Epílogo



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Não quero lhe falar, meu grande amor
Das coisas que aprendi nos discos
Quero lhe contar como eu vivi e tudo o que aconteceu comigo
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Tinha medo das recordações que a casa lhe trazia, tinha medo de que velhas feridas fossem abertas, àquelas que tanto tentou esquecer. Relembrando os dias de sofrimento ao encarar a prova viva de seu erro. Hermione descobrira que não existia sofrimento igual à lembrança do amor e a consciência de que ele tivesse ido para sempre.

A maçaneta se moveu e o olhar dela foi para a porta. Automaticamente agarrou sua varinha e permaneceu encolhida. Abriu-se a porta e juntamente uma rajada de vento preencheu o lugar. Com surpresa seu olhar acompanhou o homem que entrava.

- Como você está? – Harry perguntou aflito, tirava sua capa de chuva e jogava-a em um canto. Hermione permaneceu paralisada. – ‘Mione, desta vez, você não vai poder fugir de mim, como vem fazendo há anos.

- Eu só estava tentando manter uma família feliz. – sua voz tremeu um pouco.

- Fugindo de mim? Foi assim que construiu sua família perfeita? – ela pôde sentir a tristeza em cada palavra que saía da boca dele. – Há anos, anos, Hermione, eu venho tentando ter mais que um monólogo com você.

- Eu simplesmente não podia... Por favor, vá embora. - disse, ainda que desejasse que ele ficasse, que somente a abraçasse e a fizesse esquecer de tudo.

- Não. Eu preciso entender algumas coisas, alguns fantasmas que ainda vivem em minha vida. Fantasmas estes que apareceram depois do dia que você resolveu me ignorar. Do dia em que você me tirou da sua vida.

- Harry, eu...

- Por favor, hoje você vai me escutar. – Hermione calou-se e fitou suas mãos, ele permaneceu de pé e braços cruzados. – Se eu soubesse que você iria embora, eu não teria feito nada de diferente, eu apenas teria dito algumas palavras, eu teria lhe abraçado e então lhe pediria para ficar mais um pouco, e ainda diria que este pouco seria muito pouco. Eu falaria mil coisas sem dizer uma palavra. – ele parou e encarou um pedaço de papel envelhecido no chão. – Eu te falaria dos anos de agonia que eu passaria sem você em um olhar, e se mesmo assim, você ainda quisesse ir embora, então eu te falaria ‘eu te amo’ pela última vez, te falaria sobre um amor que ninguém mais poderia te entregar. – ela ergueu o olhar, emocionada. Harry pegou algo do chão e estendeu à ela. – Eu saí por uns momentos, Hermione. E quando voltei você não estava mais aqui. Meu mundo desmoronou.

- Você... foi comprar café. – disse para si mesma. – Você namorava Ginny, Harry. Vocês iam se casar. Assim como eu e Ron. E depois... O que mudou? Você se casou como o planejado, tem sua família...

- Você achou que eu não estava disposto a abandonar tudo aquilo? Eu estava. – respondeu à pergunta. – Meu casamento se tratou de uma fachada. Depois de alguns anos, eu e Ginny nem dormíamos no mesmo quarto e eu nem ligava para com quantos homens ela estivesse saindo. Quando nossos filhos estavam em casa virávamos o casal perfeito.

- Não entendo porque está me contando isso.

- Você pediu o divórcio a Ron, ele me contou. E então você desapareceu. Você nem ao menos foi ao velório de seu filho! Hermione, eu entendo que seja difícil, porque eu sofri com isso, sofri tanto, mas não compreendo a sua falta de sensibilidade. – desabafou e sentou no sofá.

- Não compreende? É claro que você não pode compreender! NÃO É VOCÊ QUE TINHA QUE OLHAR TODOS OS DIAS PARA ELE E PERCEBER COMO ELE SE PARECIA COM VOCÊ, HARRY! VOCÊ NÃO COMPREENDE O QUE É GUARDAR UM SEGREDO POR ANOS E VÊ-LO SENDO REVELADO COM O TEMPO! É ÓBVIO QUE VOCÊ NÃO ENTENDE QUE SE EU O VISSE SENDO ENTERRADO, ERA COMO VER VOCÊ ALI! VOCÊ NUNCA COMPREENDERIA ISSO! – gritou e então percebeu a cara de surpresa e incompreensão estampadas no rosto de Harry.

