NORBERTO
– Norberto –
– Então, seis anos depois, em 654, a primeira revolução mágica dos Duendes terminou, com a derrota deles. No ano seguinte, 655, o primeiro edifício de Gringotes fora do Beco Diagonal foi construído, e mil e duzentos Duendes foram empregados... As escavações dos cofres, todavia, acabaram em uma mina de ouro, o quê gerou uma disputa entre os Duendes, que o escavaram, e os Bruxos, que requisitavam o ouro para forjar galeões...
O tom monótono do professor Binns, que dava a chatíssima aula de história da magia, passava pela classe cheia num tom entediante. O professor era um fantasma, aparentemente ele morrera e decidira que queria continuar com suas aulas. Seu tom parecia um aspirador de pó velho, e conseguia transformar as mais sangrentas batalhas em algo tão tedioso como uma corrida de lesmas. A classe toda, praticamente, dormia, sendo que o velho professor não se importava. Continuava a ler suas anotações, os olhos voltados para o papel, e faria assim até o fim dos tempos. Infelizmente.
Harry e Rony matavam o tempo jogando forca num pergaminho. Hermione era a única na classe que parecia resistir ao poder sonífero de Binns, e anotava furiosamente cada palavra do velhote morto.
A garota parou um segundo e espiou suas anotações. Voltou a escrever imaginando como Harry podia ser tão irresponsável, pois já perdera as esperanças com Rony. Já o moreno estava ocupado pensando numa palavra de seis letras com apenas duas vogais, e quê não tinha R.
O sinal bateu, então, tão repentino e alto que Simas, que babava na carteira, deu um tranco para frente e quebrou um tinteiro. O professor recolheu os papéis e sumiu atravessando o quadro-negro, enquanto os alunos levantavam, recolhiam seus materiais e iam embora.
– Rony, feche a boca! – Ralhou Hermione, quando viu que o bocejo do ruivo estava cada vez mais escandaloso.
– História da Magia é uma chatice! – Resmungou o garoto. – Pra quê diabos eu preciso saber algo desta matéria?
Hermione ia dizer alguma coisa particularmente ruim, quando Edwiges entrou no pátio, voando por cima dos telhados da escola, e estendeu a pata para Harry. O garoto apanhou o pergaminho preso na pata da coruja branca, e lhe acariciou a cabeça. A coruja lhe deu umas bicadinhas carinhosas e voou novamente, sumindo no céu azul.
Harry, Rony e Hermione,
Preciso de ajuda, rápido! Venham até minha cabana depois das aulas.
Hagrid.
Harry passou o bilhete para Hermione, que leu junto de Rony o recado. Juntos, decidiram que assim que o sinal estridente da aula de Poções tocasse, correriam para a cabana do amigo. Depois de uma longa hora de aula, quase derrubaram um caldeirão, tal a pressa com quê saíram da classe, e correram pelo castelo.
Escadas e mais escadas, portas e mais portas, e finalmente o Grande Portão, no Saguão de Entrada. Os jardins da escola estavam se recuperando do inverno. Harry avançava rápido, com diversos pensamentos na cabeça.
Ele contara aos amigos sobre a Pedra Filosofal. Hermione quase se esmurrara por não ter pensado nisso antes, e Rony o olhara com orgulho, ao ver o quão esperto o amigo fora. Outro pensamento de Harry é que Hagrid poderia ter algo relacionado ao cão de três cabeças, e ele contara, por fim, suas suspeitas sobre Snape.
Rony e Hermione, visto que o homem tentara matar Harry no jogo de Quadribol, apoiaram a teoria.
Hermione bateu duas vezes na porta da cabana. O lugar estava inteiramente fechado, com as cortinas corridas e a chaminé despejando fumaça. Hagrid então apareceu, num rompante, olhando assustado para todos os lados. Com um gesto, os fez entrarem.
A cabana tosca de madeira e pedra estava dezenas de vezes mais quente que o normal. Hagrid se agitava, preocupado, enquanto servia um chá que estivera fazendo. Ele bateu três canecas que tinham o tamanho de um balde cada uma, e despejou chá fervente nelas.
Hermione e Rony sentaram-se a mesa, no único cômodo que formava toda a casa, mas Harry ficou perto da porta fechada, um costume que com o passar dos anos se tornaria ainda mais forte, para se livrar da luz do fogo que crepitava na lareira.
