Bem Vindo à Família
A imagem de Ella havia acabado de aparecer no pátio principal da mansão Malfoy. Ela passou a mão nas vestes, tentando inutilmente desamarrotá-las, e quanto melhor sua roupa, menos a mãe repararia nela. Não queria ser o centro das atenções daquele almoço em família, tinha de esconder os acontecimentos de sexta e sábado, e, muito embora conseguisse disfarçar o que sentia, sempre acabada deixando escapar algo aos olhares da mãe, que, conseqüentemente, chegaria aos ouvidos do pai.
Ao passar pelo canteiro de rosas brancas de Astoria, sorriu, lembrando-se de Albus. Ele possuía, no centro da sala de estar do apartamento, um quadro pequeno, com duas ruivas, uma mulher e uma pequena criança, ambas segurando uma rosa entre os dedos. Provavelmente a mãe e a irmã.
Balançou a cabeça, tirando as imagens do moreno de olhos verde de sua mente. Seu pai possuía um talento admirável para a Legilimênsia e a última coisa que precisava era dele bisbilhotando em sua mente e encontrando as imagens da noite de sexta.
- Mente fechada, Ella. Mente fechada. – falou para si mesma.
Entrou pela porta dos fundos da Mansão, teria de dar uma volta grande demais apenas para entrar pela porta principal. A primeira coisa que viu ao entrar na cozinha da casa foi uma criaturinha magra e com grandes íris acastanhadas, que ao ver Ella, ficaram mais arregaladas.
- Senhorita Malfoy veio para o almoço! – exclamou o elfo, pulando de alegria.
- Mas é claro, Hag. Não perderia isso por nada neste mundo. – o que não era exatamente verdade, mas gostava de agradar o elfo, que era sempre tão bom para ela. – Aonde estão o senhor e a senhora Malfoy?
- Na sala de leitura, senhorita. Estão conversando com o menino Malfoy.
- Scorpius está aqui? – o elfo afirmou com a cabeça. – Desde quando?
- Chegou hoje cedo, senhorita. Hag o viu entrar na ponta dos pés para não acordar os meus senhores. Eram seis horas quando abriu a porta.
Ella franziu o cenho. Scorpius nunca se importava em não incomodar os outros, a menos que estivesse escondendo algo.
- Certo. Obrigada Hag. – Ella fez um breve aceno com a cabeça, deixando o elfo voltar para seus afazeres perto do fogão. – Avise-nos quando o almoço estiver servido.
- Avisarei sim, senhorita. – Hag confirmou com a cabeça, depois voltou a focar-se em descascar mais batatas.
Após ouvir aquelas informações, começou a levantar hipóteses sobre o que Scorpius estaria fazendo enquanto caminhava até a sala onde estava a família. Algo teria acontecido naquela viagem à Escócia e o irmão estava tentando ocultar isso.
Passou pelos quadros dos ancestrais, ignorando mais uma vez os olhares frios que estes lhe lançavam. Eram fofoqueiros e sempre conversavam entre si sobre o que acontecia na casa, e após Ella decidir se mudar e trabalhar no ministério, a antipatia dos antigos patriarcas por ela aumentou.
Como Hag falara, lá estavam os três Malfoy restantes na sala de leitura. Ali não era exatamente uma sala de leitura, era para receber visitas, porém era também o lugar favorito de Draco ler os jornais matinais, então, acabou ganhando o apelido.
- Ella! Minha querida, pensei que não fosse aparecer mais. – Astoria ia se levantar, mas Ella apressou-se para impedi-la. Sua saúde andava fragilizada de uns tempos para cá, e não ia fazer a mãe se levantar à toa.
- Que isso, mamãe. – Ella sorriu brincalhona. – Almoço de domingo é sagrado. – virou-se para o irmão, que estava sentado ao lado da mãe. – Não esperava vê-lo hoje, irmãozinho. Qual motivo do retorno antecipado?
- Jack tinha compromisso hoje, e ninguém merece ficar sozinho em Edimburgo. – respondeu o loiro mais jovem com simplicidade, embora fitasse o chão.
- Nunca foi problema para você arrumar novas companhias. – Ella continuou analisando-o e, ao mesmo tempo, tentando disfarçar na frente da mãe. – Mas você tem razão, em Edimburgo é preciso ter companhia, senão a viagem fica monótona.
