Sete



Não a suportava e seus argumentos para isso eram plausíveis somente para ela mesmo, por isso limitava a deixar a guerra entre as duas somente restrita a elas e a mais ninguém, apesar de saber que a castanha jamais conseguira esconder isso de Harry.

Olhou o bilhete em cima do catalogo. O pegou e leu. Sorriu e o amassou sem dó, como se aquele papel fosse o pescoço de Hermione. O jogou no lixo antes de deixar o consultório de Harry completamente vazio.

_****_



Gina acomodou-se sobre o tórax nu de Harry que sentia-se extremamente aliviado por tudo aquilo ter acabado. Não que realmente não gostasse de Gina, mas aquilo estava se tornando quase que uma obrigação de todas as noites. Ela parecia bem quanto aquilo, parecia adorar e o que não sabia era que estava o matando.

Pensava que talvez a ruiva estivesse acreditando que ir ao seu apartamento todas noites era o que mantinha o relacionamento dele arrastado. Ela era gentil, linda, uma boa companhia, entretanto, Harry se sentia cansado e ainda sentia medo de falhar em alguma noite que fosse.

Ela se soltou dele e pos as pernas para fora da cama erguendo os braços para se espreguiçar sentada a beira do colchão.

Harry focou seu longo e ruivo cabelo liso que cobria sua costa nua. Ela puxou o lençol da cama e enrolou em torno do corpo. Ele, por sua vez, puxou o edredom e acomodou sua cabeça sobre os braços apoiados no travesseiro já sentindo suas pálpebras pesarem.

Fechou os olhos e somente escutou os passos dela se movimentando pelo seu quarto.

- O que é isso? – a voz dela soou e o despertou. Ele notou que ela já não se movimentava mais pelo quarto e quando abriu os olhos ela já estava vestida.

Ele apertou os olhos devido a luz da lareira e ergueu-se um pouco para ver o que Gina queria saber. Ela segurava uma das diversas cartas que havia esparramado pela mesa de sua escrivaninha.

- São cartas. – ele respondeu num resmungo voltando-se a deitar. Ela tinha mesmo que ter o despertado?

- Sim. – ela disse. – Eu vejo que são. Mas aqui...

- São intimações do ministério de aurores para que eu me apresente. Eles querem que eu me junte a eles. – a voz de Harry soou rouca enquanto ele se enrolava mais ao edredom acomodando-se confortavelmente sobre a cama.

- Sério? – a indagação dela soou animada. – Nossa, Harry! Isso é ótimo!

Harry presumiu que ela havia se sentado na cama quando o outro lado deu uma afundada. Ele não disse nada sobre o comentário de Gina.

- Você vai lá amanhã? – perguntou ela.

- Não. – respondeu simplesmente tentando dormir novamente.

- Quando vai? – tornou a perguntar. – Quero te acompanhar.

- Não vou. – tornou a responder.

Gina pareceu surpresa.

- Não vai? – indagou confusa. – Harry, seu sonho é ser auror! Como assim não vai?

- Não vou, Gina! Droga! Deixe-me dormir! Amanhã tenho que estar cedo na sede da ordem! – disse num fôlego só trocando de posição para tentar novamente dormir.

Gina hesitou mantendo seus olhos em Harry por um instante. Logo depois ela se levantou, jogou o lençol sobre a cama e abriu a carta passando a lê-la minuciosamente.

Harry, com a cara enfiada no travesseiro pode ter noção de que ela mexia nos pergaminhos que haviam em sua escrivaninha. O barulho de papel lhe fez imaginar a cena dela lendo todas as cartas que havia ali.

- Eles não mandaram só uma. – a voz dela soou pelo quarto. Harry sentiu que a raiva que estava quieta dentro de si começava a mexer-se incomodada. – Deus! – exclamou ela. – Eles mandaram isso tudo? Por que tantas?

Harry se sentou e suspirou com as mãos cobrindo o rosto. Buscou a paciência mas ela parecia demasiadamente perdida. Gina mantinha os olhos sobre as linhas das cartas em sua mão. Ele pegou sua calça no chão e a vestiu. Parou diante de um espelho ao lado da cama e passou as mãos sobre os cabelos desejando por tudo que Gina soltasse todas aquelas cartas.

