O BECO DIAGONAL
– O Beco Diagonal –
Foi a luz do dia, entrando dolorosamente pelas janelas sem cortinas, que acordou Harry. Ele ficou um longo minuto ali, de olhos fechados e sem se mover, tentando reter o máximo possível do sonho que tivera. Muitas cartas, uma viagem estranha. Dor terrível, um gigante e ele descobrira ser um Vampiro. Um Vampiro! Finalmente houvera revelações sobre seus pais, a morte deles e um tal de Voldemort cujo nome nunca era pronunciado. Vampiros!
Vampiros!
Harry agitou a cabeça e finalmente abriu os olhos. Ele sentiu mais do que viu o casaco onde estava estirado, as paredes velhas ao redor, os balanços da casa inteira de acordo com os humores do mar. As ondas do oceano batendo contra o rochedo onde se encarapitava o casebre. O garoto girou o pescoço tão rápido que o estalou, mas conseguiu ver Hagrid ali, jogado de qualquer jeito no pobre sofá. O jogo de chá e os restos das salsichas repousavam na mesinha ao lado. Um sorriso se espalhou pelo rosto de Harry, então ele tocou seus dentes com as pontas dos dedos e quase riu. Os caninos eram longos e duros, pontudos e afiados como agulhas mortais. Sentiu-se feliz e leve como se fosse feito de ar.
Então viu uma coruja bater na janela, piando alegremente. Harry abriu a vidraça lavada de chuva e deixou o pássaro entrar. Ele trazia um jornal na pata!
Deixando o jornal numa parte seca do assoalho, a coruja parda voou e pousou no obro de Harry. Ele olhou para o animal, intrigado. Ela piou algumas vezes e voltou para a janela, mas ao invés de ir-se, ficou ali olhando para ele.
Achando melhor perguntar à Hagrid, Harry aproximou-se do gigante adormecido.
Chamou-o algumas vezes, mas este não respondeu. O peito não subia ou descia (ou pelo menos não dava para perceber) e a barba impedia que se pudesse ver ou sentir sua respiração. Harry tentou novamente, mas sem sucesso. Hagrid não despertou ou se mexeu. Harry então tentou algo bem idiota: encostou o ouvido no peito do gigante.
Apenas o silêncio respondeu.
– Hagrid! HAGRID! – Berrou o garoto, pulando em cima do gigante. O coração de Rúbeo não batia mais!
Desesperado, Harry chamou-o e gritou, pulou em cima dele, acordou a casa inteira. Então Hagrid pulou, derrubando Harry de cima dele e coçou a cabeça.
– O que está acontecendo? – Berrou ele. – Harry?
Harry olhou para ele, caído no chão e suspirou aliviado.
– Você não acordava – Explicou ele. – Então eu tentei ouvir seu coração, mas não ouvi nada...
Hagrid tirou uma moeda estranha do bolso e colocou no bico da coruja, que voou feliz antes de responder.
– É claro que não ouviria! Meu coração não bate!
Harry escancarou a boca e Hagrid percebeu sua confusão. Suspirando pesadamente, o gigante sentou-se no sofá e encarou o garoto.
– Eu esqueço que você não sabe nada sobre nós! O coração dos Vampiros não bate, Harry. Nunca.
Eles ficaram em silêncio, pensamentos voando velozes pela mente de Harry. Tanto que ele não sabia! Como poderia viver em um mundo onde desconhecia até mesmo seus menores detalhes?
– Mas – Disse ele, lentamente. – Meu coração está disparado! Ele bate!
– É claro que não! – Cortou Hagrid. – Nunca bateu, você é um vampiro completo. É só uma impressão...
Hagrid espalmou a mão sobre o peito de Harry e ficaram em silêncio por alguns instantes.
Tu-dum. Tu-dum. Tu-dum.
Eles se encararam, sem fala. O som do coração disparado de Harry enchendo o ambiente ao redor. Hagrid levantou-se e apanhou o casaco jogado no chão e o jornal.
– Vamos embora, temos de comprar seu material ainda hoje!
Eles olharam criticamente o barquinho quase afundado, cheio de água e sal. Hagrid entrou com cuidado e Harry se postou perto dele. O gigante olhou para os lados astuciosamente e então bateu com a mão na traseira do barco. Imediatamente este disparou para frente, como uma lancha veloz. Parecia saber para onde ia, já que ninguém o guiava.
– Como?
Hagrid sorriu e abriu o jornal.
– Vampiros são mais do que apenas sangue e dentes, Harry. Isso é magia, uma coisa comum para nós.
Então ele baixou um pouco o jornal.
– Não para mim, é claro – Acrescentou. – Tive uns problemas e acabei expulso de Hogwarts quando tinha treze anos. Então agradeceria se você não comentasse esse truquezinho com ninguém...
Harry prometeu. Então olhou para a primeira página do jornal. Uma manchete chamou sua atenção.
MAIS TRAPALHADAS NO MINISTÉRIO VAMPIRO
– Existe um Ministério? – Abismou-se ele. – Hagrid?
O gigante olhou para a página e riu-se.
