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Gina ajudou a levar o corpo inerte de Hermione até a ambulância. Harry parecia péssimo. Todo sujo de sangue e muito pálido, indicando que a morte chegara perto. Um paramédico lhe aplicou uma máscara de oxigênio, e ele abriu os olhos. Fitou Hermione, e depois Gina, mas nenhuma palavra saiu de sua boca.
No hospital, os dois foram levados para a emergência, enquanto Gina ficou esperando em uma saleta. Antes ela tivesse ido com Hermione.
Andando com a elegância de sempre, no final do corredor, estava Draco Malfoy parecendo extremamente preocupado. A ruiva arregalou os olhos, pondo-se de pé num pulo. Agora sim. Estava ferrada!
Os braços grandes do loiro a envolveram com urgência.
–Mérlin! Você está bem? – perguntou ele, checando cada pedacinho do corpo da mulher.
–O que você faz aqui? – quase gritou ela. Draco a olhou confuso. – Digo, como você sabia que eu estava aqui?
–Me ligaram! Estou apavorado! Merda, como está o Harry e a Mione?
–Eu não sei. Eles não dão informações aqui! – disse Gina, frustrada. – Mas você pode ir pra casa, eu vou cuidar de tudo.
–Não quero deixar você sozinha.
–Eu estou bem, juro.
–Tem certeza?
Gina lhe deu um beijo como resposta. Eles não escutaram o barulho de um salto alto fazendo atrito com o piso perfeitamente branco do hospital.
–Por que já vai tão cedo, Draco?
Pelos corredores claros do hospital, parecia que Gina vira um fantasma; um fantasma do passado.
Draco olhou para a mulher loura que vinha em sua direção, sem saber ao certo se a conhecia ou reconhecia.
–Perdão? – disse ele, educadamente.
–Não achei mesmo que você me reconheceria. – afirmou a mulher. – Em todo caso, sou Luna Lovegood.
O homem ficou visivelmente chocado, mas Luna também já esperava essa reação.
–Sabe, Draco, a coisa mais interessante da verdade são as mentiras que as pessoas contam para encobri-la.
Draco a olhou completamente desentendido. Afinal do que ela estaria falando? Gina, furiosa ao perceber a intenção de Luna, a puxou pelo braço até um canto afastado, sem se importar em ser delicada.
–Se eu cair, você vai cair comigo. – ameaçou a ruiva, os olhos faiscando de ódio.
Luna a fitou com seus olhos inocentes.
–Você não achou que essa sua mentira iria durar muito, não é? – perguntou, surpresa. – E você não achou mesmo que eu não ia me vingar, não é? Você colocou o dedo na minha ferida, meu bem.
–Não importa a verdade, Luna. As pessoas vêem o que querem ver. – disse Gina, sem se abalar.
–Digamos que ninguém viu você como você realmente é. Agora me solte. – a voz de Luna, antes tranqüila, agora era ameaçadora.
Gina largou o braço da mulher com raiva.
–Você não vai fazer isso. – disse, arredia.
–Pague para ver.
–Vadia. – sibilou a ruiva.
–Vadia é você! – afirmou Luna, com raiva. – Não se pode escolher o dia em que se vai morrer, Gina, mas naquele dia, você me matou. E eu espero que todos os dias em que eu sofri, cada santo dia, você sofra duas vezes.
Luna deu as costas e começou a andar vagarosamente na direção de Draco. Pra Gina, aquilo soou como um insulto. Como ela poderia andar com tanta calma quando as paredes do seu mundo despencavam a sua volta. Era tudo tão horrível. Um desespero fez suas pernas correrem até a ex-amiga. Um último apelo.
–Por favor! – seus olhos estavam cheios de lágrimas. – Eu o amo! Eu o amo com cada pedacinho do meu ser! Desista dessa vingança, não por mim, mas por ele! Ele não merece!
Por um momento a dúvida passou pelos olhos de Luna, mas não passou de um minuto; seus olhos azuis endureceram com a mesma rapidez que demonstraram sentimento.
