A paciente e o medi-bruxo



NO ST MUNGUS

Fazem dois dias que Hermione foi transferida. Embora os ferimentos externos estejam se estabilizando, para desespero de seus amigos, ela não dá mostras que sairá do estado catatônico.

O ministro garantiu que um especialista viria vê-la e até agora nada pensa Harry furioso. Que raios de corujas ministeriais são essas que não conseguem localizar um simples medi-bruxo? Onde será que ele se escondeu? Na lua?

Ele acaricia lentamente o rosto da amiga. Ela se encontra acordada, mas seu olhar fixa o nada. É como se apenas seu corpo estivesse lá, nas poucas vezes que parece voltar à realidade por alguns segundos, o seu semblante é de dor. Dor e medo... O pavor refletido na sua face é tão intenso que Harry prefere quando Hermione se encontra dormindo.

Os três amigos procuram ir ao hospital todos os dias. E como se procurassem uma forma de compensar os dez anos de ausência. Harry sabe que Gina e Rony também se sentem culpados. Eles têm consciência que é uma culpa desmedida e irracional. Sim, eles têm consciência, mas não conseguem evitar

O moreno acaricia novamente a mão da amiga quando um medi-bruxo entra dizendo que o especialista na maldição acabou de chegar e irá vê-la em breve...

XXXXX

Draco Malfoy está em seu laboratório lendo o laudo de sua paciente H. Gasparov pensa ele. Sinceramente não sei explicar como ela ainda está viva! Outros já morreram ou ficaram irrecuperáveis por muito menos. Definitivamente ele não vê muita chance pra pobre criatura. Se fosse em outra ocasião ele não perderia tempo, mas sendo um pedido especial do próprio ministro o loiro vai ver se dá pra fazer alguma coisa. Não que ele acredite nisso. Minhas férias foram canceladas por nada pensa. Mesmo com o tratamento inovador que eu criei vai ser praticamente impossível fazer com que ela se recupere.

O loiro respira fundo e se dirige ao quarto da paciente. Ele abre a porta e vê ao fundo uma cama com uma mulher muito pálida. À medida em que vai se aproximando Draco tem a sensação que a conhece de algum lugar. Eu já vi esse rosto antes pensa. Ao chegar mais perto ele vê sentado a seu lado um homem com cabelos muito revoltos.

Você! – Harry e Draco falam quase ao mesmo tempo

Harry – Não acredito que você é o especialista em maldição que eu estou esperando há dois dias... Dois dias! Agora está explicado. Você não veio antes porque sabia que era a Hermione. Será que a vida dela é assim tão sem importância? Será que você ainda não superou essas desavenças? (Harry olha furioso para o loiro. Apenas a muito custo ele se lembra que agora ambos são adultos e há mais em jogo do que apenas uma detenção na escola)

Draco olha para o leito sem acreditar que a figura extremamente pálida que se encontra desacordada é a sabe tudo Granger. A mesma Granger que o odiava no colégio! Ódio esse que era recíproco, ele tinha que admitir

Essa é a Granger? H. Gasparov é a Granger? - Ele consegue balbuciar, enquanto olha tentando conhecer a garota de cabelos revoltos e dentes proeminentes na mulher desacordada naquele leito de hospital

Harry – Vai dizer que não sabia?

Draco - Não... No laudo não havia o nome de solteira, eu não tinha como saber. (o loiro dá uma olhada para ela e depois volta aos papéis) De qualquer forma é praticamente impossível reverter o quadro. Ela foi torturada durante muito tempo, dez anos é tempo demais.

Harry olha para o loiro sem acreditar – Disseram que você era o melhor!

Draco sorri sarcasticamente – E eu sou! É por isso mesmo que eu sei o que estou dizendo

Harry (ríspido) – Quer saber o que eu acho? Eu acho que você está se recusando a tratar dela porque ela é a Hermione. Confesse!

Draco (quase gritando) – Ah é! Vejamos o laudo da paciente... (olha para o pergaminho) sofrendo maldição cruciatus há anos, provavelmente a imperius também... Viu o próprio filho ser morto... Isso sem falar nos ferimentos físicos! Acho que ela não tem nenhum motivo pra querer acordar. Aliás, acho que ela vai agradecer muito a você quando acordar e ver que ela não tem mais nada!

Harry balbucia – Ela tem a nós... Seus amigos

Draco – E onde vocês estavam enquanto tudo isso acontecia? Onde estava o grande Harry Potter? Onde estava o grande amigo dela? Como ela passa dez anos nas mãos de um louco e ninguém faz nada?

Harry olha para o loiro. Ele tem razão pensa – É justamente por isso que não posso deixar que ela fique assim (ele engole o seu orgulho e fala humildemente) disseram que você é o melhor. Por favor... Ela já sofreu muito. Merece uma chance de ser feliz

Draco olha para Hermione. Vai ser difícil pensa, mas é um desafio. E ele nunca recusou um desafio...

Ele olha para Harry e fala – Eu vou tentar. Não por você, é claro.

Harry – Eu não esperaria que fosse. Mesmo assim obrigado

Harry se retira deixando médico e paciente à sós. O loiro olha para Hermione. Pela sua experiência com a cruciatus, ele sabe que ela vai acordar fisicamente. Não demorará muito, mas talvez sua mente nunca se recupere. Ela sofreu tanto... Não sei se em seu lugar eu gostaria de voltar...