– Sim, existe. Ficamos escondidos, mas não somos selvagens! Temos um governo, departamentos, escolas, vilas e tudo mais. O Ministro é o Fudge. O Diretor de Hogwarts é o Prof. Dumbledore. Guarde isso em mente.
– Certo. Como é Hogwarts?
– Ah! Você vai adorar a escola. Como eu adorei, como seus pais adoraram. Sete anos lá e você sairá um novo Harry. Um Vampiro incrível!
Harry sorriu e sentiu em seus lábios os novos dentes. Não era tão ruim ser um Vampiro, afinal. Mas será que isso justificava a dor que a luz lhe trazia?
Chegaram em Londres, vindos do Metrô. Poderia ser uma viagem comum se Hagrid não ocupasse dois bancos inteiros. Agora estavam diante de um barzinho sujo, metido entre suas lojas modernas. Ninguém olhava para ele, na verdade (Harry decidiu) ninguém podia vê-lo. Entraram.
O ambiente não era melhor do que do lado de fora. Muitas mesinhas decadentes foram apertadas num espaço minúsculo. Uma escada e um balcão empoeirado ocupavam mais da metade do lugar. Uma garçonete de vestido justo andava calmamente nas frestas que havia entre as mesas, naturalmente como apenas uma garçonete pode fazer. O bar tinha meia dúzia de estranhos em suas mesas. Um casal estava na sombra, num canto. Um homem soluçava meio encoberto pela pilha de garrafas vazias de sua mesa. Um trio de vampiras muito brancas cochichavam maliciosamente em um outro canto, iluminadas por uma garrafa que brilhava esverdeadamente. Pareciam com as vampiras dos livros para crianças, com o rímel forte nos olhos e o delineador grosso, além do excesso de pó-de-arroz e a falta de tecido nos vestidos. Os botões estavam sob uma tensão maior do que os de Duda ficavam.
Harry finalmente se deparou com o dono do estabelecimento, um homem desdentado e encarquilhado, uma corcunda se projetando de suas costas. Mas era um homem agradável, propenso à sorrisos e reverências demais.
– O de sempre, Hagrid? – Gritou ele alegremente.
– Não hoje, Tom! – Respondeu o gigante. – Estou apenas levanto o jovem Potter aqui para comprar seu material...
O bar mergulhou em silêncio quando todos os olhares se focaram para Harry, constrangido e corado como nunca, e para sua cicatriz.
– Meu Deus! É Harry Potter! – Exclamou Tom. Então ele correu e agarrou a mão de Harry, num aperto acalorado. – Que honra ter Harry Potter em meu humilde barzinho!
Logo uma fila de Vampiros se formou para apertar a mão de Harry, abraçá-lo ou agradecê-lo. Alguns voltavam o tempo todo para um novo cumprimento exagerado. Harry estava quase da cor de um tomate quando o último hom\em foi cumprimentá-lo.
– E-e-eu s-sou o P-Prof. Quirrell – Apresentou-se, sem tocar em Harry, no entanto. – S-sou o Professor de D-defesa Contra Artes das T-t-trevas. Não que o Sr. precise, é claro.
E deu uma risadinha angustiada da própria piada, sumindo logo em seguida. Harry olhou longamente para a escada, por onde o homenzinho desaparecera. Ele tinha o rosto fino e atormentado, a maior parte coberta por um turbante roxo. Havia algo nele que despertara um sentimento estranho em Harry, como se aquele estranho ser fosse uma verdadeira ameaça.
Harry tinha muito o que fazer, no entanto, então Hagrid o puxou para os fundos do bar. Ali só havia uma lixeira e algumas caixas, além de um muro alto. Hagrid, no entanto, deu três batidinhas com o punho cerrado num dos tijolos do muro e se afastou.
Imediatamente aquele tijolo sumiu. Logo todos os outros o acompanharam, se movendo para o lado até formarem um arco de pedra que dava para o incrível Beco Diagonal.
Lojas por todos os lados, estranhas e indubitavelmente mágicas. Centenas de vampiros de todas as idades se apertavam no beco que, como o próprio nome dizia, não era reto, mas sim uma diagonal perfeita. Havia estabelecimentos estranhos, outros mais comuns. Os dois avançavam lentamente, entre a multidão. Harry ouviu uma vampira estranha resmungar algo sobre o “preço dos olhos de besouro” e algo sobre “galeões”. Um homem atarracado olhava por sobre os ombros insistentemente, enquanto anunciava caldeirões.
– Hagrid? Para que precisamos de caldeirões?
– Vampiros preparam poções muito interessantes, Harry. Assim como temos nossa própria magia, muitas coisas mágicas nos interessam. Mesmo assim, não somos bruxos.
Harry olhou para uma grande loja cheia de fogos que brilhavam nas vitrines. Mais adiante havia uma adega escura cheia de garrafas. Garotos se amontoavam alegremente em frente a uma espécie de vestimenta.
– Uau! Esse uniforme tem espaço para qualquer tipo de asas! – Exclamou um deles.
– Você também desenvolverá asas, logo – Disse Hagrid antes mesmo da pergunta.
