Capitulo 1



CAPÍTULO I


Hermione Encantada não acreditava em contos de fada, apesar de seu sobrenome excêntrico. Mas com paralelepípedos reais sob seus pés, a bandeira roxa e dourada de Llandaron tremulando ao vento fresco da manhã e o antigo forte imponente à sua frente, era possível mudar de idéia.
O castelo de pedra branca de sete andares estava no alto de um penhasco com vista para o Oceano Atlântico. Lances de degraus de mármore levavam até um pórtico de madeira maciça, duas torres brancas estendiam-se em, direção ao céu azul.
Com tudo isto à sua volta, o cheiro de urze e água salgada na brisa aos poucos ia desviando sua mente do trabalho, do motivo de estar ali...
— Bem-vinda a Llandaron, senhorita.
Mione assustou-se com a recepção animada. Um jardineiro que podava uma madressilva perfumada piscou para ela.
Primeira vez no castelo, certo? É de tirar o fôlego, não é mesmo?
Não estava ali para se deixar levar por uma fantasia de criança. Ela havia ido àquela pequena ilha para trabalhar — ganhar o dinheiro que finalmente iria colocar seu projeto de vida em prática. Seu único objetivo era abrir uma clínica de cirurgia veterinária em Los Angeles.
— Sim, sou a Dra. Encantada. Acabei de chegar. Estou procurando a estrebaria. Estou no caminho certo?
O jardineiro acenou:
— Mantenha-se nesta trilha e chegará lá. Procure por Charlie. Ele lhe mostrará o lugar.
— Obrigada. — Mione seguiu a trilha de pedra, observando atentamente cada detalhe que encontrava.
Todos os livros que havia lido sobre Llandaron exaltavam sua "exuberante beleza na primavera". Deleitava-se enquanto caminhava pelo jardim esculpido que conduzia à enorme estrebaria. A pouco mais de um quilometro da Cornualha, na Inglaterra, Llandaron parecia outro mundo.
Hermione caminhou pela estrebaria com a impressão que pretendia causar, um ar confiante. Os cavalos relincharam de suas baias, e ela acariciou levemente suas crinas antes de se dirigir a um longo corredor à procura de um homem chamado Charlie. Porém, quando ela chegou à última baia, ficou imóvel com a maravilhosa cena à sua frente, seus joelhos estremeceram e sua garganta secou, enquanto seu pulso acelerava.
Com uma forquilha nas mãos, de costas para ela, um homem remexia a palha e jogava os flocos em um estábulo ao lado. Mione passeava com o olhar por suas botas gastas, subindo para o jeans dobrado que escondia coxas fortes e musculosas, e um lindo bumbum. Ele tinha cintura fina e costas largas e bronzeadas que brilhavam com o suor. Soltou um leve suspiro de aprovação. Para seu azar, o homem se virou, deparou com seu olhar atento e abriu um sorriso largo.
— Olá. — O sotaque era de um nativo de Llandaron, as palavras deslizavam por seus lábios sensuais, aguçando seus sentidos.
Mione lutou para conseguir falar. Esforçava-se para parecer distante, mas aquele Deus de l,80m com cabelos pretos, espessos e ondulados, traços esculpidos e sobrancelhas grossas sobre olhos de um verde profundo, não parecia com nenhum homem que ela já conhecera. Ele tinha o que as garotas em seu trabalho chamavam de "abdo­men definido". Suspirando, ela refletia enquanto evitava que suas mãos alcançassem aquele tórax e sentissem aqueles músculos se contraindo. Limpou a garganta e adotou um tom confiante.
— Você deve ser Charlie.
— Devo ser?
Pelo seu tom de voz, Mione não percebeu se aquilo era uma pergunta ou uma resposta. Não deixaria que ele notasse o quanto a deixava perturbada.
— Sou a Dra. Hermione Encantada, ou melhor, Mione.
— A veterinária dos Estados Unidos.
— Califórnia.
O olhar encantador de Charlie percorreu lentamente o corpo dela até chegar à sua boca.
— Morena, bronzeada, pernas longas e lindos olhos. Uma autêntica californiana.
Sua calça bege e blusa azul lisa de repente pareceram ser uma sensual lingerie de renda preta. Ela sentiu ruborizar-se e desejou que passasse logo. Não devia envergonhar-se. Ela costumava dar um belo fora em caras muito seguros de si.
— Já olhou o suficiente? Ou prefere que eu dê uma voltinha?
Ele levantou os olhos para encontrar os dela, com uma expressão descontraída.
Acho que devia lhe perguntar o mesmo.
Ela engoliu em seco. Era verdade. Um sorriso surgiu nos lábios dele.
— E então?
— Então o quê?
— Você fez a oferta, Dra. Encantada. E acho justo que se mostre para mim depois de ter me olhado por tanto tempo.
Os olhos dela se arregalaram.
— Eu não fiz isso! E... bem de jeito nenhum vou me virar... eu só estava... isso não significa que eu...
Ele sorriu.
— Talvez em outra oportunidade.
— Acho que não.
