A PLATAFORMA NOVE E MEIO
– A Plataforma Nove e Meio –
Harry aterrissou suavemente na rua movimentada em frente à Estação King’s Cross e sorriu. O ônibus que o trouxera foi embora lentamente, disputando espaço com os outros veículos da rua. O garoto segurou firme seu malão e a gaiola da coruja, coberta por um paninho preto.
Ele decidira chamá-la de Edwiges, um nome que encontrara em seus livros, e parecia que a belíssima coruja alva gostara de seu nome. Tio Válter não aprovava o pássaro, mas desde o dia em que Harry e Hagrid deixaram os Dursleys no casebre no Mar, estes simplesmente fingiam que Harry não existia. O garoto decidira que essa atitude era excelente.
Mas isso o fizera ter de vir de ônibus para Londres. Arrastou o pesado malão e entrou na estação apinhada. Suas aulas começavam em 1º de Setembro, num trem que saía às onze horas da Estação Nove e Meio. Harry tinha duas horas para encontrar a estação e embarcar, então se deu ao luxo de procurar um carrinho de bagagens, colocar o material nele e levantar o paninho da gaiola.
– Edwiges, está tudo bem? – Perguntou ele.
A coruja piou em resposta, levemente agradecida pelo carinho e cuidado que ele destinava à ela, levemente irritada por estar presa.
– Assim que chegarmos no trem eu te tiro daí – Prometeu ele. A coruja piou novamente e ele recolocou a cobertura.
Harry guiou o carrinho com suas coisas até as plataformas. Haviam alguns garotos uniformizados numa delas, algumas garotas mais velhas que ele arrastando uma centena de malas coloridas. Elas o olharam ironicamente, rindo de suas roupas largas, de seus cabelos arrepiados, óculos remendados e tênis gastos. Rindo de sua pequenez, rindo de sua magrela e abatida figura.
Rindo de Harry Potter.
Ele não deu atenção à isso, no entanto. Era sempre assim, no fim das contas. Tudo o que o pequeno vampiro esperava é que em seu novo mundo ele fosse melhor aceito. Tudo o que queria era uma vida. Chegou à uma divisão.
De um lado havia um grande número de plástico sinalizando a plataforma Nove. Do outro, uma plaqueta menor mostrando um número dez. Entre as duas, apenas uma parede cinzenta de tijolos aparentes...
Harry olhou ao redor, perdido. Suas mãos apertaram a borda do carrinho enquanto ele o arrastava até um guarda robusto recostado contra uma das paredes.
– Com licença – Pediu ele. – Onde fica a Plataforma para Hogwarts?
Por algum motivo achou melhor não falar em “Plataforma Nove e Meio”.
– Hogwarts? Nunca ouvi falar... Onde fica?
Harry corou. Onde ficava a escola? Não sabia...
– É... Acho que no interior. É uma espécie de internato pelo que ouvi falar.
O guarda balançou a cabeça. Harry perguntou, levemente desesperado, sobre o trem que saía às onze horas. O guarda também não sabia. Finalmente o garoto foi empurrado por uma turba de turistas e se dirigiu novamente para a divisória das plataformas.
Será que devo batucar nos tijolos como Hagrid fez no Beco? Pensou. Olhou fixamente para um dos tijolos cinzentos e sujos de fuligem. Bateu de leve com a mão nele e sentiu um estranho puxão, mas nada demais.
Virou-se de costas e olhou para o relógio. Tinha apenas pouco menos de uma hora agora. Arrastou o carrinho até um guichê e pediu informações. Quando saiu da fila, sem nenhuma resposta, deparou-se com apenas mais meia hora de tempo.
Não importava o que Hagrid falara sobre corações que não batiam, o seu palpitava desenfreado de medo e nervosismo.
O que falaria para os Dursleys quando voltasse, sem ter conseguido atravessar a Plataforma? Fora Hagrid que lhe dera as instruções, porque não o fizera direito?
Suas preocupações quase não permitiram que ele entreouvisse uma conversa.
– Cheio de humanos, como sempre!
– Humanos? – Murmurou ele. Então se levantou como um raio.
Havia ali perto da divisória uma grande família de ruivos. Harry contou um par de gêmeos, mais velhos, um garoto mais velho ainda, um outro de sua idade e uma garotinha mais nova. Um pai sorridente e uma mãe preocupada. Ele espiou quando o mais velho de todos empurrou seu malão na direção da parede.
