Apenas lembranças



Quando Sarah voltou a acordar havia um peso extra em seu travesseiro. Forçando a vista para que parasse de embaçar ela se obrigou a virar o pescoço. Uma cabeça que ela reconheceu imediatmente repousava sobre dois braços cruzados, dormindo profundamente pelo que ela pôde ver.

- Lucas?

O garoto pulou. Havia horríveis olhares sob seus olhos e traços muito mais maduros do que ele tinha da última vez que se viram. Sem contar a falta de peso que estava em evidência com aquela camiseta larga.

Mesmo assim ele foi capaz de abrir um sorriso cativante.

- Sarah!

Aparentemente achando que ela fosse de vidro ele não a abraçou, apenas segurou forte sua mão e ali depositou um beijo.

- Que bom que você acordou... Sírius me mandou uma coruja e eu vim imediatamente. Como está se sentindo?

- Quebrada - ela respondeu sorrindo. - Que bom que você está aqui, estou me sentindo tão... - Ela hesitou mordendo os lábios. - Eu senti sua falta.

- Soube da briga - Lucas facilitou.

- Qual delas?

- Das duas. - Ele também sorriu, bondosamente. Não havia nenhum traço de reprimenda, nem em suas palavras, nem em sua expressão. - As coias por aqui andaram banstante movimentadas na minha ausência, heim?

- Demais. É bom mesmo que esteja de volta.

- Sarah, eu... Eu não estou de volta... Vou precisar voltar par minha casa ainda, só estou aqui pra te ver...

- Como é? - Sarah parecia indignada agora. - Você não vai ficar? Mas... Mas... A poção! O que está acontecendo, Lucas, não era pra você estar curado?!

- Xiiiii! Sarah, se AMdame Ponfrey ou Edilaine scutar você tão exaltada vão me mandar embora!

Sarah mordeu os lábios para segurar as palavras. Lucas respirou fundo.

- Olha... Eu não posso ficar agora. Minha mãe insiste que eu faça um tratamento trouxa e eu ainda estou terminando... Mas até as férias eu dou um jeito de te ver de novo.

Sarah fez um bico.

- Isso aqui tá uma merda sem você.

- Sírius e Maggie...

- Não estou suportanto os dois. Especialmente Sírius.

- Sei. Fico imaginando o porquê.

Quando Sarah ergueu os olhos encontrou-o com um leve sorriso.

- Vou fingir que não sei o que você está insinuando.

- Se você prefere assim... - Ele deu de ombros. Sarah não aguentou e riu.

- Você sempre soube, não é?

- Eu acho que eu tenho mesmo um dom para perceber as coisas. Sei da metade da vida de cada um dessa escola sem nunca ter perguntado nem ouvido nada. Pode ser útil em muitas situações.

Sarah sorriu de maneira travessa.

- Vai usar isso contra mim?

- Que isso! - ele exclamou com um falso ar de ofendido, o que serviu para darem boas risadas.

- Agora, em relação ao Sírius e a Maggie, eles estão super preocupados, dê um desconto a eles, afinal, ainda não sabiam do seu desentendimento com seu pai. Não sei o que aconteceu e o que foi dito lá dentro, mas vocês são amigos desde crianças, cabe a você decidir se vale a pena quebrar essa amizade por causa de palavras ditas num momento de ra...

Lucas parou de repente, como se ouvisse um barulho.

- Vem vindo alguém. Acho que é minha hora de ir. Quero ver vocês no natal, então vou dar um jeito de conversar com a minha mãe... Pense no que eu falei sobre seu pai. Xiii, tem gente vindo.

Sarah fechou a boca novamente, já que estava pronta para responder. Nessa hora, a porta se abriu.

Foi um momento terrivelmente constrangedor. Draco Malfoy entrava acompanhado pelo profº Lupin, obviamento não imaginando que sarah estaria acordada. Parou entre aliviado e indeciso, sem saber se aproximava-se ou se ficava onde estava. Infelizmente, Sarah não ajudou, cruzando os braços e virando o rosto para o outroi lado.

Lupin pigarreou.

- Eh... hum... Como está se sentindo, Sarah?

- Bem, obrigada, professor.]

- Eh... Bom. Lucas, eu gostaria de dar uma palavrinha com você. Será que poderíamos...?

- Claro, professor. Sarah, a gente se vê logo, melhoras...