Ele puxou os cabelos a focando através do espelho. Sua respiração se tornava cada vez mais rápida a cada segundo que ele olhava os olhos delas se movendo de um lado para o outro concentrado nos pergaminhos.

- Eles não estão exigindo as notas de N.I.E.N.s muito menos as de N.O.M.s. – Gina disse calmamente. – Harry, você está sendo totalmente estúpido de não acei... – ela parou abruptamente assustando-se quando todos os pergaminhos e envelopes foram arrancados brutalmente de sua mão.

- ESQUEÇA A DROGA DESSAS MALDITAS CARTAS! – gritou Harry jogando-as na lareira. – EU NÃO DEIXEI QUE MEXESSE EM MINHAS COISAS!

- NÃO FALE ASSIM COMIGO! – retrucou Gina no mesmo tom. – SE FOSSE HERMIONE VOCÊ AO MENOS SE EXALTARIA!

- VOCÊ BEM QUE PODIA SER COMO ELA! – gritou ele em troca.

Harry pode ver o brilho vermelho que perpassou pelos olhos cor de avelã de Gina. Ela fez uma careta e sua mão se ergueu indo velozmente em direção ao rosto de Harry que a deteve pelo pulso. Ambos de focaram por um longo segundo e os lágrimas se formaram nos olhos dela.

- Podia ser como ela? – vociferou Gina ironicamente com os dentes cerrados e a voz barganhada. – Quer que sua namorada seja como sua melhor amiguinha? Por que não me troca por ela em vez de ficar fazendo showzinhos. Eu sou só a mulher que faz sexo de noite com você e ela é a que te escuta, te compreende, te atende, te faz sorrir. ESSE É O MEU PAPEL! – gritou puxando o braço bruscamente para si. – ESSE É O PAPEL QUE ELA TOMOU DE MIM.

- ESSE É O PAPEL QUE SEMPRE FOI DELA! – retrucou ele.

- E O QUE EU SOU PARA VOCÊ? – indagou enquanto uma lagrima escorria pelo seu rosto e seus dedos massageavam seu pulso ao qual Harry apertara com força. – Sua garota de programa? Aquela que vem te visitar todas as noites, supre sua necessidades sexuais, se despede e vai embora? Que ao menos um “oi” você troca direito.

Harry fez uma careta.

- Não seja dramática! – exclamou indignado.

- ESTOU SENDO REALISTA! – gritou ela.

- Sabe que minha agenda é apertada. – disse ele friamente.

- Sabe que sua agenda é realmente apertada, afinal, você tem que almoçar com Hermione, comprar um presente para Hermione, visitar Hermione, mandar corujas para Hermione! QUE DIABOS! E eu?

Harry suspirou.

- Gina, desde o nosso primeiro dia de namoro, sempre soube, por mais que nunca tivéssemos discutido sobre isso, que eu jamais teria coragem de abrir mão da minha amizade com Hermione. Nossa amizade é assim! E eu sinto te dizer que não mudaria as coisas com Hermione por ciúmes estúpidos, sem argumentos plausíveis e convincentes. Se realmente quiser adapte-se. – disse ele já com sua raiva sobre controle.

Ela torceu o nariz.

- Não quero me adaptar. É completamente injusto! – ela exclamou.

Harry deu de ombros.

- Então eu sinto muito por nós dois. – e passou por ela. – Se aparecer amanhã aqui não vou te receber.

Ele saiu do quarto e rumou para sala. Passou um bom tempo sentado no sofá encarando a penumbra da noite através da janela. Sim, ele havia sido injusto. Admitia, de fato, entretanto, viu nisso uma forma de finalmente ter uma desculpa para terminar com aquela tortura.

O relógio já marcava quatro da manhã quando ele retornou ao quarto. Ela não estava lá e não voltou. Nunca mais.



_*****_

- Sobre a mesa! – gritou Hermione do outro lado da porta do quarto. Harry pode escutar sua voz chegar abafada enquanto ajeitava sua gravata borboleta. – Pegue o recado e pregue na vasilha de tampa vermelha na geladeira.

- O de pergaminho amarelo? – indagou um tom alto para que sua voz passasse da sala para a porta do quarto ao fim do corredor.

- Exatamente! – respondeu ela.

Harry pegou o pergaminho e o leu. Riu.

- Do que você está rindo? – uma voz fina surgiu e Harry focou a loirinha que acabara de entrar na sala com sua jardineira nova.

