Descobertas
Depois da tarde de folga, Lilian passara rapidamente pelo salão de monitores, antes de ir para a torre, para verificar a escala de rondas, e depois de conferir seus horários e os de Remo, deixou a sala, seguindo em direção ao salão comunal da Grifinória, onde encontraria o restante dos amigos. No caminho, porém, esbarrou, literalmente, no professor Flitwick, que se dirigia ao gabinete do diretor, derrubando-o no chão.
- Uff! – fez Flitwick, ao estatelar-se no chão.
- Professor! – exclamou a ruiva, indo ajudar o homenzinho – Desculpe, eu estava distraída, e...
- Tudo bem, Srta. Evans. – respondeu ele, espanando as vestes – Foi apenas um acidente.
- O senhor está bem? – perguntou Lilian, preocupada.
- Sim, sim, não se preocupe. – disse Flitwick, sorrindo – Mas de onde vem, com toda essa pressa? A essa hora já estão todos em seus salões comunais.
- É. Eu vim ao salão dos monitores, conferir os horários das rondas, e agora estava indo para a torre. – explicou a ruiva.
- Hmm... – fez Flitwick – A... Srta. Charmant não veio com a senhorita?
- Ah, não, não, a Isa já foi pra torre. – respondeu Lilian – Por quê?
- Eu queria perguntar a ela se os livros haviam sido úteis. – respondeu o professor.
- Livros? – perguntou Lilian, confusa – Que livros?
- Ela não... oh, por Merlin! – exclamou o homenzinho, rindo – Acho que ela levou muito a sério quando eu pedi que não contasse sobre os livros.
- Afinal, de que livros está falando? – perguntou a garota, de cenho franzido.
- Como deve saber, a Srta. Charmant estava indecisa sobre seguir ou não a carreira de obliviadora, – respondeu Flitwick – e pediu dicas de livros sobre o assunto.
- Obliviadora? – ecoou Lilian.
- Sim. A senhorita parece surpresa... – disse Flitwick, desconfiado.
- Ah, não é só que... eu... achei que ela tinha desistido. – mentiu a ruiva.
- Bem, parece que não. – disse o professor, parecendo ter acreditado na garota – Na verdade, espero que não. Com todos os incidentes que vêm acontecendo por causa desses bruxos que se intitulam “Comensais da Morte”, creio que o Ministério irá precisar de bons obliviadores no futuro.
- É, o senhor tem razão. – concordou Lilian, distraída.
- Bem, imagino que queira ir para o salão comunal. – disse Flitwick – Eu acabei retendo-a aqui. Vá, vá encontrar seus amigos.
- Sim. Até mais, professor. – disse a ruiva, desviando do homenzinho e seguindo, a passos largos, em direção à torre da Grifinória.
Lá chegando, passou direto pelo salão comunal, e subiu a escada para o dormitório feminino. Ouviu o barulho do chuveiro, e a voz de Isabelle, que cantarolava enquanto tomava banho. A ruiva foi até a estante de livros da amiga, olhando-os um a um.
- Poções, Poções, DCAT... – dizia ela, correndo o olhar pelas prateleiras – Transfiguração, contos, contos, contos... mas que tanto livro de contos tem aqui? – perguntou a si mesma.
Pegou todos os livros de contos, que estavam na prateleira bem de baixo, e sentou-se no chão, ao lado da cama, abrindo o primeiro livro.
- Mas isso aqui não é um livro de contos! – disse ela, olhando novamente a capa do livro, e então voltando a folheá-lo.
Lilian foi pegando os livros um a um, folheando todos rapidamente. Os livros de contos eram, na verdade, livros de Feitiços, dois deles, somente de feitiços de memória, sendo que um estava marcado no capítulo intitulado “Feitiços seletivos: escolhendo o que esquecer”. Haviam mais dois falsos livros de contos; o último da pilha tinha duas páginas marcadas. “Magias da Alma e do Coração” era o nome verdadeiro daquele livro. Lilian foi então até a primeira folha marcada .
- Feitiço do Coração Mudo: – leu ela – o feitiço do Coração Mudo fecha portas no coração, impedindo a pessoa enfeitiçada de ter contato com o sentimento em questão. O sentimento é aprisionado em algum ponto do coração, sendo silenciado por completo. – a ruiva fechou o livro por um instante – Ah, Merlin!
