Seu coração é meu lar



Stand in the mirror, you look the same
Just looking for shelter, from cold and the pain
Someone to cover me, safe from the rain
All I want is to be home

(Olhando no espelho, você parece o mesmo
Apenas procurando por abrigo, do frio e da dor
Alguém para me cobrir, a salvo da chuva
Tudo que eu quero é estar em casa)


Acordou meio atordoado. Olhou à sua volta tentando absorver o lugar em que se encontrava. Demorou alguns segundos para perceber a cama de armar no quarto de Rony, n’A Toca. E a enxurrada de lembranças voltou à sua mente sem que pudesse evitar o choque de toda a tristeza.
Pegou os óculos na mesinha ao lado e colocou-os, tentando focalizar a imensidade laranja do lugar. Rony já se levantara, apesar de sua cama não parecer revirada, como se mal tivesse se deitado.
Harry trocou-se e desceu. Chegou à cozinha seguindo o cheiro de algo queimado. A Sra. Weasley estava ao lado do fogão, cozinhando distraidamente, sem perceber que as salsichas já estavam carbonizadas na panela.
- Deixa que eu faço isso pela senhora, Sra. Weasley. – disse Harry, aparentemente acordando a mulher de seu transe.
- Ah, bom dia, Harry querido. Oh, Merlin, como pude queimar o café da manhã? Não, sente-se, meu bem, eu faço mais salsichas e...
- Não se preocupe comigo, Sra. Weasley. Eu não estou com fome. Sabe onde o Rony está?
- Lá fora, nos jardins... Todos estão...
Com um olhar de pena para a pobre senhora que agora jogava fora as salsichas queimadas e esfregava a panela com fúria e lágrimas nos olhos, Harry saiu pela porta dos fundos. Logo viu todos os Weasleys sentados em banquinhos pelo quintal. Rony olhava para o nada, enquanto Hermione afagava seus cabelos. Gui e Carlinhos conversavam baixo, Fleur apenas escutando. Percy e Gina olhavam calados para o pai, que tentava convencer Jorge de alguma coisa, a qual ele negava efusivamente, chorando.
Era uma cena desoladora. No dia anterior haviam enterrado Fred, assim como já haviam enterrado Lupin e Tonks. Fora realmente difícil, e triste, ver todos aqueles que amava tão desesperados. Nada falaram quando voltaram para A Toca, apenas ficaram em estado de torpor, todos juntos, até que um por um haviam ido se deitar.
Aproximou-se de Rony e Hermione, dando umas palmadinhas nas costas do amigo e um beijo na testa da amiga. Rony mal expressou percebê-lo ali, enquanto Hermione murmurou algo como “triste demais”.
Achando melhor deixá-los sós, para que a amiga consolasse Rony, seguiu até onde Gina estava sentada, postando-se às suas costas e apertando-lhe suavemente os ombros, para indicar que estava ali com ela. A garota suspirou a deixou-se apoiar em Harry.
- Papai está tentando convencer Jorge a voltar a morar aqui em casa. Mas ele diz que não vem, que não quer perder o que ele e Fred estavam construindo. – e sua voz se quebrou, antes de prosseguir com uma risadinha fraca. – Diz que Fred voltaria do túmulo para enforcá-lo.
E Percy, cuja mente parecia a quilômetros de distância disse baixinho que concordava com Jorge.
- Afinal até para morrer ele estava rindo... – e levantou-se chorando, indo para dentro da casa.
Gina fez sinal para que Harry se sentasse ao seu lado, o que ele fez.
- Nada mais vai ser como antes, né?
- Não, não vai. Mas a gente acaba aprendendo a conviver com a dor, até que ela seja apenas uma saudade. Pode demorar, mas isso acontece.
- É, talvez. Sabe, eu não dormi essa noite... Ficamos eu, o Rony e o Jorge na sala, apenas juntos. Sentados. Não estava com sono, nem com vontade de dormir. Mas agora eu to tão cansada… Eu acho que preciso da minha cama.
- Certo. Vamos, eu te acompanho até lá dentro. To me sentindo meio intruso aqui, no pesar da sua família.
- Você é da família Harry...
E os dois se levantaram, Harry abraçando Gina enquanto a acompanhava até seu quarto. Passando pela cozinha, viram Percy junto da Sra. Weasley, sentados à mesa.
- Acho que eu vou para o quarto do Rony – disse Harry, assim que pararam em frente à porta do quarto da garota.