Ela pareceu relutante em deixá-lo ir, mas não declarou isso em voz alta. Quando os dois se retiraram, porém, o arrastanto cegou aos ouvidos de Sarah e logo uma sombra a fez saber que Draco se sentara ao seu lado. Houve um profundo silêncio.

- Vamos ficar nisso até quando, Sarah?

Ele esperou, mas ela não falou.

- Eu estava tão preocupado com você! TEntamos de tudo para que acordasse e nada funcionava... Como se sente? Dói alguma coisa?

- Só um pouco.

Com o tom frio da resposta da filha, draco se sentiu perdido por um momento. Suspirou, levantou da cadeira e sentou ao lado dela na cama, com as costas e a cabeça descansadas na cabeceira da cama.

- Sinto muito por aquilo tudo. Acho que tenho me estressado muito com o monte de problema que estava tendo e acabei descontando em quem mesmo merecia. Desculpe.

As palavras soaram tão sinceras que Sarah se remexeu, os braços descruzando involuntariamente e indo parar em seu colo, indefesos.

- Sei que você está chateada - Draco continuou. - E com razão. Quando aquilo aconteceu na sla de duelos eu só conseguia pensar que se tivesse acontecido algo pior com você as últimas palavras que eu te disse foram aquelas.

Ele pegou com carinho uma de suas mãos e Sarah quase teve vontade de ter três anos novamente para poder pular para o colo de seu pai.

- Me desculpa?

Ela não respondeu, mas para Draco não foi necessário já que aquela expressão dura sumira completamente do rosto dela. Foi com um peso bem mais leve em seu coração que eles continuaram a conversa.

- Estive pensando, Sarah, lembra do que há anos você me pede pra fazer? Acho que já está na hora de te escutar.

Talvez ainda pelo efeito do desmaio ou pela reconciliação como pai, Sarah não conseguiu compreender.

- O que foi, não se lembra? Você não me pede todo ano que faça uma festa de natal em casa? Estou cansado de ir até a casa dos Weasley ou dos Potter nessas comemorações, porque eles não podem vir até nós? Pode convidar quantos amigos quiser, só avise Ammy com antecedência, você sabe como ela é.

Sarah pestanejou, ainda tentando registrar as palavras do pai e seu significado.

- O senhor está dizendo... Quer fazer uma festa de natal em casa? Com direito a ceia de natal, a almoço de natal, a lanche de natal...?

Draco riu, parecia contente com a aceitação de Sarah.

- Com direito a tudo que essa data nos torna possível. Se você quiser até mesmo convidar seus amigos para passar alguns dias em casa não terá problema.

Sarah pareceu esquecer quenão tinha mais três anos de idade, pois pulou nos braços do pai. Fazia muito tempo que Draco não se lembrava de como era boa a sensação de ter a filha nos braços, compartilhando um momento de carinho. Anotou mentalmente que deveria fazer isso sempre que possível.

Encerrou o abraço esfregando as consequências de uma barba mal feita no pescoço dela, o que ele sabia que lhe dava cócegas. As risadas dos dois passaram a ser tão altas que chamou a atenção de Ponfrey na outra sala. Ela entrou, esbaforida, mas até seu coração amoleceu ao assistir a cena alegre, então ela deu meia volta e em silêncio, desapareceu para dentro de sua sala outra vez.

- Papai... posso perguntar uma coisa? - Sarah, depois de um longo tempo de risadas e de um ainda maior para recuperar o fôlego, perguntou.

- Claro - disse Draco, no mesmo estado.

- Como você decidiu fazer essa festa do nada? O senhor nunca gostou muito de "bagunças" dentro de casa.

- Acho que nós merecemos isso. Tanta coisa aconteceu esse ano, tantos problemas... Agora tudo foi resolvido. E você sempre quis essa festa, estava mais do que na hora de fazer uma.

- Problemas resolvidos? - repetiu Sarah, puxando algo pela memória. - Ganhou a causa da Mansão?

Draco ergueu as sobrancelhas, só então Sarah percebeu o que deixara escapar.

- Ah... Tudo bem, eu... Ah... Ouvi uma conversa sua com tio Harry. Desculpa.

- Certo - disse Draco ainda parecendo desconfiado. - Mas não, o caso ainda não terminou e é bem capaz de perdermos. Só que eu não estou mais ligando para a casa, já tenho outras lembraças... Eu me referia a meu título de mestre de poções que agora já possuo. Treachers está usando um argumento de que construirá uma casa de recuperação para aqueles que mais foram prejudicados pela gueera ou algo do gênero. Dificilmente ganharemos de algo assim.