Draco, que até agora não pronunciara uma só palavra, pôs o jornal de lado, sobre a mesa de madeira em frente à sua poltrona favorita. Seu olhar cruzou com o de Ella, agora esperava que a filha fosse cumprimentá-lo.
- Papai. – Ella abaixou-se, assim como fizera com Astoria, e depositou um beijo na bochecha de Draco. Ficou imaginando se ele já sabia que ela tinha conhecimento da carta que o chefe recebera no dia anterior. As notícias corriam rápido pelos corredores do ministério, especialmente as secretas. – Como está o senhor?
- Bem, Ella. Muito bem. – Draco acariciou o rosto da filha, notando um pequeno arranhão acima da fina sobrancelha loira dela. – Pelo visto você anda passando muito tempo naquele maldito local de treinamento.
- Não é assim também, pai. Não seja implicante. – Ella suspirou. O pai nunca deixava nada passar em branco.
- Ah, não? Então por que a senhorita fez uma visita ao St.Mungus nessa sexta? – Draco arqueou a sobrancelha direita, assim como ela fazia.
- Se o Mayers é um porco vesgo eu não posso fazer nada. – Ella deu de ombros.
Draco revirou os olhos, já espera uma resposta como aquela. Scorpius era o único que achou graça naquele comentário, também não tinha muita simpatia por Mayers. Já Astoria arregalou os olhos, ainda tinha esperanças de transformar a filha em uma verdadeira lady da sociedade bruxa, muito embora fossem míseras esperanças.
- Ella! – exclamou Astoria. – Ainda não sei de quem você puxou esse linguajar, não é apropriado para uma dama.
- Desculpa, mamãe. – a loira sentou-se na poltrona ao lado da de Draco. Cruzou as pernas e passou a observar novamente o irmão. Ele estava mais calado que o normal, parecia cansado e um pouco abatido também. Uma viagem rápida à Escócia não faria tudo aquilo, ainda mais porque nessas viagens Scorpius quase não tinha de mexer um dedo para trabalhar. – Como foi a viagem, Scorpius?
- Cansativa. Os investidores da empresa não são fáceis de lidar. Depois passo os detalhes para o senhor, pai. – Draco assentiu, sem tirar os olhos do jornal. Já tinha voltado à leitura após a reposta sarcástica de Ella. – Fiquei sabendo da sua promoção.
- Agora eu posso te dar ordens de prisão, então fique esperto. – brincou ela.
Ella continuou conversando com a mãe e o irmão, pois o pai permanecia calado. Não demorou mais do que alguns minutos para Hag aparecer à porta, avisando que o almoço estava sendo servido. Astoria e Scorpius foram na frente, Ella preferiu esperar pelo pai, ainda queria confrontá-lo sobre a carta.
Ella fitava-o de forma impaciente, e Draco percebeu isso. Deixou o jornal sobre a mesa de centro e passou a encará-la nos olhos.
- O que foi, Ella?
- Bem, vamos aos fatos. Meu chefe recebeu ontem uma carta igual a que o senhor recebeu há alguns anos atrás, com o mesmo símbolo da fênix. Não é muita coincidência?
- Aonde quer chegar com isso? – Draco ergueu a sobrancelha direita. Não tinha muita paciência com aquele tipo de assunto.
- O senhor pertence ou não à tal Ordem da Fênix? Porque se ela está reunindo seus membros novamente, é porque tem algo de errado. E, bom, não sou eu quem quer ser pega desprevenida caso um Lorde das Trevas II comece um novo extermínio de bruxos e trouxas.
Draco não respondeu de imediato. Pensou por um momento no que dizer, ou em uma mentira muito convincente. Mas no fim das contas, sabia perfeitamente que a filha parecia um cão farejador, e sabia dizer perfeitamente quando alguém estava mentindo ou não.
- Por que quer saber, Ella? – Draco caminhou até a porta, depois fez sinal para ela acompanhá-lo.
- Já não lhe dei motivos suficientes?
- Primeiro: isso não lhe diz respeito; Segundo: deixe isso para lá e vamos almoçar. – Draco se afastou ao chegarem na entrada da sala de jantar. Ao todo, eram quase quarenta lugares, mas só haviam pratos em quatro em especial, na ponta esquerda da mesa. O loiro sentou-se na ponta, como de costume, agora só faltava Ella ocupar seu lugar ao lado do irmão.
