimento entre profissionais. Mas já acabou. Amanhã eu resolvo isso no escritório.
Rose fez silêncio.
- Rose? Aconteceu alguma coisa? – Quis saber Hermione.
- Nada, não. Hum... O tio Harry já foi pra casa?
- Já.
- Hum...
- Rose, me conta o que está acontecendo.
- Eu já disse que não ta acontecendo nada, mãe – Falou Rose encarando o tapete da sala.
- Rose. Você nunca soube mentir.
Ela ergueu os seus olhos azuis para a mãe, mas antes que tivesse tempo para inventar qualquer coisa, Bob, o elfo doméstico, adentrou a sala.
- Senhora Hermione? Chegou uma coruja com uma mensagem urgente para o senhor Ronald.
- De quem, Bob?
- Do senhor Harry Potter.
- Ih, sujou – Disse Rose para si mesmo, baixinho.
Mas Hermione escutou e disse a Bob:
- Obrigada pelo aviso, Bob. Pode deixar a mensagem na mesa do quarto que ele foi tomar um banho. É provável que já esteja acabando. E por favor, me deixe aqui com a Rose.
Bob saiu da sala e imediatamente Hermione perguntou à filha:
- Que história é essa de “sujou”?
- Ah... Eu só... – Gaguejou.
Hermione cruzou os braços:
- Muito bem. É bom ir explicando essa história direitinho, mocinha.
Mas para complicar ainda mais a situação de Rose, Ron entrou na sala naquele instante:
- Hermione. Rose. O Harry está convocando nós três para uma reunião de família na casa dele agora.
Rose fez cara de quem acaba de ser condenado à forca.

* * *

Ninguém dizia nada. Gina, Harry e Lily pareciam estar aguardando alguém, sentados na sala.
Da porta, James, Alvo e Teddy se entreolhavam sem saber o que estava acontecendo, mas sem se atrever a falar nada.
A campainha tocos. James fez menção de atender a porta, mas Harry disse:
- Deixa que eu atendo.
E se levantou. Ao abrir a porta, Ron, Hermione e Rose entraram; Hugo logo atrás.
- Quem bom que vieram. Temos muito a esclarecer.
Rose engoliu em seco. Ron e Mione se entreolharam sem entender nada. Os três entraram na sala e Harry fechou a porta.
Hugo encarou os primos e Teddy e questionou:
- Pelas barbas de Merlin, o que está acontecendo?
Teddy deu de ombros:
- Sei tanto quanto você, Hugo. Acabei de chegar do trabalho.
- Também não faço a menor idéia – Disse Alvo.
James, porém, sabia um pouco mais que eles:
- Acho que tem alguma coisa a ver com Lily. Ela discutiu feio com a mamãe hoje.
Alvo fez cara de desentendido. Teddy, porém, perguntou:
- Se a Lily ta no meio, o que Rose, Ron e Hermione tem a ver com isso?
Ninguém disse nada. Hugo comentou após alguns instantes de silêncio:
- Talvez seja por causa dos segredos.
- Que segredos? – quis saber James.
- Sei lá. Talvez os segredos que Rose e Lily ficavam trocando todas as férias.
- Para mim, chega de suposições – resmungou James tirando do bolso quatro Orelhas Extensíveis e distribuindo entre os amigos e o irmão.
Teddy hesitou em pegar a sua.
- Qual é, Teddy? – Perguntou James, impaciente – Não é porquê você adora a Lily que você não pode se meter na vida dela.
- James, é melhor desistir de tentar escutar o que estão dizendo – alertou Hugo.
- Até você vai encarnar o careta, Hugo?
- Não. Mas puseram um feitiço da Impertubabilidade na porta.
James respirou, resignado. Teddy sugeriu:
- Por que não vamos para a cozinha fazer um lanche? É melhor do que ficarmos parados na porta.
Eles foram.

