Dúvidas e descobertas

 

Uma última chance

Capítulo 4: Dúvidas e descobertas

O sétimo ano mostrou-se, logo no primeiro dia de aula, mais duro do que eu pensava, devido ao aumento de nossa carga horária e o número de deveres. Porém, isso não diminuía o entusiasmo dos setimanistas de Hogwarts, que nutriam uma vontade em comum, fazer daquele ano, o nosso último ano, o melhor de todos. Posso dizer que até eu, “a monitora certinha”, não pude deixar de sentir um pouco da animação. Se bem que quanto a isso Mary Macdonnald leva os créditos. É esse o resultado de andar sempre com alguém de áurea tão alegre e otimista. Mary tinha esse efeito sobre as pessoas, levar a elas uma sensação de tranqüilidade, por isso era muito fácil se sentir à vontade perto dela. Devido a esses fatores a garota acabou por se tornar muito querida pelas pessoas – exceto aqueles com tendência ao insano preconceito, comum no mundo bruxo: a aversão a nascidos-trouxa.

Na noite anterior, antes de dormirmos, Mary notou meu estado de espírito e tentou me encorajar a contar-lhe o que havia de errado. Porém, ela mal sabia a quantidade de coisas que não estavam bem, e que eu não estava com a menor disposição para relatar. Mas um desses “problemas” não lhe passou despercebido no dia posterior, o caso ‘Potter’.

-Lil - começou ela enquanto almoçávamos - o que há de errado com o James? Ele está te lançando uns olhares...Não daquele tipo que ele costuma, sabe?

- E qual seria aquele tipo que ele costuma olhar? – perguntei como quem não quer nada, e logo notei a expressão de descrença nela.

- Não se faça de desentendida, você sabe a maneira, diríamos, cobiçosa, que ele costuma te fitar. Mas, aí é que está, não é esse o jeito dele agora. O James está me parecendo meio preocupado desde hoje de manhã. Tem algo de errado com ele.

A constatação dela era óbvia, e era essa mesma dúvida que pairava em mim. Por mais estranho que podia parecer naquela ocasião, eu estava pensando em James mais do que o normal. Era como se naquele pequeno intervalo de tempo, do trem até a hora do almoço, uma série de fatos relacionados a ele tivessem me perturbado mais que o comum, como por exemplo, suas mudanças repentinas de humor. No trem tinha agido de seu jeito costumeiro – isso inclui flertar comigo, é claro – até as inconvenientes revelações de Sirius; depois novas mudanças, de sério à novamente maroto na sala da MacGonagall – se bem que este é um caso à parte, já que minhas reações a ele tinham atingido um outro nível, digamos assim; e, por fim, o incidente com Joe Jonhson, a irritação fora do comum, a maneira fria de me tratar – até então inédita – a desculpa dos amigos, e depois a preocupação, o olhar receoso em minha direção durante todas as aulas do primeiro dia. Às vezes nossos olhares se encontravam e ele desviava um pouco desconcertado, como alguém que é pego em flagrante.

- Lily, aconteceu alguma coisa? – perguntou Mary – Quero dizer, entre vocês dois, porque este não é o James que eu conheço, sabe.

- Talvez você tenha razão, mas se preocupar com o Potter agora não uma das minhas prioridades – disse com um falso desinteresse, enquanto ela me lançava um olhar de reprovação.

Mary, como eu havia dito, era querida por todos, e isso incluía os marotos. Era uma das exceções do núcleo de garotas, próximas aos marotos, que não almejava nada mais que amizade, e o sentimento era mútuo, salvo o pouco perceptível interesse de Remo por ela.

Apesar da astúcia e da aproximação ao campo inimigo, por parte de Mary, pude manter as aparências, continuar fingindo não me interessar pela estranheza dos garotos, mas um episódio ao fim do dia incitou ainda mais minhas dúvidas. A reunião com MacGonnagal.