Ella praguejou baixo e sentou-se na cadeira ao lado da que Scorpius ocupava. Forçou um sorriso e entrou na conversa de Astoria e Scorpius sobre como seria o Natal naquele ano, mesmo que ainda faltassem dois meses e meio.
Foram poucas vezes que Ella falou durante o almoço, abria a boca apenas para comer e responder às perguntas da mãe sobre como estava o trabalho, ou se estava se alimentando bem, ou até mesmo se havia um novo pretendente, essa Ella deu uma escapulida com uma resposta breve. Não havia nenhum novo pretendente, e também não iria falar em pleno almoço familiar que passou a noite com o filho do meio dos Potter, isso certamente faria seu pai enfartar antes da sobremesa.
A comida estava divina, o carneiro em especial era a especialidade do elfo da casa, que sempre fazia quando podia, já que era um dos pratos preferidos de Ella. Depois que todos acabaram a sobremesa, cada um rumou para um canto da casa, Astoria subiu para o quarto, para descansar um pouco; Draco foi trancar-se no escritório com o pretexto do trabalho, mas Ella sabia muito bem que ele iria fofocar com alguém sobre a conversa que teve com ela antes do almoço; e Ella seguiu Scorpius para um passeio pelos jardins, assim teria tempo para conversarem melhor.
Os dois Malfoy andaram pelo caminho de pedra até uma pequena fonte, perto do canteiro de rosas de Astoria. Lá havia um banco de madeira de frente para a fonte, onde apenas Ella se sentou, já Scorpius ficou andando de um lado para o outro, impaciente.
- Eu sabia que tinha alguma coisa errada! – exclamou Ella, fazendo o rapaz revirar os olhos. – Quanto dinheiro você perdeu dessa vez? Mais precisamente, quantos milhares de galeões foram para o ralo?
- Nenhum mísero nuque, querida irmã. – respondeu Scorpius com uma ponta de sarcasmo na voz. – O problema é outro, e o velho não vai gostar nada disso.
- Fale de uma vez, pombas!
- Eu tenho um filho. – Scorpius praticamente cuspiu a resposta. – Um garoto de dois anos.
- Ah, é só isso!? Do jeito que você é, já deve ter uma dúzia espalhada por aí. – debochou Ella.
- É sério. – Scorpius tamborilava seus dedos longos e finos na estátua de pedra ao seu lado, produzindo um irritante barulho. – Eu recebi a carta na semana passada. A mãe do garoto morreu e agora a custódia é minha!
- E você tem mesmo que cuidar do fedelho?
- Ella! – exclamou Scorpius incrédulo com a frieza da irmã. – É meu filho, é um Malfoy. Eu tenho a obrigação de fazer isso.
Ella se surpreendeu com a resposta do irmão. Era raro Scorpius aceitar responsabilidades, a única que tinha até o momento era a empresa da família, e Draco sempre o vigiava bem de perto para ver se não estava aprontando alguma besteira. Talvez a notícia da paternidade seja algo bom.
- E o papai? O que ele disse? – indagou Ella.
- Você acha que se eu já tivesse contado ainda estaria aqui na Mansão? Abra os olhos, Ella!
- Deixa de ser idiota, Scorpius! Se o filho fosse meu, ai já seria outra história, mas você é o primogênito e ainda é homem, ele não vai fazer nada. Ohh, nunca pensei que algo tão machista fosse sair da minha boca. – Ella meneou a cabeça em negativa, fazendo Scorpius rir levemente. – Conte para ele, e, bom, se acontecer o pior, o sofá da minha sala estará à sua espera.
- Você não está ajudando, Ella.
- Eu sei. E quando o garoto chega?
- Em uma semana. – Scorpius retornou a andar em círculos, mas antes disso, tinha enfiado a mão no bolso esquerdo da calça e pegou a carteira, dentro desta, estava uma foto do menino.
Ao ver a fotografia, Ella abriu um leve sorriso. A criança lembrava bastante o irmão quando pequeno, tinha os olhos acinzentados e cabelos platinados escorridos, mas não tão platinados como os de Draco ou de Scorpius. As bochechas eram rosadas e tinha um sorriso traquina nos lábios, enquanto acenava com as duas mãos.