- Depois de vinte anos? - Sarah perguntou, cética.

Draco sorriu.

- Dezoito. E é claro que eu não acredito nisso, mas o Ministério acredita, então, faremos o quê?

- Você não liga mesmo de perder a mansão?

Draco fez que não com a cabeça, mas Sarah não achou qu eele estava sendo completamente sincero.

- Disse que tem lembranças... Quais?

- Uma única e significativa que me é suficiente. Não se preocupe com isso, Sarah, deixe as coisas acontecerem. Agora, acho que é melhor eu avisar sua mãe que você está acordada e bem, antes que ela tenha um ataque lá nas masmorras.

Trocaram mais uma ou duas palavras e Draco se retirou, deixando Ponfrey cuidar devidamente da paciente. Lá fora, ele parou por um momento assim que chegou a um corredor vazio. Levou a mão ao bolso e apertou entre os dedos o objeto frio. Foi uma sorte tê-lo encontrado... Que lembrança? Era o que Sarah queria saber... Só de tocar naquele objeto as imagens ganhavam vida na sua mente. Apertou os dedos e fechou os olhos. Elas voltaram outra vez:

[i]- Abra, mamãe! Abra, abra, abra!

- Calma, mocinho! Já estou abrindo, olha só!

- Mas está abrindo devagar!

Narcisa Malfoy riu, vendo o garoto de ses anos agitado ao seu lado enquanto esperava que ela abrisse o presente de Natal que ele mesmo lhe havia feito. Desenrolou a fita e retirou a embalagem, ficando com uma caixinha quadrada na mão.

- Bem, vamos ver qual é o misterioso presente.

O silêncio seguiu quando a caixa foi aberta. O pequeno Draco esperava em espectativa enquanto os olhos de Narcisa se enxeram de um sentimento que raramente era visto neles.

- É... É lindo, Draco.

De dentro da caixa, ela retirou um par de brincos de uma madeira leve recortado num formato de coração. Em tinta vermelha e brilhante havia um D e um N desenhados numa caligrafia infantil, mas bela. Ela retirou as esmeraldas que estavam em suas orelhas e colocou os brincos novos, fazendo Draco abrir um sorriso enorme.

- Está linda, mamãe. Porque não solta os cabelos?

Ela hesitou antes de oedecê-la. Lucius não gostava muito que ela ficasse passeando pela casa assim, a parecer uma cigana quando qualquer pessoa pudesse aparecer, mas por fim, acabou cedendo ao pedido do filho.

- Linda! - exclamou, pulando para o colo da mãe. - Devia ficar sempre assim!

Um elfo doméstico entrara naquele momento anunciando a chegada de Lucuius. Draco imediatamente voltou ao seu lugar e se ajeitou, quieto. Narcisa prendeu novamente os cabelos. A porta principal se abriu outra vez e por ela, Lucius Malfoy entrou.

- Narcisa, teremos compania no jantar. Vá até a acozinha e mande os elfos providenciarem um cardápio impecável. Draco endireite essa gravata e penteie melhos estes cabelos. Estarei na sala secreta e não quero que me interrompam antes que nossos convidados estiverem chegando. Ah, e por Morgana, Narcisa, que coisa é horríve é essa pendurada em suas orelhas?

- Não é horrível, é um presente de Draco.

- É ridículo. Você é um Malfoy, não pode usar essas porcarias. Coloque as esmeraldas novas e dê-me isso qu me livrarei delas pra você.

Quieto, sentado em seu canto no sofá, Draco não teve esperanças nem por um momento. Sabia que sua mãe não se recusaria, como sabia que seu pai realmente se livraria dos brincos. Não ergueu os olhos nem depois que o pai se retirou, muito menos ousou chorar. Apenas ficou onde estava, do jeito que estava...

Draco abriu os olhos e elevou a mão fechada ao nível deles. Lentamente a abriu, deixando À vista um coração de madeira com apenas o desenho das letras riscadas, a tinta já se gastara há muito tempo, provavelmente. Apenas uma argolinha que ele se lembrava muito bem do trabalhão que dera para fazer mostrava que aquilo já havia sido um brinco. Suspirou, guardando a peça no bolso outra vez. Era apenas uma lembrança, lembrou a si mesmo. Apenas uma lembrança...

A passos largos, voltou para as masmorras.

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