XXXXX

Os dias passam, Draco se divide entre o hospital e o filho. Ele não gosta de deixar o garoto apenas sob o cuidado dos elfos e procura passar todos o tempo livre com Ryan. Já basta a mãe tê-lo ignorado desde que nasceu

Hermione apresenta ligeiras melhoras quanto à parte física, depois que o loiro iniciou seu tratamento que num primeiro momento consiste apenas em poções fortalecedoras, ela abriu os olhos algumas vezes. Mas seu olhar continua a fixar o vazio. É como se ela não estivesse lá. Em uma das vezes Draco notou que ela recuperou a consciência por alguns segundos. Foi apenas por um momento, mas seu semblante era de puro pavor e logo depois a morena voltou a ter um olhar vazio, um olhar que quem vive num mundo próprio, um olhar de quem olha e nada vê.

Draco está testando seu novo tratamento, ele sabe que é a única chance. Mas para isso ela precisa conseguir recuperar a consciência por um período um pouco maior. Se ela voltar o loiro sabe que terá início uma longa jornada até a sua recuperação. Não vai ser fácil pensa e ela não tem mais ninguém...

O loiro pensa no filho dela. Ela o viu morrer... Se a criança tivesse escapado ela teria um motivo para voltar. Ele sabe perfeitamente o que Hermione deve estar sentindo. Se algo acontecesse a Ryan não sei se agüentaria. Draco sabe que esse é um fator crucial, se ela tivesse um motivo para voltar tudo seria mais fácil, mas, ao contrário, ela tem todos os motivos para não querer mais estar viva

Ele olha para a mulher adormecida, por um momento Hermione lhe parece extremamente frágil. Draco sente uma estranha vontade de protegê-la, de eliminar todo o sofrimento de sua alma. Ele não se contém e passa a mão nos cabelos dela. Neste exato momento, Hermione acorda e olha aterrorizada pra ele

Ela se senta na cama num pulo, os olhos muito abertos e amedrontados. Hermione tenta balbuciar algo, mas a voz não sai. Num impulso, Draco senta-se a seu lado e segura a sua mão. O loiro permanece assim durante algum tempo até que Hermione volta a ter o mesmo olhar vazio. Alguns minutos depois ela adormece novamente

Desta vez durou mais. Por um momento eu pensei que ela tivesse voltado. Talvez haja uma chance. Ele demora seu olhar um pouco mais. Eu nunca havia reparado que mesmo neste estado ela até que é apresentável...

Um barulho na porta interrompe o devaneio. Draco vê Harry e Rony entrar

Rony – O que você está fazendo? (Ele pergunta rispidamente)

Draco (irônico) – É tão difícil pra você reconhecer um medi-bruxo quando vê um?

O ruivo olha furioso para Harry – Você não me falou que era ele...

Harry – É claro! Justamente porque eu sabia que essa seria a sua reação

Rony – Mas é o Malfoy... Ele odiava a Hermione (ele fala e Harry nota que o ruivo começa a ficar perigosamente vermelho)

Harry – Isso foi há muito tempo, agora ele é medi-bruxo... Muito competente pelo que dizem.

Draco interrompe – Vocês dois querem fazer o favor de parar de agir como se eu não estivesse aqui! (olha para Rony) E você fique sabendo que eu sou o maior especialista na maldição cruciatus que existe na Inglaterra!

Rony (irônico) – Claro! Já usou tantas vezes...

Draco olha furioso para o ruivo – Escuta aqui, vocês dois! Eu interrompi minhas férias pra cuidar de um caso praticamente perdido. Estou fazendo o impossível pra fazer uma pessoa que não tem nenhum motivo pra continuar vivendo sair da letargia. Eu não sou obrigado a agüentar...

Antes que Draco termine, eles vêem que Hermione olha assustada para os três. Por um momento ela parece reconhecê-los. Ela tenta balbuciar algo, mas a voz não sai. Dura apenas um minuto e ela volta ao seu torpor. Mais alguns minutos e ela cai no sono novamente.

Harry e Rony olham para a amiga sem acreditar – Ela está voltando? (Harry consegue balbuciar)

Draco – Ainda é cedo pra dizer. Vou continuar ministrando as poções e acompanhando de perto. Até agora ela só teve estes lampejos que duram poucos segundos. Vai ser preciso mais que isso pra saber se ela vai voltar ao normal ou não. Ela ainda vai tomar poções para dormir por algum tempo, até estar fisicamente forte o suficiente pra voltar a realidade.

E quanto tempo isso vai demorar? – Rony fala contrariado, ele ainda não engoliu o fato de justamente a doninha albina ser o responsável pelo tratamento da amiga

Draco – Não dá pra dizer. O normal seria ela não acordar... Foram muitos ataques da maldição. A poção deve ser ministrada em doses pequenas e freqüentes e à medida que ela for tendo consciência da realidade eu tento faze-la ficar conosco...

Draco para a frase no meio. Ficar conosco... Que diabos estou dizendo? Ele tenta disfarçar e manda que Harry e Rony saiam do quarto alegando que Hermione precisa descansar. O loiro também precisa colocar seus pensamentos em ordem no que se refere a essa paciente...


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NOTA DA AUTORA
Finalmente eles se encontraram! Bem... Tenho que admitir que não foi um encontro tecnicamente falando. Afinal a Mione continua apagada, mas de qualquer forma é um começo. Vamos colocar que foi uma... bem... como posso dizer... Uma prévia.

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