O porta retrato
Estava escuro e frio. Os olhos castanhos de Hermione não conseguiam distinguir que lugar era aquele. Assemelhava-se a sala da sua casa, mas os objetos e as paredes tinham uma proporção tão distorcida, que mais parecia um efeito especial de filmes trouxas.
Um barulho vindo da suas costas a fez girar. Três figuras escuras entraram pela porta torta de madeira e Mione automaticamente levou a mão no bolso da calça jeans. Para sua surpresa, estava sem a varinha. O trio se aproximou de Mione, e começou a circular, sinistramente, a sua volta.
- Quem são vocês? - ela perguntou o medo evidente em sua voz.
- Filha de assassina! - disse um deles. Hermione frisou o cenho, apurando os olhos e para seu espanto, a figura escura tomou forma de Tonks. Mas, assim como o lugar que se encontrava, o rosto da Auror era distorcido e bizarro.
- Não! Minha mãe não... – ela defendeu a mãe com tanto entusiasmo quanto antes.
- Anne era uma louca! - rosnou o segundo estranho que Mione logo identificou como Moody. Ele estava muito mais pavoroso agora, todas aquelas cicatrizes e o olho mágico com estranhas proporções estranhas.
- NÃO! PAREM! –Prosseguiu, falando mais alto.
- Dói ouvir isso sobre sua mãe? Claro que dói, a verdade SEMPRE dói, não? - perguntava agora a última figura que se materializava na fisionomia de Lupin. Ele estava simplesmente grotesco, seu rosto e corpo se fundindo em uma mistura de lobo e homem.
- ME DEIXEM EM PAZ! - Mione agora gritava, começando a correr.
Saindo da sala estranha, ganhava um grande corredor repleto de quadros sinistro de pessoas sendo torturadas ou mortas violentamente. Mas não tinha para prestar atenção e nem queria, mais preocupada em fugir de Tonks, Moody e Lupin,embora não escutasse seus passos. Mas ela sabia que eles estavam perseguido-a. Podia sentí-los. Sua respiração já estava ofegante e por seu rosto escorria um suor frio, quando de repente surgira em sua frente Lynda. E para seu alívio, ela não estava estranha como os outros.
- Mãe! Me ajuda! Eles estão... – ela começava ofegante, completamente agitada.
- Eu sei querida! Não se preocupe! - Lynda a interrompeu, respondendo gentil, enquanto a olhava - Eles estão mentindo, eu sei! Por isso, esconda-se aqui...
- Aqui? Onde? – Perguntava sem entender, e mal terminava de fazer a pergunta uma porta surgiu tão repentinamente quanto sua mãe adotiva. - E você?
- Não se preocupe querida. Eu sei me cuidar... - Lynda respondeu, abrindo a porta. Mione hesitou por alguns segundos; não podia abandonar sua mãe daquela forma. Mas ela parecia tão segura de si... quase como se escondesse algo. Então, após suspirar fundo, Mione entrou e Lynda, em seguida, fechou a porta. Tudo a volta da garota escurecera. Um barulho a fez perceber que não estava sozinha.
- Quem está aí? - indagou forçando seus olhos castanhos a se acostumarem àquele ambiente com pouca luz.
- Sou eu! - respondeu uma voz fria e sem vida - Anne Bellford!
- Mãe! - Mione exclamou, sentindo seu coração acelerar - É você mesmo? Eu não consigo enxergar nada, estou sem varinha e...
- Então, deixe-me cuidar disso para você! - Anne respondeu e em seguida murmurou “Lux”. Uma luz surgiu de uma varinha que estava bastante próxima de Mione, iluminando a dona daquela voz. Mesmo se quisesse, Hermione não conseguiria conter um exclamação de puro pavor, naquele momento. Em sua frente, ao invés do rosto bonito da jovem das fotos bruxas que era Anne Bellford, surgira uma aberração: Anne tinha a pele incrivelmente pálida, os olhos vermelhos, duas fendas no lugar de um nariz e um enorme cabelo que ia até os pés.
- NÃÃÃÃO!
- O que foi, Mione? Não vai dá um beijo na mamãe?
- ME DEIXA EM PAZ! - Mione respondeu, fechando os olhos e rezando para que Anne sumisse da sua frente. Foi então, que começara escutar uma voz masculina chamando-a. No inicio soara longínqua e distante, mas a medida que ela se concentrava na voz, ela conseguia se livrar daquela Anne monstruosa. Aos poucos tomava alguma consciência e mesmo ainda sonolenta, percebia que estava em seu quarto. Tateou a parede ao seu lado, ligeiramente trêmula, até acertar o interruptor e acender a luz. Focalizava Draco, que imediatamente cobriu os olhos com a mão, mas estava ofegante demais para perguntar o que diabos ele estava fazendo ali. Levava uma mão à testa, a fisionomia assustada se acalmando um pouco. Tinha sido só um sonho. Um sonho muito ruim.
