Sabotagem



14. Sabotagem

A revista estava óptima. Tínhamos feito o plano final no computador do James, oito páginas completas que pareciam divertidas e interessantes.

O James encontrara na Internet todo o tipo de imagens para ilustrar os artigos: fotografias de cães para o artigo sobre o Canil de Battersea, estrelas para a página dos horóscopos, ervas e flores para o artigo da Izzie sobre aromaterapia, além das fotografias loucas da transformação «antes» e «depois» para as páginas centrais.

Estava boa. Muito boa. Calculei que tinha hipóteses de ganhar.


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Na reunião geral de segunda-feira, a stôra Allen Pediu que todas as candidaturas fossem entregues à nossa encarregada de turma.
- Sei que muitas de vós têm trabalho bastante – observou – por isso não vos manteremos muito tempo na expectativa. Esperamos anunciar a vencedora no final da semana.

Cinco minutos depois, fomos para a nossa sala e juntei-me ao grupo que rodeava a secretária da stôra Watkins. Coloquei o meu exemplar na pequena pilha de candidaturas da nossa turma.

- Houve bastantes que terminaram a tempo, não é? – perguntei à Wendy Roberts que estava atrás de mim.

- Hã, não – disse ela. – Ao contrário de algumas masoquistas desta turma, não fiz nada. Sabes, tenho mais o que fazer.

- Oh, pensei que ias concorrer.

- Pensaste mal. Os prazos são bons para os vencidos. E, a propósito, a stôra Allen disse que queria falar contigo. Vi-a agora mesmo no corredor. Quer que vás ao seu gabinete imediatamente.

Que estranho, pensei, enquanto me apressava pelo corredor em direcção ao gabinete da senhora Allen. Esperava que não houvesse problema.

- A stôra Allen quer falar comigo – disse eu quando a secretária levantou os olhos ao ouvir-me bater à porta do gabinete.

- Acho que não, minha querida – estranhou. – A senhora professora Allen está com o senhor professor Parker. Disse que não queria ser incomodada. Deve ser engano.

Não é engano nenhum, pensei, enquanto voltava para a sala de aula. Acho que a Wendy se quis fazer engraçada.

A stôra Watkins estava na sua secretária folheando as candidaturas quando voltei a entrar na sala de aula. – Estás atrasada, Lily – repreendeu.

- Hã, desculpe, senhora professora – respondi, dirigindo-me ao meu lugar.

Felizmente, não voltou a falar no assunto pois a Wendy entrou logo a seguir.

- E tu, Roberts, qual é a tua desculpa?

- Fui à casa de banho, senhora professora – justificou, ofegante, ocupando o seu lugar.

A stôra Watkins continuou a folhear as candidaturas. – Muito bem, meninas, temos seis candidaturas desta turma.

Depois, olhou para mim. – Mas pensei que teríamos mais uma. Julguei que ias concorrer, Lily.

- E concorri, senhora professora – repliquei. – Pu-la na pilha depois da reunião geral.

- Bem, agora não está aqui – informou.

Voltei-me para a Wendy. Olhava pela janela, parecendo mesmo uma santinha.

- Tens a certeza, Lily? – insistiu a stôra. – Verifica o teu saco.

Fiz o que me dizia, mas estava certa de tê-la posto na secretária. – Não está aqui, senhora professora.

- Então, onde está?

De repente, fiquei sem saber o que dizer. E não tinha qualquer prova de que a Wendy a tivesse tirado.

- Talvez tenha caído ao chão.

A stôra Watkins deu uma rápida olhadela em redor e, a seguir, enfrentou a turma.

- Alguém tirou a candidatura da Lily?

Ninguém se acusou.

- Isto é muito sério. Se a Lily diz que pôs a sua candidatura na pilha, ou está a mentir, ou alguém a tirou. Alguém me pode esclarecer?

Mais uma vez, ninguém se acusou.

- Ela preparou uma candidatura – afirmou a Lucy. – Eu vi-a. A sério, senhora professora.

A stôra Watkins pareceu perturbada. – Isto é muito desagradável, meninas. Estamos quase no final do período e no próximo ano irão para o 10º. Já não são caloiras e, francamente, estou desapontada com este tipo de comportamento. No entanto, vou pedir-vos que se portem como adultas e resolvam isto entre vós. Meio-dia e meia hora de hoje é o fim do prazo para entrega das candidaturas e, por isso, a não ser que a encontres, Lily, ou alguém confesse, acho que não posso fazer mais nada.