* * *

- Como é que é? – perguntou Ron, escandalizado – Rose, você AJUDOU a Lily a ficar com o FILHO do MCLAGGEN?
- Finalmente alguém caiu na real! Aleluia, Senhor! – Disse Lily, aliviada.
- Lily, não é momento para gracinhas – Reprimiu Harry.
- Pai, acorda. Eu não tô fazendo gracinha nenhuma. Eu só FIQUEI com o menino e você e a mamãe ficavam falando que eu estou namorando ele. Só disse ‘aleluia’ por que o tio Ron falou que eu fiquei com ele.
- Lily, fica quieta – Mandou Gina.
- O que mais que impressiona é a Rose ter sido cúmplice de um disparate desses – Falou Hermione.
- Tia, não encarna – pediu Lily – Você já ficou com o pai dele. E ao contrário de mim, numa festa cheia de gente.
- Lily, eu mandei você ficar quieta – repetiu Gina, em tom ameaçador.
- Qual é? Não posso mais falar umas verdades para a minha tia?
- Isso não interessa agora – Falou Ron quando Gina abriu a boca para reprimir a filha – Rose, você é mais velha que a Lily dois anos. Devia ter mais juízo.
- É isso aí. Onde já se viu uma menina de treze anos aos beijos com um menino. – apoiou Gina fervorosamente.
- Mãe, você não pode falar nada. Você também tinha treze anos quando saiu com um garoto pela primeira vez.
- Lily, chega! – Ralhou Harry.
- Chega digo eu! – Berrou ela, se levantando do sofá, farta daquilo – Eu fico com um garoto e vocês fazem esse escarcéu sem necessidade! “Reunião de Família” – Zombou – Pra quê? Pra ficar me dando lição de moral? Principalmente você e o tio Ron, mamãe, depois de terem ficado se enroscando com pessoas do sexo oposto na frente de todo mundo! Vocês não têm moral pra ficar me condenando por ter ficado com um garoto!
- Tá, mas você não contou pra gente! – Argumentou Harry.
- Eu ia contar! Mas daí apareceu a mamãe mexendo nas minhas coisas e tirando conclusões precipitadas e fazendo um escarcéu sem necessidade! Qual é o problema de beijar um menino? É crime? É o pecado da luxúria?
Silêncio na sala.
Lily virou as costas e subiu as escadas.
- Lily, volta aqui! – chamou seu pai.
Com muito ódio, ela voltou.
- Qual é agora?
- Só prometa que não vai mais ficar com um garoto sem avisar. E nada de ficar com garotos mais velhos. E muito menos se o garoto for filho de alguém que sua mãe e eu não gostamos.
- Mais alguma coisa?
- Não.
- Ótimo – Falou Lily com sarcasmo, virando as costas.
- Lily, prometa. – pediu Harry.
Lily se virou.
- Engraçado... Você não deu o nome “Severo” pro Alvo porque o seu professor de Poções se tornou uma pessoa melhor quando começou a amar a vovó?
Harry assentiu.
- Então – Prosseguiu Lily – Vai que o filho do Goyle se apaixone por mim e se torne uma pessoa melhor. Por isso eu não posso prometer.
- Lily – Falou Gina, se levantando do sofá – Você não está pensando em ficar com o Goyle, está?
- Mamãe. Acorda. Eu detesto ele. Só acho que você e o papai estão querendo muito. “Não fique com um garoto sem avisar” – Disse ela, imitando a voz do pai – Daqui a pouco, se eu contar isso, vocês vão exigir até que eu conte se o garoto beija bem ou mal.
- Lily, não exagera – Falou Harry, irritado.
- Pai, chega. Cansei desse papo. Se eu arrumar um namorado firme eu te falo, tá? Mas eu não vou ficar dando relatório de cada ficada que eu tiver.
Lily virou as costas e saiu correndo da sala. Rose se levantou, e ao ver que ninguém dizia nada, correu atrás da prima.
Hermione ergueu os olhos para Harry e Gina.
- Acho que Lily tem razão, sabem – Comentou.
Gina suspirou.
- É, se a gente for parar pra pensar bem no que ela disse... Acho que tudo isso foi só o susto de saber que ela já tá ficando com garotos.
- Ou como a gente dizia – Falou Ron, com um brilho de saudade nos olhos – “Dando uns amassos”.
Gargalhada geral.
- Parece que quando a gente envelhece, esquece o que é ser jovem – Comentou Harry.

* * *

Lily se largou em cima de sua cama.
Rose entrou no quarto e encostou a porta.
- Caramba, Lily. Você foi ótima.
A ruiva abriu os olhos e contemplou a prima.
- Acho que assim foi melhor, Rose. Eles têm que aceitar que a gente creceu. Acredite, a partir de agora, as coisas vão ser melhores pra gente.
Rose encaminhou lentamente para a janela e observou a rua, calma.
Olhou as estrelas, a lua cheia.
- Sabe, Lily – Começou, ainda olhando para o céu – Agora eu tenho a impressão que tudo vai mudar pra gente.
- Claro que sim! – Apoiou ela, fervorosamente.
Os olhos de Rose se viraram para a rua.
- Mas eu acho – continuou Rose – que esse ano, tudo vai mudar nas nossas vidas. Tudo mesmo.
Lily se sentou na cama abruptamente, alarmada.
- Rose, do que você está falando?
Rose se virou para a prima, encolhendo os ombros.
- Não sei. Mas acho que a partir de amanhã, quando voltarmos pra Hogwarts, nossa vida não será mais como é.
Lily gargalhou.
- Pelo amor de Merlin, chega de besteira!
Rose caminhou para a porta do quarto.
- Então até amanhã, Lily.

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