- Granger, você está bem? - ele começou, sem fitá-la por causa da luz.
- Eu... tive um pesadelo... está tudo bem e... – Mione se descobriu, suada, sem olhá-lo. Ainda tinha uma mão na testa, que balançava levemente, dando a impressão de que tentava se livrar de uma sensação ruim - O que VOCÊ está fazendo aqui? - ela perguntou, dando toda aquela ênfase na palavra você. Draco Malfoy invadindo seu quarto porque ela gritava durante um pesadelo? Ela achava que não.
- Você estava gritando e pedindo por ajuda! - ele respondeu, tirando a mão do rosto quando, enfim, se acostumava com a luz - “Parem!”, “ Me deixem em paz”, “Me ajuda”... – ele dizia, fazendo um falsete da voz dela.
- E eu JÁ disse que estava sonhando! – Mione falou, a presença de Draco no quarto a trazendo de vez para a realidade - Eu não sabia o que estava dizendo... estava inconsciente!
- Eu já sei AGORA! - Draco bufou, mal humorado - Desculpa por vir aqui verificar se você SÓ estava tendo um pesadelo e não sendo atacada por minha tia Bella! – dizia daquele jeito arrogante, fazendo menção de sair em seguida - Da próxima vez eu deixo você se divertir com suas visões ridículas adquiridas pelo longo convívio com o Precioso Potter.
- Eu vou achar ótimo! - ela dizia num tom baixo, mas verdadeiramente irritada. Aquele ainda era Draco Malfoy e não era uma visita noturna para verificar se ela estava bem que a faria menos desconfiada dele. Levantava-se depressa, enquanto continuava a falar naquele tom nem um pouco educado - Saia já daqui e... ai! – ela se interrompia. Tinha levantado muito rápido, maltratando ainda mais suas costas já maltrapilhas. Levava a mão até lá, andando mais devagar até Draco - Como já viu eu estou ótima e sua tia não está tentando me matar... - falava de forma mais branda, levando uma das mãos até a porta para fazê-lo sair. E nesse único movimento, ele podia ver o círculo roxo no punho da mão que ela estendia, completamente visível, agora que já tinham passado várias horas do ocorrido na mansão Malfoy.
Mione viu a boca do garoto se abrir e já esperava por uma “excelente resposta”, completamente mal educada e irônica, quando então seus olhos cinza pousaram a mão dela.
- Granger, sua idiota! Você não cuidou dos seus ferimentos? - ele censurou, segurando a mão da garota. Ela franziu o cenho, puxando automaticamente a mão para desencostar dele, trazendo-a para si protetoramente.
- Cala a boca Malfoy, vai acordar meus pais! – ela respondeu, fechando a porta com ele dentro do quarto, realmente temerosa que Edward ouvisse a conversa. Tinha 'esquecido' dos ferimentos, tão cansada estava quando se deitou - Me desculpe por estar exausta e dormir imediatamente quando me tranquei no quarto... - completava mal humorada, se afastando dele. Mas, tinha sido realmente idiota. Ia até a cadeira da escrivaninha, onde tinha dobrado as roupas que usara durante o dia, revirando os bolsos da calça, até achar a pomada que Gina lhe dera.
- Você poderia ter feito isso antes de se deitar! - ele bufou, indo atrás dela e pegando a pomada de Gina da mão dela, antes que Mione pudesse protestar- Se fosse para o Precioso Potter ou os malditos Weasley você teria lembrado de curá-los, não?
- Ahhhhh sim... e você está se preocupando muito com isso... - ela dizia com descrédito, frisando o cenho quando ele tirava a pomada de suas mãos. Olhava-o como se o visse primeira vez na vida. Por um momento sem reação assistia-o passar a pomada em seu pulso, enquanto ele persistia no sermão, mas mal o escutava.
- ...mas quando o assunto é você, você se esquece! – continuava, pegando a mão dela e passando a pasta no machucado roxo - Você devia ser mais egoísta e pensar em si mesma!
- E desde quando você se importa? - ela perguntou depois de alguns breves segundos em silêncio. Apesar da surpresa, olhava-o séria - Olha só Malfoy... se tudo isso é prevenção para não descobrirem que foi você que fez isso, não se preocupe; eu não vou contar, afinal ninguém entende porque é que estamos namorando sem você me agredir. Se soubessem disso então... eu não estou afim de atrair mais curiosidade do que estamos atraindo, agora.