Ela voltou a folhear o livro, até alcançar a outra folha marcada. Havia um pedaço de pergaminho, com uma anotação feita por Isabelle: “Impossível de ser realizado sozinha. Lily ajudaria?”. A ruiva então leu a descrição do feitiço.
- Feitiço Extrator: o feitiço Extrator permite a remoção por completo de um sentimento do coração. Para ser realizado, é necessária a criação de uma barreira protetora, que impeça o sentimento de se dispersar durante a retirada, o que faz com que exija a participação de no mínimo duas pessoas em sua execução. O sentimento assume a mesma forma de um pensamento extraído da mente, tendo no entanto, uma coloração levemente rosada.
Lilian voltou a fechar o livro, encarando, pensativa, a porta fechada do banheiro. Voltou de seu devaneio ao ver a porta se abrir, revelando Isabelle enrolada em uma toalha.
- Ah, como é bom tomar um ban... Lily! – gritou a morena, ao ver a amiga mexendo nos livros.
- Obliviadora? – perguntou a ruiva, encarando-a – Quando pretendia me falar sobre isso? – ela apontou um dos livros.
- Por que está mexendo nas minhas coisas? – perguntou Isabelle, nervosa, começando a recolher os livros do chão.
- Flitwick me falou do seu interesse na carreira de obliviadora. – respondeu Lilian, zangada – O que estava pretendendo fazer, Isa?
- Nada. – mentiu Isabelle, recolocando os livros na prateleira – Eu só tava lendo.
- Você por acaso parou pra pensar no que vai acontecer se você usar esses feitiços? – perguntou Lilian, apontando os livros na prateleira – Não vai mais amá-lo, mas também não vai amar mais ninguém!
- Lily, eu só tava lendo a respeito. – repetiu a morena – Não quer necessariamente dizer que eu vou usar os feitiços.
- Mas você pensou nisso! – disse a ruiva, exasperada – Tem certeza de que é o que quer? Se tornar incapaz de amar?
- Não seria permanente. – argumentou Isabelle, sem perceber que estava se entregando – Seria só até sairmos da escola. Longe dele, eu não precisaria mais do feitiço.
- Eu não acredito que tô ouvindo isso. – disse Lilian, cruzando os braços – Pode ter certeza que eu não vou ajudar você com essa maluquice.
- Nem precisa. Eu já desisti disso. – disse Isabelle, rapidamente – Ia até devolver os livros.
- Isa...
- É sério. – insistiu a morena – Não vou usar os feitiços.
- Então tá. – disse a ruiva, descruzando os braços, e indo até a sua cama – Amanhã nós duas vamos à biblioteca devolver esses livros.
- Tá. – concordou Isabelle, não muito contente – Amanhã nós vamos.
- Vai, se veste logo pra gente descer. – disse Lilian – Eu vou tomar um banho rápido, os meninos devem estar nos esperando pra irmos jantar.
Isabelle vestiu-se rapidamente, e depois que Lilian tomou banho e se vestiu também, as duas desceram para o salão comunal. Dos Marotos, apenas Tiago e Pedro estavam lá.
- Até que enfim! – disse Pedro, quando as duas desceram a escada do dormitório – Eu tô morrendo de fome!
- Que cara é essa, amor? – perguntou Tiago, ao ver a expressão séria no rosto de Lilian. Ela olhou para Isabelle, que desviou o olhar.
- Não é nada, Tiago. – mentiu a ruiva – Vamos indo?
Os quatro então deixaram o salão comunal, rumando para o Grande Salão. No meio do caminho, Sirius juntou-se a eles; ele tinha um sorriso satisfeito no rosto, e seu pescoço tinha inúmeras marcas vermelhas. Ao perceber isto, Isabelle baixou o olhar.
- E cadê o Aluado, hein? – perguntou Tiago.
- Sei lá. – respondeu Sirius, dando de ombros – Mas a última vez que eu vi, tava com a Takemi, perto da biblioteca.