- Ele é lindo, Scorpius. – Ella devolveu a carteira, e Scorpius a guardou no bolso. – Papai não vai conseguir ficar bravo depois de ver a foto do menino.
- Quem sabe, ele conseguirá quebrar o muro de frieza de Draco Malfoy.
Ella acabou convencendo-o a falar logo com o pai. Scorpius estava temeroso, pois Draco detestava escândalos sociais, afinal de contas, os Malfoy ainda tinham um nome a zelar.
Scorpius adentrou no escritório, deixando a porta entreaberta para Ella escutar a conversa.
Os olhares dos ancestrais nos quadros caíram sobre o rapaz, o pior era o do avô, Lucius. Se fosse por ele, todos os quadros da mansão estariam cobertos com uma grossa lona. Desde criança, nunca gostou daqueles olhares frios vigiando-o, especialmente quando eles o deduravam para o pai quando fazia alguma traquinagem pela casa.
Draco escrevia algo, ao perceber a presença do filho, parou de imediato e o encarou.
- O que foi, Scorpius? – indagou Draco, guardando os óculos na caixa preta ao lado do tinteiro.
- Pai, tenho boas notícias. – Scorpius forçou um sorriso nervoso. – O senhor vai ser avô.
Draco, como de costume, não disse nada a principio, ainda assimilava a informação. Quando finalmente percebeu que haveria sim uma nova geração da família Malfoy, arregalou os olhos e elevou a voz.
- O que?! Como isso foi acontecer?
- Bom, eu não vou dar detalhes, acredito que o senhor tenha uma noção de como aconteceu...
O silencio bateu no ambiente, juntamente com a tensão. Draco permanecia calado, e não tirava os olhos do filho, deixando Scorpius mais nervoso ainda.
- E quando a criança chega? Faltam quantos meses?
- Em uma semana, na verdade. – Scorpius deu alguns passos para trás, por precaução, pois a veia na testa do pai já estava começando a aparecer. – Felicidades?
- Scorpius!
Quando Draco bradou, Scorpius já estava perto da porta o suficiente para escapulir para fora do escritório.
Ao lado da porta, Ella o esperava, ansiosa. Ouvira mais precisamente as partes com gritos, queria mais detalhes.
- Então? Como foi? – perguntou Ella, seguindo Scorpius pelo corredor mal iluminado.
- Bom, é melhor você contar para o pai que está com um Potter, assim dá para garantir que eu não seja expulso do testamento.
Ella parou de andar na mesma hora em que ouviu o nome Potter, e puxou o irmão sem um pingo de delicadeza pelas vestes.
- O que você disse? – inquiriu Ella de forma ameaçadora.
- O que você acabou de ouvir: Que está com um POTTER! – Scorpius fez questão de aumentar o tom de voz ao pronunciar a última palavra. Seu sorriso desdenhoso fazia Ella ficar com mais raiva ainda, e por isso não o tirava do rosto nem sobre ameaças. Conhecendo a irmã como conhecia, aquela história renderia bons momentos, especialmente quando chegasse aos ouvidos do pai. – Nunca fiquei tão feliz em passar na casa do Morgan.
- Aquele ‘bocudo maldito! – Ella soltou o braço do irmão e o encarou escandalizada. Tinha de aprender de uma vez por todas a não contar tudo para o amigo fofoqueiro. – Amanhã eu vou mandá-lo a um encontro com Merlin, e de maneira bem dolorosa.
Scorpius gargalhou.
- Qual dos dois? – Ella fechou a cara, mas Scorpius persistiu. – Ou vai me dizer que foram os dois, e ao mesmo tempo. Mas que irmã promiscua eu tenho!
- Cala a boca, Scorpius! E para a sua informação, foi o Albus, ok?!
- Ainda bem que se lembra qual dos dois, porque pelo jeito que Morgan descreveu o quanto você bebeu naquela noite, não me admiraria que saísse beijando o Potter errado por ai.
- Eu juro que vou incluir você no mesmo buraco que Morgan, quando estiver enterrando os dois. – falou Ella, friamente. – O pai não pode saber disso, está me entendendo?
- Por que? Acho que ele ficará feliz em saber que você tem um namorado. Papai ainda tem esperanças que você vai virar mulher de forno e fogão.