- Eu não me preocupo se descobrirem, Granger! - Draco respondeu, agora fazendo o mesmo procedimento no outro pulso dela - Eu sou um Malfoy, as pessoas se espantariam se eu não fizesse isso! – acrescentava sarcástico.
- Acontece que eu não sou o tipo de pessoa que namora um Malfoy! E eu não tenho interesse algum que comecem a achar por aí que eu tenho tendências masoquistas! - ela respondia, mais preocupada em discutir com ele agora.
- Não é masoquista? Ora, Granger! Para mim, se apaixonar por um pobretão idiota como o Weasley é uma prova enorme de que você gosta de sofrer! - Draco refutou, ainda irônico, guiando-a até a cama e fazendo-a sentar-se – Além do mais, você NAMORA um Malfoy, a menos que queira ter sua vida amaldiçoada na eterna agonia ao descumprir nosso Pacto! Então, acostume-se a ver as pessoas a te tratarem como uma louca, masoquista ou então uma garota controlada por poções do amor ou pela maldição Imperius!
- Não precisa realmente me lembrar desse pacto! Eu SEI o que acontece se eu não o cumprir! – ela respondia levemente irritada, revirando os olhos, impaciente. Parecia já ter se resignado daquilo, mas ainda tinha o direito de não gostar da situação. Sentava-se de cara feia, estendendo os braços para verificar o trabalho que ele tinha feito. Não tinha sido nada mal, realmente. De fato, as manchas até estavam mais claras - Heey! - ela exclamou, encolhendo as pernas quando ele se ajoelhara e suspendia a barra de sua calça. Parecia bem mais atenta aos toques dele agora, embora relaxasse um pouco, ao se certificar que ele só passaria a pomada ali também - Não precisa fazer isso Malfoy... eu termino!
- Ah, claro! Termina antes de voltar a deitar na cama e adormecer imediatamente de tão exausta? – ele alfinetou, enquanto passava a pomada nos tornozelos dela com movimentos circulares. Não demorava muito a terminar, já que as manchas ali não eram tão intensas quanto às das mãos.
- Eu não vou voltar a dormir! - ela dizia ríspida. Com quem ele achava que estava lidando, com aqueles gigantes idiotas que andavam com ele em Hogwarts? – Agora me dá...
- Vira de costas e ergua a blusa, Granger! - ele mais ordenou do que pediu enquanto sentava-se ao lado dela.
- ... essa pomada aqui e O QUE? - ela perguntava alarmada, quando ele pedia para virar de costas. Ela não ia ficar se despindo na frente dele. Mesmo que ele já tivesse visto quase tudo o que havia para ver em seu corpo.
- Vira suas costas para mim... - ele repetiu, respirando fundo para não estourar com ela. - Você não vai conseguir passar essa pomada em todas as suas costas sozinha, vai?
Hermione tinha uma expressão irritada, beirando a fúria quando ele repetia aquele pedido. E não ajudava nada o fato dele suspirar, buscando por calma. Aquilo não conquistava a sua simpatia, principalmente porque ele estava certo. Cerrava o maxilar, não o respondendo ou começariam a discutir feio, virando-se de costas, o rosto ficando de frente para a parede em que sua cama era encostada e subindo o menos que podia da blusa do pijama.
- Não é só passar a pomada... se você não massagear da forma correta, as manchas não somem! - explicava, apertando o tubo e aplicando a pasta diretamente nas costas dela – E, normalmente, demora para pegar o jeito certo de passar... - continuou, finalmente encostando a mão nas costas dela, e começando a espalhar a pomada em movimentos circulares, ora leves, ora mais intensos, mas no geral com bastante jeito.
- Ah sim... – Mione murmurou nem um pouco feliz por estar naquela situação. Bufava baixinho, enquanto sentia o toque de Draco, não conseguindo deixar de pensar que ele até tinha uma mão leve, quando queria. Meneou o rosto - Esqueço que você é jogador de Quadribol e que entende de roxos...
- Eu já sabia fazer isso antes de me tornar um apanhador. Você aprende a usar essa pomada fácil quando se tem um pai que adora lhe bater por você ser um inútil! Especialmente, se você tiver uma sangue ruim na sala que tira notas maiores que as suas... – Malfoy disse normalmente, como se pais que machucam os filhos fossem a coisa mais normal do mundo - Será que dá para você levantar mais a blusa?
- Ahm... - ela fez, sem saber o que dizer. Não podia espezinhá-lo por aquele motivo. A vida de Draco não devia ser mesmo fácil. Pigarreou, e em seguida, chegou a ficar contente de mudar de assunto, ainda que fosse para ele fazer aquela pergunta - Por quê? Passe aí a pomada, assim já está bom... - dizia cheia de pudores, olhando-o de perfil.