- Do quanto Hermione é perfeita. – ele respondeu a menina.

Ela riu e aproximou-se mais dele.

- Eu estou bonita? – perguntou estendendo os braçinhos curtos e dando uma volta para que ele pudesse vê-la de todos os ângulos.

- Está linda! – disse pegando-a em seu colo. – Bela jardineira. Vermelho combina com você.

Ela abriu um sorriso radiante.

- Gosto de vermelho.

- Uma bela cor.

- Você está cheiroso. – ela comentou. – E bonitão. – e riu enquanto ambos se dirigiam para a cozinha. – Está se arrumando para a tia Mione?

- Estou me arrumando para ir a uma festa com a tia Mione. – corrigiu ele.

- Papai e mamãe também saiam juntos. – lembrou Sophie.

- Mas eles saiam para ficarem juntos. Sozinhos. – falou Harry abrindo a geladeira ainda com Sophie no colo.

- Você e a tia Mione não vão fincar juntinhos e sozinhos? – indagou a menina curiosa.

Harry abriu um sorriso maroto enquanto procurava a tal vasilha.

- Quem sabe. – disse e Sophie gargalhou. – Hei, pode bater na porta e perguntar a Hermione se caso ela estava se referindo a vasilha redonda ou a quadrada? – perguntou educadamente pondo a garota no chão.

Ela saiu correndo da cozinha e ele pode ouvir abafadamente seus passinhos animados pelo piso da casa. Ele recostou-se na bancada da pia esperando que a menina voltasse com a resposta.

A noite já havia caído e desde que o sol estava se pondo Hermione estava trancada no quarto. Harry agradeceu mentalmente a si mesmo por ter implorado que se arrumasse antes dela.

A campainha soou repentinamente ao mesmo tempo em que Sophie tornara a colocar seus pés na cozinha.

- É a redonda. – disse a menina animada. – Será que é a babá?

Harry deu de ombros, pegou o lembrete de papel amarelo escrito por Hermione que deixara em cima da geladeira, pregou na vasilha de tampa vermelha redonda e pegou Sophie no colo rumando para a sala afim de atender a porta.

Certo que Harry convivera bastante tempo com Tonks antes de ela se casar com Lupin e ter seus maravilhosos, amáveis e espertos filhos que se resumem a dois, mas quem na realidade dão o trabalho de dez. Ele certamente nunca vira alguém como a que havia do outro lado da porta assim que a abriu.

Deparou-se com uma estranha jovem de cabelo verde berrante extremamente lisos que não passavam de seus ombros. Sua pele era realmente alva e seus olhos tão azuis que fazia Harry lembrar água de piscina. Havia sardas por todo o seu rosto e o vestido que a mulher usava era tão cheio de cores berrantes que fazia Harry sentir dor nos olhos ao olhá-lo.

- Cabelo legal. – comentou Sophie após passar seus olhos por toda a mulher.

Ela sorriu revelando seu belo sorriso e seus dentes branquíssimos.

- Sr. Potter? – indagou ela educadamente. – Harry Potter? – seus olhos brilharam. – Sou a babá de Sophie. – e estendeu a mão.

Harry a apertou e deu espaço para que a outra entrasse.

- Sente-se. Fique a vontade. – falou enquanto colocava Sophie de volta ao cão.

A loirinha saiu correndo e sentou em uma poltrona para que pudesse ver melhor a babá que se acomodava no sofá da sala colocando sua enorme bolsa laranja ao seu lado.

Harry foi até a entrada do corredor e chamou por Hermione. Voltou-se para a mulher e pos as mãos no fundo do bolso da calça.

- Vamos voltar pouco depois da meia noite. Tentaremos chegar o mais cedo possível. O jantar dela está pronto. Na geladeira. Um vasilha de tampa vermelha com um lembre amarelo em cima. Basta somente esquentar. – disse Harry calmamente.

A babá parecia colher atentamente palavra por palavra no ar.

Hermione surgiu com seu belo vestido de ceda cor de sangue. Seu colo ficava descoberto e suas costas eram acolhidas somente pelas fitas de cetim que se cruzavam. Ela mantinha a cabeça ligeiramente inclinada enquanto colocava apressadamente o outro par de um bonito brinco prateado. Pendurado em seu braço estava o par de sandália prata que deveria estar em seu pé, entretanto eles estavam descobertos e pisavam diretamente na cerâmica fria da sala.

