Desabafo nos Alfeneiros



- Hermione Granger, eu não acredito que você me trouxe aqui. Não podemos ficar aqui! Você-Sabe-Quem pode aparecer a qualquer instante! - disse Harry perplexo.
- Acalme-se, Harry. Ele não voltará mais aqui. Note que a casa está abandonada, se ele veio aqui, não deve ter encontrado nada. Seus tios com certeza te obedeceram. E Você-Sabe-Quem não pode ser tão burro ao ponto de pensar que você voltaria aqui um dia!
- Mas Mione, eu estou aqui! E se ele colocou feitiços na casa para saber quando alguém entrasse? – disse um Harry preocupado.
- Então eu vou conferir – e passou a recompor-se.
- Não seja louca de entrar nessa casa! – disse Harry, segurando-a.
- Você não está pensando que vou entrar ali pra testar? Claro que não! – disse Hermione sacando sua varinha. – Se houver algum feitiço nesta casa, com certeza saberemos imediatamente. Revelio Totalum!
Nada aconteceu. Os dois ficaram ali observando mais alguns instantes, à espera que algo acontecesse, mas nada. Após quinze minutos, Harry manifestou-se.
- É. Acho que podemos entrar.
Então os dois avançaram para a porta e Hermione quase cansou de abri-la com magia. Tio Valter quis assegurar-se que ninguém iria entrar em sua casa, e para isso uma dúzia de trancas na porta. Ao entrar, depararam-se com uma casa imunda, Harry nem reconhecia, era acostumado a vê-la sob os cuidados de tia Petúnia, mas nas atuais condições, os retratos de Duda pendurados nas paredes do hall desapareciam sob a poeira.
- Veja pelo lado positivo: temos um lugar seguro para ficar. E pelo tempo que desejarmos, creio – disse Hermione alegre.
Harry começou a desvencilhar-se das teias de aranha, tateando as paredes para achar a porta da cozinha. A fome que sentiam era tanta que estava se tornando difícil distinguir o certo do errado.
- HARRY, CUIDADO! – berrou Hermione.
Tarde demais. Tio Valter havia deixado uma armadilha no chão, e a vítima foi Harry. Este desacordou no mesmo instante em que a navalha atravessou a batata de sua perna direita. Hermione desesperou-se. Com medo que outras armadilhas aparecessem e preocupada com o ferimento de Harry, lançou alguns feitiços que fizeram com que a casa ficasse impecável, e outros para ver se haviam outras armadilhas. Na verdade, havia mais uma dúzia e meia de armadilhas, mas a garota desarmou todas, abrindo caminho para o andar de cima.
- Mobilicorpus - recitou Hermione em direção ao amigo, após limpar a casa. Deitou-o em um sofá e pôs seus conhecimentos de medibruxa em prática. Fechou o corte e limpou o sangue. Não era uma imagem muito bonita de se ver; tio Valter havia realmente pensado em algo que derrubaria qualquer bandido trouxa, no sentido literal da palavra. A lâmina atravessara profundamente a pele de Harry.
A garota então, com mais um murmúrio e um aceno da varinha, carregou o menino que sobreviveu até o segundo andar, onde, após alguns passos vacilantes, encontrou o quarto pertencente ao mesmo. Empurrou a porta com o pé e acendeu uma luz fraca. Lentamente, Hermione adentrou no recinto e pôs Harry em cima da cama. À primeira vista, parecia que tia Petúnia previra o retorno do sobrinho.
- Harry - pensou ela em voz alta, - por que raios você é tão descuidado?
Franziu a testa ao ver que o ferimento na perna do garoto voltara a sangrar. Sussurrou algumas palavras, fechando-o. Olhou ao redor e, com um aceno, limpou as paredes, o chão, a janela e livrou-se das teias de aranha. Encontrou uma folha de papel um pouco carcomida nas bordas e transfigurou-a em uma atadura. Prendeu o machucado de Harry para que não abrisse novamente e levantou-se.
A visão do garoto, assim, tão desarmado era algo incomum. Para ela, pelo menos. Harry sempre fora corajoso e incansável, teimoso e impulsivo. Nunca gostou de perder ou de ficar parado, esperando. E ela admirava isso nele. Admirava sua perseverança, sua boa-vontade, seu amor para com seus amigos. Nunca conhecera alguém tão forte.
E tão indefeso. Era verdade, mesmo que o garoto quisesse demonstrar-se como um leão, ele era manso como uma lebre, na realidade. E só agora Hermione percebera?
Sem perceber o que fazia, ela sentou-se ao lado do Eleito, que ressonava suavemente. “Alguém”, ela pensou, “tão forte e tão fraco...” Tirou uma mecha rebelde de cabelo da testa dele, deixando à mostra a cicatriz que o fez famoso. “Se eu estivesse em seu lugar, creio que não conseguiria suportar tanta pressão, e ao mesmo tempo nunca desistir.” Pousou a mão delicadamente sobre a dele.
E ele remexeu-se, assustando-a.
- Não... - ele resmungou, sonhando, - você não vai levá-la... não vai... não vou deixar... Mione, socorro... - e voltou a aquietar-se.
A bruxa engoliu em seco. Levantou-se às pressas da cama, um pouco trêmula, e espanou o pó das vestes. Harry provavelmente dormiria por umas boas três horas, e ela poderia fazer qualquer outra coisa para ajudá-lo.
Ele não acabara de chamá-la por socorro?
Afastou-se da cama na ponta dos pés e abriu a porta, procurando não fazer barulho. Parou e lançou um último olhar sobre o menino que sobreviveu. Sem dúvida, ela tivera muita sorte em ir atrás do sapo do Neville no Expresso para Hogwarts, seis anos antes. Desligou a quase insuficiente luz, saiu do quarto e encostou a porta silenciosamente.