Eles chegaram ao Grande Salão, indo direto para seus lugares tradicionais à mesa da Grifinória. Isabelle parecia bastante incomodada, e Lilian não tirava os olhos da amiga. Pouco depois da chegada dos cinco amigos, Remo se juntou a eles, depois de chegar ao Salão acompanhado por Bárbara.
- Oi, oi, oi! – cumprimentou ele, acomodando-se ao lado de Sirius.
- Aluadinho, sumiu junto com a Takemi... – provocou Tiago.
- Esse é o meu garoto! – disse Sirius, dando tapinhas nas costas do amigo.
- Ah, calem a boca, vocês dois! – repreendeu Lupin.
Sirius acenou para uma bonita garota morena, sentada à mesa da Corvinal. A garota corou levemente, afastou do rosto a franja que lhe caía sobre os olhos, e retribuiu o gesto, sorrindo.
- Quem é ela, Almofadinhas? – perguntou Pedro.
- O nome é Cintia. – respondeu Sirius – É só o que eu sei até agora.
- Quem? A de cabelo castanho e franja? – perguntou Remo, e Sirius assentiu – Cintia Short, sexto ano, nascida trouxa, é a piadista da turma. É super curiosa, e, às vezes, meio estressadinha.
Todos olharam para Remo com expressões surpresas.
- Como sabe de tudo isso? – perguntou Sirius.
- Ela é amiga da Bárbara. – explicou Lupin.
- Ah...
- Desculpa, amor, – disse Tiago – você disse que não era nada, mas ainda tá com uma cara...
- É, e a Charmant também. – comentou Pedro.
- Não é nada. – disse Lilian, e Isabelle concordou com a cabeça. No entanto, isto não pareceu convencer Remo, que continuou observando as duas com uma expressão pensativa.
- Brigadeiro mais tarde? – perguntou Sirius a Isabelle.
- Tá. – concordou a morena, tentando não demonstrar seu nervosismo.
Isabelle pensou em inúmeras desculpas para dar a Sirius e não ir ao encontro marcado, mas acabou por desistir, e descer para o salão comunal assim que todas as meninas haviam adormecido. A garota teve no entanto uma grande surpresa ao descer o último degrau e olhar para as poltronas perto da lareira.
- Remo?
- Oi, Isa. – cumprimentou Lupin.
- O que você tá fazendo aí? – perguntou Isabelle, aproximando-se.
- Eu vi o Sirius descer, e imaginei que fosse encontrar você aqui. – respondeu ele.
- Ele deve ter ido até a cozinha. – comentou a garota, acomodando-se ao lado do amigo.
- O que houve com você e a Lily? – perguntou Remo.
- Nada. – mentiu Isabelle.
- Acho que está mentindo pra mim. – disse Remo, como quem não quer nada.
- Ela... descobriu umas coisas que eu... tava pensando em fazer, – confessou ela – e ficou meio zangada com isso.
- Ela disse que você ia se auto-enfeitiçar... – contou Remo – por causa do Sirius.
- Eu não acredito que ela contou isso pra você! – exclamou a morena, indignada.
- Ela tá preocupada com você. – justificou Remo – E eu também.
- Eu tava tentando consertar as coisas. – retrucou Isabelle, meio zangada.
- Desse jeito? – inquiriu Remo.
- Tem uma idéia melhor? – devolveu a garota.
- Tenho. – respondeu ele, para a surpresa de Isabelle – Fica comigo.
- O quê? – perguntou ela, encarando-o.
- Fica comigo, Isa. – disse Remo, encarando-a de volta intensamente – Me deixa pelo menos tentar fazer você esquecer o Sirius.
- Remo, eu... não posso. – disse Isabelle, ainda chocada com a proposta dele – Não posso fazer isso.
- Você pode. – retrucou Lupin.
- Não, eu não posso. – insistiu ela – Remo... seria tão mais fácil pra mim gostar de você ao invés dele, alguém que gosta de mim também... mas nem sempre as coisas são fáceis.
- Eu não me importo. – disse Remo, decidido.
- Mas eu sim. Acabaria magoando você mais ainda. – disse Isabelle – Eu sei o quanto dói estar com a pessoa de quem se gosta, sabendo que ela tá pensando em outra pessoa.
- Acho que vamos precisar de uma colher extra.
