Eu sei onde você se esconde.
' Beauty queen of only sixteen...
( ' Linda rainha de apenas 16 anos... )
... she had some trouble with herself. '
( ... ela tinha alguns problemas com ela mesma. ' )
Dia claro. A passos ritmados e com o olhar perdido, Emmeline Vance voltava de mais uma aula de Trato das Criaturas Mágicas e rumava para o almoço com as amigas Lílian e Marlene. O sol refletia em seus cabelos, deixando os cachos loiros da garota ainda mais brilhosos e seu rosto levemente rosado. Mas os olhos azuis acinzentados permaneciam opacos, dando a impressão de que ela se encontrava em outro planeta.
Na verdade, não era só impressão. Uma avalanche de dúvidas e pensamentos confusos que não a levavam a lugar algum não deixavam que ela prestasse atenção em nada, tornando tudo um pouco confuso e distante. Inclusive a conversa das amigas que, para ela, não passava de palavras sem muito sentido, ditas em algum lugar muito longe, sobre algo que ela nem poderia imaginar. Era quase como estar sozinha. E, é claro, Lene e Lily não deixaram de notar isso.
Foi assim que Emmeline se viu, de repente, sento intimada, por uma pergunta da ruiva, a participar da conversa sobre o assunto que ela nem imaginava. Porém, antes que pudesse responder, Marlene pediu seu apoio em uma frase cheia de provocação á Lily, o que indicava que a conversa era, na verdade, uma discussão. Nos poucos segundos que teve para pensar a loira decidiu se manter neutra, ignorando os olhares suplicantes de apoio que as amigas lhe lançavam, numa tentativa frustrada de fingir que estava atenta ao assunto.
O silêncio que se seguiu foi quase esmagador e, Line sabia, gritava por uma explicação que ela não tinha. Mas as trocas de olhares entre a morena e a ruiva continham mensagens claras. Em poucos instantes as duas selaram a paz, adiaram a discussão e se uniram para interrogar a amiga.
- Como assim não sabe? O que ta acontecendo? - Começou Lene, dando voz as perguntas já feitas antes pelo próprio silêncio.
Escolhendo as palavras para não provocar uma crise de preocupação e suspeita das amigas, a loira se desculpou dizendo que havia se distraído e ouviu, calada, os protestos de Lily que queria claramente arrancar algum segredo dela. Mas não manteve a mesma calma com a frase dita em seguida.
- Ou em quem anda a sua cabeça? - completou a morena, a voz cheia de malícia e os olhos fixos em sua vítima, enquanto ela passavam pelas imponentes portas de carvalho do castelo.
O sorriso maroto nos lábios de Marlene fez a garota revirar os olhos, demonstrando não ter gostado nada da brincadeira, e parar no corredor, já apinhado de alunos, para comunicar as duas que iria ao banheiro e pedir que guardassem um lugar para ela na mesa.
Rumar no sentido contrário a maré de alunos esfomeados que tornava o espaço dos corredores quase inexistente não era uma tarefa fácil. Mas se isso fosse capaz de livrá-la do interrogatório das amigas, ela estava decidida a não reclamar. E se isso indicasse que o banheiro estaria vazio então, se tornava até bom.
" I know where you hide...
( " Eu sei onde você se esconde... )
... know all of the things that make you who you are. "
( ... sei todas as coisas que fazem você ser quem é. ")
Assim que seus pés tocaram o chão do banheiro deserto, Emmeline sentiu uma golfada de ar gelado movimentar seus longos cachos, enquanto caminhava até uma pia próxima e parava para encarar o reflexo de uma estranha no espelho. A garota que antes, apesar de discreta, era segura agora se sentia confusa de mais para reconhecer sua própria imagem. Abriu a torneira e molhou o rosto, com a esperança de que a água lavasse também suas angústias, suas dúvidas. Percebeu então que sentia saudades do verão, quando tudo ainda estava bem e ela nem imaginava como nos 3 primeiros meses de aula sua vida passaria a ser um sonho e, logo depois, um inferno. Mas antes que mais lembranças deixassem aquela melancolia tomar conta de todos os seus pensamentos a loira secou o rosto e levantou a cabeça. Era hora de voltar a fingir que estava tudo bem.
A passos firmes, a garota refez o caminho até o salão principal pelos corredores que, agora, só contavam com a presença de um ou outro fantasma. Deu um suspiro de alívio e agradeceu a si mesma ao notar que, mesmo com a mesa lotada, havia um lugar a sua espera ao lado das amigas. Serviu seu copo com suco de abóbora ouvindo Marlene reclamar de sua demora, e até achou graça. Mas sentiu a bebida doce e saborosa ficar amarga em sua boca ao passar os olhos pela mesa de sua casa e ver que, mais uma vez, aquela cadeira estava vazia.
Por Ands Vance.
Música: Maroon 5 - She Will Be Loved
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