Eles seguiram por mais uma onda de gente e chegaram numa outra loja, cuja estranha tabela de preços estava afixada na entrada. Finalmente uma idéia prática surgiu na mente do jovem Vampiro e ele sentiu um desânimo se apoderar de seu corpo.
– Hagrid. Eu não tenho dinheiro, duvido que meus tios queiram pagar a escola e os materiais...
Mas Hagrid riu com gosto!
– Você não acha que seus pais te deixariam sem nada, acha? Harry! Estamos indo justamente para o Banco Gringotes, pegar um pouquinho de seu dinheiro. Você pode ficar tranqüilo quanto a isso.
Realmente, agora que ele reparara, um prédio se destacava dos demais. Ele era feito todo de mármore branco, parecendo uma jóia. Muitos andares e uma grande porta de ouro davam um ar majestoso para o banco. Na porta havia um homenzinho muito feio e troncudo, de nariz adunco e empinado parecia um...
– Isso mesmo, Harry. É um Duende. São criaturas incríveis com o dinheiro, mas não os irrite!
Eles cumprimentaram educadamente o estranho ser e postaram-se diante das portas de ouro. Havia ali uma inscrição:
Entrem, estranhos, mas prestem atenção
Ao que espera o pecado da ambição
Porque os que tiram o que não ganharam
Terão é que pagar muito caro,
Assim, se procuram sob o nosso chão
Um tesouro que nunca enterraram,
Ladrão, você foi avisado, cuidado,
Pois vai encontrar mais do que procurou.
Aquilo fez Harry estremecer. “Que horrível!” Pensou.
– Gringotes é o lugar mais seguro do mundo – Informou Hagrid. – Depois de Hogwarts, é claro.
– Parece bem seguro, realmente. Mas ele é o único banco?
– Sim, Gringotes é o único.
Eles chegaram a um Saguão imenso, cercado por dois longos balcões, onde Duendes se postavam, sentados em altos bancos, pesando jóias, contando moedas ou escrevendo em gigantescos livros-caixa. Eles se aproximaram de um Duende relativamente desocupado e Hagrid sorriu.
– Eu gostaria de sacar alguma quantia do cofre do Sr. Harry Potter.
O Duende o olhou de cima a baixo.
– O Sr. possui a chave? – Perguntou friamente.
Hagrid sorriu e começou a revirar os bolsos, depositando uma grande quantidade de biscoitos de cachorro, mofados, em cima do livro caixa do Duende. Finalmente ele trouxe à tona uma chavinha de ouro, trabalhada.
O Duende a examinou criticamente, então chamou um companheiro enquanto Hagrid guardava os biscoitos de volta aos bolsos.
– Este é Grampo – Apresentou. – Ele os levará ao cofre.
Um Duende (relativamente menos arrogante) surgiu, trazendo um lampião em suas mãozinhas nodosas. Seguiram juntos até uma porta de mármore e então estavam em um túnel mal iluminado.
Um vagonete enferrujado surgiu da escuridão e postou-se, vazio, sem que o Duende o chamasse. Eles entraram.
Logo o vagonete corria pelos túneis, numa velocidade que deixaria uma montanha russa com medo, dando voltas terríveis e passando por cavernas úmidas ou túneis muito escuros. Finalmente chegaram numa porta encravada direto na rocha.
Harry foi instruído a colocar a chavinha de ouro na fechadura da porta e a girou. Logo entraram no cofre dos Potter.
Pilhas e mais pilhas de ouro para todos os lados. Algumas jóias colocadas em molduras de vidro, alguns livros empoeirados também. Harry correu os olhos por aquela fortuna. Uma riqueza dessas embaixo de Londres!
Então ele pensou em quantos cofres como aquele deviam existir ali. Se houvesse uma maneira de abrir as fechaduras, quanto ouro ele poderia carregar?
Mas lembrou-se do aviso na porta. Balançou a cabeça e Hagrid lhe entregou uma bolsa cheia de ouro.
– Isso vai dar para o ano letivo. Vamos.
Então ele se aproximou do Duende e cochichou, embora Harry pudesse ouvi-lo.
– Eu gostaria de ir ao cofre setecentos e treze. Fazer uma retirada. Ordens de Dumbledore!
– É claro. O Sr. tem a autorização?
Hagrid lhe passou uma carta lacrada, que o Duende leu. Então outra viagem alucinante no vagonete começou.
Finalmente chegaram ao outro cofre, onde Grampo não exigiu chave. Ao invés disso, passou o dedo pela porta, que se dissolveu como se fosse água.
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Mais um capítulo postado. Algumas coisinhas interessantes aqui, uns detalhes estranhos, não?
Bem, com este chegamos ao quinto capítulo, a Fic agora vai andar um pouquinho mais rápido. Próximo capítulo em breve.
Um agradecimento para a Súh, que comenta, a Lê que falou que ia ler e pro Eduardo, cuja Fic Harry Potter e o Príncipe dos Dragões eu Beto. Ele também disse que ia ler, mas vamos ver, né?
Uma última coisa:
"Uma taça cheia até a borda de um líquido vermelho"
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