- Mas nem que a humanidade esteja passando fome, eu vou para a cozinha! – ela ria sarcástica, e Scorpius a acompanhava. – Vamos para o seu quarto, não quero ter um ataque em pleno corredor.
- Correção: você não quer ter um segundo ataque, porque um você já teve. – Scorpius caminhava ao seu lado a passos rápidos, só faltava Ella sair correndo no corredor de tão rápidas que estavam as passadas dela. – E é sério isso entre você e o Sevie?
- E pare com esse apelido, já irritou o suficiente na época da escola. – Ella o cortou. – Se é sério? – aquela era um boa pergunta. – Claro que não! Foi só uma vez, e porque eu estava muito chapada.
Ella ainda não sabia como conseguia subir a escada pulando os degraus com aquele salto fino. Quanto mais rápido estivesse no quarto de Scorpius, melhor. O pai tinha irritante mania de chegar sem que ninguém percebesse, e a última coisa que precisava era dele escutar a conversa sobre quando o filho do seu maior inimigo dos tempos de escola passou a noite com sua adorada garotinha. Ficou dispensando Scorpius até que ambos estivessem no quarto dele.
Fazia um bom tempo desde que entrava ali, e nada parecia ter mudado. As paredes azul-marinho, o tapete verde escuro com o símbolo da antiga casa de ambos, na parede estava pendurado um quadro com a camisa que usava quando era apanhador do time da escola – Ella ainda achava aquilo patético, ainda mais porque detestava quadribol. Sobre a escrivaninha de madeira, estavam alguns livros de economia e relações empresariais, além, claro, de uma foto dele entre Ella e a mãe, tirada há alguns anos.
Enquanto Scorpius fechou a porta, Ella deitou-se na cama de casal e ficou fitando o teto encantado, igual ao de Hogwarst. Aquilo foi idéia dela, tinha um igual no antigo quarto, adora ficar encarando as estrelas antes de dormir. Naquele dia, o sol quase não aparecia, estava todo coberto por nuvens.
- Então, irmãzinha, tem uma queda pelo Potter, é? – Scorpius deitou ao seu lado, e passou a observar o céu do teto também.
- Pensei que tivesse problemas mais sérios para lhe resolver do que me atazanar. – falou ela, sarcástica.
- Isso é mais divertido. – Scorpius a cutucou no pescoço, fazendo cócegas.
- Claro que é mais divertido encher o saco dos outros. – falou Ella rindo. – Mudando de assunto, você sabe que essa criança vai mudar a sua vida, não é?
- Perfeitamente. Vou dizer adeus às minhas festas no final de semana.
- Morra de inveja, pois eu vou poder festeja à vontade.
- E, veja se toma cuidado para não acordar com o outro Potter na cama, viu? – ele gargalhou.
- Scorpius! Jogue praga em outro! Eu não quero nada sério agora. – e realmente ele não queria. Embora não tivesse um namorado fixo há um bom tempo, desde que saíra da escola.
- Claro que quer. Sei muito bem que você está doidinha para acordar com o Sevie depois de uma longa noite de sexo selvagem e...
- Scorpius Hyperion Malfoy, é melhor você parar por aí antes que eu lhe arranque um rim. – ameaçou a loira.
- Tudo bem, eu ainda tenho outro mesmo. Ahh, fala sério, Ella, conhecendo Albus Severus como eu conheço, ele gosta de você, ou não te levaria para cama.
- Ohh, então quer dizer que vocês são amiguinhos agora? E faça-me o favor, Scorpius, com o tanto de vodka que ele tomou, levaria até Murta-que-geme para a cama.
- Essa não é uma boa imagem para a minha mente. – riu o rapaz. – Vai encontrá-lo de novo?
- Contando com o fato e que nos vimos duas vezes em menos de dois dias, vou deixá-lo vir atrás de mim.
- Você é quem sabe, Ella, mas o Potter não é ruim. Pode ser um panaca, mas não é ruim.
- Eu sei que não. – Ella falou tão baixo que parecia estar dizendo isso para si mesma.
A semana transcorreu normalmente, e Ella não teve notícias de Albus. Achou melhor assim, dessa maneira conseguia focar mais no trabalho, pois cada vez que via aquele moreno na sua frente, perdia completamente o juízo.