Hermione desceu calmamente as escadas. E sua barriga roncou.
- Pelas barbas de Merlin, quanto tempo faz que comi alguma coisa? - ela perguntou-se. - Fiquei tão preocupada com o Harry, que acabei esquecendo que preciso de comida.
A garota foi até a velha geladeira e abriu-a.
- Tia Petúnia, será que você pensou em mim tamb... não.
Vazia.
- Também! O que você esperava, Hermione? - revirou os olhos. - Que houvesse pão, queijo, presunto, mel, geléia, ovos, manteiga, é? Se você não notou, as pessoas SAÍRAM desta casa. Não são tão burros a ponto de deixar comida estragando na geladeira...
Parou de repente.
- O quê... não, estou tendo alucinações.
Estendeu o braço e pegou o objeto de dentro da geladeira. Junto, veio um bilhete:

Para emergências.
P.


Hermione olhou atordoada para o cartão de crédito pousado em sua mão. Realmente, tia Petúnia pensara nela. Ou melhor, neles. Era como se já soubesse que, mais dia, menos dia, voltariam àquela casa.
A garota sorriu e pôs o “presente” no bolso. Esperou alguns segundos e retirou-o de lá, como se quisesse ter certeza de que era real. Com um sorriso ainda maior, e murmurando um “muito obrigada”, guardou novamente o cartão e virou-se para janela. Puxou a cortina bege um pouco para o lado e espiou para fora. Ninguém na rua. Nenhum pássaro, nenhum mosquito, nenhuma pessoa, nenhuma sombra. Ou melhor, as sombras começavam a formar-se, pois o sol nascia - tímido, pálido e triste. Perfeito. Hora de colocar as mãos na massa, como diria qualquer trouxa.
A bruxa soltou a cortina, que voltou a seu lugar de origem, e voltou-se para a escada.
- Fique bem, Harry. Já volto.
Fechou melhor seu casaco e espanou novamente o pó das mangas. Espirrou. Conferiu se sua varinha e o presente de Petúnia estavam ali, deu as costas às escadas e abriu a porta.