- Não sei! Acho que eu tenho alguns motivos, como este!- ele respondeu, tocando nas costas dela em uma parte coberta que sabia que deveria ter marcas roxas.- E este, mais este e também este aqui, ó!- persistia, tomando em outros lugares que Mione sentiria dor
- Ai ai! Vai deva... Ai!! - ela reclamava, afastando-se um pouco dos toques dele - Isso dói, sabia?
- Não diga! - exclamou sarcástico - Vamos, Granger, levante um pouco a sua blusa para que possa cuidar dos seus hematomas. Basta uma aplicação massageando do jeito certo para que eles sumam daqui a algumas horas.
Hermione suspirou, voltando a olhar para parede a sua frente, erguendo um pouco mais a blusa, sem falar nada. Pelo menos estaria sem aquelas dores horrorosas em algumas horas.
- Obrigado... - Draco falou, franzindo o cenho como se estranhasse sua própria voz. Provavelmente, ele já tinha esquecido como era agradecer por alguma coisa. Passou mais daquela pasta azul nas mãos e pôs a massagear o resto das costas dela, em silêncio.
Mione comprimiu os lábios, em silêncio, estranhando igualmente aquela síndrome de gentileza que tinha se apossado de Malfoy. Quando ele terminou, ela baixou rapidamente a blusa, voltando a se sentar de modo que estivesse virada para frente, ao lado dele.
- Ahm... obrigada... - agora ela vez dela agradecer, embora não o fitasse para isso.
- Não seja tão idiota a ponto de me agradecer por curar algo que eu mesmo fiz! - ele respondeu entregando a pomada à Mione.
Ela encolheu os ombros, inclinando o corpo e depositando a pomada na escrivaninha, que ficava perto da cama. Podia jogar de novo na cara dele que era ele quem tinha feito aquilo, e que ele tinha razão por dizer aquelas palavras, mas simplesmente escolheu esquecer.
- Tá bem! Agora pode voltar para seu quarto e me deixar dormir... – ela murmurou, menos carrancuda do que pretendia.
- Era o que tinha em mente... - ele disse levantando-se e fazendo menção de sair.
- Certo... - ela o imitava, se levantando, embora achasse estranho travar um diálogo com ele em que não estivessem tentando se matar. Foi até a porta e a abriu, olhando para os lados no corredor, saindo e o deixando passar - Tudo bem, pode vir...
- Boa noite, Granger...- Draco se despediu, fitando-a nos olhos, antes de sair.
- Boa noite... – murmurou em resposta, correspondendo aquele olhar até que ele se mexesse e fosse para o quarto de hóspedes, que ficava logo mais a frente do seu.
Mas então eles ouviram uma voz masculina falar um tanto elevado, alguma coisa parecida com “EU não agüento mais” e Mione logo reconheceu a voz de Edward. Pelo jeito, os pais estavam brigando.
- Ah não... – sussurrou baixinho. Sabia que eles estavam brigando pela quantidade de visitantes ‘anormais’ segundo a tolerância de seu pai.
- Foi seu pai...? - Draco perguntou fitando a garota, que meneou a cabeça positivamente
- É melhor você voltar AGORA para seu quarto...
- Ele não parece estar irritado com a gente, mas com sua mãe... Parecem estar brigando... – comentou baixinho, ouvindo agora uma voz feminina se elevar “não me diga!”.
Hermione não respondeu imediatamente, prestando atenção para ver se o pai responderia daquela forma exaltada, se novo. Nada. Suspirou.
- Draco... vá para seu quarto antes que as coisas piorem... –murmurou finalmente, olhando para ele.
- Talvez possamos descobrir algo...- sussurrou, já próximo da porta de madeira polida do quarto dos pais de Hermione, que estava entreaberta - Acho que é interessante ouvir a briga...
- Malfoy... não! - ela iniciou, cheia de princípios, gesticulando para que ele saísse de lá. Se Edward saísse do quarto de repente, e os visse ali, ficaria furioso!
Draco a ignorou. E no mais o loiro estava quieto e silencioso, com uma concentração digna de felino. Se existia uma coisa que Draco Malfoy sabia fazer muito bem, era escutar conversas alheias. Percebendo que ele estava ouvindo coisas sobre seus pais que ela não podia saber do que se tratava àquela distância, Hermione se aproximou. Não acreditava que estava fazendo aquilo, mas em segundos, estava logo atrás dele. Tinha que tomar o dobro de cuidado para ser tão eficiente e silenciosa como ele, mas estava tendo bons resultados. Só se atrapalhou um pouco ao ouvir o pai gritando de novo quando aproximou com cautela do quarto:
- A GENTE NUNCA DEVERIA TER MANDADO HERMIONE PARA AQUELE COLÉGIO DE ANORMAIS!