E desapareceu!
Harry piscou diversas vezes. Como?
Então ele arrastou seu próprio carrinho até a família. Os olhos bondosos da matriarca da família o miraram. Ela era baixa, mas magra e muito bela. Parecia nova, não muito mais velha que os filhos mais velhos. Nem parecia a mãe deles! Mas havia algo em Harry, que ele descobriu que estava sempre certo, que dizia que ela era a mãe daqueles rapazes.
Ela o mirou sorridente e o pai também se virou. Ele era alto e parecia ser forte, um pouco mais velho que ela. Tinha os olhos bondosos também e sorriu amistosamente. Longos dentes se revelaram.
– Com licença – Pediu Harry. – A Sra. sabe como faço para...
– Chegar na Plataforma? – Completou ela. Seu tom era doce e bondoso como seus olhos. Ela sorriu sobre seus seios fartos e dentro de seu vestido avermelhado. Sorriu com dentes brancos e caninos pontiagudos. Sorriu como apenas uma Vampira pode sorrir.
– É seu primeiro ano, acredito? – Perguntou o Sr. com voz forte.
– Sim, Senhor- Respondeu Harry, educadamente.
– É o primeiro ano do Ronald também – Riu-se a belíssima Sra. – Vamos, lá. Fred, mostre a ele como atravessar.
Um dos Gêmeos abanou a cabeça, aparentemente decepcionada.
– Eu não sou o Fred! Sou o Jorge!
– Não consegue nem reconhecer seus filhos? Mulher, ainda se diz nossa mãe? – Completou o outro gêmeo.
A Vampira franziu as sobrancelhas ruivas e os mirou como um gavião.
– Certo Jorge – Corrigiu ela. – Vá!
Ele se dirigiu até a parede e olhou para trás.
– Estou brincando! Eu sou o Fred mesmo!
E correu em direção à parede. Mas ao invés de bater, ele a atravessou como se fosse água!
– É só ir em direção à parede divisória – Explicou a Sra. enquanto o outro gêmeo também desaparecia. – Corra até ela, você não vai bater. Pode correr se estiver nervoso. Vá antes do Rony.
Harry agradeceu a ajuda e se postou diante da parede, parecia bem sólida para ele. Então o vampiro correu, encarando fixamente o muro de tijolos à sua frente. Se ele batesse doeria muito... Mas nada aconteceu, quando Harry percebeu já estava do outro lado do muro.
Ele estava numa plataforma de trem, abarrotada de vampiros, assim como o Beco estivera em sua primeira visita. Seus olhos encontraram uma linda locomotiva preta, uma verdadeira maria-fumaça de ferro fundido. Dezenas de vagões se enfileiravam atrás dela, e Harry sorriu mais ainda quando percebeu que aquela linda senhora, seu marido e os últimos filhos estavam atrás dele agora. Quando levantou os olhos percebeu uma plaqueta de ferro onde se lia:
Plataforma Nove e Meio
Harry sentiu o ar com um toque de fumaça entrar em seu peito e sentiu-se novo, vivo. Sentiu-se como há muito não sentia e descobriu que ele era um vampiro. Em todos os sentidos.
Com um sorriso de orelha à orelha ele tirou a mala e a gaiola do carrinho e descobriu a última. Agora Edwiges também enchia seus olhos com a imagem que desfilava à sua frente. Harry arrastou a sua mala e tentou içá-la para um dos vagões, mas só conseguiu que ela caísse dolorosamente em cima de seu pé. Edwiges bateu as asas e piou daquele jeito que mostrava que ela ria.
– Isso, ria de mim, coruja safada! – Resmungou Harry. Edwiges “riu” mais ainda.
– Quer uma mãozinha? – Perguntou uma voz.
Eram os gêmeos ruivos, que já tinham subido no trem. Harry sorriu agradecido e passou a alça do malão para eles. Com alguma dificuldade, conseguiram por o malão para dentro do trem. Harry agradeceu e passou a mão na testa suada, revelando a cicatriz.
Os olhos dos rapazes foram atraídos para o raio em sua testa como imãs.
– V-você é Harry Potter? – Perguntaram em uníssono.
– Sim, sou Harry Potter. Hum. Podem me chamar de Harry...
Aquilo fez os dois escancarem a boca e Harry ficou confuso. Então se lembrou das palavras de Hagrid. Naquele mundo ele realmente era famoso!