- Oi! – Hermione exclamou animada ajeitando o vestido assim que terminou com os brincos.

Seus cabelos ainda estavam desarrumados, no entanto Harry acreditava que certamente não haveria outro forma de deixá-la mais bonita do que agora.

A tal babá levantou-se e estendeu a mão. Hermione sorriu e a apertou. Logo depois ela se sentou em uma poltrona e inclinou-se para por as sandálias.

- Não sei se Harry já lhe disse. – falou enquanto abotoava um par da sandália. – Mas... – e passou para o outro par. – O jantar dela está na geladeira, não deixe ela ir para cama muito tarde e... – sua voz foi cortada pelo som da campainha que soou alto.

Hermione ergueu o olhar confuso e viu Harry dirigir-se para a porta. O silêncio foi um tanto desconfortável enquanto Harry encarava quem estava do outro lado da porta.

- Gina? – a voz dele ecoou numa indagação que fez Hermione se levantar já com as sandálias nos pés.

Hermione se juntou a ele e ergueu as sobrancelhas surpresa ao visualizar a imagem da ruiva do outro lado da porta.

- Se importaria se eu entrasse? Aqui fora está um tanto que frio. – disse Gina educadamente.

Harry e Hermione hesitaram, entretanto, não demorou muito e ambos haviam dado espaço para que a ruiva entrasse.

- Tia Gi! – exclamou Sophie pulando da poltrona e correndo para um abraço apertado. – Eu estava sentindo muito a sua falta!

Gina riu levantando-a em seu colo enquanto a abraçava.

- Não sabe o quanto senti a sua!

- Por que não veio nos visitar? – indagou ela a ruiva.

- Eu estive um tanto ocupada. – mentiu. Voltou-se para Harry e Hermione e disse sem rodeios. – Vim buscá-la.

- Mesmo? – exclamou a menina excitada abrindo um largo sorriso.

Harry e Hermione trocaram olhares significativos. Harry viu que a castanha certamente tinha um ar apreensivo. Respirou fundo e disse mantendo seu tom calmo e casual, afinal, Sophie estava ali, e se Gina fosse se aproveitar disso ele não hesitaria em manter mais nada oculto aos olhos da menina.

- Você sabe o que precisa apresentar para poder levá-la, Gina. – disse ele.

- Fui ao ministério ontem, Harry. Eles me liberaram uma declaração hoje e liberarão para o Sr. Lovegood próximo fim de semana. – explicou Gina ajeitando a menina em seu colo.

- Do que estão falando? – indagou Sophie curiosa.

- Mas nós já contratamos uma babá para ficar com a menina. – pronunciou-se Hermione.

- Dispense-a. – falou Gina sem dirigir o olhar a Hermione. – Eu tenho a autorização.

- Do que estão falando? – tornou a indagar Sophie num ar de insistência e com bastante veemência.

- Mostre-a então. – pediu Harry.

Gina deixou a menina no chão, abriu sua bola e de lá tirou um pergaminho enrolado que estava lacrado pelo inconfundível símbolo do ministério.

Harry o pegou quando Gina o estendeu. Abriu e passou a lê-lo atentamente. Hermione aproximou-se e inclinou a cabeça para poder ler juntamente com Harry.

De fato era do ministério. O feitiço para a assinatura era único e ambos puderam notar que a assinatura era de Locke Jonhwell o chefe do Departamento de casos familiares. Sim, era novo no ministério, mal altamente competente. Porém, não para Hermione.

Ela lutou contra um riso incrédulo e contra a vontade de lançar um olhar agourento a ruiva. Respirou fundo e conteve-se. Ela tinha plena certeza de como ela conseguira aquela assinatura, e não, de forma alguma aquilo havia sido alcançado por um meio justo. Gina era certamente a pior pessoa que conhecia. Acreditava ela.

- Por que não nos avisou com antecedência? – perguntou Harry.

Gina sorriu sarcástica e pos as mãos na cintura dirigindo seu olhar, pela primeira vez desde que chegara, a Hermione.

- Ora! – exclamou. – Mas é óbvio que eu avisei, não foi Hermione?

A castanha recuou surpresa e ergueu as sobrancelha um tanto quanto assustada pela acusação indireta. Abriu e fechou a boca cerca de duas vezes hesitante. Percebeu os olhares de Gina e Harry sobre ela e sentiu-se nervosa.

