Capítulo I
- Madre, chegou alguma carta para... – a menina parou de chofre, assim que cruzou o portal da pesada porta de madeira. – Perdoem-me, não sabia que tinhas visita, Madre.
O visitante virou-se pra recém chegada e lhe sorriu.
- Não há problema, senhorita.
- Devias ser mais cuidadosa, achas mesmo certo andar correndo assim pelo convento? E quantas vezes já lhe avisei para que não use esses seus vestidos? – disse a mulher, enérgica. O olhar do jovem caiu no decote que a moça usava, nada exagerado, mas impróprio para um convento.
- E quantas vezes, Madre, já lhe disse que não adianta avisar-me? – ela retrucou, com os olhos faiscando.
A Madre crispou os lábios e voltou-se para o cavalheiro.
- Como disse, senhor, não há uma freira disponível no momento para acompanhar-lhe numa visita ao convento. Terás de voltar outra hora.
- Madre, eu lhe imploro, deixe-me visitar o convento. Sou um homem de negócios, não há tempo sobrando, esse foi o único momento disponível que encontrei para prestigiar vosso tão belo convento...
- Queres conhecer o convento? – perguntou a moça, que ainda estava ali.
O rapaz voltou-se pra ela mais uma vez. Madre bufou diante da impertinência da menina.
- Sim, senhorita, para isso estou aqui.
Ele era alto, magro, cabelos bem pretos e arrepiados, olhos extremamente verdes. Rosto jovial, aparência séria, culta e educada.
- Posso mostrar-lhe o convento, se quiser. – ela falou.
Ele a olhou, confuso. Voltou a olhar pra Madre.
- Nada disso, sabes muito bem que esta não é vossa função aqui. – a mulher começou.
- Mas as outras irmãs estão rezando, o senhor precisa conhecer o convento e eu estou fazendo nada.
A mulher bufou.
- Está bem. Vá com ele e não demore.
A menina sorriu e saiu da sala, seguindo por um longo corredor.
- Harry Potter, encantado em conhecê-la. – ele falou, fazendo-a parar.
- O prazer é todo meu. – ela respondeu, voltando a andar pelo corredor.
- E aqui é o jardim. – ela disse, com simplicidade, assim que saíram do labirinto que era o convento. O jardim era imenso, se perdia de vista, verde vistoso, flores bem coloridas, uma fonte no centro e bancos de madeira espalhados.
- Se me permite perguntar, senhorita, por que estais aqui? – ele indagou, andando em passos lentos ao lado dela.
- Digamos que... Não fui uma filha muito obediente. – ela respondeu, num meio sorriso.
- Percebe-se. – ele comentou. Ela o encarou. – Ah, perdoe-me... O fato é que vi a maneira como respondeste a Madre há alguns minutos.
- Ah, claro.
- És sempre assim?
- Normalmente sou pior. – ela respondeu, sorrindo. – E o senhor, o que faz aqui?
- Tenho uma irmã caçula, Anne, tem vocação para vida religiosa. Estou à procura de um bom convento para ela.
- Deseje-lhe sorte. Há de ter muita paciência para escolher tal vida.
Ele não pôde conter uma risada.
- Moras aqui e tens essa opinião?
- Fui mandada pra cá. Não escolhi. Não há motivo para rezar tanto... Deus deve ficar enfadonho com tanta reza...
Ele soltou uma gargalhada.
- Inacreditável.
- É a realidade. – ela acrescentou.
Caminharam mais uns minutos, até que ele quebrou o silêncio.
- O que fazes aqui para distrair-se?
- Leio.
- Só?
- É o suficiente.
- E qual é teu romance preferido?
- Quem lhe disse que leio romances?
- Suponho que...
- Não.
Ele a encarou, surpreso.
- Então, o que lê?
- No momento estou lendo O Capital.
- O Capital? De Karl Marx? – ele indagou, sem esconder a surpresa e o espanto.
- Sim. Por que o espanto?
- Ora... Não é muito comum... Damas lerem este tipo de...
- Romances são irritantes... Melosos, cheios de complicações...
- Imagino que deves, ao menos, tocar piano.
- Não. Eu sei. Mas não toco.
- Borda?
- Não, coisa de velha.
- Pinta?
- Não.
- Cozinha?
- De maneira nenhuma.
- Então começo a entender porque vieste parar aqui.
Eles riram.
- E o senhor? O que faz?
- Cuido dos negócios de família. Meu pai morreu há três anos, em função de uma doença. Minha mãe morreu logo depois de depressão. Ela o amava muito, ficou desesperada depois da morte dele.
- Eu sinto muito.
