Tempos Difíceis
festa estava bonita embora meio monótona para a maioria dos professores mais velhos que já tinham participado de muitas festas de formatura em Hogwarts. Mas os jovens se divertiam o máximo que podiam até a meia-noite. A colação tinha sido linda, com muitos bruxos presentes, já que a formatura contava com a presença dos pais dos alunos. Agora ía começar a primeira valsa, quando pais e filhos dançavam juntos abrindo a festa.
- Aceita dançar comigo, rapaz? - perguntou a Sra Evans. Sirius ficou corado enquanto aceitava o oferecimento em meio as risadas dos amigos. Antes da festa começar, Lílian tinha pedido para a mãe convidar seu amigo Sirius Black para valsar, já que a mãe do mesmo não compareceria a formatura.
* - E porque uma mãe não compareceria a formatura do próprio filho? - perguntara a Sra Evans para Lílian - Ela não gosta de ter um filho bruxo?
- Não é isso mamãe... a Sra Black também é bruxa... é que eles brigaram há um tempo, sabe? Eles não se falam direito.
- E aonde esse menino mora? Com essa mãe desnaturada?
- Não, mamãe. - riu Lílian - Ele passa as férias com o James.
- Ah, sim! Seu namorado, né?
- É... ah mamãe! Estou tão felizes que vocês estão em Hogwarts!
- Querida! Estou tão orgulhosa de você hoje... e pode deixar, viu? Seu amigo não vai ficar sem valsar não... já que você vai dançar com seu pai, Sirius dança comigo. - as duas se abraçaram.*
Aluado dançava com a mãe, Pontas dançava desajeitado com a Sra Potter... todos estavam radiantes, aproveitando o possível último dia de paz que teriam.
Depois da valsa começaram as músicas realmente esperadas e James se aproximou da namorada.
- Quantas vezes você já ouviu que está linda hoje, Lily? - perguntou.
- Nenhuma de quem realmente importa. - respondeu ela, fazendo biquinho. James abriu um sorriso enorme e respondeu:
- Você está maravilhosa... e, hummm... cheirosa!! - exclamou.
- E você está todo garanhão com essa roupa de gala. - sussurrou ela, puxando-o para um beijo.
- Ai que romântico. - zuou Remus, se aproximando dos amigos com Rabicho em seus calcanhares, que ria do comentário.
- Humm... vocês também estão bonitões. - disse Lílian, fazendo-os fingirem que coravam.
- Vai com calma se não eu vou ficar com ciúmes. - disse James.
- É, mas falta ela falar que eu também estou gostosão. - disse Sirius, chegando. Todos riram. - Obrigado, Lily. - acrescentou ele, mais sério. A menina estava abraçada com o namorado e, por cima do ombro de James, esticou o braço até o rosto de Sirius e fez um pequeno afago na orelha do rapaz, como se afagasse um cãozinho de estimação e disse:
- Para com isso, Almofadinhas. Não tem o que agradecer.
- Minha mulher não é perfeita?! - exclamou James.
- Vai, garanhão. - zuou Sirius.
- A gente vai se casar, não vai? - perguntou James para Lílian.
- Vamos. - sorriu ela, beijando-o de novo. - E vamos ter vários filinhos. - disse ela, rindo.
- Pelo menos um para cada maroto batizar. - disse James, provocando risadas nos amigos.
- Eu fico com o primogênito!! - exclamou Sirius imediatamente.
- Então o segundo já vai ser meu afilhado. - disse Remus logo em seguida... Lílian gargalhava com esse rapazes.
- E você fica com o mais novo, Rabicho. - disse James conciliador, dando palmadinhas nas costas do amigo.
- Não tem nada a ver... - ria Lílian - Nós vamos amar todos independetes da ordem em que nasçam!!
A festa seguiu de forma esplêndida e alegre como nenhuma outra festa deles seriam... e ao soar da meia-noite, os jovens do sétimo ano da Escola e Magia e Bruxaria de Hogwarts encerrarm a comemoração resmungando... em alguns casos, as amigas se abraçavam chorando emocionadas. No fim foram todos pra cama, pois no dia seguinte a segunda parte do ritual de formatura aconteceria... a última travessia do Lago Negro a barquinhos. Claro, agora eles eram maiores e só cabiam de dois a três no mesmo barco. James e Lílian foram em um, e os outros três marotos foram em outro, já que Rabicho era pequeno e conseguiu se espremer no mesmo barco que Sirius e Remus.
