O Distintivo
Ella apoiava as costas contra a parede do corredor tumultuado. Balançava a cabeça de acordo com as batidas vindas do fone de ouvido, não ouvindo a algazarra de vozes ali. Correu os olhos cinzentos pelo lugar, era muita gente para um lugar tão pequeno, entretanto, não havia como o Departamento de Auroros ser um local organizado e silencioso, só haviam ali homens e mulheres que não se encaixavam para o perfil de sentar-se atrás de uma bonita mesa num escritório bem decorado.
Baixou o olhar para o chão e visualizou o rosto enfurecido do pai naquele momento. Riu. Ele deveria estar possesso, ainda mais sabendo que o irmão estava ao norte, curtindo suas libertinagens com os amigos. Com o irmão mais velho estava longe, sobrava somente ela para o pai liberar suas energias e neuroses. Sabia que iria ouvir bastante no almoço rotineiro de domingo, mas não se importava. Aquela era uma boa chance e se orgulhava disso, fora chamada ali pelo que sabia fazer e não se era filha de um dos homens mais importantes do Ministério. Tinha quase certeza que sobre o distintivo.
- Malfoy. – ouviu alguém chamar pelo seu nome.
Tirou os fones de ouvido e guardou o Ipod dentro do bolso do casaco, depois seguiu para dentro da sala onde a mulher a chamara. No momento em que pisou ali, viu que estava fora do pandemônio do corredor. A sala era grande e cheia se quadros, mas com apenas um conjunto de sofás perto da janela com vista para a cidade. Uma mulher de cabelos negros e corpo robusto, sentada atrás de uma mesa de tonalidade clara, escrevia rapidamente alguma coisa em letra caprichosa. Ao ver que Ella já se encontrava ali, ergueu a cabeça e abriu um gentil sorriso.
- O senhor Potter irá recebê-la agora. – a mulher ajeitou a roupa ao se levantar e abriu a porta para Ella passar.
A jovem prendeu os cabelos loiros em um rabo de cavalo, tirando alguns fios de seu rosto e adentrou na sala ao sado, que era o oposto da que estava até segundos atrás. Era um ambiente singular para o escritório do chefe do Departamento de Aurores. Havia algumas estantes preenchidas com poucos livros, a maioria dos espaços vazios era ocupada por porta-retratos ou alguns objetos estranhos. O carpete avermelhado deixava o local um pouco aconchegante, mas desafiador ao mesmo tempo. No outro extremo, alguns móveis para guardar arquivos ocupavam grande parte da parede oposta à das estantes, deixando apenas um pequeno espaço no fundo para a mesa de mogno e o ocupante dela.
Quase nunca a Harry Potter em pessoa, mas podia-se dizer que era um homem de aparência normal. Magro, um pouco alto, cabelos negros mixados com algumas mechas grisalhas e, claro, os brilhantes e muito comentados olhos verde. Ele exibia um olhar calmo, mas a testa enrrugada, o que não era bom sinal. Não mexia com nada, sua atenção estava voltada inteiramente à loira que acabara de entrar.
- Se aproxime, senhorita Malfoy. – sua voz saiu concisa.
Ella andou até o fundo da sala e sentou-se na cadeira à frente do moreno. Passou alguns segundos antes que algum dos dois começasse a falar, e fora justamente ela.
- Olha, senhor Potter, eu não tenho certeza do motivo exato ‘deu estar aqui, mas se for por causa da confusão de semana passada, juro de pé junto que foi culpa do Mayers. – gesticulava devagar, como sempre quando queria embromar alguém.
- Calma, menina. – Potter falou calmamente, rindo. Estava com o histórico em suas mãos, e aquela “confusão” que ela citara, não era a única. Havia uma enorme lista com ocorridos desde a escola. Ascella Malfoy não era a pessoa mais exemplar do mundo, entretanto, possuía um caráter genuíno, assim como sua habilidade para duelos. – Não estou aqui para criticá-la. Mandei chamá-la hoje para congratulá-la.
- Eu consegui meu distintivo? – Ella abriu um sorriso ansioso.
- Sim. – ele pegou uma caixa preta dentro da gaveta e estendeu para que Ella a pegasse. – Meus parabéns, senhorita Malfoy, você agora é uma de nós.
Não pôde deixar de soltar alguns gritinhos ao sentir o distintivo de prata em seus dedos. Finalmente deixara de ser uma estagiária, agora podia ir às patrulhas também e participar de todas as outras coisas interessantes que os mais velhos comentavam. E fora o poder que aquele distintivo impunha. Âs vezes gostava de meter medo nos outros, ainda mais por ter um rosto delicado e pouca altura. As pessoas conseguiam abusar disso, e geralmente era assim que suas confusões começavam, com o mau julgamento dos outros.
- Cara, senhor, muito obrigada. – Ella apertava a mão do chefe animadamente, e este não pôde deixar de rir do entusiasmo da jovem. – Agora aqueles grandalhões vão ver. E não, eu não vou quebrar o nariz do Mayers de novo, se o senhor ia perguntar. Isso foi passado.