- Não... Quero dizer, eu não quero ficar sozinha. Pode parecer meio infantil, mas será que você poderia ficar aqui comigo?
- Não é infantil. Você é a garota mais forte que eu já conheci. Eu te faço companhia.
- Obrigada. – e com um meio sorriso, ela abriu a porta do quarto para que entrassem. Era ainda exatamente do jeito que Harry conhecera, um ano atrás.
Harry sentou-se na cama, fazendo Gina deitar-se em seu colo, e ficou afagando-lhe os cabelos até que a garota dormisse. Depois de tudo que tinha passado, ficar assim tranqüilo com Gina parecia surreal aos olhos de Harry. Pela primeira vez descortinava-se um mundo de possibilidades diante dele. Agora ele tinha um futuro! Desde que soubera da profecia, e tudo que acontecera nos anos seguintes, o fizeram direcionar-se a um único propósito, sem esperanças de um amanhã. E agora tinha todos os momentos que pudesse imaginar. Com essa perspectiva, Harry acabou adormecendo ali, com Gina dormindo em seu colo.
- Que merda é essa, Harry Potter?
Harry acordou sobressaltado, acordando Gina também.
- Eu, que, ahn?
- O que você acha que está fazendo com a minha irmã?
Harry demorou para entender do que Rony estava falando. Então se tocou que dormira no quarto de Gina, e que devia ser estranho entrar e vê-los ali, naquela situação.
- Não é nada disso que você ta pensando cara...
- Como não? Eu entro aqui e vejo você com ela, na cama dela!!!!
- Dormindo! Só isso!
- Você não respeita nem meu irmão que acabou de morrer?! Acha que eu sou idiota, Harry?
- Pois está parecendo extremamente idiota agora, Rony! – interveio Gina.
- Você!? Como você pôde, Gina?
- O Harry estava aqui comigo porque eu pedi! Eu não estou conseguindo ficar sozinha!!!!!
- É, cara, tava só fazendo companhia, para ela poder dormir...
Rony ia argumentar, mas logo apareceram outros Weasleys na porta.
- O que está acontecendo aqui?
- É o Rony, mamãe! Não pode suportar a idéia de eu ficar com o Harry!
- Agora não é hora de uma coisa dessas, nenhum dos três! Todos, já para baixo, almoço, agora!
A situação estava tensa durante o almoço. Rony não parava de olhar ameaçadoramente de Harry para Gina, Hermione tentava acalmá-lo, Gina encarava-o mais furiosamente ainda, se possível, os outros Weasleys estavam soturnos e Harry... Bem, Harry tinha certeza absoluta de que entrara numa enrascada!
Assim que todos terminaram de comer e arrumaram a cozinha, Rony “delicadamente” arrastou Harry até seu quarto, com Hermione no encalço, Gui segurando Gina.
- Deixa eles se entenderem. – dizia Gui.
Rony entrou bufando no quarto, logo após ter literalmente jogado Harry lá dentro. Hermione entrou por último, fechando a porta e sentando-se o mais afastado possível dos garotos.
- Você não me respondeu. Que merda era aquela, você com a minha irmã?
- A gente tava dormindo, Rony... Dormindo!
- Mas porque você tinha que estar fechado com ela no quarto?!
- A Gina me pediu para não deixá-la sozinha, só isso. Ela deitou no meu colo chorando...
- E você como bom amigo ficou lá e...
- Que droga, Rony, me escuta! Eu adoro sua irmã, você é meu melhor amigo, sua família me acolheu agora que eu não tenho lugar nenhum para morar... Você em sã consciência acha que eu ia fazer qualquer coisa bem debaixo do nariz de 5 irmãos raivosos, enquanto ela chorava porque o Fred, como você bem disse, acabou de morrer?! – o tom de voz de Harry fora aumentando a cada palavra. Rony ficara ainda mais vermelho.
- Eu, eu acho que você se exaltou um pouco, Rony. – ameaçou Hermione, falando baixo. - Pensa bem no que o Harry ta falando.
- Obrigado, Mione. Viu? É como se eu também te ameaçasse de ter feito algo com ela, nessas horas que vocês sumiram! Ela é como minha irmã, e mesmo assim eu não to dando chilique!
Os dois enrubesceram ao ouvir Harry falando. Hermione voltou a se esconder no canto mais afastado possível do quarto, absolutamente envergonhada. Rony gaguejou, olhou assustado da garota para o amigo.
- É que, bem, a gente andou se entendendo... E...