Lá estava ela novamente na sala de estar com os pais, apenas Scorpius estava ausente, mas já estava para chegar e com o mais novo membro da família Malfoy. Astoria estava radiante de felicidade com a vinda do neto para a mansão, mas Draco mantinha-se indiferente da situação. O pai não tocava no assunto, e apenas balançava a cabeça quando Astoria lhe contava como decorou o quarto do menino.
- Você viu como ficou o quarto, Ella? – perguntou Astoria à filha, que olhava distraída a vista ao lado de fora da janela.
- Vi, mamãe. Ficou lindo, menos os detalhes das vassouras girando perto da cama, ele não é um bebê, mãe.
- Claro que é, Ella. Ainda não tem nem três anos. – Astoria chamou a atenção do marido, pegando em sua mão. - Achou uma babá, Draco?
Ella fez força para não rir da cara de descaso que o pai fez ao ouvir aquela pergunta. Ele nunca na vida, nem na época em que ela e Scorpius eram crianças, entrevistou uma mulher para o cargo de babá. E provavelmente continuaria assim.
- Não, andei ocupado essa semana com a ausência de Scorpius na empresa. Peça para seu filho fazer isso, já que a criança é responsabilidade dele. – respondeu Draco, seco.
Astoria já estava acostumada com aquele jeito de Draco, e não deixou-se afetar com a frieza do marido.
- Não só do Scorpius, Draco. Ele é nosso neto.
- E filho dele.
Astoria já ia responder, mas calou-se ao ouvir um barulho vindo do hall. Era a porta principal fechando-se. Levantou-se com a ajuda da filha, e dirigiu-se com Ella para ver os recém-chegados. Draco esperou até que as mulheres tivessem saído para começar a se mover até lá. Estava se fazendo de difícil, como de costume.
Ella viu o menino da foto em frente à porta, olhando para tudo ao seu redor bastante curioso. Estava acanhado e segurava na perna de Scorpius, que pegava alguma coisa dentro da mochila azul e colorida, pertencente ao menino. Ele se encolheu ainda mais ao perceber a presença das duas mulheres, abraçou a perna do pai, fazendo os demais rirem discretamente.
Scorpius ajoelhou-se perto do garoto, e cochichou alguma coisa no ouvido do menino, que apenas assentia com a cabeça. Depois afagou a cabeça do filho e apontou para as duas ali perto.
- Aquelas são sua avó Astoria – apontou com o dedo para a mãe, depois passou para Ella. – e sua tia Ascella. Já tinha lhe contado delas no caminho para cá.
- Ascella. – repetiu com sua voz fina de criança.
Ella arregalou os olhos e já estava pronta para praguejar algo, mas lembrou-se da presença da criança, e de como elas guardavam tudo que ouvia. Não queria ser a culpada do sobrinho ter uma boca suja igual a dela.
- Ella, ok? E-l-l-a. – soletrou o seu nome, embora soubesse perfeitamente que o garoto não compreendia, mas valia a intenção.
- Vamos, Ethan, dê um abraço na sua avó. – Scorpius deu um leve empurrão no menino, para ele começar a caminhar até onde estavam Astoria e Ella. – Sei que ela quer muito te conhecer.
Ethan lançou um olhar receoso ao pai, mas acabou cedendo, e foi até onde as duas mulheres estavam. Astoria tinha um brilho no olhar que há muitos anos não aparecia, não se agachou para pegar a criança no colo, não tinha forças para isso. Foi Ella que o erguer até a altura de Astoria, para que a mãe pudesse beijar o neto e afagar seus cabelos.
- Oh, Scorpius, ele te lembra tanto quando criança. – Astoria sorriu ao ver que Draco estava ali, parado ao lado da porta. – Aquele moço rabugento ali é o vovô, Ethan.
Draco revirou os olhos e foi até Scorpius e começou a falar-lhe algo aos cochichos, para que mais ninguém ouvisse.
- Vamos levá-lo para conhecer a casa, Ella. – sugeriu Astoria, vendo que Scorpius e Draco ainda cochichavam algo.
- Mãe... não é bom para a senhora ficar andando de um lado para o outro. Depois o Scorpius faz isso. – Ella ajeitou o menino em seus braços, que teimava em escorregar para o chão.