Aquela família feliz - sim, amavam-se tanto que podiam se chamar de família - sabiam que provavelmente estariam entrando nos piores anos de suas vidas, pois tinham acabado de ingessarem na Ordem da Fênix, mas não podiam imaginar que estavam na reta final da vida dos Marotos.
A guerra trazia muita dor e medo a todos, Voldemort tinha criaturas e seguidores horríveis, mas os corajosos marotos lutavam por um objetivo, um ideal de mundo sem preconceitos e mais tolerância. Um mundo onde a nova geração poderia ser nascido trouxa e ter amigos sangue-puros e lobisomens, onde o respeito comum seria a base das relações...
Mas lutar pelos seus objetivos nem sempre é fácil... a Ordem da Fênix se uniu com laços que íam além da vontade de trazer mais justiça ao mundo... criaram-se laços de amor e amizade.
- ... então decidimos que ele vai se chamar Neville. Augusta está de acordo, afinal ela adora esse nome... Frank me disse que ela cogitou chamá-lo de Neville antes de se decidir.
- Acho um nome lindo, Alice. - comentou Lílian - Já pensou se eles nascem no mesmo dia?
- É bem possível, Lily... nós duas estamos parcendo que engolimos uma melancia. - riu a moça.
- Eles vão crescer juntos e serão amigos e vão antrar pra Hogwarts no mesmo dia!! Falando nisso... e o plano de vocês comprarem uma casa aqui em Godrc's Hollow?
- Teve que ser adiado um pouco... as coisas não estão muito fácil no Ministério, né? E agora que você e James vão fazer o Feitiço Fidelius por aqui, quem que eu ia importunar todos os dias? - as duas riram - Mas quem sabe assim que a poeira abaixar um pouquinho... não vejo lugar melhor. Adoro essa vila!
Se tem algo bom que vem com a guerra é que as pessoas passam a viver mais intensamente os belos momentos e dão mais valor ao amor...
- Seu castigo será escrever com a varinha o nome de seu bebê - dizia uma bela moça de cabelos escuros que lhe caíam pelos ombros - Mas você terá que colocar a varinha no umbigo, Lily!
Todas as moças caíram na gargalhada.
- Você é muito cruel, Marlene! - respondeu Lílian rindo, se levantando e fazendo um feitiço para a varinha ficar grudada em seu umbigo. - Me aguarde no seu próximo chá de bebê, viu?
- Então vou me vingar com antecedência. - riu Marlene - Alice, se prepare, você é a próxima. Afinal garotas, quantas vezes vocês já foram num chá de bebê duplo?
Se não estivessem em guerra, a felicidade seria completa, mas aos poucos a guerra consome a todos e uma das lembranças mais tristes de Lílian foi o rápido batizado de Harry na pequena Igreja de Godric's Hollow... um padre trouxa, ela, o marido, o filho e o padrinho, Sirius Black. Alguns minutos depois, estavam em casa tomando alguma coisa para comemorar.
- Acho que é o melhor, cara. - dizia Sirius, sentado no sofá de fronte, enquanto Lílian amamentava Harry com James a seu lado. - É o blefe perfeito... Voldemort viria atrás de mim, nunca sonharia que vocês escolheriam outra pessoa para ser o Fiel.
- Podemos pedir ao Remus também. - lembrou Lílian.
- Remus acha melhor que seja eu. Ele não vai ficar sabendo se a gente trocar... será uma coisa só entre nós porque quanto menos pessoas souberem, melhor. - disse Sirius.
- Você desconfia do Aluado, Almofadinhas? - perguntou Lílian com os olhos marejados de lágrimas.
- Não é isso, Lily. - interveio James - Almofadinhas está certo. Aluado passa muito tempo com os lobisomens na missão pra Ordem, faz longas viagens... não pode ficar aqui pra informar os outros onde estamos e não podemos ficar inacessíveis.
- Achei que era essa a idéia. - disse ela, triste.