–Eu amava o Rony também. Hermione também amava o Harry. Você não considerou isso nem um segundo sequer.
–Eu sei! – Gina quase chorava agora. – A culpa é toda minha! Eu assumo! Agora desista dessa vingança tola!
–Eu te dar essa chance, Ginevra. Diga a verdade pra ele. Diga a verdade pelo menos uma vez na vida.
Gina olhou para Draco, ao fundo. Toda sua vida agora parecia apenas um aglomerado de fatos dispersos e sem sentido. Pensou nos momentos com ele. Era mais do que prazer. Não tinha palavras pra descrever. Imaginou a cara que ele faria ao descobrir a verdade, os gritos que ele daria. Não suportou a idéia de não tê-lo mais em sua vida. Abaixou a cabeça, e ela girou, assim como seu mundo.
–Muito bem. – disse Luna, nem um pouco surpresa. – Eu mesmo o faço.
A mulher recomeçou a andar e dessa fez Gina não tentou impedir; Draco acabaria descobrindo de um jeito ou de outro. Era culpa dela, de certa forma. Ela ostentara aquela mentira. Quanto mais se ama uma pessoa, menos sentido tem as coisas.
Observou de longe Luna falar com Draco. Primeiro, ele pareceu não acreditar, mas quando a olhou, percebeu. Viu na sua Ginevra, a pobretona-Weasley que ele sempre discriminara. Ainda chocado, ele veio em sua direção. Por um momento, Gina quis acreditar que ele não ligaria, mas então ele passou direto. E ela viu. Ela o viu perdendo o coração.
Mentira fria e dura, verdade fria e dura.
*
Harry parecia melhor sem as roupas manchadas de sangue, mas continuava pálido como um defunto. Deitado de olhos fechados, seu único movimento era a respiração.
–A hemorragia foi controlada e nós aplicamos uma transfusão. Ele ficará internado alguns dias, mas está fora de perigo. – informou o médico, olhando sua prancheta.
–Obrigada, doutor. – disse Hermione, antes que ele saísse.
Harry abriu os olhos com dificuldade.
–Como você se sente?
–Já vi a morte algumas vezes. – a voz dele estava fraca. – E na manhã seguinte estava tudo bem.
Hermione não pode deixar de sorrir.
–Você nos deu um susto.
–Você me deu um susto. – corrigiu ele. – Eu nunca vi você tão fora de si.
–Acredite, poucas pessoas tem a habilidade de me deixar assim.
–Estou lisonjeado. – riu-se ele.
Hermione o fitou em silêncio, e se viu no lugar de Harry se ele não tivesse pulado na sua frente, deitada na cama de um hospital. Podia estar morta uma hora dessa...
–Por que, Harry?
–Por que o que? – perguntou ele,confuso.
–Por que você pulou na minha frente?
–Eu nunca deixaria você morrer. Você é a mãe da minha filha.
–Diga a verdade. – ela disse com firmeza,embora não estivesse irritada.
–Eu não sei o que eu tenho feito esses últimos anos a não ser deixar que os dias passem por mim sem significado algum. Só vejo isso tudo hoje e por quê? Porque eu me olhei no espelho e vi um rosto que não reconheço. Às vezes nós voltamos ao lugar ao qual pertencemos.
Hermione não conseguiu falar nada. Talvez fosse a súbita turbulência do amor que sentiu por ele. Impedida como estava de falar, desejou que ele a beijasse. Quis que ele arrastasse sua mão e a puxasse para si.
–Quando poderei ir pra casa? –perguntou Harry, aparentemente alheio aos pensamentos da mulher.
–Só amanhã. – respondeu ela, ainda meio desnorteada.
–Você ficará comigo essa noite?
–Sim, claro. Vou avisar a Gina e pedir que ela cuide da Julia.
Hermione saiu apressada do quarto, momentaneamente aliviada por não ter que ficar a sós com Harry. Encontrou Luna a espera na porta.
–Luna?!