O casal voltou sua atenção para a entrada do salão comunal, de onde Sirius os encarava de volta, com uma panela e duas colheres nas mãos.
- Eu assumo o risco. – disse Remo, levantando-se, e subindo a escada para o dormitório.
- Eu interrompi alguma coisa? – perguntou Sirius a uma Isabelle ainda estupefata.
- Não. – disse ela, distraída – Não interrompeu, não.
- Do que o Aluado tava falando? – perguntou o Maroto, aproximando-se do sofá.
- Ahn... nada. – mentiu Isabelle – Uma idéia maluca que ele teve.
- Às vezes eu acho que você não confia mais em mim. – disse Sirius, fitando a garota intensamente.
- Sirius, não é verdade. – rebateu Isabelle.
- É sim! Você esconde as coisas de mim. – acusou o Maroto.
- Sirius, por favor... – começou a garota, mas foi interrompida.
- Eu ouvi o que você disse pro Remo sobre amar “ele”. – disse Sirius.
Isabelle fitou-o, empalidecendo. Abriu a boca para falar por duas vezes, mas não conseguiu emitir nenhum som, nervosa com o olhar do garoto fixo nela.
- Por que você não me conta quem é ”ele”? – perguntou Sirius – A Lily sabe, até o Remo sabe e eu não.
- É melhor assim, Sirius. – disse Isabelle, sem olhar para ele.
- Por quê? O Remo sabe. – insistiu ele.
- Ele descobriu sozinho. – retrucou a morena.
- Mas você confirmou, ou ele não teria certeza. – disse Sirius, astutamente. Aquilo era algo a que Isabelle não poderia contestar.
- Mas ele descobriu sozinho. – repetiu ela – Se você descobrir também, eu não vou mentir.
- Promete? – perguntou Sirius. Ele definitivamente a conhecia bem.
“Black 1 x 0 Charmant” – pensou a morena,enquanto ele a encarava, à espera da resposta.
- Prometo. – disse ela, por fim.
Na manhã seguinte, Lilian e Isabelle acordaram cedo, como de costume, e, depois de se vestirem, rumaram para a biblioteca para entregar os livros de Feitiços. No caminho até lá, Isabelle repreendeu a amiga pelo que havia contado a Remo.
- Você não devia ter contado.
- Tá, eu sei, desculpa! – pediu Lilian – Mas eu fiquei tão maluca com aquilo que acabei cedendo quando ele insistiu em saber o que tinha acontecido.
- Mesmo assim! – insistiu Isabelle, zangada – Você não devia ter contado!
- Eu já pedi desculpas! – disse Lilian, ficando nervosa – O que mais você quer que eu faça, apague a memória dele?
- Não tem graça, Lily! – repreendeu a morena.
- Eu sei. Mas é que você tá quase levitando, e... – a ruiva parou de falar, observando a amiga – tem mais coisa nessa história, não tem? – perguntou ela.
Isabelle não disse nada enquanto as duas entravam na biblioteca e se dirigiam à mesa de Madame Pince. Lilian continuou fitando-a em silêncio, até que a morena finalmente respondeu.
- Tem mais, sim. – disse Isabelle – Depois... depois que ele me passou o sermão por causa dos livros, ele... ele me fez uma proposta. – contou ela, hesitante.
- Uma proposta? – ecoou Lilian – Qual?
- Ele propôs... que a gente ficasse junto... – disse Isabelle – pra eu esquecer o Sirius.
- É sério? – Lilian encarava a amiga com ar de espanto.
- É sério. – confirmou Isabelle.
- E o que você disse? – perguntou a ruiva.
- Que não, é claro! – respondeu Isabelle, um tanto surpresa com a pergunta da amiga.
- É claro, por quê? – perguntou Lilian.
Isabelle entregou os livros a Madame Pince, para fazer o registro de devolução, e então voltou-se para encarar a amiga.
- Lily, eu não poderia fazer isso com ele. – disse ela, muito séria.
- Se ele propôs isso, é porque não se importa. – argumentou a ruiva.
- Mas eu sim. – retrucou Isabelle – Me sentiria péssima se fizesse isso com ele, Lil. Estaria brincando com os sentimentos dele, algo bem pior do que – ela baixou o tom de voz – o Sirius faz comigo, porque seria consciente.