- Não seja tola, Ella. Eu estou ótima. – vendo que a filha já abriu a boca para contradizer, Astoria acabou cedendo. Quando o assunto era sua saúde, podia passar o resto do dia discutindo com os filhos e não chegariam a um acordo. – Então vamos levá-lo para cima, assim ele conhece o seu quarto.
Ella e Astoria sumiram pelo corredor com a criança, deixando Scorpius e Draco sozinhos com as malas do garoto.
- Estou falando sério, Scorpius. Não quero ouvir mais nenhuma de suas aventuras noturnas a partir de hoje, entendeu? Suas responsabilidades triplicaram com essa criança, e tudo que ele menos precisa é de várias “tias” para substituir a mãe.
- Eu sei, pai. – Scorpius abriu um sorriso bobo. – Mas ele não é lindo, pai?
Draco meneou a cabeça, e Scorpius podia jurar que viu um sorriso nos lábios do pai.
- É, ele é um verdadeiro Malfoy. – Draco pôs a mão no ombro do filho, depois começou a fazer seu caminho de volta para a sala, e de lá para o escritório. – Chame o imprestável do elfo para levar a bagagem lá para cima.
Scorpius o fez, chamou por Hag, que logo apareceu e como lhe foi dito, legou as malas para o andar de cima em um segundo. Quando Scorpius chegou lá, deparou-se com a cena de Hag arrumando as roupas de Ethan no guarda-roupa colorido de verde e azul, as cores preferidas de Scorpius. Adiantou-se até Ella, que estava sentada na cama da criança observando a mãe brincar com o sobrinho, e sentou-se ao seu lado.
- Ele pergunta muito pela mãe? – indagou Ella.
- Um pouco, mas está diminuído com as novidades. É um novo mundo para ele, antes era criando como uma criança trouxa, o que é um verdadeiro absurdo. – respondeu Scorpius, contrariado.
- Deixa de ser implicante, parece o papai. – Ella revirou os olhos.
Ethan aproximou-se dos dois e os puxou pela manga das vestes para se juntar à brincadeira. Agora parecia ter se soltado, conversava com a avó tranquilamente, contando como era sua vida na Escócia.
- Eu ficava na creche até mamãe sair do trabalho. – contou o menino. – Ela era gar-gar-garçç-...
- Garçonete. – completou Ella.
- Isso. Sempre saía às quatro, depois a gente ia para o parque.
Astoria abriu um sorriso doce e o abraçou, via que ele ainda estava sentindo com a morte da mãe e sentia saudades.
- A vovó promete que vai te levar para passear pelos jardins todos os dias, ok? – ele assentiu com a cabeça. – Ótimo. Você vai se divertir muito aqui, Ethan, eu prometo.
Ella lançou um olhar preocupado à Scorpius, que compreendeu a mensagem. Ambos temiam que com aquele entusiasmo todo, a saúde da mãe piorasse. Tinha acabado se sarar de uma pneumonia, e não eram baixas as chances desta voltar.
A única coisa que Ella tinha certeza era de que aquela criança iria mudar a rotina de todos naquela casa, até mesmo de Draco.
Draco estava no escritório, quando o elfo entrou.
- O que foi? – perguntou Draco, num rosnado. Odiava ser interrompido na hora que estava trabalhando.
- Tem um senhor aqui para vê-lo, mestre Malfoy. – o elfo olhava nervosamente para a porta. – Devo dizer que o senhor o receberá ou devo mandá-lo embora.
- Quem é?
- Harry Potter, senhor. Diz que é importante.
Draco suspirou, irritado. Sabia perfeitamente o porquê daquela “visita” e não estava com saco para receber “menino que sobreviveu”. Fez sinal para o elfo chamá-lo, pois se não o recebesse hoje, ele continuaria insistindo por aquele encontro.
Logo após o elfo sair pela porta, apareceu Harry Potter. Era o mesmo de sempre, óculos, cicatriz, magricela – talvez nem tanto – e com os mesmos cabelos arrepiados de sempre. Draco não se levantou, estendeu a mão apontando para a cadeira à frente da mesa.
- A que devo a honra? Harry Potter na minha humilde casa. – ironizou Draco.
- Corta a conversa fiada, Malfoy. O assunto é sério. – Harry puxou uma das cadeiras e sentou-se.
- Claro que é sério, senão não teria chegado ao ouvido da minha filha. – falou Draco, com raiva. – Lhe avisei que não queria meus filhos envolvidos com essa Ordem maldita.