A loura sorriu, e as duas se abraçaram.
–O que faz aqui?
–Aparentemente meu telefone ainda está na lista de contatos de emergência do Harry. – respondeu ela, sorrindo. – Como ele está?
–Acordado.
–Que bom! Fiquei preocupada.
–Está tudo bem, foi só um susto.
Luna sorriu, levada.
–Sabe qual telefone estava na lista do Harry também?
–Não. O da Gina? – arriscou Hermione, sem entender.
–O de Draco Malfoy.
–Ah! Somos amigos dele, agora.
–Parece que a Gina não era só amiga.
Imediatamente, Hermione ficou séria, percebendo o tom de Luna.
–Luna, o que você fez?
–Há três coisas que nós fazemos sozinhos nesse mundo, Hermione: nascemos, morremos e nos vingamos. Isso trás o nosso pior à tona. Quem se submete a regra, certamente irá quebrá-la.
–Você contou ao Draco.
–Você deveria estar feliz! – ofendeu-se Luna. – Eu nos vinguei. Aliás, vim até aqui para fazer com que o Harry conheça a verdade.
–Não, Luna. Acredite, se eu quisesse que ele soubesse a verdade, eu mesma a contaria.
–E você o fez! Mas Harry não acreditou na época. Mas vou acabar com isso, Hermione. Ele tem o direito de saber a verdade e você tem o direito de ser feliz.
–Eis a questão, Luna... eu não o quero mais, não assim.
–Como assim?!
–Ele poderia ter acreditado em mim, mas foi cego com o seu ciúme. Passou anos acabando com a minha vida, me proibindo de ver minha filha, gangrenando cada possibilidade de eu ser feliz. Não importa o que o Rony e a Gina fizeram; Harry acabou com a minha vida muito mais do que os dois.
–Mas você o ama!
–Mas eu amo mais a mim. Estou num relacionamento comigo há muito mais tempo e preciso me respeitar.
–Hermione, deixe-me contar a verdade pra ele... – argumentou Luna
–Não, querida. Eu preciso que ele volte pra mim por amor, por perdão, por confiança, não por pena.
–Pena!? Ele se jogou na frente de um carro por você, pelo amor de Mérlin! Você está sendo burra!
–Não mudarei de idéia, Luna. – disse Hermione, encerando a discussão. – Vou falar com a Gina. Já volto.
Ela se afastou com rapidez. Gina estava sentada na salinha de espera. Parecia mais que ela era quem tivera sofrido o acidente. Seu rosto estava pálido, abatido. Seus olhos fitavam o chão, tristes.
–A verdade realmente sempre vem à tona. – afirmou a ruiva, meio ironica com a própria dor.
–É uma das regras fundamentais do tempo. – disse Hermione. Não sabia ao certo se sentia pena ou não. – É só você lavar o rosto e deixar que a água suja leve longe do seu corpo o infeliz passado.
Já era tarde, quando Hermione voltou ao quarto de Harry. Prometera dormir com ele, mas tivera mil coisas pra resolver antes de adormecer.
Pela primeira vez, ele dormira antes dela. Hermione ficou deitada no escuro, ouvindo-o respirar, roubando um pouco do calor do corpo dele enquanto o dela esfriava. Precisava desse pilar desesperadamente. Já que ele estava dormindo, ela acariciou seus cabelos.
–Eu amo você. – murmurou ela. – Amo você depois de tudo que você me fez. Amo tanto que me sinto uma idiota por causa disso.
Dando um suspiro, deixou-se acomodar junto ao braço dele, fechou os olhos e se obrigou a esvaziar a mente.
Ao seu lado, Harry sorria no escuro.
Ele jamais dormia antes dela.
*
N/A: Perdãããão a demora! espero sinceramente que gostem desse capítulo! um beijo especial a todos que tiveram paciência para esperar pela fic! acho que ela já está chegando ao fim, ^^. Gente, passem na minha outra fic, ela ainda tá no comecinho: http://fanfic.potterish.com/menufic.php?id=27541
:*
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