Seu olhar percorreu o amplo escritório à sua direita confortavelmente mobiliado. Sobre uma janela de sacada aberta, deitada sobre uma caminha de pelúcia verde, havia uma adorável cadela caçadora com um abdomen protuberante e olhos castanhos. Dez dias antes, Mione nunca havia ouvido falar sobre o rei James ou de sua cadela de caça — ora, ela mal ouvira falar de Llandaron —, até que seu companheiro, quem sabe um dia noivo, Dr. Dennis Cavanaugh, foi convidado para a função "real". A reputação de Dennis com os animais dos ricos e famosos em Los Angeles sempre lhe rendia convites para lugares fantásticos. Mas, naquela ocasião, ele estava ocupado demais, então recomendou Mione para o trabalho. Ela não pensou duas vezes sobre a oferta.
A cadela olhou para Mione, talvez se perguntando quem ela era e por que estava ali. Mione sorriu:
— Bem, você é bonita — disse, e antes que abrisse o portão, sentiu uma mão larga sobre a sua, espalhando ondas de calor em seus braços.
— Permita-me, doutora.
Um leve suspiro escapou dos lábios de Mione enquanto desvencilhava sua mão da dele.
— Espero não ter queimado você — disse ele sarcástico, abrindo o portão e deixando que ela entrasse.
Ela passou por ele rapidamente.
— Você não fez nada.
O homem riu e sussurrou rouco:
— Tem certeza?
Mione caminhou até sua paciente, com as maçãs do rosto pegando fogo.
Se pudesse escolher, diria a ele que dali por diante ela iria comandar. Mas sabia que a cadela ficaria mais à vontade com alguém que ela conhecesse, e a saúde do animal era mais importante que algumas atitudes inoportunas.
— Então você é a minha paciente? — perguntou Hermione com a calma habitual, sentando-se ao lado da cadela prenha. O desconforto começava a desaparecer. Ela estava com sua paciente, e ali se sentia segura.
— Seu nome é Grande Dama Glindaron. Mas a chamamos de Glinda.
— Glinda, é? — Hermione estendeu à mão e deixou que a cadela a cheirasse, — Como a bruxa boa?
— A bruxa boa? — o homem repetiu.
— Você sabe, 'O mágico de Oz' — Ela olhou para ele. — Glinda, a bruxa boa? — Nada disso surtiu efeito. — É um filme.
Ele se apoiou nos calcanhares.
Ah, nós não temos isto aqui.
Os olhos dela se arregalaram.
— O quê?
Ele deu uma risada maliciosa.
— Muito engraçado, Charlie — disse ela rispidamente.
Ele olhou para o chão por um momento, e Hermione se sentiu aliviada.
Com toda sua força, Mione tentou trazer à mente a imagem de Dennis. Mas não funcionou. Os olhos hipnotizantes do cavalariço eram poderosos.
— Na verdade, as pessoas de Llandaron adoram um bom filme — dizia o homem enquanto coçava atrás da orelha de Glinda. — A família real também. E, na verdade, 'O mágico de Oz' é um dos favoritos do rei.
— Estou feliz em saber que Sua Majestade tem bom gosto. Para filmes e para animais. — Mione abriu sua maleta e pegou um estetoscópio e um termometro. Depois desse dia, ela e Glinda estariam acostumadas uma com a outra, e Mione não precisaria daquele homem novamente.
— É você quem cuida de Glinda? — Ela perguntou, em seu tom profissional.
— Fico de olho nela.
— Então gostaria de lhe fazer algumas perguntas, se não se incomodar.
— Claro.
— Ela está se alimentando e se hidratando?
Comendo menos, bebendo mais.
Hermione assentiu.
— Teve algum sangramento, vômito ou diarréia?
— Não.
— Certo. — Ela se aproximou da cadela. — Por que você não a acaricia, a mantém calma, enquanto eu a examino?
Ele lhe lançou um olhar irônico.
— Está me pedindo para ajudá-la, doutora?
— Caso não se importe.
— Por que me importaria?
— Eu realmente não quero atrapalhar seu trabalho — explicou ela.
— Meu trabalho?
Ela gesticulou em direção à estrebaria:
— Limpar os estábulos e alimentar os animais...
Ah, sim, é claro. Acho que posso parar por alguns minutos.
A consciência de que estava em um país estranho lhe causou um arrepio no estômago.
— Tudo bem, mas não quero lhe arranjar problemas, então me avise se eu tomar muito de seu tempo.
— Mas não há com o que se preocupar. Meu patrão e eu nos damos muito bem — respondeu ele com um sorriso irônico.
Após tirar a temperatura da cadela, Hermione escutou seu coração, pulmões e o som dos filhotinhos em seu útero.
— Cães de caça podem ter gestações de alto risco, é o que dizem os boatos — comentou o homem, quando Hermione passou a verificar os olhos e ouvidos da cadela. — Suponho que seja uma especialista em tais casos.
— Este boato é verdadeiro.
— Há outros? — Ele se aproximou ainda mais de Glinda, e Mione abriu a boca da cadela para examinar seus dentes.
— Claro. Mas são todos falsos, ou no máximo, meias-verdades.
— Ainda assim, não me incomodaria de ouví-las.
