Prólogo
Prólogo
Hard to Live in the City - Albert Hammond Jr.
Acordei sentindo um peso extra sobre meu corpo. De repente, o “peso” começou a se mexer. No início foi levemente, como se estivesse acabado de acordar também e então passou a se movimentar mais, fazendo mais barulho. Eu sabia que ela estava tentando me acordar, mas eu também era muito bom em fingir que estava dormindo. Talvez ela fosse embora e eu não precisasse falar nada. Foi então que um flash me ocorreu. Meus pais conheciam os pais dela. Merda.
Abri os olhos, fingindo estar incomodado com a luminosidade – já disse que sou um ótimo ator? Se a minha carreira não der certo como apanhador, eu posso me tornar ator...
Qual era o nome dela mesmo? Anne, Annabella ou Andie? Eu não me lembrava, para variar. Que seja, eu sempre podia usar os apelido clássicos.
- Bom dia!- Anne-Annabella-Andie-ou-algo-com-A exclamou, me enchendo de beijos no rosto, ou me babando, como você preferir.
- Bom dia.- eu respondi sorrindo. É por isso que eu não gosto desse tipo de mulher, entende? Depois de uma noite, elas começam a achar que temos algum tipo de relacionamento, que vamos começar a andar de mãos dadas, planejar nossa vida, olhar casas e buscar nomes para nossos filhos. Eca.
- Então, o que a gente vai fazer hoje?- ‘tá vendo só? Eu disse. Pelo menos dessa vez, eu já tinha uma desculpa.
- Poxa, gata, não vai dar pra sair com você. Sabe como é, com essa coisa de Copa Mundial, o treinador ta pegando pesado com a gente.- era verdade. Aumentada e exagerada, mas ainda assim era verdade.
A loira ficou me olhando com carinha de cão abandonado na rua no meio da chuva. Aquilo não colava comigo, sabe? Então tudo que eu fiz foi olhá-la também. Quero dizer, daqui alguns minutos ela provavelmente me odiaria, e eu estava tão bêbado na noite passada que mal me lembrava direito dela. Então era legal olhar para ela, sabendo que poderia ser a última vez. E ela era mesmo bonitinha.
- Você está me dispensando, Potter?- ela me perguntou com a voz fraquinha.
Puxa, para uma loira, até que ela é espertinha. É mesmo uma pena que eu não goste de relacionamentos...
- Claro que não! É que eu realmente vou estar ocupado hoje. Mas hey, quem sabe outro dia?- quem sou eu para quebrar o coração de uma garota? Não ia fazer isso, pelo menos, não tão descaradamente.
Ela sorriu, sabendo que talvez nunca mais fosse me ver. Rapidamente a loira reuniu suas roupas e as vestiu o mais rapidamente. Com um breve beijou se despediu de mim e saiu se olhar para trás. Mais uma mulher que ia embora sem que eu soubesse seu nome. Mais um coração partido que eu parti sem a intenção.
Mais um dia na vida de Harry James Potter.
É isso ai, meus dias – ou minhas manhãs – são basicamente assim. Mulheres cujas identidades eu desconheço entram e saem do meu apartamento. E eu gosto das coisas desse jeito. Quero dizer, eu realmente acho que para um homem de 22 anos, essa seja uma vida bastante saudável, além de adorável. Porque é isso que eu sou: um homem de 22 anos, com dinheiro para dar e vender, popularidade, beleza... resumindo, eu faço parte daquele grupo de homens que toda mulher quer ter no seu “histórico”. E então, por que não me aproveitar disso? Se eu posso, por que não devo? Minha mãe detesta isso. Mas meu pai era igualzinho a mim, então eu não me importo muito. A propósito, meus pais são James e Lílian Potter, que me fizeram o favor de me dar mais dois irmãos: Melissa, de 20 anos, e Brian de 17. Beleza né?
Mas voltando aos relacionamentos, eu estou fazendo um favor não só a todas essas mulheres, como aos jornalistas também. Porque a minha vida sempre sai nos jornais. Então, o que seria dessas pessoas sem os meus relacionamentos escandalosos? Nada. No fundo eu não sou um monstro. Sou mais um... Hobin Wood.
Não é que eu tenha medo de me relacionar, como muitas mulheres já gritaram para mim, é só que eu não vejo necessidade de me amarrar.
Simples assim.
Meu BlackBerry estava tocando insanamente em algum lugar debaixo da pilha de roupa, e eu sabia o porque. Pra variar, eu já estava atrasada, mas não havia nada que eu pudesse fazer para evitar. Quero dizer, a culpa não é minha se os idiotas sempre marcam os eventos tão cedo. Nove e meia da manhã de um domingo? Ah ta, já estou até lá. E pra ajudar, meu cabelo não estava em um bom dia. Merda. Cadê o meu cordão?! Merda, merda e merda.
- Dorota, meu amor, você viu meu cordão?!- eu gritei pela minha empregada.