- Você disse isso pro Remo? – perguntou Lilian.
- Disse. – respondeu Isabelle.
- E ele? – inquiriu a ruiva.
- Disse que assumia o risco. – contou a morena, e então recebeu da bibliotecária a confirmação sobre a devolução dos livros.
- E então! – exclamou Lilian, enquanto as duas começavam a andar em direção à saída – Isa, o Remo é bem grandinho pra saber o que quer. E ele sabe muito bem em que caldeirão tá metendo a colher.
- Eu não posso fazer isso, Lily! – insistiu Isabelle.
- Dá uma chance pra ele, Isa. – aconselhou a ruiva – Dá uma chance pra você mesma. Você já sofreu demais por causa do Sirius.
- Shhh! – repreendeu a morena – Eu... é só que... me parece tão errado...
- Pensa bem nisso, Isa, pensa com calma. – disse Lilian – Talvez vocês possam dar certo.
- Eu... vou pensar. – concordou a morena.
- Faz isso. Você vai acabar me dando razão. – disse a ruiva, e Isabelle não pôde conter uma risada.
- Ah, meu Merlin... a convivência com o Tiago já tá fazendo estrago... – brincou ela.
- Ih, amiga, eu já sou um caso perdido! – retrucou Lilian, rindo, enquanto as duas se dirigiam ao Salão Principal.
No fim do dia, enquanto os amigos iam todos para a torre da Grifinória, Remo tomou um caminho diferente, dirigindo-se até uma outra torre. A aula de DCAT havia acabado vinte minutos mais cedo, e agora o grifinório caminhava lentamente rumo ao corredor onde ficava a escada em espiral que levava ao salão comunal da Corvinal. Ele chegou à entrada do corredor, parando diante da janela que havia ali, e que era onde costumava encontrar-se com Bárbara, e ficou observando o movimento nos jardins, porém sempre atento à chegada da garota.
Lilian havia vindo falar com ele durante a aula de Poções, logo após o almoço, dentro do estoque de ingredientes do professor Slughorn, e o que ela lhe disse pairou em sua mente ao longo de toda a tarde.
"- A Isa me contou sobre a conversa de vocês ontem à noite. – comentou a ruiva.
- Contou? – perguntou Remo, embora não estivesse de fato muito surpreso.
- Contou. Achei corajoso da sua parte. – disse Lilian.
- Corajoso ou não, não fez diferença. Ela disse que não podia aceitar. – retrucou Lupin, desanimado.
- É, ela me disse a mesma coisa. – contou Lilian – Nós conversamos muito sobre isso hoje de manhã.
Remo não disse nada. Pegou a escadinha que ficava atrás da porta, para poder alcançar um vidro de raízes de urtiga.
- Eu disse pra ela que ela devia aceitar... a sua proposta.
Ao ouvir aquilo, Remo olhou para baixo, para Lilian, que o encarava de volta, muito séria. Ele desceu os degraus da escadinha, parando diante da amiga.
- Você... disse? – perguntou.
- Disse. – confirmou a ruiva – Ela tem medo de machucar você, Remo, é só por isso que disse não.
- Você acha que... – ele a fitou, sem continuar a frase.
- Insiste um pouco mais. – aconselhou ela – Mostra pra ela que você tá mesmo disposto a correr o risco. Depois da nossa conversa, acho que ela vai estar um pouco mais receptiva. – disse a ruiva – Mas pensa bem se é mesmo o que você quer, Remo. Não vai ser nada fácil.
- Eu sei. Mas vai valer a pena. – disse Lupin – Ela vale a pena."
Por isso ele estava ali. Havia tomado uma decisão, iria correr todos os riscos. Mas primeiro precisava falar com Bárbara, e essa não seria uma conversa fácil.
- Remo?
Remo tirou os olhos dos quartanistas que brincavam com frisbees dentados nos jardins, virando-se para o interior do castelo. Bárbara o fitava com um sorriso. Ele a encarou por um instante, pensando em como explicar à garota sua decisão. Ela não percebeu a expressão no rosto dele, pois adiantou-se em sua direção, beijando-o nos lábios, e depois fitou-o, ainda sorrindo.