Inconscientemente, a mão de Mione procurou a de Draco e a segurou. Sentia uma dor terrível no peito, ao ouvir o pai chamar Hogwarts daquele jeito. Então era assim que ele a via? Como uma anormal? Aproximou-se um pouco mais, encaixando o rosto na frestinha de porta aberta. Só conseguia ver a mãe daquele ângulo.
- EDWARD! - exclamou Lynda mais baixo, parecendo horrorizada - Isso não é coisa que se diga da nossa filha! Mione quis estudar Hogwarts desde que aquele professor baixinho dela veio aqui para explicar o quê era uma escola de bruxo!
- Ah, por favor! Ela só tinha 12 anos! Como é que uma criança dessa idade vai ter noção do que escolher para si! - ele bufou, com raiva.
- Tinha só 12 anos? Edward, estamos falando de Hermione! Nossa filha com 12 anos tinha muito mais maturidade que gente de 30 anos! - ela protestou. Hermione a achava um bocado exagerada, embora tivesse completa convicção de que sabia o que estava fazendo quando aceitou ir para Hogwarts. Percebia que a mãe estava fazendo um esforço para clarear as idéias do marido, tentando manter a voz calma. Mesmo assim imprimiu um pouco mais de força no aperto a mão de Draco. Estava imensamente agradecida a mãe por lhe defender assim. Claro, sabia que Lynda sentia-se um pouco envolta da magia que Hogwarts exercia sobre ela, por conta de Anne... mas tão pouco sabia que o pai estava naquele ponto de irritação por conta da escola. Ele nunca tinha dito aquelas coisas... ao menos, Mione nunca as tinha escutado.
- Ah está bom! Até parece que VOCÊ não interferiu na escolha dela! -continuou Edward.
- Eu interferir? Edward! Eu NUNCA me interferi nas escolhas de Mione! Nunca tinha mencionado de Anne ou Sirius ou de magia! Sempre fingi que nada disso existia até ela descobrir por conta própria! - Lynda defendeu-se.
O estômago gelou ao ouvir o nome de Anne e Sirius na conversa... era a primeira vez em muito tempo, que eles tocavam no assunto. Sua ansiedade era tanta que nem ao menos reparou que Draco agora apertava ligeiramente sua mão também.
- Porque é isso que você sempre DESEJOU! - bradou Edward. Lynda abria a boca para protestar, mas ele continuou - Nem tente se justificar, Lynda! Eu SEI como você olha para Mione cheia de orgulho quando ela começa aquelas conversas absurdas sobre magia, Grifinória e taças! Eu SEI como você fica ansiosa pelas cartas da nossa filha, descrevendo o que está acontecendo com ela em Hogwarts! Você sempre quis ir para lá, não é Lynda? Foi por isso que você brigou com sua irmã. Você QUERIA estar ao lado dela e...
- CHEGA! - Lynda gritou, olhando o marido com ódio que Mione nunca vira antes. Era primeira vez que via a mãe se descontrolar daquela maneira. -Nunca mais fale isso de novo...- ela ameaçou e o corpo de Mione se agitou quando ouviu um barulho de vidro quebrando, como se aquilo a tivesse despertado. Tinha a expressão pasmada, o rosto e os lábios um pouco pálidos e a respiração agitada. Não estava acreditando no que ouvia... não estava acreditando que desconhecia aquele detalhe... uma briga entre Anne e Lynda. Teve de levar a mão livre até a boca, para não deixar nenhum som que os denunciasse escapar. Por alguns segundos um silêncio incômodo perdurou no quarto. Então Edward continuou, em um tom de voz mais calmo:
- E tem também aquele garoto... Graco...
- Draco! - corrigiu Lynda, entre os dentes - Não me diga que agora você vai culpar aquele garotinho de 16 anos por toda a desgraça do mundo?
Mione não se admirava tanto quanto Malfoy ao ouvir a mãe defendê-lo. Afinal, o que ela sabia sobre o quão terrível Draco podia ser? Estava certo que ela não devia saber precisamente quem eram seus pais, mas...
- Não, mas vou culpá-lo pela tia dele quase ter matado MINHA filha com seus amigos! -respondeu Edward.
- Draco não tem culpa de nascer em uma família problemática... - refutou Lynda - Você ouviu o que Mione conta sobre os tios de Harry? E eles NEM são bruxos!
- Harry não me olha como se eu fosse um verme nojento que devia ser morto o mais rápido possível... - insistiu Edward e Mione meneou a cabeça de forma reprovativa.