- Escuta Lily - começou Sirius - Dumbledore está preocupado demais.. nunca o vi daquele jeito... e McGonagall me disse uma coisa que me fez achar que Dumbledore desconfia de um espião entre nós.
- Não acredito no que está falando!! Ele é nosso melhor amigo!! - exclamou Lílian.
- Não disse que estou desconfiado de Remus, Lílian. - disse Sirius meio impaciente. - Só disse que devemos ter cautela. Além disso o James acabou de falar, ele passa muito tempo com os lobisomens e...
- O que significa que não tem acesso direto a Voldemort e portanto não pode nos trair. - ela elevou o tom de voz e se levantou. - estou cansada... vou subir.
Pouco depois ela escutou a porta de casa se abrir e fechar e tentou secar o rosto lavado de lágrimas até James chegar no quarto. Ele foi até ela e a abraçou forte.
- Eu não acredito nisso, Lily. - disse ele - Confio plenamente em Sirius, Remus e Pedro. Nenhum deles nos entregaria a Voldemort.
- E-eu s-sei - soluçou a moça - mas me intristece ver Sirius desconfiado de Remus... até alguns meses atrás vocês eram como irmãos!!
- Eu também me magoo... mas ele vai mudar de idéia, você vai ver... quando essa crise passar e a gente puder voltar a ser uma enorme família. Por hora acho melhor seguirmos o conselho dele e, por outro lado, não falarmos mais sobre Remus com ele.
Não precisou de muito tempo para Sirius sofrer o maior arrependimento de sua vida, chegando no esconderijo de Pedro Pettigrew num certo dia das bruxas.
- Rabicho? - gritou Sirius, sentindo um gelo no peito ao ver a casa vazia... mas era estranho o fato de não ter sinais de luta... correu uma vez pela casa inteira antes de voltar para sua moto e rasgar o céu em direção a Godric's Hollow, o vento fustigando-lhe o rosto.
Antes de pousar com a moto, ele pôde ver que parte da casa estava destruída e o motor do automóvel ainda roncava quando ele saltou e entrou na casa correndo dando de cara com o corpo de um homem deitado no tapete da sala... no rosto uma expressão de choque.
Sirius sentiu que lhe roubavam o ar quando olhou pra o rosto de seu melhor amigo e suas pernas cederam... ajoelhou-se ao lado do corpo, nem percebeu que sussurava incontáves "não" e que seus olhos marejavam de dor... só sabia que estava experimentando uma sensação de vertigem. Abraçou o corpo e gritou, embora não tivesse muita consciência do que estava fazendo, como se tivesse entrado em um pesadelo... não podia ser verdade e, contudo...
Então ele escutou choro de bebê e se assustou. Levantou-se de um salto e subiu as escadas de três em três degraus. Precipitou-se pelo corredor do andar de cima e entrou no quarto que sabia ser de Harry. Tinha um rombo no chão e muita poeira, mas era inegável que Lílian jazia morta aos pés do berço. Tinha sido ilusão o choro do bebê?
Sirius se ajoelhou ao lado da mulher morta... ainda linda... sentiu que tremia convulsivamente e a abraçou, assim como tinha feito com James. O bebê chorou de novo e Sirius se voltou para o berço cheio de pó. Quando o bebê o viu esticou os bracinhos, pedindo colo. Sirius o pegou e o embalou em seu colo... agora chorava... chorava... o menino que segurava em seus braços era um milagre. E, sentindo os braços de alguém conhecido o envolvê-lo com tanto carinho, Harry parou de chorar. Sirius ficou com o menino durante muito tempo... foi até a cozinha e pegou leite numa mamadeira e deu de mamar para o afilhado... estava balançando-o de umlado para o outro quando um homem enorme entra pela porta da cozinha sem que ele tivesse percebido.
- Hagrid! - ele exclamou, chocado. E o gigante foi abraçá-lo aos soluços... lhe trouxe novidades, como que Dumbledore o tinha enviado para levar Harry até a casa dos tios... Sirius não queria isso... mas poderia brigar pela guarda do afilhado mais tarde.
Na altura da saída de Hagrid, Sirius tinha se decidido com vingança no coração.