- Eu... – gaguejou. – Não... Não era algo exatamente concreto.

- Disse que iria conseguir a autorização do ministério. Em momento minhas palavras chegaram a ser incertas quanto a isso. – falou Gina.

- Eu só... – Hermione hesitou. – Pensei que fosse um tanto impossível receber uma autorização como essa tão cedo. – ela estreitou o olhar. – Como fez isso, Gina?

Gina respirou fundo assumindo um ar de ofendida.

- Eu somente consegui. Parece que a justiça está do nosso lado.

- Do que estão falando? – tornou a insistir Sophie já nervosa.

- Sei que não foi justa, Gina! – exclamou Hermione.

Gina fez uma careta e olhou para Harry assumindo uma expressão incrédula.

- Harry! – exclamou a ruiva. – Ela está me acusando.

Harry revirou os olhos.

- Certo, Gina! Você tem a autorização. Leve-a. – suspirou e tirou a carteira do bolso voltando-se para a babá. Estendeu a mulher de cabelos verdes uma quantia de moedas de ouro e disse – Eu sinto muito, mesmo, mas acho que seus serviços não serão mais necessários.

A mulher levantou-se sorrindo e negou as moedas.

- Tudo bem. Vi que não esperavam por isso. – disse animada. – Sem trabalho, sem dinheiro. Entretanto, agradeço somente pelo fato de terem me escolhido. Espero que tenham uma boa noite.

Hermione abriu a porta para a babá e desculpou-se antes dela sair. Suspirou, fechou a porta e encarou Gina.

- Vou arrumá-la. – e estendeu a mão para Sophie. – Venha querida.

- Não é preciso. – cortou Gina segurando a mão de Sophie. – Ela tem um quarto só para ela N’Toca. Lá tem tudo que ela precisa.

Hermione recolheu sua mão e olhou para Sophie que a encarava aborrecida.

A loirinha soltou a mão da ruiva e cruzou os braços se afastando.

- Eu quero saber por que tudo isso para me levar para a casa da vovó e do vovô! – resmungou a menina.

Dessa vez o silêncio veio já que não havia mais como ignorá-la. Harry olhou Hermione esperando que ela dissesse algo a Sophie e Gina não hesitava em esperar que Hermione lhe dissesse o porque.

Sem opção, Hermione caminhou nervosamente tomando cuidado a cada passo que dava e maquinando de que forma poderia ajudar Sophie quanto a suas duvidas. Abaixou-se fazendo com que seus olhos ficassem na altura dos azuis da menina, respirou fundo e começou.

- Minha bonitinha, - a ponta de seus dedos suavam frio e ela alisou os fios loiros e lisos do cabelo macio da menina. – Lembra quando lhe disse que há coisas que se eu explicasse a você agora não entenderia da forma como ela realmente deve ser entendida?

- Mas eu quero saber! – exclamou Sophie aborrecida.

- Sim, eu sei que quer. Tem todo o direito! Mas as coisas andam muito delicadas ainda. Pode esperar um pouco.

- Eu não quero esperar! – choramingou a menina.

- Conte logo a ela! – exclamou Gina.

Hermione fechou os olhos. Tornou a respirar fundo e logo os abriu encarando os azuis de Sophie que não contradisse o que a tia havia dito. Harry não se pronunciaria e ela sabia exatamente o porque.

- A vovó Molly e o vovô Nopi estão disputando para ficar com você. O ministério está decidindo para quem será mais justa a vitória e enquanto isso você deve ficar conosco, eu e Harry, e só pode ver seus avós mediante a apresentação de uma autorização. – Hermione disse num fôlego só. Levantou-se e olhou Gina com os olhos carregados de ódio. – Deixe Sophie longe disso. Ela só tem cinco anos. – vociferou.

Gina apenas limitou-se a sorrir vitoriosa.

Hermione bufou dando as costas e seguindo firme para a entrada do corredor passando por Harry sem sequer dirigir a atenção a ele.

- Isso significa que eu não vou ficar para sempre com vocês? – a voz da menina soou. Hermione parou antes de sumir pelo corredor. – Vocês não são minha mamãe e meu papai novos. Não somos uma família de verdade?

