Descoberto



Remus Lupin acordou, mas continuou com os olhos fechados, sentindo o travesseiro macio sob sua cabeça pesada e sentia a cama quentinha... poderia ficar assim pra sempre. As primeiras semanas desse novo ano tinham sido tão inéditas.

Claro que a Lílian começou a olhar de um jeito melhor para Sirius no ano passado... para Sirius e para James... especialmente James. Até o tratava com cortesia e delicadeza e de uns tempos pra cá chamava-o de "James", o que o garoto não conseguia fingir que não fazia diferença. Mas então, o último ano de Hogwarts começara e parecia que várias coisas novas estavam acontecendo ao mesmo tempo... Lílian Evans e James Potter estavam saindo juntos!! Lílian Evans passava horas com os marotos... Lílian Evans muitas vezes desabafava seus sentimentos a respeito de James para Remus Lupin.

E agora, Lílian Evans sabia... tinha descoberto o que já desconfiava há anos... que seu grande amigo era um lobisomem... uma fera assassina. Lembrando da noite anterior, Remus não conteve as primeiras lágrimas... será que ela o rejeitaria agora? Será que isso interferiria na amizade deles... e o pior, será que interferiria no namoro dela com James? Se Pontas tivesse que escolher um dos dois, quem escolheria? E se ele escolhesse o namoro com Lily, será que Sirius e Pedro continuariam de seu lado?

* - Rabicho, você é um rato!! Não tem problema em se transformar agora e descer desapercebido até o Salgueiro! - disse Pontas exasperado.

- É cara. - concordou Sirius - Acho que todos perceberiam se um enorme cão e um cervo, assim do nada, atravessassem o Saguão de Entrada, né? - James deu uma risadinha nervosa e concluiu:

- Não adianta, não cabemos mais os três debaixo da capa, Rabicho. Você terá que ir sozinho e eu e o Almofadinhas vamos nos espremer sob a capa, ok?

- Tá, tá... - concordou Rabicho de má vontade, se transformado num rato gorduchinho.

Mas, no mesmo momento, os três escutaram uma voz bem conhecida... era tarde demais.

- Posso saber o que estão aprontando? - perguntou Lílian meio risonha, meio zangada - A essa hora da noite?

A Sala Comunal da Grifinória, vazia exceto por eles, pareceu encolher de repente enquanto os Marotos prendiam a resperiação.

- Li-Lily!! - exclamou James - Você não tinha ido dormir?

- Tinha... mas achei que vocês estavam com umas caras suspeitas e resolvi investigar quando escutei vozes... então quer dizer que Rabicho é um animago? - perguntou como se perguntasse a temperatura do dia.

- Não é apenas... - começou Rabicho, corado, sendo que levara um segundo para se transforar e voltar ao normal, mas Sirius o pisou no pé. Lílian levantou as sombrancelhas para os três.

- Eu acabei de ver. Vocês vão me contar o que está acontecendo ou não? Vocês dois também são animagos...? Ah... mas agora faz sentido... Rabicho, o rato... Almofadinhas e Pontas então...

- Lily, não é nada disso! - disse James, nervoso enquanto Sirius olhava para o relógio de pulso.

- Achei que não tinhamos mais segredos. - disse ela, parecendo meio magoada - Afinal somos amigos, não somos? E, se você - ela olhou mais insistentemente para James - quiser continuar a sair comigo, acho que não podemos esconder certas coisas um do outro... como o fato de meu namorado ser um animago clandestino. - ela sorria e tinha a voz leve, mas claramente estava chateada.

Sirius, James e Pedro se entreolharam.

- Então? - ela insistiu - E cadê o Remus? - ela acrescentou com um sorriso leve.

- Lílian, é complicado... - começou Sirius nervoso, passando uma mão na nuca.

- Sei... auto transfiguração é uma mágica poderosa e muito difícil mesmo... além de ser perigoso e, claro, por isso o Ministério da Magia exige um registro de todos os bruxos que podem se transformar em animais. É óbvio que é complicado, Almofadinhas... - ela suspirou e sentou-se em uma poltrona, cruzando as pernas e encarando os amigos e o namorado - Podem começar a falar... eu tenho a noite toda pra essa história.

- Na verdade a gente não tem todo esse tempo e... - começou Rabicho.

- Quem está esperando vocês? O Remus? - perguntou ela, astuta. Houve uma pausa. - Jay... - disse ela encarando o namorado - me conta! Ou você não confia em mim?