Pegou uma vassoura dos Potters nos fundos e voou para a capital da Inglaterra... ele só poderia estar lá. O vento lhe fustigava o rosto e os longos cabelos escuros... ele nem sabia se o que sentia era real... uma sensação de pesar que não combinava com o que sentia por James. Se transformou em cachorro e correu desabalado pelas ruas de Londres até encurralar um homem baixo de nariz cumprido e ar ratineiro.
- EU VOU TE MATAR!! - berrou com todas as forças de sua alma, sentindo a garganta rasgar. Rabicho pareceu tremer, mas também percebeu que os trouxas estavam olhando e poderia facilitar as coisas com um simples feitiço de confundir.
- Si-sirius... Almofadinhas... - disse Rabicho com a voz tremendo.
- Lílian e James, Rabicho, como pode?? - gritou Sirius, enfurecido de dor, pesar e ódio, sem perceber que as lágrimas corriam soltas de seus olhos azuis-cinzentos, que perfuravam o outro com um ódio corrosivo - Seu abutre, canalha! Como se atreveu?? COMO SE ATREVEU?? Como eu não percebi que era você o tempo todo??!!
- N-não sei do que está falando... - tentou Rabicho, levando a mão pra dentro do blusão que vestia.
- Eu vou te explicar o que estou falando, seu imundo...!!
- ELE MATOU LILY E JAMES POTTER!!! - gritou Rabicho para a multidão de trouxas.
- ASSASSINO!! - berrou Sirius, fora de si, sacando a varinha e, de repente, houve uma explosão como um tiro de canhão e Sirius foi jogado ao chão... mas se levantou logo... olhou a volta e só viu corpos... olhou desesperado para todos os lados procurando uma pista de Rabicho, seu alvo...
Então viu o rato gordo correndo para um boeiro... fez menção de seguí-lo, mas braços o agarraram... ele se sacudiu.
- Calminha agora, Black... vamos facilitar as coisas. - disse uma voz ríspida.
- Não... - ele sussurrou, tentando se desvencilhar. - Não!! - gritou, agora os Aurores tinham que fazer força extra pra contê-lo.
- Isso significa Azkaban, sabia Black? Prisão perpétua... - disse uma voz sarcástica cheia de raiva... mas não importava quem era... o peso daquilo tudo estava desabando em Sirius e sua mente parecia bloquada. Começou a rir... riu... riu... riu muito. Uma risada meio latida, sem vida, sem alegria... uma risada que apenas expressava a loucura da situação. Riu feito um louco... ele estava louco naquele momento.
Menos de uma hora depois ele tinha sido jogado com força em uma cela de Azkaban por dois dementadores... estava fraco e o grito de fúria de Bartolomeu Crouch ainda ecoava em seus ouvidos enquanto se esborrachava no chão.
* - Chamem os dementadores!! Que ele apodreça em Azkaban!! Único lugar para gente dessa ecória!! E que se dê por satisfeito de não levar um beijo...*
"Eu sou inocente..." pensou ele, "isso vocês não podem me tirar". Ele suspirou e não conseguiu bloquear as horríveis imagens que lhe vinham na cabeça... os corpos de Lílian e James de olhos aregalados e sem vidas... o efeito dos dementadores faziam as coisas ficarem mil vezes piores e sentiu total ausência de esperança e alegria... sentiu que queria chorar e se livrar de tudo o que estava sentindo... mas não tinha forças nem pra isso. Ficou muito tempo deitado de borco, sentindo o fim da vida... desejando conseguir se descolar de seu corpo e ir ao encontro de James.
Então ele se lembrou... lentamente se levantou e foi pra perto da grade, onde encostou o rosto. "Remus... meu querido amigo Aluado... me perdoa por ter pensado... eu fui um idiota!! Aluado, meu irmão amado..." e um dementador passou perto dele, com a capa esvoaçando em sua leveza gélida. Sirius sentiu um nó na garganta ao pensar "Eu acabei com as nossas vidas, irmão... você vai pensar que fui eu... que eu fiz tudo isso... que traí o James e que traí você. E traí mesmo..." Desta vez escorreu uma lágrima de seus olhos, virando uma pedrinha de gelo grudada em sua face quase instantaneamente.
"Fui condenado pelo maior erro da minha vida... mas sou inocente."
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