Hermione pode, apesar de estar de costas, ver o sorriso vitorioso de Gina murchar. Sentiu desejo de virar-se e responder Sophie amorosamente, mas talvez isso pudesse agravar mais seu caso com Gina e isso era a última coisa que certamente queria, ainda mais na presença de Harry. Suspirou relutante passou entrou no corredor.

_****_

Harry fechou a porta cautelosamente atrás de si. O quarto estava um tanto que escuro, a iluminação vinha somente de uma vela que pirava próximo ao espelho onde Hermione parecia fazer os ajustes finais de sua maquiagem.

Ele se sentou numa das poltronas perto da lareira e a encarou. Sim, os olhos dela marejavam. Isso o fez sentir raiva de Gina. Suspirou e disse numa voz pesarosa:

- Eu simplesmente odeio quando isso acontece.

Hermione fungou e se olhou no espelho. Sentia-se horrível.

- Eu simplesmente odeio ter que viver isso! – exclamou irritada. – Céus! – disse e sua voz saiu barganhada. – Será que em nenhum momento nós podemos nos dirigir a palavra de uma forma amigável? – indagou.

- Sabe que Gina é orgulhosa. – ele disse.

Hermione não respondeu. O silêncio reinou por um longo tempo ao qual Harry somente a observou pegar a varinha e murmurar um feitiço na direção de seu cabelo que passou a arrumar-se sozinho.

- Elas já se foram? – indagou ela focando-se parada.

- Sim. – respondeu Harry. – Sophie não queria ir embora, ela acredita que você está com raiva dela. Gina não deixou que ela viesse. Pediu que eu dissesse a você que ela se sente mal por ter te forçado a contar o que não queria e pediu desculpas.

O silêncio tornou a reinar e foi cortado somente quando Hermione fungou.

- E a culpa não foi dela. – disse Hermione com a voz barganhada.

Ela se dirigiu ao banheiro e trancou-se lá antes de esperar que Harry dissesse alguma coisa. Talvez fora arrumar algo no vestido ou na sandália. Ou procurar algo que estivesse faltando.

A noite já havia caído e isso era visível pelo vidro da janela. Haviam estrelas no céu, entretanto eram muito poucas. Estavam chegando no inverno e era realmente difícil encontrar alguma estrela no céu.

Harry fechou os olhos e concentrou-se em tudo que havia passado até então. Desde a noite em que ganhara de presente a marca negra em seu pulso. Refletir sobre tudo era o que mais odiava e o que mais fazia, afinal, tudo que teria que passar era cruel o suficiente para fazê-lo refletir e acreditar se era mesmo necessário.



Harry enfiou as mãos no fundo do bolso e encolheu-se devido ao vento gélido do inverno rigoroso. Virou a esquina e suas botas tornaram a afundar na neve acumulada.

Respirou e teve a sensação de que seus pulmões haviam congelado. Inspirou pela boca e a fumaça branca juntou-se a atmosfera.

Andou cautelosamente até a entrada do caldeirão furado e sentiu o calor confortante o envolver assim que adentro o local cheio, entretanto silencioso.

Havia somente o zunido de cochichos baixos. Ao fundo do bar, um tanto que escondido, ao lado de uma janela pequena e redonda, havia uma bela jovem de castanhos cabelos cacheados que parecia um tanto dispersa na neve que caia em rodopios do lado de fora.

Ele aproximou-se dela enquanto se despia da capa. Jogou-a sobre a mesa e pendurou o chapéu na cadeira. Ela continuava a olhar para a janela, porém sabia exatamente que ela tinha certeza de que ele havia chegado somente pelo fato de não tê-la cumprimentado.

Sentou-se a frente da amiga e esperou, deixando que o silêncio reinasse entre eles, até que ela tomasse a primeira palavra.

- Gina disse que agiu de forma muito grosseira com ela. – a castanha disse num tom baixo ainda focando os flocos de neve pela janela.

- Sabe o porque. – disse ele no mesmo tom que ela.

Hermione suspirou e desviou o olhar da janela para seu chá fumegante sobre a mesa.

- Ela me culpa. – disse quase num cochicho. – Ela me culpa por tudo, literalmente por tudo. Como se fosse um erro eu simplesmente existir em sua vida.

Harry brincou com o saleiro da mesa.