- Malfoy... - disse baixinho, o mais baixo que conseguia - ... melhor... pararmos por aqui... - continuou. Não queria nem imaginar as reações do garoto tendo seu nome no meio da conversa.
Draco não respondeu e nem se moveu. Seus olhos cinzas estavam pregados em Lynda o cenho totalmente franzido. Provavelmente, ele devia estranhar uma trouxa defendendo-o com tanto vigor. Foi então que encarando Draco, Hermione percebeu que sua mão estava entrelaçada com a dele; soltou-as rapidamente, sentindo as bochechas arderem.
- ...ele é um sonserino! É normal essas atitudes dele! – Lynda persistia na argumentação de que Draco era um garoto bom.
- Ah, e serão ótimas as influências negativas que ele pode exercer em Mione...
- Ah, claro! Mione vai começar a usar drogas e transar loucamente com vários homens ao mesmo tempo! EDWARD! - ela exclamou meio chorosa - Você tem que aprender a confiar em nossa filha... é normal que ela tenha gostos estranhos, afinal Anne também os tinha. Ela parecia obcecada com magia negra, mas nem por isso saia torturando todo mundo. Bom, talvez só uma tal de Bellatriz, mas era sempre em legítima defesa!!
Mione arregalou os olhos... Bellatriz! Sentiu o chão faltar de tal maneira, que a reação de espanto sobre as possibilidades que sua mãe tinha dito a seu respeito não tinham durado muito (usar drogas e transar loucamente?). Buscou o olhar de Draco, meio em pânico.
- Acho que sua mãe gosta de mim... - Draco sussurrou, totalmente espantado. Mione revirou os olhos com o comentário de Malfoy - Como é que...? - mas ele parou, assim que Edward recomeçou.
- Ah, muito bom! Tomara que Mione também herde a estimativa de vida de Anne e morra com 23 anos de idade!
- E o que você quer que a gente faça? Transfira Mione para um colégio normal? – Mas Lynda nem ao menos esperava alguns segundos para retomar - Ah, nem pense nisso, Edward Philiph Granger! Hermione concluirá seus estudos em Hogwarts!
- Não enquanto EU viver nessa casa! - ameaçou Edward.
- Então, sugiro que você faça as malas! - devolveu Lynda.
Isso era que não. Em um momento de descontrole Mione ia abrindo a porta, quando Draco a agarrou pelo braço e a arrastou para o quarto de visitas onde ele estava dormindo.
- MALFOY, SEU... - ela começou, mas ele levara a mão na boca dela, calando-a.
- Não seria nada prudente você se revelar Granger! - ele respondeu baixinho, ainda segurando a boca dela – O mais importante princípio de ouvir as conversas alheias é não se deixar descobrir!
- Ah, claro! Desculpe professor Malfoy, por ter princípios morais e não estar acostumada a bisbilhotar conversas alheias! - ela bufou, cruzando os braços quando ele retirava a mão da sua boca e fechava a porta do quarto sem fazer barulhos.. Era uma suíte bastante confortável, que contava com cama de casal, um armário guarda-roupa e uma cômoda, todos no mesmo tom de madeira escura e polida. A cama estava bem feita e tudo estava sob perfeita ordem. Alguns objetos tipicamente trouxas figuravam no quarto, como uma televisão, um aparelho de rádio e um telefone.
Mas Draco não respondeu. Ele levara um dedo aos lábios, em um gesto típico de silêncio. Logo Mione escutou passadas fortes pelo corredor indo em direção a escada. Foi como se alguém tivesse jogado um balde de água fria nela. Seu pai estava indo embora porque não assentia com a idéia dela ir para a escola que AMAVA. Ignorando totalmente a presença de Malfoy, ela se sentou na cama, os olhos marejados de lágrimas. A culpa era sua se seus pais tinham brigado feio daquele jeito
- Eu... não queria que isso tivesse acontecido... - dizia baixinho, fitando o chão, culpada.
Draco continuou calado, aproximando-se da garota e sentando-se ao lado dela na cama.
- Mas... porque essa explosão agora? - Ela murmurou desconsolada, falando mais para si do que para Draco - Quer dizer, ele teve cinco anos para se manifestar... e... - parou. Sabia o porque. Antes Voldemort era uma sombra e agora era uma realidade. Mas era justamente por isso que ela precisava estar em Hogwarts, com Harry, com seus amigos. Precisariam dela e ela não hesitaria em ajudar.
- Talvez porque somente ontem ele recebeu a noticia de que quase fomos mortos pro Comensais? - Draco sugeriu, sem fitá-la. – Quero dizer, meu pai teria saltitado alegremente com a notícia de que os lacaios de Voldemort dariam um jeito na inutilidade do filho, mas parece que para seu pai isso foi... angustiante. - ele terminou a frase meio incerto, franzindo o cenho, como se duvidasse que algum pai poderia se sentir angustiado com aquilo.