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- Aquela vaca – desabafou a Lucy, enquanto saíamos para o intervalo. – Tenho a certeza de que foi a Wendy Roberts.
- Algu em viu alguma coisa? – perguntei.

A Marlene abanou a cabeça. – Deve tê-la tirado da secretária da stôra Watkins quando foste chamada à stôra Allen.

- Havia uma multidão em torno da secretária da stôra – lembrou a Izzie. – Qualquer pessoa a poderia ter tirado. Sabem como todas se têm mostrado competitivas.

- Mas a Wendy entrou depois de ti, Lily. Sabes, antes de a aula começar. Lembras-te? – perguntou a Iz.

- Já para as casa de banho – comandou a Marlene. – Vamos.

Corremos pelo corredor fora até aos vestiários. A Lucy espreitou para dentro dos cubículos enquanto a Marlene procurava no caixote do lixo.

- Iaque – disse a Marlene enquanto remexia por entre pedaços de lenços e toalhas de papel.

- Oh, nããão – ouvi a Lucy dizer enquanto procurava no terceiro cubículo.

Saiu, segurando um monte de papel da revista. – Parece que pôs primeiro debaixo da torneira.

- Mas porquê? – perguntei. – Que tem ela contra mim?

- Não é preciso haver uma razão – suspirou a Marlene. – Acontece que algumas pessoas são muito, muito más. Não suportam ver ninguém ter sucesso.

- Acho que ela nunca esqueceu o facto de ter parecido uma idiota quando o Sam Denham esteve cá – acrescentou a Izzie. – Sabes, quando ele elogiou a tua resposta e menosprezou a dela.

- Que vamos fazer? – perguntei, apoiando-me a um dos lavatórios. – Não posso entregar isto assim.

- Podíamos ir falar com a stôra Allen – sugeriu a Marlene.

Estava desfeita. – Podíamos, mas de que serviria? Só faria com que a Wendy ainda me detestasse mais. O facto é que a minha candidatura não se pode ler. Todo este trabalho, perdido.

Estava quase a chorar. – E todos os vossos contributos.

A Lucy tirou o telemóvel do saco. – Que horas são? – perguntou.

- Onze – respondi.

Começou a ligar freneticamente.

- A quem estás a telefonar? – perguntei.

- Ao James – respondeu. – Está com exames e por isso o horário dele foi alterado. Talvez esteja em casa a estudar.

- Óptimo – aplaudiu a Iz. – Ele tem a revista no computador. Só demora uns minutos a imprimir.

- Isso é se ele lá estiver – objectou a Marlene.

A Lucy esperou enquanto o telefone tocava e depois fez uma careta. – Caixa de correio – disse. – Deve estar a fazer alguma coisa.

- De qualquer forma, deixa uma mensagem – aconselhou a Izzie. – É a nossa única hipótese.

Voltámos para a aula seguinte, mas não me conseguia concentrar. E a Marlene, a Izzie e a Lucy também não, ao que parecia.

- Se olhares para o relógio mais uma vez, Lily Evans – ameaçou o stôr Dixon – tiro-to. E, Lucy Potter, se o que está a observar pela janela é assim tão fascinante, sugiro que vá para lá durante o resto da aula.

Olhei de relance para a Wendy Roberts. Ela levantou os olhos do livro e sorriu com presunção.

Espera só, Wendy Roberts, pensei. Isto ainda não acabou.


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À hora do almoço, corremos para fora da sala de aula, para o recreio em direcção aos portões.
Não encontrámos lá ninguém.

A Lucy tirou de novo o telemóvel. Ligou e depois abanou a cabeça. – Continua a ir para a caixa de correio.

Olhei para o meu relógio. Meio-dia e dez.

Meio-dia e quinze.

Meio-dia e vinte.

- Disseste a que horas terminava o prazo quando deixaste a mensagem? – perguntou a Marlene, olhando para ambos os lados da rua, ansiosamente.

- Sim – respondeu a Lucy. – Disse meio-dia e meia. Vou tentar ligar de novo.

Estava prestes a marcar o número quando a Izzie me agarrou o braço.

- Aqui vem ele – gritou enquanto o James fazia a curva a voar na sua bicicleta.

Parou com um guinchar de travões e tirou um sobrescrito da mochila.

- Boa sorte – desejou enqaunto entregava.

- Obrigada – gritei por cima do ombro enquanto corria para o interior.

Desta vez, não ia arriscar.

Fui directamente à sala dos professores e procurei a stôra Watkins. Queria ser eu própria a pôr a minha revista nas suas mãos.

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