- Você está chantagiando! - exclamou Sirius, embora com um sorriso. James suspirou e foi se sentar ao lado dela, dizendo:

- É... na verdade a gente ía se encontrar com o Aluado sim...

- Em plena noite de lua cheia, né?

- O que você quer dizer com isso? - perguntou Sirius, se aproximando também, com Rabicho em sua cola.

- Vocês vivem de segredinhos em época de lua cheia... e sou amiga do Remus há séculos para não perceber que ele fica doente na lua cheia. Achei que em breve vocês me falariam sobre isso.

James encarou os olhos verdes que tanto amava e desejou ficar sozinho com ela, abraçá-la e beijá-la... mas não era a hora, então...

- Bom... é. - disse ele. Sirius e Pedro prenderam a respeiração, mal piscando para ver a reação dela.

- Então é verdade... Remus realmente sofre de licantropia... o Remus é... ele é... - os olhos dela se encheram de lágrimas e ela subiu as pernas na poltrona e as abraçou - Remus é um lobisomem. - o sussurro estava carregado de emoção. Os marotos a encararam sérios, provavelmente sem reação. James se aproximou dela e a abraçou com um braço e Lílian encostou o rosto no ombro do rapaz e não segurou as lágrimas.

Claro que ela desconfiava, tinha tentado fazer Remus contar pra ela há anos, a final adorava seu amigo como a um irmão... mas ele parecia que não confiava nela o bastante... ou então, o que era mais óbvio, tinha vergonha de si e medo de rejeição. Com o silêncio dele, Lily fazia o possível para afastar a idéia da cabeça, pensando que o mais provavelmente, no máximo, era que ele tinha sido atacado por um lobisomem certo dia, mas que isso não tinha feito dele a mesma coisa e, como única consequencia, ele ficava doente em lua cheia.

Lily chorou no ombro de James, soluçou com o coração apertado, flashes do sorriso de Remus se misturavam com cenas que tinha lido no livro "Focinho peludo, coração humano"... ela sentiu a mão de James lhe fazendo um carinho na cabeça e controlou o choro. Se sentou direito e secou as lágrimas, sentindo-se egoísta.

- Er... ele sofre muito? - perguntou, como se não fosse óbvio, mas sim a pergunta mais importante do mundo.

- Aluado? Ele é fortão... aguenta de tudo! - disse Almofadinhas, sorrindo. Lílian deu uma risadinha triste.

- Ele nunca nos contou isso, Lily... - continuou Pontas - A gente descobriu e o colocamos na parede. Sabe, ele tinha medo que a gente parasse de falar com ele.

- Tadinho. - disse Lílian com o coração apertado.

- Toda noite de lua cheia a Madame Pomfrey o acompanha até o Salgueiro Lutador e ele segue o Túnel até a Casa dos Gritos em Hogsmeade.

- A passagem bloqueada pelo Salgueiro leva até a Casa dos Gritos? - perguntou Lílian espantada - Mas como ele passa pela árvore?

- Tem um nó nas raízes... é só apertar que o Salgueiro fica mansinho, mansinho. - contou Rabicho.

- E os gritos e uivos que o pessoal do povado escuta... na verdade...

- É o Remus, né? Chorando, mordendo... uivando. - os olhos dela estavam úmidos de novo.

- Então resolvemos, quando descobrimos, que se nosso melhor amigo pode se transformar num animal, a gente também queria. - contou Sirius sorrindo - E resolvemos estudar com afinco para nos trasnformarmos em animagos.

Eles ficaram em silêncio... então Lílian olhou para James e estendeu uma mão para acariciar o rosto do namorado e disse:

- É uma nobre causa. Vocês fazem companhia pra ele enquanto ele se transforma? - o olhar dela estava mais apaixonado do que nunca para James.

- É. - respondeu ele. - Ele se sente melhor e, sabe... - ele pareceu constrangido, passou a mão na nuca e desviou o olhar dela - er... a gente sempre acaba se divertindo.

- Como assim? Na Casa dos Gritos você quer dizer...?

- Bem... - ele pareceu vacilar diante da intensidade do olhar dela. - Já que estou te contando tudo...

- Pontas... - disse Sirius.

- Assim eu espero. - disse Lily, fingindo-se de brava.