– Então, hã... – Pigarreou Hagrid, que ainda não dissera uma única palavra. – Obrigado por terem vindo... é...
– Hagrid? Você está bem? – Perguntou Hermione, colocando uma mão num braço do gigante. O movimento fez praticamente pular para trás, e olhou assustado para a lareira.
Os três seguiram o olha do gigante e Hermione e Rony quase se engasgaram.
Entre as chamas azuis de tão quentes, repousava um ovo do tamanho de um ovo de avestruz, inteiramente negro e coberto de rachaduras.
– H-hagrid... – Arfou Mione. – Isso é um ovo de...
– Dragão?
O sorriso lento de Hagrid cresceu com a palavra dita por Rony. O gigante perdeu um pouco de seu nervosismo e sentou-se, servindo-se do chá.
– Sim, é. – Confirmou depois de um gole. – Ganhei no jogo. Você encontra muita gente estranha n’O Cabeça de Javali. Mas enfim, ele logo nascerá, e eu achei que vocês gostariam.
– Isso é proibido, Hagrid! – Hermione apenas não gritou pois tinha medo que alguém ouvisse. – E como assim ganhou no jogo?
– O bar está sempre cheio de gente estranha, e alguns gostam de se livrarem de certas coisas. Um encapuzado qualquer me pagou algumas bebidas, e então ganhei o ovo.
– Assim como ganhou o Cão de Três Cabeças?
A voz de Harry, escondida na área de sombras que ele fizera questão de adensar, fez Hagrid derrubar sua caneca. A louça se partiu no chão, e os olhos doces do gigantesco vampiro tentaram localizar Harry na obscuridade onde ele se escondia.
– Como sabe do Fofo?
– Fofo? – Espantou-se Rony. Hermione deixou o queixo cair. Harry não respondeu. Então é do Hagrid mesmo... E Snape quer a Pedra... Pensou Harry.
– Ele é meu sim. – Suspirou Hagrid. – E se você sabe dele, Hagrid, é sinal que já o visitou. Mas não vou contar o quê ele está fazendo naquele Corredor Proibido
– Ele guarda a Pedra Filosofal. – Harry decididamente ignorara o “Proibido” que Hagrid frisara.
– QUEM TE CONTOU ISSO??? – O berro fez Hermione pular da cadeira. Harry, no entanto, continuou impassível.
– Eu deduzi. E pela sua reação, acertei, grande amigo.
Hagrid passou um longo momento amaldiçoando toda a geração dos Potter. E então começou a apanhar os cacos da caneca.
– Vocês são um bando de abelhudos. E isso não é bom. Metendo os narizes onde não são chamados... Sim, é a Pedra Filosofal que está lá. E Fofo não é a única proteção, então nem tentem pegá-la. Ela é apenas do Nicolau Flamel e do Prof. Dumbledore.
Hermione viu Harry ficar completamente rígido. Sentiu, com o poder de seu elemento, que ele começou a suar em bicas. Com a testa franzida, ela decidiu desviar a conversa, para que o amigo pudesse se recuperar.
– Então, Hagrid, você tem idéia dos perigos de manter este ovo?
Hagrid sorriu, e iniciou uma grande história sobre suas pesquisas sobre Dragões na biblioteca, e como identificara a raça do animal.
– É um Dorso-Cristado Norueguês. Um dos maiores Dragões que existem, ou será, quando o bebezinho crescer.
Repentinamente um estalo forte foi ouvido. Hagrid correu até a lareira e trouxe o ovo usando um par de luvas resistente a calor. Com um cuidado exagerado, colocou o ovo na mesa e os quatro esperaram.
Longos estalos seguiram, e o ovo girou sobre a mesa, balançando de um lado para o outro. Algum tempo depois, finalmente, a casca quebrou, o filhote de Dragão surgiu.
Parecia um guarda-chuva amassado. O corpo era quase todo tomado por um par de asas escamosas, parecidas com as asas de Draco Malfoy. Hermione deu alguns passos para trás quando a cabeça pontuda do animal virou-se para ela, e o pequeno soltou uma baforada de fumaça.
Um longo segundo se passou, e então Hagrid afagou o Dragão, parecendo uma grande mãe orgulhosa.