- Finalmente pararam para perceber o que já estava escrito na testa de vocês a séculos? Finalmente.
- Mais ou menos por ai...
- Fico feliz. – Os dois sorriram acabrunhados com o comentário. – Agora, por favor Rony, me deixa conversar com a Gina. Não estou falando nada, mas não gostaria ter de agüentar um ataque de ciúmes cada vez que tentasse chegar perto dela.
- Tá. Talvez. Você gosta dela? Assim, gosta mesmo?
- Muito. Ela foi... a última coisa em que eu pensei quando achei que ia morrer...
- Só por esse detalhe eu acho que vou te dar um crédito, Harry Potter. Mas não abusa!
- Certo, Rony... – e não pode evitar um sorriso. – Vou deixar os... hum... pombinhos a sós. Mas se ele relar em você, Mione, grita que eu volto correndo, certo?
Rony e Hermione estavam tão vermelhos quanto possível quando Harry saiu do quarto, rindo internamente. Desceu as escadas, saindo para o quintal. Apenas as galinhas ciscavam por ali. Sentou-se num banquinho ligeiramente afastado da casa.
A vida havia mudado tanto nos últimos dias. Tanto tinha acontecido... Ao se olhar no espelho, após a última batalha, não pode deixar de se assustar com sua imagem. Estava muito magro, coberto de machucados e cicatrizes recentes, o cabelo muito comprido, cansado. Mas, pensando bem, ainda era o mesmo debaixo daquela carapaça. Mais maduro, com maior compreensão de alguns assuntos, mas ainda o mesmo, tinha certeza. Com medos e certezas, dúvidas e coragem. E sentado naquele banquinho, sabia que seus amigos seriam sempre seus amigos, que Gina seria sempre aquela de quem ele se lembraria, sabia o que tinha que fazer, mas não fazia idéia de quando ou como fazê-lo.
- Posso sentar com você? – o perfume de rosas o despertou antes que a voz suave chegasse aos seus ouvidos.
- Claro, Gina. Senta ai.
- O Rony falou muita besteira?
- Só um pouquinho... Digamos que talvez a Hermione esteja sendo capaz de fazer ele entender algumas coisas...
- Eles apareceram lá na sala de mãos dadas. Com isso, até Jorge conseguiu rir.
- Pelo menos alguma parte do que eu disse ele escutou.
- Talvez eles estivessem só esperando sua aprovação. Afinal vocês são um trio, né? Pode ser que isso atrapalhe a amizade de vocês.
- De maneira alguma. Faz um bom tempo que eu percebi que entre eles rolava mais que amizade. Mesmo que eles tenham demorado tanto. Só acho que agora vou ter que arrumar coisas para fazer enquanto eles estiverem juntos... sabe, só os dois.
- Fazendo coisas de casal, certo?
- É, acho que pode-se dizer assim. – Harry olhou sorrindo para ela, que retribuiu o sorriso. Talvez fosse esse o momento. Mas e se não fosse?
- Eu posso te fazer companhia enquanto eles estiverem juntos. – Gina decidira por ele que era esse o momento.
- Eu adoraria. É muito bom estar com você. Sua lembrança foi uma das coisas que mais me fez suportar as dificuldades.
- Hermione contou sobre o Mapa do Maroto, e sobre o fato de você ficar por horas apenas olhando onde eu estava.
-Hermione dedo-duro... – Gina deu de ombros.
- Eu gostei de saber.
- Mas não faz dela menos dedo-duro.
- Harry, eu to tentando dizer que me derreti de saber que você pensava em mim. Não pude te esquecer todos aqueles anos, por que seria diferente neste?
- Existe tanta coisa que eu preciso te contar...
- Eu tenho bastante tempo para escutar.
- Não agora. Não quero ter que contar agora.
- Você não tem que fazer isso agora. Só quando tiver certeza.
- De uma coisa eu tenho certeza.
- Do que, Harry?
- Não tem mais nenhum maníaco homicida atrás de mim. – Gina riu baixo com o comentário. – Então, não tenho mais motivos para me afastar daqueles que eu amo. E isso definitivamente inclui você.
Gina não disse nada. Olhou profundamente nos olhos de Harry, com um olhar que valia mais que mil palavras. Ele depositou um suave beijo em seus lábios, e abraçou a garota.
- Acho que agora eu vou ficar também fazendo, como é mesmo? “Coisas de casal” quando não estiver com Rony e Mione... – Gina sorriu e balançou a cabeça afirmativamente, aconchegando-se melhor no abraço de Harry.

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