- De vez enquando a gente sai pelos terrenos da escola pra brincar. - disse ele muito rápido.

- Como é que é?

- De vez enquando não. - contou Pedro e Sirius e James o encararam. - Sempre.

- Toda noite de lua cheia tem um lobisomem a solta nos terrenos da escola? - perguntou ela, agora se irritando e elevando o tom de voz.

- Lily, a gente sempre conseguiu controlar o Aluado. - disse James num tom de voz de quem suplica - Nunca deu errado.

- Mas isso é muito perigoso!! - ela estava ficando vermelha.

- E útil também. - resolveu contar Almofadinhas, ajudando a livrar a barra de Pontas - Veja aqui o que a gente fez. - e estendeu um pergaminho. Lílian o pegou e abriu.

- Um pergaminho em branco? - ela estava cética, mas provavelmente sabia que não era só isso. James sacou a varinha e tocou o pergaminho.

- Juro solenemente que não pretendo fazer nada de bom. - disse. Lílian levantou os olhos pro namorado.

- Seu marotinho... - disse ela, meio divertida. Ele abriu um sorrisão e Lily abaixou os olhos para o pergaminho e quase engasgou.

- Aluado, Rabicho, Almofadinhas e Pontas tem o orgulho de apresentar o Mapa do Maroto. - ela leu em tom de assombro. Abriu o papel - Meu Deus... - ela sussurrou - mas... mas... é Hogwarts... veja... tem um pontinho chamado Filch andando no corredor do sexto andar... - ela levantou o rosto e sorriu para os Marotos - Essa mágica é simplesmente maravilhosa!!

Os três sorriram pra ela e James contou:

- Conhecemos bastante da escola e dos terrenos, então montamos o mapa... levou um tempo... mas no ano passado a gente finalmente terminou e, desde então, a gente só tem desfrutado dele... é muito útil mesmo.

- Estou vendo. Não precisa de uma Capa da Invisibilidade aqui em Hogwarts se você já tem o mapa.

- Eu diria que as duas coisas se complementam. - respondeu James, sorrindo. Lily riu.

- Então, posso saber por que vocês ainda estão aqui? Achei que Remus estava esperando por vocês... - disse ela. Os Marotos riram com vontade, James a beijou na frente dos outros, fazendo os outros dois o zuarem por isso... e acabaram indo sob o olhar de Lílian.

Mas ela estava decidida e, quando finalmente a madrugada começou a clarear, Lílian se esgueirou silenciosamente pelos corredores e pelos terrenos da escola. Com um galho seco conseguiu cutucar o tal nó nas raízes e escorregou pelo túnel. Ao alcançar a casa, ela escutou barulhos de rosnados e mordidas e não precisou muito para encontrar um quarto, onde um enorme cão negro e um cervo alto e esbelto tentavam dominar um lobo castanho que estava visivelmente enfurecido. Lílian já tinha lido que os lobisomens sofriam mais durante as duas transformações e, por isso, ficavam mais agressivos nessas horas.

O lobo a viu e tentou avançar. Lílian deu um passo pra trás, mas o cervo interveio e ficou nas patas dianteiras, relinchando e o lobo retrocedeu um pouco. Então o cervo se virou pra moça e brandiu a galhada pra ela em aviso... indicando que ela deveria ir embora. Mas Lily Evans era muito teimosa e estava impressionada com o que acabara de ver.

- Pontas... - ela sussurrou, estendendo os braços para o gigantesco animal a sua frente - James... meu Jay... - o cervo se aproximou dela e permitiu que ela lhe fizesse um carinho, fechando os olhos ao toque dela. Mas então o lobo começou a se transformar em rapaz e atraiu o olhar dela... no momento seguinte ela estava com as mãos no rosto de seu namorado, que a olhava bravo.

- Por que você veio? - perguntou ele, chateado - Vamos. - ele a puxou para fora do quarto e tentou encostar a porta.

- D-desculpe... mas agora a gente não pode mais fingir pra ele que eu não sei de nada...

- Tá, mas deixa ele se vestir primeiro, ok? - então eles ouviram um ganido meio chorado. Um instante depois, Pedro abriu a porta e eles entraram. Sirius estava ajudando Remus a se deitar, e Remus estava sangrando na lateral da barriga.

- Aluado! - exclamou James preocupado, se aproximando e bloquando temporariamente a visão de Lílian.

- Ele se mordeu. - disse Sirius, preocupado.