– Oh, meu pequeno Norberto...
– Norberto?! – Gritou Rony.
– Oras, ele precisa de um nome! – Replicou o Vampiro adulto. – Não é, Norberto?
O Dragão mordeu com força a luva grossa que ele ainda usava, e Hagrid soltou um suspiro de satisfação.
Harry então surgiu de seu canto, meio irritado com a luz, e puxou Rony e Hermione. Os três se despediram e Hagrid os levou até a porta, tomando o cuidado de fechá-la para que ninguém visse o dragão.
– Certo, escutem. – Chamou ele, baixo. – Os professores estão protegendo a Pedra. Vocês não terão chance se tentarem meterem-se nisso. Minerva, Snape, Quirrel, Dumbledore, Sprout... Todos defenderam a Pedra! Agora vão, e mantenham tudo isso em segredo, ou vou contar para o Prof. Dumbledore.
Os três assentiram em silêncio e saíram, lentamente. Quando já estavam distantes da cabana, Harry os levou pelos cotovelos até dentro da Floresta, ficando numa clareira bem próxima à borda.
– Harry? O quê foi? – Perguntou Rony.
– Vocês ouviram o Hagrid. Snape encantou a Pedra. Ele está de olho nela para o Voldemort, nós três concordamos com isso. Ele deve ter visto os encantos que foram lançados. Acredito que ele apenas não saiba como passar por Fofo, afinal ele realmente se machucou quando tentou...
– Hagrid falou de um encapuzado, que lhe deu o ovo. – Iniciou Hermione. – Você também disse que havia um encapuzado na Floresta, que você acredita ser o Você-Sabe-Quem...
– Voldemort – Interrompeu Harry. Hermione se arrepiou inteira ao ouvir aquele nome, e Rony ganiu baixo. A Floresta pareceu mais fria e mais assustadora.
– De qualquer forma, acho que Snape conseguiu arrancar essa informação de Hagrid, senão não teria lhe dado o ovo. Agora, se ele sabe como passar pelos feitiços e pelo cão, porque ainda não pegou a Pedra?
– Dumbledore. – Replicou Rony, sabiamente. – Ninguém faria isso debaixo das barbas de Dumbledore.
– Mas não pode ser só isso, Rony, afinal...
– Escutem! – Exclamou Harry, baixo.
Eles apuraram os ouvidos, e conseguiram captar passos apressados. Harry invocou suas grandes asas, e Rony o copiou. O moreno agarrou Hermione pela cintura e bateu as asas com força, voando até pousarem em um galho alto, cheio de folhas espessas e úmidas. Rony pousou no galho ao lado, e juntos espreitaram.
Quase imediatamente, Quirrel surgiu, correndo esbaforido. Atrás dele estava Snape, com a capa negra ruflando tanto que ele parecia um morcegão gigante. Quirrel foi encurralado justo na árvore onde o trio estava escondido. Snape o apanhou pelo colarinho da camisa e o prensou contra o tronco centenário.
– Muito bem, Quirrel – Sibilou o mestre de Poções. – Acabaram os joguinhos.
– E-e-eu n-não s-s-s-sei o q-quê v-você está fa-fa-falando! – A gagueira do professor estava muito pior que o normal, ali, preso na árvore.
– Você sabe muito bem do quê estou falando. E é bom você se decidir, Quirrel. Decida de quê lado você está, antes que você saia machucado.
Quirrel parecia a ponto de desmaiar.
– Eu vou te dar um tempo pra pensar. Mas não muito, quero uma resposta rápido.
Um som alto de alguma fera ecoou pela clareira, e Snape estreitou os olhos.
– Nos vemos em breve.
Ele soltou o professor assustado e sumiu na folhagem. Quirrel arfou por longos minutos, então concertou o turbante e sumiu rapidamente.
Longos minutos vieram e se foram, na Floresta silenciosa.
– Quirrel e Dumbledore.
– Quanto tempo vocês acham que Quirrel resistirá a Snape?
Rony e Harry pensaram longamente na pergunta.
– Quinta feira ele terá conseguido a Pedra Filosofal.
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Agradecimentos e notas no próximo capítulo!
[Editado, por eu ter esquecido de fechar o código de centralização. Desculpem se ficou estranho pra ler... \o/]
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