- Qual deles?- ela apareceu na porta ainda de camisola. Queria eu. Hey, talvez eu deva virar empregada!
- O de diamante.
- Você tem cinco de diamantes, Gina.- ela me lembrou, e não de uma forma legal. Sabe, se eu não a conhecesse desde meus 10 anos, ela com certeza seria demitida com menos de um mês. Sorte dela que eu a considero como uma mãe.
- Argh! Você sabia exatamente qual eu quero!- eu exclamei irritada, exatamente como uma adolescente fala com a mãe. Só que eu tenho, sabe, 21 anos. Mas eu estava realmente irritada. Se não achasse aquele cordão, eu teria que mudar toda a minha roupa. E ai, iria perder mais uma hora só para achar os sapatos e a bolsa perfeita. Ai sim, o meu BlackBerry – que ainda estava desaparecido e tocando – não teria descanso. Mas felizmente, Dorota achou ambos, o colar em uma bolsa e o celular embaixo do travesseiro. O que ele estava fazendo lá?
- Se você arrumasse seu quarto, isso não aconteceria.- já disse como ela tem sorte de não ser demitida?
- Tudo bem, tudo bem! Eu sei que a culpa é minha ta?- eu disse, beijando-a no rosto, tacando meu celular dentro da bolsa e correndo para o hotel.
Quando cheguei na rua, sorri para mim mesma. O céu estava azul e a Quinta Avenida já estava movimentada como sempre. Ah, Nova Iorque... minha querida Nova Iorque. Ainda sorrindo eu segui para a ponta da calça e levantei uma mão. Quase que instantaneamente, quatro táxis pararam. Era sempre assim, homens e seus carros sempre paravam para lhe dar atenção, mesmo – e principalmente – quando eu não pedia, não que eu esteja reclamando, é só que... deixa pra lá. De qualquer forma, enquanto eu esperava o primeiro taxi se aproximar deu mim, eu discava apressadamente o número do meu agente. Saltei para dentro do taxi quando ele finalmente conseguiu estacionar perto de mim. Meu agente não respondia, eu estava 30 minutos atrasada e o transito estava horrível. Perfeito.
- Hotel Waldorf-Astoria, por favor.
Eu sabia que a corrida não ia dar mais de 15 dólares, pois já tinha feito aquilo outras vezes, então resolvi apelar.
- Vai demorar muito?
- Sim, senhora. Está tudo engarrafado.
- E se eu te der 100 dólares, você acha que consegue chegar lá mais rápido?- eu sei jogar sujo. Afinal, eu moro aqui há 11 anos ou não?
Eu cheguei ao hotel em exatos 13 minutos. E acabei dando 150 pro taxista. Mas acho que valeu à pena, de qualquer forma. Segui apressada para o salão do imponente hotel. O brunch anual de Charles e Sophia Watson estava sendo oferecido naquele exato momento para 150 convidados. Se você era da alta sociedade, você tinha de estar lá. E eu, como a menina dos olhos da América desde os 17 anos não poderia faltar, obviamente. De modo que eu posso afirmar que o brunch só começou realmente depois que eu cheguei. Vejam bem, não é egocentrismo. É mais pra realismo. Esse é um dos preços da popularidade. Todos querem estar perto de você, mesmo que seja só para ficar te olhando. E dependendo de quem você for, você tem que sorrir. E eu sou a estrela. Eu tenho que sorrir o tempo todo, já está virando mecânico, sem brincadeira.
De qualquer forma, assim que eu entrei no salão, me dirigi para os anfitriões e para meus amigos, logo depois. O zumbido das fofocas me seguia, e não há nada que eu possa fazer para evitar. Não que eu queira evitar, de certa forma, eu já me acostumei.
Me afastando dos meus amigos eu segui para a mesa de bebidas. Eu estava morta de fome e como sempre, o café-da-manhã mesmo iria demorar a sair. Beleza, né? Mas tudo bem, porque eu tenho mesmo que continuar magra para a festa de sexta que vem.
Então essa ai sou eu e minha rotina. Gina Weasley, 21 anos, modelo mundialmente conhecida, queridinha da América, distraída, meio estabanada e super enrolada. No momento estou sem namorado, mas como todos sabem, isso é temporário. Provavelmente na quinta eu já vou ter um novo... não que eu realmente goste de ficar mudando de namorado como eu troco de roupa, mas a vida é curta, certo? Então eu acho que devo aproveitar enquanto posso.
- Gina, vem cá, tenho que te apresentar a algumas pessoas.- meu agente finalmente apareceu. Eu queria me divertir, mas aparentemente, ele não sabia que os domingos eram sagrados. Mas ta tudo bem, Gina. Sabe por quê? Porque a vida é bela, o céu é azul, o sol é divertido e o meu par de sandálias Jimmy Choo é maravilhoso.
Ah é, eu sou positiva também.
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