- Será que a gente chama Madame Pomfrey agora? - perguntou Rabicho.

- Não. - gemeu Remus. Os três o olharam. - Não seja obtuso, Rabicho... eu sempre me machuco... ela vai chegar daqui a pouco... não vão estragar tudo... ela vai fazer perguntas... - ele estava com a voz fraca.

- Tudo bem, cara... você vai ficar legal sim. - disse James. Mas então Remus viu Lily e perdeu a pouca cor que ainda tinha no rosto. Todos ficaram em silêncio.

- O que você está fazendo aqui?? - perguntou ele, meio rude, meio indignado.

- Re-remus... e-eu...

- Vai embora! - disse ele, e sua voz soou parecida com um rosnado. Lílian deu vários passos pra trás. - Vai embora! - disse ele mais alto.

- Aluado, cara... - começou Sirius.

- CALA A BOCA!! - Remus berrou com a pouca força que tinha e fez menção de levantar.

- Não seja retardado. - disse James, meio zangado, colocando a mão no peito do amigo para fazê-lo se deitar de novo.

- Me larga! - gritou ele, se desvencilhando e encarando Pontas nos olhos - Você não tinha esse direito.

Ele estava se sentindo traído, irreal, como se não estivesse realmente vivendo aquilo... não podia ser verdade... não podia... já não bastava ele não ter uma vida normal... agora tinha perdido uma das pessoas que mais gostava na vida, que tinha dado força pra ele continuar.

Lílian deu meia volta e saiu correndo da Casa dos Gritos e chegou arfando na sala comunal da Grifinória, esperando... esperando...

- É melhor vocês irem também. - disse Remus pouco depois que Lily saiu.

- Você está sangrando, cara. Não vamos te deixar assim. - disse Sirius.

- Daqui a pouco a Madame Pomfrey vem me buscar e vai ser bem-feito se ela pegar vocês aqui... - respondeu ele. James e Sirius se entreolharam.

- Rabicho. - disse Sirius em tom de quem manda - Você fica aqui com o Aluado.

- Não... - começou Remus, mas Sirius o cortou.

- E quando Madame Ponfrey chegar pode se transformar... se acontecer alguma coisa nos chame, ok?

- Tá. - concordou Rabicho, tenso. E Pontas e Alofadinhas foram embora, deixando Remus resmungar sozinho... com Rabicho.*

Como eu vou olhar pra ela de novo? Como? Ele se perguntava, sentindo a cama quentinha da enfermaria; sentindoo o sabor salgado de algumas lágrimas que escorriam até seus lábios.

Como se respondesse a seus pensamentos, Madame Pomfrey apareceu, dizendo:

- Ah... você acordou bem na hora, Sr Lupin. Tem uma visita. - e o rapaz se sentou mais rápido do que previra, fazendo a barriga doer um pouco. No mesmo instante Lílian se aproximou da cama e se sentou na beirada enquanto Madame Ponfrey se recolhia em seu aposento. Os dois ficaram em silêncio.

- Você não vai me expulsar daqui? - perguntou Lílian. Mas Remus não riu, a encarou com toda a sua determinação.

- Foi o Pontas, né? Ele te contou e você foi bisbilhotar...

- Não tem nada a ver, Remus! - cortou ela, meio zangada - Em primeiro lugar, pare de se sentir incompreendido. Eu os encurralei ontem de noite quando estavam combinando de sair pra te ver e eu vi Pedro se transformar num rato... bom eles tiveram que me contar o que estava acontecendo! Você sabe como eu sou e... bem... - ela pareceu meio constrangida - eu não me surpreendi muito com a história. Só fico chateada que você tenha pensado mal de mim.

- Como assim? - ele perguntou, triste.

- Você podia ter me contado, Remus... achei que fossemos amigos! E você ficou tão zangado hoje de manhã que eu achei que você nunca mais iria querer falar comigo...

- Nada a ver... - ele sussurrou.

- Você não precisava ter me escondido isso, Remus... não vai mudar nada. Na verdade acho que tenho ainda mais admiração por você. - disse ela, carinhosa, e o puxou para um forte abraço.

Remus suspirou nos braços dela... sentiu o perfume de sua amiga... amiga... pra sempre apenas uma amiga querida. Ela virou o rosto sem desfazer o abraço e beijou Remus no rosto. Um toque tão suave...

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.