- Eu espero que sim, senhorita Malfoy. – ele deu uma rápida piscadela para a loira que já estava de pé e preparada para deixar a sala. – Tente ficar fora de encrencas, pois agora terá que assumir a responsabilidade pelos seus atos.
- Pode deixa, senhor Potter. – ela abriu um sorriso matreiro. – Se eu for fazer alguma coisa, certamente me esforçarei para que não chegue aos seus ouvidos.
E antes que Harry Potter pudesse dizer algo, a sala ficara vazia, exceto por ele. Observou a porta se fechar sozinha e meneou a cabeça, sorrindo. Às vezes esquecia-se que de quem ela era filha.
- Julie? – chamou pela secretária.
- Sim, senhor Potter? – a mulher veio imediatamente.
- Chame o senhor Ron Weasley, sim?
- Certamente, senhor. – e desapareceu pela porta.
- Tenho novidades para ele. – disse Harry para si, olhando para o currículo de Ascella Malfoy sobre suas mãos. Sorriu de forma enviesada, não esperava que ela conseguisse seu distintivo tão depressa. – Vamos ver do que você é capaz, senhorita Malfoy.
Ella apertou a caixinha dentro das vestes novamente, e não pôde deixar de sorrir. Estava orgulhosa de si mesma, trabalhou feito louca durante aqueles dois anos e aquele distintivo era seu maior prêmio.
Parou em frente à porte de letreiro dourado. Deu algumas batidas e entrou na sala discretamente. Era incrível como as notícias corriam, pensava que ia demorar mais alguns dias até que o pai soubesse da sua promoção.
- Ascella. – falou Draco, fitando a vista do lado de fora da janela.
- Ella, pai. Ella. – a jovem suspirou, sentando-se de forma desleixada na cadeira do pai. – O senhor me chamou?
- Disseram-me que você acabou de sair do escritório do Potter. Conseguiu o que queria?
- Se o senhor está se referindo ao distintivo, eu consegui, sim. – pegou a pequena caixa e entregou ao pai. Conhecia-o muito bem, e pelo tom de voz, ele estava chateado. Deixou claro que não aprovava a idéia assim que Ella entrou para a Academia de Aurores há dois anos, e sua opinião não havia mudado.
Ele pegou o objeto e ficou algum tempo encarando o distintivo prateado.
- Ella. – o loiro depositou a caixinha sobre a mesa e, pela primeira vez desde que ela entrara na sala, encarou a filha. – Você é uma bruxa de tantos talentos, eu não entendo o porquê dessa obsessão em ser auror. É desgastante, paga mal e você ainda tem que ficar cuidando das burradas dos outros. E o Potter é um pé no saco metido a herói.
Sorriu. O pai, embora fosse muito agradecido ao menino-que-sobreviveu, ainda tinha uma certa antipatia pelo chefe dos aurores. Sempre que se cruzavam, tratavam-se com educação e laconismo, quase nunca chegavam a ter um dialogo de verdade. Velhas rixas de colégio não morrem, ela mesma tinha as algumas, e era exatamente por isso que respeitava a opinião de Draco sobre Harry Potter.
- Ah, pai. Desencana disso. – sorriu Ella. – Podia ser pior. Eu podia simplesmente me juntar na luta contra a abolição da escravidão de elfos domésticos. E, acredite, tem gente muito pior que eu naquele meio.
- Eu te internava se fizesse uma coisa dessas. – Draco riu. – Assim você mata a sua mãe de vez, já não basta ter ido morar naquele muquifo no fim do mundo.
- O senhor mesmo viu que não é nada disso. Meu apartamento é lindo. – pegou a caixa com o distintivo e guardou no bolso. Parecia que quanto mais o pai olhava para aquela caixinha, mais pulsante ficava a veia em sua testa. Ao invés de esconder com os fios platinados a pulsante veia, ele puxava os cabelos para trás, dando uma visão ainda maior, especialmente das entradas que estavam começando a se formar. – E mamãe? Sarou da pneumonia?
Draco negou.
- Mas vai melhorar. – fez uma pausa. – Agora é melhor você ir, antes que eu jogue isso aí pela janela. – disse, apontando para o bolso das vestes dela.
- Não seja vingativo, papai. – sorriu de escárnio. – Ainda tem o Scorpius para atazanar.
- Deixe de implicância com o seu irmão. Ele ainda está passando por uma fase turbulenta.
Ella riu discretamente. Era incrível como Scorpius podia passar ileso pelo pai, só porque era primogênito e ainda homem. Nessas horas tinha vontade de dedurar todas as confusões em que o irmão se metera, só naquele ano ainda. Mas sempre se segurava, seria mais divertido o pai ver com os próprios olhos o “santo” que Scorpius era.
- Bom. O senhor é quem sabe. – Ella levantou-se da cadeira e depositou um rápido beijo no rosto magro do pai. – Até domingo, papai.
- Ella?
- Sim?
- Não se arrisque tanto, e torre muito a paciência do Potter.