- Acredito que saiba o quanto me sinto culpada por isso. – ele disse pesaroso. – Mas não posso continuar com Gina e o ciúme doentio dela. É insuportável! Eu acredito que ela seja capaz de invadir meu apartamento algum dia enquanto eu estiver na ordem e revirar minhas coisas atrás de algum indicio que prove explicitamente que eu tenho um caso as escondidas com você.

- Penso que Gina tenha uma espécie de vicio por você. – Hermione disse.

Harry fez uma careta e mexeu-se desconfortável na cadeira.

- Sei que não me chamou aqui para discutirmos sobre Gina e eu.

Ela assentiu a com a cabeça e tomou um gole de seu chá descansando-o calmamente sobre a mesa. Harry logo soube qual o assunto seria tratado.

Ela respirou fundo e soltou o ar buscando, ao que parecia para Harry, coragem.

- Harry eu... – ela hesitou.

Harry assentiu.

- Vai se casar. – completou ele como se fosse algo insignificante. – Sim, eu sei.

Ela ergueu o olhar pela primeira vez desde que ele cegara e o focou intrigada.

- C... Como? – indagou franzindo o cenho.

Ele deu de ombros.

- Simplesmente sei pelo fato de ter escondido durante certa de um mês a aliança em seu dedo e pelo fato de que sempre quando o assunto pendia para o lado de seu relacionamento com Krum você fazia absurdos para se esquivar dos comentários. – Harry disse, fazendo Hermione abaixar a cabeça e por a xícara de chá entre as mãos para esquentá-las. – Escute Hermione, - começou calmamente. – sei que minha opinião na sua decisão é importante e sei que não me contou sobre isso antes exatamente pelo fato de saber o que penso isso. – Hermione permaneceu em silêncio. – Quer mesmo se casar com ele?

Hermione hesitou, seus olhos continuavam voltados para seu chá. Ela respirou fundo e disse, exatamente como havia treinado:

- Eu quero.

Harry inspirou ajeitando-se na cadeira e buscou sabedoria em como deveria agir nesse momento.

- Vou repetir a pergunta e quero que responda com seus olhos voltados para mim.

- Harry...

- Não! – ele a cortou. – Não quero que faça isso porque tenho vontade de te ver fraquejar, mas sim porque quero ter absoluta certeza de que vai mentir para mim.

Ela mexeu-se desconfortável em sua cadeira e tornou a respirar fundo. Sabia que ele não acreditaria em sua mentira, enganá-lo sempre fora seu desafio maior e isso de fato nunca iria mudar. Céus! O que Harry tinha com ela? Por que ele a conhecia tanto! Nunca o enganara, e quando precisava não conseguia. Sentia vontade de abrir uma exceção, somente Harry, afinal, era sempre ele que sabia de seus segredos mais sórdidos. Mas não. Isso acarretaria em conseqüências futuras e o que ela queria era somente entrar nessa vida que estava por vir sem que ninguém, exatamente ninguém, soubesse o que se passava em sua mente, isso poderia até mesmo ajudá-la.

Ergueu a cabeça e disse pausadamente esperando passar confiança em suas palavras.

- Harry, eu quero me casar com Krum!

Harry a focou por um longo tempo. Ela julgou como desnecessário e como, certamente, desconfortável. O viu inspirar calmamente e desviar o olhar para o saleiro num ar de indignação.

- Nunca mentiu para mim. Por que faz isso agora? – indagou ele.

- Não entendo porque não consegue acreditar que quero me casar com ele. – disse ela.

- Por que eu sei que não quer! – exclamou erguendo o olhar novamente para ela. – Hermione, sabe que não pode me enganar!

- Harry, não vai conseguir me entender sempre! – ela disse em tom alto. Boas partes dos olhares em volta do pub caíram sobre os dois e Hermione se encolheu irritada com o fato dos olhares furtivos. – Eu estou feliz por isso, meus pais estão felizes, Krum está feliz, vamos ser felizes! – disse baixo.

Harry passou as mãos pelo cabelo e bufou enquanto sua cabeça maneava negativamente de um lado pra o outro. Pensou e tornou a pensar. Por que ela de repente passara a agir tão estupidamente.

A focou. Sentiu-se mal por saber que ela mentira tão descaradamente, mas sabia que tinha um fundamento forte em as mente e era exatamente devido a isso que não estava a obrigando a dizer a verdade.