Fora da casa, havia um ventinho frio e rabugento de outono. Hermione esfregou as mãos e observou a casa dos Dursley. “Igual às outras”, pensou, “mas com pessoas diferentes.” Pigarreou e puxou a varinha. Olhou em volta. Ninguém. “Perfeito.” Com alguns sussurros e outros movimentos da mão, Harry estava protegido. A garota sorriu, satisfeita, e enfiou a varinha no cós da calça. Escolheu a direita e pôs-se a caminhar, dando uma última olhada naquela casa tão especial, com alguém tão mais especial dentro dela.
O mundo trouxa era muito interessante para o sr. Weasley - e com razão. Hermione adorava caminhar pelas calçadas, ver as pessoas iniciando seus dias monótonos ou agitados, algumas bem-humoradas, outras nem tanto. E imaginar que havia algo tão simples e lógico quanto aquela vida, sem magia, era fascinante. Claro, ela gostava imensamente de poder fazer qualquer coisa com um simples mover de lábios e varinha, mas se precisasse se esforçar para conseguir o que quisesse, sem dúvida a recompensa seria mais saborosa.
Agora, o movimento já havia aumentado e já era possível escutar cumprimentos dos transeuntes e curtas conversas. Hermione caminhou mais duas quadras e encontrou um mercadinho, cujo dono abria suas portas e começava a expor frutas e legumes fresquinhos. A garota cumprimentou o senhor com um sorriso largo, pegou uma cesta e pôs-se a escolher o que levaria para ela e Harry. Batatas, alface, tomates, laranjas, maçãs... Virou-se e viu uma senhora magra e baixinha aproximando-se na venda. Voltou a atenção para as prateleiras internas da lojinha. E...
- Ah, meu Deus! - exclamou correndo até uma caixa de sucrilhos. - Eu não estou vendo isso!
Deu vários pulinhos e empurrou umas sete caixas para dentro da cesta. Passou os olhos por todos os produtos e sentiu uma euforia imensa. Há quanto tempo não degustava aquelas delícias? Geléias de frutas, pães quentinhos, bolos de todos os sabores, biscoitos com gotas de chocolate!... Preencheu metade da cesta com esses itens e logo apressou o passo para a prateleira seguinte, onde encontrou alguns enlatados. Milho, molhos, conservas. Perto dos doces havia um refrigerador com carnes, queijos, presunto e bacon. A garota serviu-se de praticamente tudo, extasiada. Era como se não visse um mercado há séculos – e de fato não via.
E em seu corre para um lado, corre para outro, em seu enlevo, esbarrou em alguém, derrubando não só sua cesta, como também a da outra pessoa e algumas latas que estavam empilhadas ali.
- Oh, céus, desculpe-me! - choramingou Hermione, levantando-se rapidamente para reparar seu erro. - Desculpe! Eu não vi a senhora. Por favor, deixe-me ajudá-la...
- Tudo bem, tudo bem - falou a velha senhora, erguendo-se com a ajuda da garota. - Vamos, vamos, estas coisas são suas. Aquelas três lá são minhas. Mort, pode vir aqui arrumar estas latas? Desculpe-nos.
- Desculpe-me, eu realmente ando muito atrapalhada...
- É nova na vizinhança, hein? Oh! Espere... eu conheço você de algum lugar!
Hermione gelou. Lembrou-se automaticamente da Sra. Figg, e alguém que lhe reconhecesse naquela situação realmente era o que a garota não precisava.
- N-não, a senhora deve estar me confundindo... Minha família e eu chegamos há uma semana da França, e apenas eu falo inglês fluentemente, então estou fazendo as compras. – e tratou de forçar um sotaque francês que lembrava vagamente Fleur Delacour – bom, já vou indo, foi um prazer conhecer a senhora e desculpe-me pelo transtorno! Au revoir!
A garota apressou-se em pagar as compras e sair dali o mais rápido que pudesse, de modo que a Sra. Figg não pudesse segui-la.
Ao chegar à casa acompanhada do entregador – eram tantas as compras que tornara-se impossível carregar sozinha, já que não poderia usar magia – encarregou-se de dar-lhe uma boa gorjeta – toda a mesada que recebera de seus pais e que, sem querer, encontrou no bolso do jeans – para que não contasse em qual casa estava, já que esta estava há meses vazia.
Arrumou todas as compras sobre a mesa da cozinha, e preparou um almoço reforçado, afinal, Harry estava fraco e não tinham acesso a uma comida de sustância havia um longo tempo.
- Nossos mundos podem ser diferentes, mas a comida trouxa sem dúvida é melhor! - disse a garota, para si mesma, alegre, enquanto bebia um refrigerante e o forno aquecia a refeição. Aliás, Hermione nunca gostara da Sopa de Ervilha.
Antes que a comida ficasse completamente pronta, Mione desligou o forno e foi esperar Harry acordar.
Ficou sentada ao pé da cama por quase uma hora, observando Harry dormir. Seus sentimentos pelo garoto estavam cada vez maiores, mas a garota fazia questão de escondê-los o máximo possível. Para ela, Harry ainda era apaixonado por Gina e nunca iria querer alguma coisa com ela, e mesmo que quisesse, Gina era sua melhor amiga – aliás, a única –, e não seria capaz de tal traição.