- Foi horrível... Mas eu tinha que continuar. Sempre me interessei pelos negócios de meu pai, o acompanhava em tudo que fazia. Hoje, administro a fazenda e todos os bens de minha família, e cuido de Anne também, que ainda é muito jovem.
- Quantos anos têm?
- Eu? Vinte e três.
- Não. Anne.
- Ah, completará dezesseis na próxima semana.
- E trazê-la pra cá é teu presente para ela?
- Ela me pediu, implorou. Tento adiar isso desde a morte de meus pais. Mas se é o que ela quer, e é o que a fará feliz, farei, mesmo contra minha vontade.
- Ela deve gostar muito do senhor.
- Sim, somos muito unidos, será difícil viver longe dela.
- Suponho que sim. Mas poderá visitá-la.
- Uma vez ao mês, apenas.
- Só? Pensei que...
- Ela estará aqui testando seus limites, pra ter certeza se é mesmo isso que quer. A Madre disse que não permitirá muitas visitas.
- A Madre é insuportável. – ela comentou, fazendo-o rir mais uma vez.
- Senhor Potter, venha até aqui! – chamou a Madre, da porta do pátio.
- Falando no diabo... – ele segurou uma gargalhada ao ouvir o comentário.
Ele se virou e viu a mulher lhe acenado com certa urgência.
- Desculpe-me, tenho que ir. – ele falou, fitando a garota.
- Tenha um bom dia, Senhor Potter. – ela falou, sorrindo.
- Senhor Potter! Senhor Potter! – chamava a mulher.
O homem saiu em passos rápidos pelo imenso jardim.
A menina sentou-se num banco e ficou observando o rapaz sumir de vista.
Morava naquele convento há pouco mais de um mês. Já se acostumara com as regras, as coisas ruins, as poucas coisas boas, com a comida e com o tédio. Em cada carta que mandava aos pais, implorava por mais uma centena de livros para que pudesse passar o tempo. A mãe lhe mandava vestidos novos, ela sequer os desembalava, continuavam intactos nos pacotes, formando pilha naquele ‘quarto’ onde vivia.
Sentou-se em sua cama e olhou para a escrivaninha.
Era desconfortável, porém já fora pior.
O lugar era pequeno, uma janela com grades de ferro. Uma cama de solteiro, uma escrivaninha velha com uma cadeira e uma cômoda. Nada a mais.
Já conhecia tudo por ali... O convento era enorme, os corredores mais pareciam labirintos. Ela sabia de tudo, sabia o que havia ali dentro e o que havia lá fora. Desbravara o bosque da propriedade, descobrira outro mundo.
O seu mundo.
Pegou o livro grosso e saiu do quarto, em direção ao jardim.
Passaria mais uma das suas tardes, que haviam se tornado todas iguais, lendo.
- Como ela era? – perguntou Rony, animado, ouvindo a história do amigo.
- Pele alva, cabelos castanhos, longos, presos por uma fita. Rosto vivo, esperta, olhos brilhantes cor de mel... Uma ninfa.
- Qual o nome de sua ninfa?
Harry parou de andar. Estavam na biblioteca de sua fazenda. Ele andava de um lado para o outro contando ao melhor amigo como fora sua visita ao convento.
- Não sei. – ele disse, despontado.
- Como assim, não sabes?
- Ela não me disse. – só agora se dera conta que não sabia o nome da moça.
- Por que não perguntastes?
- Não sei. Envolvi-me com nossa conversa. Esqueci-me de perguntar.
- Mas tu és um maricas, mesmo. Encontras a mulher da tua vida e sequer pergunta-lhe o nome?
- Eu...
- Caro amigo, sinto dizer-lhe, mas assim não conseguirás nada com sua ninfa.
- Rony!
- Estou a falar sério, Harry. Nada.
***
N/a: Uhuuuu, e lá vou eu começando uma nova fic. Eu sempre quis escrever uma UA épica, foi bastante prazeroso escrever esta, que está concluída e possui doze capítulos.
Eu gostei bastante do resultado... Até porque exigiu de mim escrever partes que eu nunca tinha experimentado escrever. Essa fic contém muitos conflitos psicológicos fortes e é extremamente importante pra mim que vocês leitores comentem, para eu saber se eu estou conseguindo passar as emoções dos personagens como se deve.
Esse é apenas o primeiro capítulo... Já deu pra sentir o clima, não?
Espero que vocês gostem e que comentem muitoooo, pois essa é minha primeira UA, é importante saber a opinião de vocês.
É isso aí... Desde já agradeço aos que se dispuserem a se unir a mim nessa nova empreitada.
Beijos a todos.
Paulinha.
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