- O que você quis dizer com isso? Hermione, Hugo era MEU filho? – ela permaneceu calada e Harry a sacudiu.

- Sim, seu filho! Por que acha que me casei tão rápido? E não seja estúpido de me dizer que ele era ruivo, porque eu tive que tornar o cabelo dele ruivo. E ele usava lentes de contato. Mas ainda assim, ele era a sua cara, Harry, e eu não suportaria vê-lo morto. – ela espirrou e Harry levantou-se para fechar a janela. – Eu tenho a certeza de que ele está a salvo agora.

- Eu não sei o que dizer. Realmente não sei. Eu só sei que você precisava saber. Hermione, eu passei todos esses anos e em todas as noites eu me trancava no escritório e chorava. – Harry deixou as lágrimas escorrerem por seu rosto. – Chorava por não ter mais você na minha vida, fazendo parte dela, alegrando-a e me fazendo melhor. Chorava por viver uma farsa e não poder te contar meus medos. Chorava mais uma vez por não entender o que eu tinha feito de tão errado para estar recebendo o pior castigo do mundo, que era estar sem você. – ajoelhou-se na frente dela e segurou suas mãos. – E sinto tanto por não ter feito parte da vida de Hugo, o que me tranqüiliza é que Ron é um ótimo pai. Confiaria minha vida e meus filhos a ele.

- Você só está me fazendo sentir pior do que já estou. Harry, eu vim para cá porque precisava de uma nova vida, longe de tudo e de todos. E você veio... E trouxe todas essas verdades...

- Deixe-me fazer parte da sua vida, Hermione. E se você não me quiser nela, eu vou entender. Eu também vou começar uma nova vida, mas será longe daqui... Minha casa sofrerá alguns danos, já que Ginny pode se enraivecer por eu ter pedido o divórcio primeiro, mas ela é uma boa mãe e confio meus filhos a ela. – disse rindo um pouco e encarando os orbes castanhos.

- É um peso grande, Harry. Não podemos apagar nosso passado. Eu te impedi de ter uma vida com Hugo...

- É sim, um peso demasiado grande... Mas que se deve carregar espontaneamente, eu estou me oferecendo a isso. Só não poderemos mais mentir um ao outro. Compreenda, Hermione, não fui eu que escolhi isso, foi meu coração. – sentenciou e buscou alguma resposta em seus olhos. – Sua imagem sempre vai estar na minha memória, meu pensamento sempre irá voar à procura do seu, e eu sei que o espaço que você ocupava esteve todo esse tempo vazio. Eu às vezes pensava que era só o destino, a gente ter se perdido pelo caminho... Mas então a saudade invadia... Machucava.

- Eu não quero que você diga mais nada. Eu preciso falar agora. – ela respirou fundo. – Desde que aprendi a ler, ganhei livros de romance, em especial. E sempre nessas histórias existe alguém que deixa os momentos passarem e depois ficam se lamentando. Eu não quero que isto aconteça de novo, Harry. – respondeu Hermione, olhando para ele. – Eu não desejo outra coisa a não ser que você volte a fazer parte da minha vida... Porque eu te amo e sinto sua falta. – disse sorrindo com o canto dos lábios, então Harry selou seus lábios.

*


Há um jantar esperando por eles na mesa, a vista do oceano ao fundo. Harry que antes tinha o riso dela como música aos seus ouvidos, hoje pode dizer que dá força a seu coração. Escuta atentamente o que ela diz e percebe que é a única mulher que a opinião sempre o importou.

Harry sabia que podia adivinhar o que acontecia à ela somente com a leitura de seus diálogos ou no movimento de seu corpo.

Eles caminhavam agora ao longo da praia, a beleza do lugar encantava-a e uma estranha liberdade tomava conta de si, estava num país estranho em que mal podia falar a língua.

O foco do seu mundo era apenas ela mesma e a pessoa que estava com ela.

Harry de repente estende sua mão e a puxa para uma dança. Hermione insinua que não há música e ele começa a cantar. Ela deixa-o guiá-la na dança. Algo retarda seus movimentos, fazendo-os ter olhos nos olhos. Hermione repara em como seus olhos verdes são verdadeiros, em como sempre foram verdadeiros. Harry aperta sua cintura e olhando-a fixamente inclina-se e a beija ternamente.

Talvez para sempre.

FIM


Nota: Obrigada Robert`s pelo comentário. ;)

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