Harry acordou tranquilamente, colocou os óculos e deu um sorriso para Mione como quem diz “está tudo bem”. Esta, por sua vez, entregou-lhe vestes limpas e mandou-o vesti-las e descer para jantar.
- A comida não é lá grande coisa, você bem sabe, mas é o melhor que pude fazer – disse Hermione colocando uma forma com um bolo de carne que cheirava maravilhosamente bem. Não era um bolo lá essas coisas, a ver que não crescera suficientemente, mas para quem passara meses comendo ratos mortos, pássaros e peixes, isso era um banquete.
Harry estava com o olhar distante, Mione tinha certeza que o garoto pensava em alguma coisa que o cutucava há muito tempo, e ela imaginava o que era.
- Harry, o que está havendo? Desabafe comigo. Estou me sentindo agoniada de te ver neste estado! – disse Hermione não contendo-se, notando que os olhos de Harry enchiam-se de lágrima – Oh, Harry... Não fique assim... Venha. – disse abraçando-o e puxando-o pela mão para o sofá da sala.
- Mione, porque não pude ficar mais tempo com eles sete anos atrás? Eu podia! Sei que podia! Podia até tentar traze-los de volta, ou então ficar lá com eles! Porque foi tudo tão rápido? – e começaram a escorrer lágrimas dos olhos verdes do garoto – Porque há todos esses anos eu venho sofrendo tanto? Não seria muito mais fácil se Você-Sabe-Quem tivesse conseguido me aniquilar junto com meus pais? O Dumbledore, custava ele ter deixado alguma pista concreta, ou ter me contado tudo antes de morrer, desde nossa primeira aula particular? E Sirius, que apareceu na minha vida instantaneamente e sumiu da mesma maneira que chegou?
Hermione quis pedir para Harry acalmar-se, esta já chorava junto dele, mas preferiu ficar calada para que o garoto desabafasse, afinal, fazia muito tempo que Harry estava com tais palavras trancadas na garganta.
“E Lupin e todos os outros, porque levaram tanto tempo para me procurar? Podiam ter me procurado em algumas férias, podiam ter me contado tudo o que sabiam sobre meus pais, podiam ter me contado que eu sou bruxo muito antes do que soube! Qualquer uma poderia ter me tirado desta vida! Dane-se se eu cresceria na fama, pelo menos estaria vivendo entre meus iguais e entre gente que gostaria de mim, não com uns loucos que me trataram com desprezo por toda a vida! E o Rony, aquele débil, que nos abandona no meio desta jornada? E esta droga que jornada, que estamos perdidos no meio do nada, sem saber para onde ir? E o ministério? Se tivessem me ouvido, aqueles idiotas, talvez hoje saberiam o que fazer! E os outros ministérios da magia, afinal, minha história é famosa no mundo todo, porque ninguém faz nada? E Merlin? Aquele velho barbudo poderia sim fazer alguma coisa! Só sabe ficar sentado em alguma poltroninha por aí, só serve para ter fama! Se ao menos alguém nos ajudasse um pouquinho que fosse, mas não, a única coisa que só sabem fazer é fugir dos capangas do V...”
- NÃO PRONUNCIE! – berrou Hermione, voando em cima de Harry para tapar sua boca, afinal, a empolgação do garoto era tanta que ele não estaria nem aí em falar o nome Daquele-Que-Não-Se-Deve-Nomear.
Os dois agora se encontravam tão próximos que a respiração de Hermione embaçava os óculos de Harry.
Mione então começou a lembrar de seus sentimentos quanto a Harry, e sem pensar no que estava fazendo, beijou Harry, que retribuiu de uma forma inesperada, então ambos ficaram ali por um longo tempo, nas nuvens, sem nem imaginar ao certo o que estavam fazendo.
Quando Hermione se deu conta, tratou de desgrudar de Harry o mais rápido que pôde, e num piscar de olhos estava de pé de costas pro garoto.
- É melhor que você vá deitar. Está tarde, e você deve estar exausto.
Harry continuou imóvel, sem saber o que fazer, apenas lembrava-se do que acabara de acontecer e ao mesmo tempo fitava Hermione que, por sua vez, subiu as escadas correndo como quem corre da polícia. Harry escutou-a bater a porta do quarto de Duda, e ao subir para deitar-se ainda escutou-a soluçando. Sua vontade era entrar no quarto e dizer que não era para se culpar e retribuir-lhe o beijo, mas preferiu deitar-se e esperar o dia seguinte para quem sabe conversar sobre o assunto com Mione.



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N/A: desculpem-me a infinita demora para postar este capítulo interminável, mas agora está aqui, e prometo que em breve o 11 estará aqui também! ^^'

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Comentários (1)

  • Bethany Jane Potter

    Por favor naum demora a postar....to amando a fic....ta tao fofaaaaa....tao lindaa!!!!!...Por favor naum demora.Boa sorte com a fic e com os estudos....To esperando ansiosamente...bjsbjs Amo Harry e Hermione  

    2012-02-06
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