E lá estávamos, James e eu, ocupando os mesmos lugares do dia anterior, esperando pela diretora de nossa casa começar as tais recomendações aos monitores-chefe. Porém, o assunto tratado não era exatamente o esperado.

- Acredito que o principal vocês já sabem, a questão das rondas é que quero esclarecer, além de outras coisas – começou ela, de seu jeito sério e natural – Bem, para vocês dois ficaram a sexta e sábado, para patrulharem os corredores. Um a cada dia, só que os horários são um pouco mais tarde que o comum devido a certos fatos que vêm acontecendo – e com isso lançou um olhar, pouco mais demorado que o normal, a James. – A questão é, a situação no mundo bruxo não está tão boa quanto o Ministério quer mostrar, e sabe-se de mortes e desaparecimentos não resolvidos que estão assustando a comunidade mágica. Posso dizer com segurança que Vocês-Sabem-Quem está ficando mais poderoso e que seu número de seguidores aumenta. O fato é que apesar de todos os meios de proteção que nossa escola possui, não é sensato arriscar, e temo que algumas ameaças estão mais perto que se imagina – olhou novamente à James, com intensidade, e este somente aquiesceu seriamente.

Aquilo estava me deixando confusa. Ela encarava James como se este soubesse algo que não devia ser compartilhado, era como se a conversa se referisse a ele especificamente.

- Sendo assim, presumo que prestem mais atenção ao que ocorre na escola, principalmente depois do que houve com o Jonhson ontem, e façam os relatórios uma vez ao mês para me entregar, não quero saber de um só trabalhando. Estão dispensados.

Quando íamos cruzando a porta, a professora chamou James, alegou ter se esquecido de algo importante, e quando ameacei juntar-me a eles, ela acabou por me dispensar novamente, o que me intrigou mais ainda. De início quis esperar por ele fora da sala para tentar esclarecer algumas dúvidas, porém seria mais prudente e menos humilhante ir direto à sala comunal e espera-lo por lá mesmo, sem parecer estar fazendo realmente isso.

Ao avistá-lo cruzando o buraco do retrato, pouco tempo depois, nem foi preciso chamar, já que James acabou por vir em minha direção espontaneamente, deixando a aparente preocupação de lado e assumindo uma postura mais segura. Acompanhei seus movimentos até que estivesse sentado numa poltrona de frente à minha. Logo me enchi de esperança ao pensar que ele me explicaria o que significava todo o ocorrido na sala da MacGonagall, porém, mais uma vez, minhas expectativas foram frustradas.

- Evans, eu queria me desculpar por ontem, não devia ter sido tão rude com você. Acho que perdi as estribeiras sem necessidade, acontece que algumas coisas estão ocorrendo e... Bem, esquece, eu só queria me desculpar mesmo.

E ao dizer isso esperou alguma reação de minha parte, e ao não obter sucesso fez menção de se levantar quando foi surpreendido por uma pergunta repentina.

- E por acaso essas coisas que estão lhe acontecendo tem a ver com o discurso da MacGonagall ainda a pouco? – perguntei, tentando parecer o mais casual possível, e ignorando, por hora, sua demonstração de arrependimento.

Pode-se dizer que dessa vez ele foi pego de surpresa tanto quanto eu em relação ao seu pedido de desculpas. A reação foi imediata, aquela ruga na testa que se formava, como de costume, toda vez que era surpreendido, e o mais impressionante, um sorriso, que me parecia ser de admiração. Ele estava conseguindo me confundir ainda mais.

- Me desculpa, Evans, mas isso eu não posso dizer a você – disse um pouco mais descontraído, daquela maneira comum dele, como se estivesse apreciando a minha expressão confusa e desapontada. Porém, não o dei muito tempo.

- E, bem, eu deveria saber se a sua conversa particular com a MacGonagall tem haver com nossas tarefas de monitor ou com os estranhos acontecimentos?