Algo dentro dele pareceu crescer, algo sombrio e estranho, algo sussurrante e malicioso. Uma parte que Harry não se lembrava de possuir, mas que parecia natural para ele.
Mas o sentimento passou.
– Bem, vou procurar uma cabine. Obrigado pela ajuda!
Então ele saiu pelos corredores do trem, procurando um lugar. No fim do trem ele finalmente encontrou uma cabine, onde uma garota estava sentada, de cabeça baixa, murmurando.
Harry olhou em volta e descobriu que o trem estava cheio, faltava poucos minutos para sair. Ele bateu de leve no vidro da cabine. A garota o olhou.
Ela tinha cabelos castanhos muito fofos e cheios, olhos castanhos inteligentes, era magra e levemente baixa, com uma expressão levemente arrogante e pomposa. Harry acenou através do vidro um pedido para entrar. Com o consentimento, ele abriu a porta.
– Posso me sentar aqui? – Pediu ele. A garota acenou afirmativamente.
O garoto se esgueirou para dentro completamente. Então escorregou o malão para baixo de um banco, ao invés do bagageiro e sentou-se de frente para a garota. Depositou a gaiola no banco ao seu lado e a abriu, tirando Edwiges com delicadeza.
– Pronto, coruja estressada, está livre! – Resmungou ele para o pássaro.
Edwiges esticou as asas e piou como se dissesse “Até que enfim”. Finalmente ela se encarapitou no alto da gaiola e fechou os olhos de âmbar.
– Sou Hermione Granger – Apresentou-se a garota. Harry esticou a mão.
– Harry Potter.
Mas ela não o cumprimentou, não apertou sua mão. Ao invés disso ela deixou o queixo cair e correu seus olhos para a testa. Felizmente Harry havia coberto a cicatriz com a franja.
Antes que ela pudesse falar, a porta se abriu.
– Posso sentar aqui? Está tudo cheio...
Era o garoto ruivo, Ronald, que Harry vira na estação. Hermione deu de ombros, o ar arrogante novamente em seu rosto. Empinando o nariz, ela não se apresentou, mas ao invés disso tirou um livro grosso de seu malão e começou a ler, sem se importar com os garotos.
Harry franziu a testa e olhou de alto a baixo para a garota. Ela já havia vestido o uniforme, lia o volume com atenção e parecia uma rainha em meio aos plebeus. Era uma metida, decidiu.
Harry e Ronald apertaram as mãos e se apresentaram.
– Então é verdade o que Fred e Jorge disseram? Você é Harry Potter?
– Sou...
– E você pode... Mostrar a...
Harry fez força para não revirar os olhos e levantou a franja. A cicatriz fina em forma de raio se destacava na pele quase pálida. Hermione espiou com seus olhinhos castanhos sobre o livro e os fixou na testa.
Harry era uma figura estranha aos olhos dela. Ele era pequeno para a idade, só um pouquinho maior que ela. Era muito magro também, pálido e abatido. Mas havia algo nele que lhe era estranho. Havia um estranho contrate entre os cabelos muito negros, a pele branquinha e os óculos redondos.
– Essa coruja é sua? – Perguntou o garoto.
– Quer que eu tire ela daí, Ronald? – Respondeu Harry. Ele levantou e puxou a gaiola, com Edwiges se equilibrando em cima e a pousou num canto da cabine, no chão. Deslizou um pouco para o lado e Ronald se sentou. Agora ele estava de frente para Hermione.
– Me chame de Rony. Rony Weasley – Suspirou o ruivo.
Ele era alto e meio desengonçado, os cabelos um pouco arrepiados, muito ruivos. Tinha sardas no rosto e olhos muito azuis.
Hermione viu que Rony era até que bonito, ao contrário de Harry Potter. Sinceramente, depois de tudo o que ela lera sobre ele, acreditava que ele era mais bonito. Mesmo que isso não importasse para ela. Em seus onze anos ela nunca despertara qualquer interesse por garotos...
Rony tirou um pequeno rato do bolso, os pelos esbranquiçados, que dormia a sono solto. Ele olhou de relance para Hermione, sabendo que ela era uma garota e poderia reclamar. Mas ela não esboçou nenhuma reação. Aparentemente.
Harry sentiu dentro de si mesmo a certeza: a garota se encolhera quase imperceptivelmente, o suficiente para que ninguém além dele percebesse. Harry sorriu, ela era metida, mas era uma garota afinal.