— Não creio que seria um tema apropriado para os ingênuos assuntos de Llandaron.
O olhar carrancudo que ele lhe lançou mostrava claramente que não era ingênuo.
— O que acha de Llandaron, Dra. Encantada? — perguntou, com o rosto muito próximo do dela.
— Bem, estou aqui há apenas algumas horas, mas o que vi é... — De repente, prendeu a respiração, ao perceber o olhar dele se desviar descaradamente para a sua boca.
— Impressionante? — ele perguntou, com sua voz rouca envolvente.
— Sim — respondeu ela numa espécie de murmúrio que já ouvira em filmes. "O que estava acontecendo ali?", refletiu ela irritada. "Talvez devesse ter ficado em Los Angeles, com Dennis, e deixado outra pessoa pegar este trabalho."
Hermione repeliu aquele pensamento irracional. Estava atraída por aquele homem. Não significava que iria permitir alguma interferência em seu trabalho.
— Llandaron é magnífica — disse o homem, despertando-a de sua auto-análise. — As pessoas daqui tem orgulho de seu país, que possui uma beleza sem igual e é pacífico.
— Eles devem ser realmente orgulhosos. É um lugar maravilhoso. Viveu sua vida toda aqui?
— Em Llandaron ou aqui no palácio?
— Tanto faz.
— Sim, para os dois.
— Então você cresceu em grande estilo, não? — perguntou com um sorriso suave. — Seus pais trabalharam aqui e agora você trabalha?
— Alguns chamariam de negócio de família.
Ela não compreendeu bem.
— Isto soou quase como um lamento.
— Nem sempre as decisões de uma pessoa são exclusivamente dela, doutora.
— Isso é conversa fiada — ela retrucou. Ele riu.
— Você acha?
— Sim, acho. Só temos uma chance nesta vida. Dar aos outros controle sobre as nossas escolhas é um desperdício.
—De tempo?
— De vida. Meu pai sempre dizia "A vida é um presente".
O coração de Mione ficou apertado de saudades ao lembrar-se de seu pai. Ele havia partido há quase 16 anos, morrido e a deixado com uma família que mal lembrava seu nome.
— E os filhos do rei, doutora? Para eles, o dever e a honra vêm em primeiro lugar. Eles não têm o luxo da escolha.
— É claro que têm. Eles apenas colocam o dever e a honra acima de seus desejos.
— Nada de contos de fada ou príncipes encantados para eles.
Ela voltou a atenção para Glinda, sentindo seu abdomen e os filhotinhos que cresciam ali dentro.
— É engraçado, a maioria das pessoas fantasia os reis: o estilo de vida, os bailes, os beijos perfeitos, um lindo príncipe e tudo mais.
— E você não?
— Não. — Ela permanecia segura com aquela resposta. — Quando eu era criança, não ficava vidrada na televisão assistindo a desenhos da Disney como as outras garotas.
— O que fazia então?
Hermione não pôde evitar o sorriso.
— Curativos nos animais feridos que costumavam aparecer em nosso jardim.
— E aposto que você curava todos eles. — Um humor gentil modulou a voz dele.
— A maioria. Mas algumas vezes as coisas fugiam do meu controle. Digamos que nunca vi o mundo cor-de-rosa.
— Como você vê as coisas, Hermione?
— Me chame de Mione — pediu ela novamente. — Vejo a vida através de óculos de lentes infravermelhas. Quero ver os detalhes, a verdade. Não quero que a fantasia me cegue.
— As fantasias podem ser muito prazerosas.
Sentiu um calor se espalhar por seu corpo ao ouvir estas palavras.
— A curto prazo, talvez.
Um sorriso tomou os lábios dele.
— E você não busca prazeres a curto prazo?
Ela desviou seu olhar para qualquer lugar, menos para ele.
— Ainda estamos falando do meu modo de ver a vida?
— Qual a sua idade, Hermione?
— Vinte e oito.
— Sabe, você é bem sábia para uma mulher tão jovem.
Ela encolheu os ombros, constrangida pelo elogio.
— Apenas conheço minha mente, só isso.
— Muito madura.
— Você acha?
Ele deu um sorriso largo.
— Acho.
— Perdoe-me, Alteza.
O olhar de Mione se dirigiu à porta, onde estava um senhor vestido com roupas de trabalho.
— Bom dia, Charlie. — Ouviu a voz grave ao seu lado, agora carregada de formalidade.
O coração de Hermione virou uma pedra.
Charlie fez uma reverência.
— Bom dia, Alteza. Sua Majestade retornou da cidade e deseja lhe falar.
— Obrigado, Charlie. Pode ir.
Hermione não esperou que o verdadeiro Charlie saísse. Virou-se e encarou o homem que ela supunha ser o cavalariço. Ela estreitou os olhos:
— Alteza?
— Não tive chance de me apresentar apropriadamente.— Ele inclinou a cabeça. — Príncipe Harry James Potter.




Obs:Fic nova no ar!!!!!!Espero que gostem dela como eu gostei quando li!!!Durante a semana tem mais atualização!!!!Bjux!!!!Adoro vocês!!!!

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