- Na verdade não – começou ele medindo as palavras, tentando esconder algo, o que o fazia ser pouco convincente. Ele nunca soube mentir para mim, não completamente, e ainda lamenta isso – Ela comentou sobre o começo dos testes de Quadribol, mas, mudando de assunto – disse num tom só seu, que usa até hoje quando quer me ver irritada – estou gostando de ver esse interesse todo por mim, isso é tão animador quanto a idéia de passarmos horas juntos fazendo relatórios.

E dizendo isso levantou da poltrona com um sorriso bobo no rosto, se dirigindo a Sirius do outro lado da sala, que o observava num misto de riso e reprovação, enquanto uma série de respostas se aglutinavam em minha garganta, mas não puderam ser pronunciadas a tempo. No meio da raiva que se acumulava, e era denunciada pelo rubor de meu rosto, nem pude notar Mary se aproximando.

- Esse é o James de antes, sempre com saídas triunfais – alegou rindo de minha expressão e logo depois se esquivando de uma almofada lançada em sua direção.

XXX

Godric´s Hollow, Julho, 1980

Nos tempos da escola eu achava muito meloso o fato de algumas pessoas manterem diários e me recusava a fazer o mesmo, como se isso fosse um motivo de fraqueza. Porém, agora vejo que o fato de escrever sobre o que se passa em nossa vida, ou no meu caso, o que já passou, acaba por trazer um alívio enorme.

As pessoas em geral acabam achando meios de expressar seus sentimentos, de botar para fora seus medos e frustrações, ou usam isso como mecanismo de auto-preservação. No caso de James e Sirius se trata do Quadribol e de suas brincadeiras, digamos assim, com pouco senso de responsabilidade – o que mudou com o tempo, é claro. Com Remo trata-se de suas leituras. Com Pedro a ânsia exagerada por comida, e comigo, a escrita.

Bem, mas isso só vim a descobrir a pouco tempo. Antes eu era capaz de guardar as piores coisas só para mim, o que causava sofrimento duplamente. Sempre tive amigos para conversar sobre coisas assim, mas nunca me senti completamente à vontade, exceto com Severo, quando era mais nova, o que acabou por me trazer mais desapontamentos depois, e hoje em dia com James, que além de um amante maravilhoso, é um grande amigo. No entanto, tentei sempre procurar meios de amenizar a dor, esquecer dela e focar nas coisas que mais valiam a pena. Acho que por isso consegui conviver com Petúnia o mais pacificamente possível, com objetivo de não magoar meus pais.

A questão é que o simples fato de redigir palavras me poupou os esforços que fazia para me tranqüilizar e seguir em frente, e é através delas que tento suavizar os dias difíceis, as preocupações e as revelações, que nem de longe são agradáveis, que me vi forçada a aceitar. Uma dessas tornou-se a pior de todas, e é por conta disso que pauso, por hora, a narrativa com objetivo de relatar algo mais importante, uma terrível profecia.

“Aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas se aproxima...nascido dos que o desafiaram três vezes, nascido ao terminar o sétimo mês...e o Lorde das Trevas o marcará como seu igual, mas ele terá o poder que o Lorde das Trevas desconhece...e um dos dois deverá morrer na mão do outro pois nenhum poderá viver enquanto o outro sobreviver...aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas nascerá quando o sétimo mês terminar...”

Nenhum poderá viver enquanto o outro sobreviver.

Nunca em minha vida uma frase havia produzido tantos tipos diferentes de sensações, sendo estas, predominantemente ligadas ao medo. Medo? Não. Pavor, desespero, um abismo de insegurança e nenhuma perspectiva em mente. Era como se após ouvir aquilo eu tivesse sido mergulhada numa banheira de gelo por horas e depois, só o que conseguia sentir era torpor. Isso, até a avassaladora onda de pavor me alcançar.

