Meio



Capítulo II




Tom já havia matado uma vez. Não era nenhuma novidade para ele “corromper a alma”, como Slughorn havia dito. Agora que sua alma já estava corrompida mesmo, buscaria o feitiço certo para conseguir criar uma Horcrux. Uma não, sete. Se tudo desse certo, até o fim do ano de 1945 já teria repartido sua alma o suficiente para isso.

Naquela quinta-feira, nos jardins, sob um salgueiro, registrava as memórias em seu diário. Era enfeitiçado para que as palavras desaparecerem assim que escritas, mas elas sempre estariam ali. Sua mente estava cheia de coisas, principalmente na época do ano em que estava, perto dos N.I.E.M.s. Os professores não davam descanso no quesito de trabalhos; no mínimo um por dia.

Sentiu aquele olhar insistente novamente pousado em si. Que garota insistente! Fingiu não perceber. Arrumou seu material espalhado pelo chão e se levantou, entrando no castelo. Ele soube que Durigan o seguiu. Sorriu maquiavelicamente. Fez um feitiço para que o ambiente escurecesse repentinamente; a ruiva se assustou, e Tom notou que ela procurava uma maneira de achar a luz.

— Procurando por alguém? — murmurou, assustando-a. Fez o corredor se iluminar novamente.

— Meu... Merlin... você me assustou!

— Ninguém mandou você me seguir — retrucou friamente. — Olha, Durigan...

— Sim?

— Eu não sou o que você deve estar pensando que sou.

— Não? Então não estou falando com Tom Riddle? Quem é você, estranho? — ela zombou.

— Não é isso, garota. — O moreno revirou os olhos. — Você talvez se decepcione se me conhecer melhor. Corvinais são bonzinhos, não são?

— Não. Corvinais são espertos, e eu estou disposta a tentar.

Aquela garota estava lhe dando mais trabalho do que imaginara. Tom bufou, impacientemente, pensando no que poderia fazer. Diria que sim e alimentaria mais as esperanças da menina? Diria que não e acabaria com isso de uma vez? Parecia difícil de decidir. Os olhos totalmente azuis da ruiva estavam pousados nos olhos sombrios de Riddle, e isso o arrepiou. Talvez fosse um sinal. Quem sabe.

— Duvido. Você não me conhece.

— Mas quero saber! — a ruiva insistiu com uma voz aguda. — Por que você não me deixa tentar? Só eu que vou perder, não é mesmo?

— Tem razão — ele falou, sorrindo friamente.

Os dois ficaram se encarando, num silêncio mórbido. A ruiva se virou, pronta para ir embora. Por que ela está me dando as costas? Tom enervou-se e a puxou de volta, num ato impensado, e acabaram por se beijar... mais uma vez. Há coisas que nada nem ninguém pode explicar; o porquê de ele ter tomado iniciativa era uma delas.

Quando as coisas estavam animadas demais, a garota teve a prudência de parar.

— Minha próxima aula é Poções — disse.

— Ah — Tom suspirou —, e a minha é Defesa Contra as Artes das Trevas.
— Acho que... bem, tenho que ir. — Consultou o relógio. — Faltam quinze minutos. Eh... Tchau.

Ela já estava quase sumindo, quando Tom se lembrou de uma pergunta importante:

— Ei! Qual é o seu primeiro nome?

A garota se virou, sorrindo imensamente.

— Fiona!

Riddle sorriu ao vê-la sumir no corredor.



— Ih, pelo visto você se acertou mesmo com a garota do baile, né, Riddle?

Tom revirou os olhos; Rosier estava sendo irritante naquele dia. Já fazia uma semana desde que começara a sair com Fiona, e seus companheiros já sabiam. Avery e Lestrange foram os menos conformados.

— Como é? Uma sangue-ruim, Riddle? — perguntara Lestrange.

— Como se eu não fosse um sangue-ruim...

— Nem vem, Tom - Avery interferiu. — Eu te vi no baile com ela, mas achei que você estivesse bêbado.

— E estava.

— Então tá bêbado até agora! — Rosier brincou, arrancando risos de todos, menos de Tom.

— Se vocês parassem de interferir no que eu faço ou deixo de fazer quanto a isso, eu agradeceria muito. Além do mais, vocês acham o quê? Que eu gosto dela? — Todos ficaram calados, o olhando espantados. — Não mesmo. Com licença.

E ali, no salão principal, enquanto todos almoçavam tranqüilos e felizes, Rosier perturbava o companheiro, mas mais relutante a cada olhar irritado que o outro lhe lançava.

— Eu vou dizer mais uma vez que não gosto dela. Espero que você esteja ouvindo bem. Eu não gosto dela!

— Então por que você tá saindo com ela, cara? Você sabe como as garotas são com isso...

— Porque eu quero, não tem explicação. Ponto-final — disse curto e grosso. Olhou para a mesa da Corvinal, e Fiona lhe sorriu.

A aula a seguir foi terrível. Transfiguração, e com a Corvinal. Parkinson o ficou fitando a aula inteira, como se Tom fosse a criatura mais interessante do mundo, e, no fim da aula, se dirigiu a ele:

— Você não vai acreditar o que eu ouvi Nott dizer, Tom! — ela exclamou com sua voz aguda, sorrindo falsamente. — Que você estava saindo com uma garota ruiva e sardenta? Ah, essa foi a piada mais engraçada do século! — Gargalhou histericamente.

— Pare com isso, Parkinson, já é difícil ficar do seu lado, agora com essas risadas ensurdecedoras fica pior ainda... — murmurou irritado.

— Como assim?

— Ah, você me entendeu. Com licença — pediu e saiu de perto da garota antes de mais alguma palavra.

Algumas semanas se passaram, os N.I.E.M.s estavam a cada dia mais próximos, mas Tom não se preocupava muito. Tinha tudo de que precisava para ficar com "Ótimo" em todas as matérias. Mas Fiona não. Portanto, algumas vezes os dois ficavam estudando na biblioteca por horas a fio.

Tom não gostava de admitir, mas estava desenvolvendo um sentimento puro demais pela garota. