Em casa
Dedico esta fic ao criador dos Muffins, à minha mãe que me ensinou a gostar de Muffins e, principalmente, à J.K. Rowling, por ter criado esse mundo mágico que eu não consigo mais viver sem.
Esta história não possui fins lucrativos, e seus direitos autorais pertencem à J.K. Rowling, Scholastic Books e Warner Bros.
2 de julho de 1977, Casa dos Evans.
Eu odeio. E não me pergunte o quê eu odeio, porque são tantas coisas que eu teria cãibra de tanto escrever. Pra começo de conversa eu odeio o fato de não conseguir desabafar com ninguém sobre minha vida terrível e ter que escrever essa besteira nesse verso de pergaminho de uma prova idiota de transfiguração.
Também odeio o fato da dona da prova ser mais idiota ainda.
Eu sempre imaginei minha vida perfeita. Como um filme de famílias americanas. Eu e minha irmã seríamos inseparáveis. Ela minha melhor amiga. Eu a melhor amiga dela. Ela, sendo mais velha, me ensinaria tudo sobre os garotos, em tardes de domingo que a gente comeria brigadeiro e conversaria no quarto.
Mas nada disso acontece. Nem de longe.
Minha irmã é minha melhor inimiga. E eu a dela. Se ela tivesse algo a ensinar, seria como destruir todo o melhor vestido de festa da sua maior inimiga em 10 lições.
1 – No dia da chegada de sua inimiga, encontre uma boa faca, de tamanho e afiação ideais.
2 – Assegure-se de estar sozinha na casa, já que todos saíram para buscar a vítima do futuro ataque em questão.
3 – Arrombe o quarto da dona de vestido em questão.
4 – Abra o armário e desarrume-o todo… Mas sempre pelo bem maior de encontrar o vestido.
5 – Encontrada a peça, separe o tecido da renda.
6 – Depois rasgue o tecido lentamente, para aproveitar bem o sublime prazer de afrontar sua inimiga.
7 - Não se esqueça de rasgar a renda.
8 – Pegue o tinteiro de tinta vermelha da inimiga sobre a escrivaninha e abra.
9 – Escreva em letras cor de sangue sobre os trapos (conseqüentemente, a colcha sobre qual eles se encontram também): “Bruxa”
10 – Negue tudo. Afirme que foi a maldade da inimiga se voltando contra ela própria.
Eu nunca pensei em fazer nada nem parecido com alguém em toda minha vida. Nunca. Mas como a MINHA vida é injusta, fizeram isso comigo.
Ok, eu já pensei algumas vezes. Não muitas. Mas foi ela que me deu a idéia. Ah, como eu adoraria que a maldade de Petunia se voltasse contra ela.
Quer dizer, obviamente, ela tem muito mais maldade guardada dentro de si, pedindo para sair. Eu poderia dar uma ajudazinha... Só um empurrão. Bem pequeno…
Mais tarde, Casa dos Evans, Meu quarto.
Como é bom fazer uma boa ação. Libertar a maldade dela deve ter feito bem para a alma de minha irmã. Quando chegar o dia do Juízo Final ela vai me agradecer. Tenho certeza.
Não foi um dano muito grande, comparado ao fato de que ela já terá parte de seus pecados pagos n’O Juízo Final. O quê são alguns ovos jogados sobre os cabelos em comparação à libertação da alma?
Nada. Eu sei que todos diriam isso.
Todos menos meus pais. E Petunia também.
Quando libertei a alma da Pet, minha mãe olhou para mim com os olhos arregalados, como se não fosse absolutamente normal alguém sacar a varinha durante o café da manhã e levitar alguns ovos até caírem na cabeça da irmã. Meu pai imediatamente levantou a voz e começou a falar.
Falar.
Falar.
E...
Falar mais um pouco.
Meus ouvidos deveriam estar doendo. Mas, graças a minha maldade se voltando contra mim, eu paguei meus pecados e eles não estão doendo.
Eu quero viajar pra casa da Lene, E LOGO!
De noite, Casa dos Evans, Meu Quarto.
Agora estou escrevendo em outro verso de prova. Acho que amanhã vou comprar um caderno. Pelo menos assim eu saio de casa. Amanhã Petunia vai trazer algumas amigas.
Sei. São um bando de hienas, isso sim.
E eu até teria algumas amigas para ver, senão houvesse o estranho boato que eu sou leprosa. E que tenho transtorno de personalidade. E que passo o ano num manicômio. Assim talvez eu tivesse.
Ou se o único bom amigo que sobreviveu a isso não me odiasse pelo fato do meu sangue não ser puramente bruxo.
Blah. Como se o dele fosse.
E, mesmo que isso não acontecesse, eu ainda não iria querer andar com um Comensal da Morte mirim.
Hã. Eu me dou ao respeito.
Aliás, é bem interessante observar como meu sangue - que, virtualmente deveria melhorar minha vida - a torna cada vez pior. Uma das minhas maiores amizades se perdeu; e porquê?
Meu sangue que não é puramente bruxo.
Minha irmã me odeia e fez toda a vizinhança me achar um perigo para suas famílias; e porquê?
Bingo! Acertou quem disse: “Seu sangue que não é puramente trouxa!”
Não é que eu odeie Petunia. Eu só respondo aos ataques dela, porque se eu não faço isso ela vai acabar comigo.
Entretanto, não consigo entender porque Tunia parece me odiar cada vez mais. Eu não tenho nenhuma culpa se nasci com 0,1% de sangue-bruxo e ela não tem nem isso. Quer dizer, que tipo de pessoa tem inveja de 0,1% do sangue da outra pessoa?
Depois sou eu que vivo num manicômio.
Se bem que, considerando Hogwarts como é, em essência, acho que Petunia tem uma parte de razão.
Blah. Amanhã vou fazer uma transfusão de sangue. Só preciso decidir se vou virar só bruxa ou só trouxa.
Eu bem que podia ser bruxa; trouxa só nas horas vagas, não?
3 de julho, Sorveteria da Esquina. (Caderninho novo)
Acabei de chegar do centro da cidade. Ao que parece as hienas ainda estão lá. Apesar do fato de eu ter vindo tão lerda que se apostasse corrida com um aleijado, era bem capaz de ele ganhar.
Acho que hienas também sofrem de anomalia no cérebro, que as faz achar que é correto ficar até mais de 7 horas da noite na casa de alguém.
Então estou refugiada na sorveteria. Eu não como muito, então pedi uma super taça de sorvete, para demorar bastante a terminar.
Se bem que eu não deveria estar aqui, principalmente de noite. Dumbledore disse claramente para que eu tomasse cuidado, sendo trouxa e tudo isso. Mas a minha raiva da Petunia e das hienas é tão grande que eu estou até torcendo para que qualquer bruxo das trevas apareça aqui. Eu acabaria com ele só de tapas. E falo isso de um jeito sério.
Também comprei o caderninho. E comprei um presente para Mary. É um romance, mas eu sei que ela adora ler romances. Talvez seja porque a mãe dela é escritora que ela sempre gostou disso. Só espero que ela goste.
Eu não gosto muito de romances. Quer dizer, é óbvio que eu nunca vou encontrar um cara que esteja disposto a morrer por mim. Isso não existe.
Aliás, por pura falta do quê fazer, passei a limpo o quê estava escrito nos versos de provas. Me daria um bom motivo para queimar as provas. Mas agora estou cansada. Vou tomar meu sorvete mesmo.
Talvez elas saiam até o pôr-do-sol*.
Talvez Voldemort faça uma visita para que eu lhe dê uma surra à moda trouxa.
Bem mais tarde, Garagem, Casa dos Evans.
Parece que 9 horas da noite é um bom horário para as hienas irem para suas casas. Tive que vir para cá por que a sorveteria ia fechar. Mas pelo menos daqui posso ouvir elas se despedirem. Juro que é a quinta vez que ouço elas dizerem:
“Ah, está tarde. É melhor que a gente vá pra casa.”
Logo depois uma lembra da cor do vestido da amiga da irmã do primo do vizinho da cabeleireira da Fulaninha de Tal. Aí toda minha esperança se acaba num vestido Chanel – falsificado, segundo as hienas.
Opa! Parece que a mãe de uma delas ligou aqui em casa. Elas estão saindo…!
Ah… o pôr-do-sol nunca foi tão bonito…
4 de julho, Casa dos Evans, Meu Quarto.
Lene me mandou uma carta. Diz que a Irlanda é maravilhosa. Que ela queria que eu estivesse lá. Pra eu não me esquecer dela, agora que estou com minhas amigas trouxas.
Hahaha.
Como se eu tivesse amigas trouxas. Mas vou deixar Lene sonhar que eu tenho. Ela vai se sentir melhor.
Quer dizer, eu tenho certeza que ela se sentiria super mal se soubesse que eu estou sofrendo a ditadura social da minha irmã, enquanto ela vê todas as maravilhas da Irlanda.
Eu me sentiria. Ela também se sentiria. E eu não quero arruinar a viagem de uma das minhas melhores amigas.
Ok, eu admito. Eu estou morrendo de inveja dela. Como eu queria estar na Irlanda agora. Mas eu não estou. E a única coisa que vai me salvar é o aniversário de casamento dos meus avós maternos. Uma grande reunião de família, na casa de praia do meu Tio John. Só que faltam 2 semanas até lá. E só vamos ficar uma semana na praia.
E de qualquer jeito eu sou ruiva. Não posso tomar muito sol. Se tomar, vou descascar horrivelmente e vai doer e eu tenho certeza que isso pode acontecer, levando em conta minha grande sorte nessas férias que nem começaram.
Acabei de perceber que a gaiola da Muffin está suja. Acho que tenho que limpar. Quer dizer, eu sou a dona dela, tenho que fazer ela feliz.
Hey, Deus, se você me pegou pra cuidar, porque não me faz feliz? Eu adoraria saber.
Já que não sei, vou aproveitar que não tenho nada para fazer e que a tevê está quebrada e vou arrumar meu armário, limpar a gaiola da Muffin, arrumar todo meu quarto, fazer algumas assadeiras de muffin... Boas porções de muffin sempre fazem bem a uma alma sofredora como a minha.
Vou trabalhar. Senão eu vou enlouquecer. Até o fim do dia eu decido.
Muito mais tarde, Casa dos Evans, Sala.
Estou morta de cansada. Já passa das 9 horas da noite e só agora terminei de trabalhar. Eu:
1 - Limpei a gaiola da Muffin.
2 - Terminei de desfazer meu malão.
3 - Arrumei meu armário/minhas roupas.
4 - Guardei o quê estava espalhado pelo quarto (não me pergunte como fiz tanta bagunça em apenas 4 dias)
5 - Escrevi uma carta para Lene.
6 - Briguei com Petunia.
7 - Fui para cozinha e fiz uma assadeira de muffins de baunilha.
8 - Cuidei dos vasos de flor que tenho na sacada do meu quarto.
9 - Enviei uma carta de feliz aniversário para Mary. Tentei telefonar também, mas ninguém atendeu.
10 - Outra assadeira de muffins - de puro chocolate.
11 - Fiz minha unha vendo tevê (finalmente meu pai consertou!)
12 - Briguei com Petunia antes e durante o jantar (ela derrubou meu esmalte preferido! E acrescentou sutilmente que eu era uma aberração incapaz de fazer as unhas competentemente).
13 - Me joguei no sofá, e daqui nem a Rainha da Inglaterra me tira.