- Você disse envolvidos, e não que eles soubessem da existência. Ademais, Ascella se sairia bem. – Harry tamborilava os dedos na mesa, irritando Draco mais ainda.
- O que quer então, Potter? – perguntou Draco, cortando o moreno antes que dissesse mais alguma coisa.
- Queremos saber se a Ordem tem o seu apoio, Malfoy. O pacto diz claramente que...
- ....que na próxima situação de perigo contra a comunidade bruxa, eu teria de contribuir. Tenho outra escolha?
- Não. – negou Harry.
- Então já tem a minha resposta, Potter. Que são os envolvidos dessa vez? Não é uma rebelião qualquer, não é mesmo? – Draco sorriu com desdém.
- É Nixon, e tem conseguido juntar bastante pessoal. Está insatisfeito com o primeiro ministro há algum tempo, e tem o mesmo pensamento de Voldemort ao se tratar de trouxas.
- Pelo que conheço de Nixon, ele não é nada de mais. É um dos nobres herdeiros de fábricas e só. Por que tanta dor de cabeça?
- Ele é bom de lábia, Malfoy. E você sabe disso. Conseguirá convencer um bom número para um golpe de estado, todos sabem que ele sempre desejou um pouco de poder aqui e ali.
- Golpe de estado?! Não ouço isso há muito tempo, Potter. Deve até ter saído de moda essa expressão. – riu Draco, sarcástico. – Está fazendo tempestade em como d’água, Potter. Se Voldemort caiu, Nixon irá para o buraco mais rápido ainda.
- Melhor prevenir do que remediar, Malfoy. Quando convocarem uma reunião, é melhor que esteja lá. – Harry de levantou e fez um breve aceno com a cabeça. – Não tente nada dessa vez, pois não terá uma segunda chance.
Harry deixou o escritório e sorriu ao perceber que Draco Malfoy bufava de raiva. Passou pelo mesmo lugar por onde chegara, mas acabou se encontrando com um dos Malfoy, na verdade, um e meio.
- Ella. – Harry parou de andar, e ela aproximou-se carregando uma criança loira nos braços.
- Senhor Potter? – Ella estranhou a presença do chefe na casa do pai. – O que faz aqui? Algum problema?
- Não é nada, vim tratar de negócios com seu pai, apenas isso. – ele sorriu. – Eu não conheço esse aí. – apontou para Ethan.
- Meu sobrinho Ethan, filho de Scorpius. – Ella abriu um sorriso amarelo. Harry passou a mão sobre a cabeça de Ethan, e nada dizia.
- Prazer, rapazinho. – ele enfiou a mão no bolso e tirou um pequeno envelope amarelado. Entregou para Ethan segurar, já que ela mantinha as duas mãos ocupadas. – Albus pediu para que eu entregasse à você se a visse. Bom, te vejo na segunda. Tchau.
Ella continuava atônita mesmo depois que o chefe deixou o cômodo. Sentou-se com Ethan no primeiro degrau da escada, ele ainda segurava o envelope. Não tinha muita certeza que queria abrir aquela carta, mas a curiosidade bateu mais forte.
- Vamos ver o que tem aqui, Ethan? – Ella pegou a envelope e o abriu. A primeira coisa que viu foi a assinatura caprichosa de Albus no final do bilhete.
Ella,
não tive como encontrá-la essa semana. Gostaria de almoçar contigo na terça, para conversarmos. Espero que não fique chateada de ter usado meu pai como pombo correio, mas como ele falou que ia encontrar-se com seu pai, achei que seria o meio mais rápido e fácil de receber essa mensagem.
Deve estar pensando que eu não iria mais entrar em contato, mas não fugirá assim tão fácil de mim, senhorita Malfoy.
N/A: Yeahh, novo cap pessoal!! O que acharam? Quem não viu, tem a foto do Ethan já, ele é um fofo, né? ^^
Bom, desculpa a demora, mas a escola apertou e continua apertando mais ainda. Tentarei não demorar tanto para att a fic, enquanto isso, façam a parte de vocês e comentem, ok?
Muito obrigada por lerem a fic, e fico grata com os comentários que estou ganhando. Enquanto não vem o cap 4, se quiserem, dêem uma passada nas minhas outras fics. Beijos e até a próxima.
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