- O que tá fazendo aqui? – perguntou ela – Ainda falta muito até a hora do jantar.
- Eu... preciso falar com você. – disse Remo, nervoso.
- Aconteceu alguma coisa? – perguntou Bárbara, estranhando o comportamento do Maroto.
- Ahn... encontra comigo na Sala Precisa? – perguntou Lupin, sem responder à pergunta dela – Lá a gente pode conversar com calma.
Ele deixou a garota, que já não tinha a expressão sorridente no rosto, ao pé da escada que levava ao salão comunal da Corvinal, e, despedindo-se dela, rumou para a Sala Precisa. Não precisou esperar mais do que quinze minutos até que Bárbara chegasse também à Sala, com uma expressão ansiosa. Os dois estavam agora sentados em um confortável sofá, conjurado por Remo, e Bárbara encarava o grifinório, esperando que ele começasse a falar.
- Você disse... que precisava falar comigo... – incentivou ela.
- É, disse. – concordou Lupin.
- E então? – insistiu a garota – Fala.
Remo respirou fundo, fitando os olhos escuros da garota. Sabia que logo que dissesse a ela o motivo de tê-la chamado até ali, a expressão de curiosidade se dissiparia, dando lugar a uma outra, de tristeza.
- Bárbara, eu... – começou ele, e então parou, olhando para as próprias mãos.
- Tá me assustando, Remo. – disse a garota nervosa – O que tá acontecendo?
- Bárbara... quando nós começamos a ficar juntos, – disse Remo, hesitante – eu... disse pra você que gostava de uma outra pessoa.
- Disse. – concordou a garota – E eu disse que não me importava.
- É. A gente... combinou que ia ficar juntos, – continuou Remo – mas não era nada certo, ou decidido, por causa dessa outra pessoa.
- É. Mas por que você tá me dizendo tudo isso? – perguntou ela, franzindo a testa.
- Algumas coisas mudaram. – respondeu Remo, devagar – Talvez... talvez ela esteja... esteja disposta a me dar uma chance, ficar comigo.
A japonesinha não disse nada, apenas baixou o olhar. Uma lágrima escapou de seus olhos, indo cair em seu colo, e deixando uma marquinha redonda no tecido das calças.
- Eu gosto dela, Bárbara, e eu quero muito essa chance. – confessou Lupin.
- Quer dizer que nós dois... – ela hesitou – é o fim?
- Eu tinha que vir falar pra você, você tinha que ser a primeira a saber. – disse Remo – Eu não queria magoar você, mas... preciso lutar pelo que eu quero.
- E você quer a Isa. – uma segunda lágrima caiu, indo fazer companhia à primeira na perna da garota.
- Quê? – Remo encarou-a, surpreso. Não imaginava que Bárbara soubesse que Isabelle era a garota por quem era apaixonado.
- Eu sei que é ela, Remo. – disse a corvinal, encarando-o de volta – Vi como você olha pra ela, e como você fica quando estamos juntos e ela está por perto, como se estivesse fazendo algo de errado.
- Eu não queria magoar você. – repetiu Remo.
- Eu sei. – disse Bárbara – Não vou dizer que não está doendo, porque está. – confessou ela – Mas eu entendo o que está fazendo. É o mesmo que fiz pra ficar com você.
- Está chateada comigo? – perguntou ele.
- Não! Não com você. – respondeu Bárbara – Com a situação, mas nunca com você. Eu sabia que você não gostava de mim tanto quanto eu de você, mas achei que pudesse dar certo. – ela parou um instante, fazendo força para se segurar – Bem, não deu.
- E nós... ainda podemos ser amigos? – perguntou Remo, já acreditando que a resposta seria não.
- Claro! – disse Bárbara, sem pestanejar – Talvez agora, no início seja um pouquinho difícil, e talvez seja melhor eu me afastar de você por um tempo. – disse ela, enxugando uma lágrima – Mas nós podemos, nós vamos ser amigos.
- Eu gosto muito de você, Bárbara. – disse Remo, fazendo um carinho no rosto dela.
- Eu sei, Remo. – disse a garota, cobrindo a mão dele com a sua – Bom... é... é melhor eu ir. – disse ela, levantando-se – A gente se vê.