Então suas narinas foram inundadas por um cheiro delicioso, suave e doce. Seus ouvidos perceberam um ribombar quase ensurdecedor, palpitante, um tambor em seus tímpanos. Aquilo fez cada sentido dele despertar. Um ronco em seu estômago demonstrou que ele estava com aquela “outra” fome. Fome de sangue. E havia sangue na cabine.
Os olhos de Harry e de Rony grudaram em Hermione. Agora amos percebiam que ela se encolhia, desespero em seus olhos.
– Sinto cheiro de sangue humano – Sussurrou Rony.
Os olhos de Hermione se arregalaram. Se mostraram amedrontados, apavorados.
– Você... – Continuou Rony naquele tom baixo, perigoso. – Você é uma Meio-Vampira, você... é viva.
Aquilo desesperou Hermione de vez, ela afundou no banco e deixou o livro cair. Não gritou, sabia que aquilo despertaria uma atenção maior. Seu coração disparado berrava no silêncio da percepção dos vampiros completos. Ela era uma Meio-Vampira. Ela era humana!
Rony pulou para frente, visando o pescoço da garota. Ela fechou os olhos e esticou as mãos para frente. Mas nada aconteceu.
A garota abriu os olhos lentamente. Havia algo em sua frente...
Harry estava de pé, as roupas rotas, os óculos remendados faiscando, os cabelos arrepiados. Seu braço envolvia o pescoço de Rony, que se debatia e se revirava.
– Ronald! – Chamou ele. – Pare com isso, parece que nunca viu sangue na vida!
Ele parou de se debater, mas pregou seus olhos na garota assustada.
– Ronald! – Repetiu Harry. – Sente-se! E chega disso! E daí se ela tem sangue humano?
Rony deslizou para fora dos braços do outro e sentou-se. Harry então se jogou ao lado de Hermione e lhe passou o livro que estava caído no chão metálico.
– Não precisa ficar com medo – Disse ele, calmamente. – Não vou deixar você virar o almoço.
Então ele sorriu. Hermione corou. Hermione se avermelhou. Hermione se encolheu.
– Ótimo! – Resmungou o ruivo. – Temos sangue delicioso aqui dentro e não vamos beber?
– Não – Rebateu o moreno. – Ela é uma garota, não um prato.
Hermione suspirou aliviada. Estranhamente aquele garoto franzino e malvestido lhe dava uma sensação de segurança. Ela lera tudo sobre meios-vampiros e sabia o que poderia lhe acontecer.
Era uma maldição antiga. Mesmo que os Vampiros morressem todos, ainda sim continuariam nascendo do seio humano. Muitos nasciam a cada ano. Eles tinham todos os poderes dos Vampiros Completos, mas não eram transformados. Não bebiam sangue, seus corações não paravam. A única forma de se tornarem Vampiros Completos era por meio da mordida de um destes.
Mas havia muitas implicações para dar seu sangue...
Harry sorriu para ela com caninos afiados, mas não a assustou. Então virou-se para Rony e decidiu mudar de assunto.
– Eu fui criado por humanos, estou por fora de tudo. Então, o que é “Quadribol”?
Os olhos de Rony deixaram de ser famintos para se tornarem interessados.
– Não sabe o que é Quadribol?
– Não... Ouvi alguns garotos comentando...
Então Rony começou a explicar que era um esporte, jogado com várias bolas diferentes, com muitas posições e o mais estranho: voando.
– Como?
– Usando suas asas. Quando você completa onze anos desenvolve asas! Por isso que a escola só aceita alunos a partir dos onze, que é quando eles atingem todos os seus poderes... – Explicou Hermione, repentinamente.
– Achei que você era humana... – Debochou Rony.
– Eu sou – Respondeu ela corada. – Mas não sou burra. Li muito sobre os Vampiros!
Harry se debruçou no banco enquanto Rony e Hermione discutiam. Ele fez Edwiges voar até seu braço e a colocou no colo. Ela piou agradecida pelo carinho e eles ficaram observando os dois brigarem. Edwiges “riu” de sua maneira peculiar.
– Concordo – Murmurou Harry. – Eles parecem ser ótimos amigos...
_________________________________________________
Porque ninguém comenta? T.T
Eu colocando tantos novos capítulos, mistérios, jogos e dicas?
Bem... Fazer o quê? COMENTEM, POR FAVOR!!! COMENTEM!!!
Isso aí.
Sem dicas, Preview ou brincadeira hoje... Obrigado!
anúncio
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!