James, ao meu lado, havia mergulhado a cabeça por entre as mãos, que tremiam assustadoramente. Segundos depois de ter sentido meu olhar intenso sobre ele, James me encarou com os olhos marejados, mas no momento eu não conseguia entender o porquê de sua conduta, estava mergulhada no torpor, e já começava a me sentir confusa, como se os movimentos ao meu redor estivessem sendo executados em câmera lenta, e meus pensamentos mergulhados em uma névoa espessa que tinha se formado em minha mente. No entanto, ao ser acolhida por aqueles braços que sempre haviam sido meu porto seguro até o momento, a realidade veio à tona, juntamente com minhas lágrimas.

Quase como um ato reflexo nós dois começamos a acariciar meu ventre, já protuberante, numa tentativa de mostrar a Harry, ao nosso filho, que faríamos de tudo para protegê-lo. Morreríamos se necessário fosse.

Dumbledore nos observava, cheio de compaixão através de seus óculos de meia lua, e esperava pacientemente que nos recompuséssemos para prosseguir.

No dia anterior ele havia mandado um patrono avisando que tinha algo de extrema importância e inadiável para compartilhar conosco, o que nos tinha alarmado. “O que será que tinha acontecido de tão sério?”Era o que nos perguntávamos, mas nunca poderíamos ter imaginado uma coisa dessas, nunca algo tão terrível.

Harry, nosso esperado e amado bebê, que nem ao menos tinha nascido, já estava sob risco de vida. Mas por quê? Por que ele? Que ameaça uma pobre criança podia representar para um bruxo poderoso como Voldemort? Como isso tudo havia ocorrido, e tão repentinamente?

Durante toda a guerra tínhamos tido um papel decisivo na Ordem, e mesmo eu estando grávida ainda era informada de tudo o que ocorria e tentava fazer o que estivesse ao meu alcance (dadas às circunstâncias), enquanto todos os outros se metiam em missões perigosas, inclusive James, especialmente ele. É claro que dávamos trabalho aos Comensais, e com certeza Voldemort deveria nutrir um ódio especial para com a Ordem como um todo, e a mim e James em particular, principalmente depois das três vezes que nós dois o desfiamos, como narrava a profecia. É claro que o Lorde das Trevas seria capaz, como já o tinha sido diversas vezes, de matar impiedosamente, mesmo sendo a vítima em questão uma criança indefesa. Porém, mesmo com todas as evidências eu não conseguia entender porque o Harry. Porque o meu bebê havia sido escolhido como seu inimigo mortal? O que poderia haver de tão poderoso numa criança? E, o mais importante, o que poderíamos fazer para salvá-lo?

Dumbledore parecia ter algumas respostas a julgar pela postura segura que tinha tomado. Estávamos dispostos a ouvi-lo, por mais difícil que fosse, e fazer o impossível para livrar a pessoa mais importante de nossas vidas do perigo. James enxugou minhas lágrimas e me abraçou com mais força, enquanto uma das mãos ainda estava pousada carinhosamente sob meu ventre. Trocamos um último olhar confidente e nos dispusemos a encarar Dumbledore.

XXX

N/B: Eita menina que escreve bem gente! E que coisa, agora eu estou curiosa... James do passado é muito engraçado, né?! Ele e MacGonagall de segredinho... ¬¬ maldade com a Lilian sô! Agora eu quero ver o que Dumbledore vai falar com ele! E flor, ta de parabéns, descreveu muito bem os sentimentos da Lílian, me emocionei aqui! Beeeijos.

N/A: Oi pessoal! Depois de séculos saíu o cap. Logo de início pensei que estivesse um pouco sem graça sabe, e que a mudança de comportamento do James pudesse confundir vocês, mas acho que tá dando pra aceitar, né? Bem, espero que tenham gostado, e , se não for pedir muito....Uma review seria ótimo! E obrigada a todos que leem e à minha beta.

Até o próximo cap!

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