Ella deixou a sala sorrindo. Não foi tão ruim, pensava que passaria o resto do dia ouvindo o pai gritar que estava errada e que devia ter aceitado o outro emprego. Teve a sorte de pegá-lo de bom humor, porque tinha dias que nem ele mesmo se agüentava.
Saiu andando pelo corredor, indo na direção do Departamento de Aurores. Morgan já deveria estar subindo pelas paredes pela sua demora. Tinham combinado de se encontrarem há meia hora atrás. O melhor amigo não era a pessoa mais paciente do mundo, o que era perfeito, pois Ella também não era tão impaciente quanto ele.
- Onde está o Hopkins, Malfoy? – perguntou Ruth, uma das milhares de admiradoras de Morgan.
- No Departamento, provavelmente. – respondeu num tom irônico. Detestava aquela morena à sua frente, simplesmente a detestava. Ela era atirada demais para seu gosto, mais do que as outras.
- Ótimo! – deu um gritinho esganiçado. – Entregue isso a ele, sim? Obrigada, Ascella.
A morena saiu, deixando Ella xingando-a mentalmente e ainda segurando um pergaminho rosa. O maldito papel, além de ter cor, possuía um cheiro desagradável e enjoativo, igual ao perfume que a mulher usava.
- Nos seus sonhos, querida. – e jogou o pergaminho no lixo ali perto.
Não sabia se amaldiçoava mais a morena atirada ou o amigo que dormia com toda a população feminina de Londres.
- Ele nunca vai tomar jeito. – disse para si, soltando os cabelos e tirando a franja dos olhos.
Agora caminhava apressada por entre as pessoas. Ás vezes parava para cumprimentar algum conhecido, mas na maioria das vezes fazia um leve aceno com a cabeça. Não tinha muito ânimo para papo àquela hora do dia, estava cansada e faminta, sem contar o fato de ainda ter de procurar um restaurante para almoçar com Morgan.
Distraída, não viu quando um moreno de olhos verde passou por ela, e acabaram se esbarrando.
- Olha por onde anda! – disse ele, ríspido, limpando o líquido que manchou suas vestes.
- O cego aqui é você. – Ella nem se deu o trabalho de olhar na cara do rapaz. Apenas tinha a ligeira impressão de que já ouvira aquela voz em algum lugar. – Babaca.
- Estúpida. – mas Ella já estava suficientemente longe para não ouvir o comentário dele.
Ainda irritada do encontrão com o desconhecido, Ella desceu os três andares rapidamente pelo elevador e entrou na sala principal do Departamento bufando e pisando forte.
- A conversa com o velho foi tão ruim assim? – perguntou o rapaz deitado no sofá do canto. Os cachos castanho escuro estavam totalmente assanhados, sinal de que ele andara dormindo. Os olhos verde-escuro contrastavam com a cor das vestes, que eram do mesmo tom. Ele estava igual à todos os dias, bonitão, sorriso galanteador e malandro.
- Não, foi até muito boa. – fez uma careta. – Esbarrei com um panaca no meio do caminho. Detesto gente desengonçada.
- Mas que antipatia você está hoje, só pode ser fome! – riu o moreno, espreguiçando-se e levantando do sofá lentamente. - Vamos logo, porque eu estou faminto! Daqui a pouco eu pego esse mau humor seu.
- Isso é culpa sua! – Ella apontou para ele, rindo marota. – Já falei que eu não sou correio-humano. Hoje mesmo já me apareceu uma oferecida pedindo para eu dar uma de coruja para o seu lado.
- Eu não tenho culpa se elas não aceitam bem o fato de ter sido só uma noite. – Morgan deu de ombros, pegando o casaco e a carteira sobre a mesa de madeira.
- É porque elas NÃO sabem que foi só um caso de uma noite.
Morgan envolveu Ella com os enormes braços, e sorriu galanteador.
- Eu dei todos os sinais, se elas não captaram, aí já é outro departamento. – ele a soltou e foi saindo da sala, acompanhado pela amiga. – Agora vamos! Eu já estou começando a ficar rabugento também.
- Oh, cala a boca, Morgan! – riu Ella, quase correndo para alcançar os gigantes passos do rapaz.
N/Autora: Eu sei gente, mais uma fic, rsrs. Nem sei como arrumei tempo para escrever essa aqui, rsrs. Esclarecendo algumas coisas: eles estão num futuro meio distante, e sim, era um ipod mesmo da Ella. Depois vocês verão que ela adora um aparelho trouxa, rsrs. Essa fic é uma continuação do sétimo livro, mas já passando Hogwarts, provavelmente os personagens filhos também aparecerão, e, claro, a famosa família Weasley e companhia.
Eu não sei quando vou postar novos caps, tentarei escrever o mais rápido possível, mas essa fic não será muito longa, não com Black and White. E, não, eu não abandonei 10 Maneiras de Levar Um Fora, a fic só está passando por uma fase ruim e seca de idéias. Beijos e espero que gostem da fic.
Comentários (1)
Leitora nova aqui! o/ Estou amando a fic!Você escreve muito bem!!!!!Bjos:)
2011-09-13