Tomou o rosto da morena entre suas mãos e espirou seus olhos por um longo momento que Hermione sentiu-se tranqüila pela compreensão que passou a ver nos verdes dele.

- Quero que vá ao casamento. – pediu ela quase num cochicho.

Ele negou com a cabeça.

- Não vou. – disse simplesmente.

Ela fechou os olhos e suspirou.

- Harry... É o meu casamento. – insistiu.

Ele ajeitou uma mecha de seu cabelo para trás da orelha acariciou sua bochecha.

- Não vou a um casamento que não irá acontecer. – ele disse calmamente.

Ela abriu os olhos e o focou entristecida.

- Por que não consegue me entender? – indagou. – Estou tentando fazer um bem a mim.

Ele negou.

- Não. Não está! De forma alguma! Está acabando com você, ainda é tão nova. Krum não é o que quer, mesmo que tente me convencer de que estou errado eu [b]sei[/b], Hermione, que ele não é o que você quer!

- Harry, por favor...

- Não! – ele tornou a cortá-la. – Não vou te impedir de nada. Se acredita que está feliz, tudo bem. Eu sou somente alguém a quem você considera.

- É meu melhor amigo. – ela sussurrou e um soluço veio. Ergueu uma das mãos e cobriu a dele que estava sobre sua bochecha. Harry viu os olhos dela brilharem quando as lágrimas o encheram. – É um dia importante para mim, por mais que não acredite.

- Dói ver você mentindo dessa forma para mim. Não quero chegar em um casamento e te ver sorrir falsamente. Pode enganar a todos, mas não pode enganar a mim. – falou.

Ela respirou fundo e fechou os olhos soltando o ar devagar quando uma lagrima pulou de seus olhos.

- Vou me casar com Krum. – disse com a voz barganhada. – Eu só queria que estivesse lá.

- Não queria que ninguém estivesse lá, Mione. – retrucou. Ela não se pronunciou. Ele suspirou e disse: – Olhe, - começou. – só quero que saiba que não vai convencer a si mesmo agindo dessa forma. Não pense na felicidade de outros. Pense na sua! Esse casamento não vai acontecer e por favor... Não teime. Você tem novos vinte e quatro. Não os jogue ao vento como se não tivesse que viver muito ainda.

Ela abriu os olhos, no entanto, não focou Harry. Não iria a convencer, mas o tempo iria. Deu-se por derrotado. A mão fria dela continuava sobre uma das suas. Ele inclinou-se e lhe deu um demorado beijo na testa. Levantou-se, colheu sua capa e seu chapéu e pôs a se distanciar.

Sua mão e a dela separando-se fora o último que acabara com o contato entre os dois. Seus dedos soltaram-se um a um até que finalmente se separaram e então Hermione o viu cruzar o pub enquanto vestia a capa e afundava o chapéu em sua cabeça.

Ele passou pela porta. Parou em meio ao frio e focou a janelinha da mesa de Hermione. Por ela, pode ver a amiga com as mãos cobrindo um rosto vivendo um choro silencioso.

Enfiou as mãos no bolso e sentiu seu coração apertar-se. Era tão injusto vê-la assim, mas não, ela não ia se casar. Ele esperaria até que ela deixasse de agir estupidamente.



A porta do banheiro tornou a se abrir e de lá Hermione já saíra completamente pronta. O vestido, a sandália, a maquiagem e o cabelo.

- Está linda. – ele disse a vislumbrando de sua poltrona.

Ela voltou seu olhar do armário onde escolhia uma bolsa, para ele. Sorriu e tornou a escolher uma bolsa.

- Obrigada. – disse simplesmente.

- Não deixe que Gina estrague sua noite. – disse.

Ela pegou uma das bolsas pequenas de seu armário e acenou a varinha para ela. Sua cor mudou para um tom de prata. Ela sorriu satisfeita e Harry viu em seu sorriso o porque havia se trancado no banheiro. Um instante para esvaziar a mente enquanto o silêncio reina sobre as lágrimas derramadas e ocultadas por um feitiço.

- Não vou deixar. – disse parando de frente para ele. – Estou pronta.

Ele se levantou preguiçosamente e abriu um largo sorriso.

- Aplausos a minha editora magnificamente linda, inteligente, esperta e teimosa! – brincou.

Hermione sorriu e laçou sua mão a dele quando elas se encontraram casualmente.

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