Mione suspirou. Cansada, colocou o rosto entre as mãos. Estava dando TUDO errado.
- Bom, encare as coisas pelo lado positivo: descobrimos que Anne era obcecada por magia negra e gostava de torturar a minha tia, o que eu entendo bem. E que ela e sua mãe eram amigas até que a inveja bateu entre elas e elas brigaram... – concluiu.
A garota não disse nada, obviamente afundada entre todas aquelas palavras e acontecimentos. Porque tudo tinha que ser tão complicado assim? Não ergueu o olhar para Draco tão pouco.
- Só uma coisa que eu achei realmente estranho, fora o fato de sua mãe ter me defendido, me fazendo parecer bom garoto que tem uma família escrota.
- Que coisa? - ela perguntou, erguendo pela primeira vez os olhos castanhos a ele.
- Quem derrubou magicamente o porta-retrato?
- Que porta retrato? – perguntava, olhando-o com atenção.
- Um que estava você e seus pais! – ele respondeu em um tom óbvio e impaciente. Muito provavelmente ele via mais coisa que ela do ângulo em que estava. Mione sabia bem de que porta-retrato ele estava falando. Era um bonito, grande e pesado que guardava uma foto em que ela e os pais estavam em Paris. Então... era aquilo que tinha causado o barulho.
- Você disse magicamente? – ela perguntava confusa.
- Claro! Ou foi você que fez aquilo? Porque eu não fui! - ele insistia – E se não foi você nem eu... deve ter sido um de seus pais.
- Claro que não fui eu! – ela murmurava, achando absurda a hipótese de um de seus pais jogar no chão, magicamente, o porta-retrato. No entanto aquela era a única explicação.
- Então, sua mãe é uma bruxa... - Draco concluiu, satisfeito.
- Então porque Anne recebeu uma carta de Hogwarts e ela não? – ela perguntou, achando aquela hipótese completamente sem sentido - E como você sabe que foi minha mãe? Poderia ter sido meu pai... ou... só um acidente – completava, sem realmente acreditar no que estava falando, achando uma hipótese pior do que a outra.
- Seu pai é idiota demais para ser um bruxo. - Draco declarou carrancudo. Hermione fechou a cara para ele quando falava daquele jeito sobre seu pai - E o porta-retrato só quebrou quando sua mãe estava absolutamente nervosa, ameaçando seu pai...
Mas as perspectivas daquele mistério lhe impediam de perder tempo ralhando com ele ao invés de pensar a respeito.
- Isso não faz o mínimo sentido... – ela sussurrou, pensativa.
- Por quê? Ela pode muito bem NÃO ter recebido uma carta para Hogwarts, mas para outra escola de bruxaria! - ele falou, achando maravilhosa a perspectiva de Lynda não ser uma trouxa normal - Ou simplesmente ter recusado. Afinal, nascido trouxas tem uma mentalidade bem estreita...
- Malfoy não viaja... você realmente ouviu o que estava sendo dito aqui? Minha mãe AMA o mundo mágico! - ela dizia baixinho, meneando o rosto.
- Na época, ela poderia não estar amando... - Draco insistiu, dando de ombros.
- Eu acho isso impossível... - ela dizia amuada, fazendo menção de se levantar. Estava realmente debatendo com Draco sobre o que teria acontecido entre as irmãs Bellfords?
- Eu não! Pensa comigo, Granger... Anne é mais velha que Lynda, logo foi primeiro para Hogwarts. Voltou e por algum motivo brigou com Lynda. Lynda, então, se rebelou e desistiu de ir para Hogwarts... - ele finalizou, com um ar de Sherlock Holmes - Tudo se encaixa perfeitamente!
Hermione ergueu-se. Não queria pensar naquilo. Seria pedir demais a seu cérebro, depois do que havia presenciado entre seus pais.
- Eu não sei... - ela dizia só para não contraria-lo e assim, ter que começar nova discussão. Ia até a porta, abrindo-a e olhando corredor além - Eu vou conversar com minha mãe... mais tarde.
- Eu não acho que ela queira falar sobre isso, se ela realmente for a responsável pela morte de Anne... - Draco respondeu, espreguiçando-se.
- Ela NÃO é responsável pela morte de Anne... - Mione dizia revoltada, voltando o olhar para ele de mau humor - Eu vou me trocar para o café... - avisava, saindo do quarto.
- Grifinorianos e seu sentimentalismo barato! - ele bufou, para depois levantar-se e ir atrás dela. Hermione já tinha alcançado o próprio quarto. Ele a seguiu e assim que entrou, a viu enfiada dentro do guarda roupa, apanhando o que ia vestir, em silêncio.
- Sabe, você não devia descontar seu mau humor em pessoas que não tem nada haver... - ele falou, cruzando os braços na altura do peito e encostando seu ombro na parede, como se ele mesmo não fizesse isso constantemente em Hogwarts,
- E você não devia palpitar sobre o que não sabe... - ela respondeu com certa tranqüilidade, ainda com meio corpo dentro do guarda roupa. Depois de uns segundos, se erguia e fechava a porta levando as peças de roupa para a cama. Sentava-se olhando para ele, esperando que ele dissesse algo para que pudesse expulsá-lo do quarto para se trocar.
- Já parou para pensar que se eu não palpitasse e me interferisse em assuntos que não me pertence, jamais estaria na Sonserina? - ele respondeu, erguendo uma sobrancelha, sem o mínimo de vontade de sair do quarto.
Hermione não respondeu. Sabia que ele estava certo, mas era um tanto doloroso ouvir palpites absurdos de alguém que nem ao menos conhecia sua família. Suspirou.
- Malfoy... eu preciso me trocar.
- Eeeeee...? - ele perguntou, olhando-a sem o mínimo de pudor.
- Você precisa sair do quarto! - ela dizia de forma óbvia, olhando para ele.
- Por quê? Somos namorados e eu já a vi semi-nua ontem...- ele usou um tom inocente - Além disso, segundo sua mãe, eu sou um cara bonzinho com uma família escrota!
- Draco Malfoy! - ela murmurava exasperada, as bochechas tingindo-se de vermelho de vergonha e raiva quando ele lhe fazia lembrar de todo o episódio do dia anterior. Apanhava a primeira coisa que via na frente, o que no caso se tratava de seu próprio travesseiro, e jogava nele - Sai já daqui!
O travesseiro acertou em cheio a cara de Draco. Mas, ele apenas gargalhou.
- Ok, Santa Virgem das Puritanas Intocáveis, eu estou saindo... - disse, sarcástico, antes de se retirar.
Hermione andou até a porta e a bateu na cara dele, furiosa. Como ele ousava fazer piada do que tinha acontecido? Voltou até a cama, despindo o conjunto de blusa e shorts do pijama para trocar-se. O passado de Anne parecia se complicar a cada dia, mas Mione tinha certeza absoluta de uma coisa: as duas semanas seguintes que faltavam para ir para Hogwarts seriam infernais com aquele sonserino loiro, tarado, pervertido, idiota, sarcástico, psicopata, arrogante e todos os adjetivos ruins do universo, morando na sua casa.
Mal feito feito
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Estrela Vespertina diz: Hey pessoal! Primeiramente mil desculpas pelo atraso... mas é que a vida aqui em Bauru está apertando, a faculdade já está ficando insana e eu com bem menos tempo para escrever. Não vou prometer não atrasar mais, mas para facilitar minha vida, eu e Charichu combinamos que agora as atualizações serão de sexta e não mais de quarta, ok?
Bom, sobre o capítulo, agora. Ele é uma junção de várias coisas, planejamentos antigos e recentes e enfim, acho que deu um bom resultado. Pode estar meio confuso, mas como é um capítulo de transição, não dá mesmo para deixar tudo explicadinho senão perde a graça, certo?
Acho legal destacar o pesadelo de Mione, muito bem planejado e escrito por Charichu. Explica bem o desespero da garota ao descobrir que a mãe pode ser uma assassina fria e uma torturada implacável. Ela fica nessa de acreditar nos aurores, que ela sabe que são pessoas de bem, ou na mãe adotiva em quem confia cegamente, com o único contra de que ela pode estar apenas defendendo a irmã de uma reputação terrível (sem colocar na conta Andrômeda, que ficou do lado de Lynda, defendendo Anne). Bom o resultado foi o pesadelo, e espero que vocês tenham gostado.
E para quem pediu mais Draco e Mione, acho que esse capítulo deu para compensar a falta de interação entre eles do capítulo passado né? E frisa bem as antagonias de Draco, ora querendo estuprá-la, ora a protegendo do caixão que machuca, ora cuidando de seus hematomas... rs
E finalmente... Lynda Bellford Granger. Rá! Se enganou quem achou que Anne era a única misteriosa. Esse capítulo deixa no ar várias coisas... quem quebrou o porta-retrato, porque as irmãs brigaram (e principalmente porque Lynda não contou sobre a briga para a filha)... sem falar na reação extremista de Edward, certo? rs Espero que a espera tenha valido a pena! Beijos!
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