Ok, se ela prometer que vai me levar para longe da minha irmã eu faço a mala em dois tempos.
Mais tarde ainda, Casa dos Evans, Meu Quarto.
Ahá!
Eu não consigo acreditar na minha sorte. Falo sério, eu sou MUITO sortuda. Eu estava lá na sala, quase desmaiando, quando meu pai começou a falar comigo.
É um tanto complicado entender o quê estão falando quando se está desmaiada, mas tudo bem. Eu me esforcei muito.
Só que minha capacidade de entender só apareceu quando ele finalmente chegou no assunto:
(blá, blá, blá…) “… então achamos que você devia trazer alguma amiga sua para cá, já que todas suas amigas são de Hogwarts e você provavelmente vai ficar um tanto sozinha nessas férias” (blá, blá, blá…)
Uau. Bem que eu sempre achei que meus pais desenvolveriam essa sensibilidade para o sofrimento social de sua filha caçula mais cedo ou mais tarde.
Foi um tanto tarde, ok. Mas ainda sim, parece perfeito. Eu queria telefonar pra Mary agora, mas está muito tarde pra isso.
E o melhor de tudo é que Petunia vai enlouquecer com duas aberrações em casa. Vai surtar… ah, como isso vai ser divertido…
Mal posso esperar para que ela chegue em casa.
5 de julho, Casa dos Evans, Meu Quarto.
São 9 horas da manhã. Acho que está muito cedo para ligar. Em todo caso, eles devem ter saído para comemorar o aniversário dela. Afinal, não se faz dezessete anos todos os dias.
Acho que ela gosta de fazer aniversário nas férias. Eu dou graças a Deus pelo meu sempre acontecer em Hogwarts. Sempre é tão divertido.
Apesar de eu não entender muito bem porque se importam tanto comigo. Eu sou tão dispensável que facilmente poderiam me esquecer trancada em algum lugar daquele castelo gigante. Eu não sou REALMENTE boa em algo que mereça atenção.
Posso fazer poções boas, mas as do Severus são melhores.
Posso ser boa em feitiços, mas todos são.
Posso ser monitora da Grifinória, mas tenho certeza que só me escolheram porque eu não tenho vergonha de gritar com o Potter - que é o ser que mais arma confusão naquele castelo.
Cara-de-pau agora é qualidade? Acho que não.
Mas eu acho que sou ótima em disfarçar que não sou boa em nada. Quer dizer, as pessoas realmente parecem achar que eu sou especial.
Isso mesmo! Especial! Isso não é um absurdo?
Aham. É um absurdo absolutamente impensável. Mas o pior é que é verdade.
E além de tudo eu sou baixinha. Bem baixinha. E meu corpo não é de se dizer “oh!”… ele é normal. Ordinariamente normal. E para cada dia de bom cabelo, eu pago com 20 de cabelo ruim.
E tenho uma TPM realmente horrível. Passo uma boa parte do mês com espinhas horríveis - vulgo: crateras - inchada, comilona, irritável, chorona… e com surtos psicóticos aleatórios.
Percebe aonde quero chegar?
Eu não sou especialmente boa em nada, MUITO menos especialmente bonita ou inteligente, e, além disso, sou um perigo em potencial para a sociedade. Eu nem sequer sou alguma coisa. Não sou trouxa nem bruxa.
E o mais estranho é que ninguém nunca percebeu isso. Eu penso que eles têm tanta pena de mim que não têm coragem de jogar na cara o quão descartável e irritante eu sou.
Devem ter pena de mim.
Mary e Lene devem ser minhas amigas porque não há possibilidade delas conseguirem conviver com as outras duas colegas de quarto. Nam, elas são legais demais para se unirem à força do mal.
Então só sobrou eu, e como elas são garotas legais, deixaram que eu fosse amiga delas.
Ah… Eu queria TANTO ser outra pessoa no mundo.
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