- A gente se vê.
No sábado, para a frustração de diversos casais de namorados, a Sala Precisa esteve ocupada durante praticamente todo o dia. Na parte da manhã, Tiago e Lilian a utilizaram para a sua tradicional aula de Poções, passando metade do tempo concentrados nos ingredientes das poções, e a outra metade em alguns momentos de namoro relativamente bem comportado.
Na parte da tarde, a ruiva estava novamente na Sala Precisa, e mais uma vez, envolvida no preparo de poções, mas desta vez, em companhia de Isabelle. As duas estavam tentando, mais uma vez, preparar a Poção Mata-Cão, e desta vez, as coisas pareciam estar dando certo.
- Dá uma olhada, Lil, acho que já dá pra colocar as raízes do lapelo.
A ruiva deixou de lado o livro de Poções que estava consultando, e se aproximou do caldeirão, espiando seu conteúdo.
- Ah, dá, sim. – disse ela – Vai, me passa as raízes. Qual é a quantidade, mesmo?
- Três colheres, bem cheias. – respondeu Isabelle.
A ruiva tirou três generosas colheradas de raízes de acônito lapelo, devidamente picadas em pedacinhos minúsculos e uniformes, e colocou na poção, girando a colher no sentido anti-horário a cada colherada despejada.
- Pronto. Agora é só deixar ferver mais. – disse ela, depois de mexer a poção pela terceira vez.
Depois que descobriu que Lilian já sabia sobre a condição de Remo, Isabelle contou à amiga tudo o que sabia sobre a Poção Mata-Cão, e também sobre suas tentativas frustradas de conseguir prepará-la corretamente. Desde então, as duas vinham trabalhando juntas, na tentativa de conseguir preparar a poção para dá-la a Remo, mas até o momento, não haviam obtido sucesso.
Naquele sábado, primeiro dia da lua cheia daquele mês, as duas estavam particularmente ansiosas, enquanto controlavam a fervura da poção. O líquido levemente esverdeado borbulhava já há algum tempo no caldeirão, e estava na cor e espessura adequadas para aquele estágio de cozimento.
- Mais quinze minutos. – disse Isabelle – E se a fumaça subir em forma de cogumelo, então vai estar pronta.
Ela então sentou-se ao lado de Lilian, no sofá que fora conjurado pela ruiva logo que as duas chegaram à Sala Precisa.
- A espera é a pior parte... – comentou a morena, afundando-se no sofá.
- É. – concordou Lilian – Mas... enquanto esperamos... – começou ela – me diz, como estão as coisas entre vocês dois?
- Eu e o Remo? – perguntou Isabelle, e a ruiva assentiu – Ah, na mesma, Lily. Nós não voltamos mais a esse assunto.
- Não? – surpreendeu-se a ruiva.
- Não. Acho que ele entendeu que eu não posso aceitar a proposta que ele me fez. – disse Isabelle.
- Pensei que você... fosse mudar de idéia... depois da nossa conversa. – confessou Lilian.
- Como eu poderia, Lil? – perguntou Isabelle – Iria acabar machucando o Remo, e eu não quero fazer isso.
- Você realmente não percebe, não é? – disse a ruiva, e Isabelle fitou-a, confusa – Ele está sendo machucado, você ficando com ele ou não! Vocês dois estão se machucando! Você sofre pelo Sirius, Remo sofre por você, se ficassem juntos, talvez pudessem acabar com isso!
Isabelle encarava a amiga sem nada dizer. Ela sabia que não tinha qualquer argumento para tentar contestar as palavras da ruiva. O clima tenso foi, no entanto, rompido pelo alerta da ampulheta, enfeitiçada para marcar o tempo de cozimento da poção. As duas se encararam por mais alguns instantes, até que Isabelle quebrou o contato visual, dirigindo-se até o caldeirão. Lilian foi até a bancada onde estavam os ingredientes e o livro com a receita da poção, e com o livro nas mãos, aproximou-se também do caldeirão.
- Cor verde-amarelada, e fumaça em forma de cogumelo. – disse ela, e então olhou para Isabelle – Está pronta.
N/A: adiante!!!
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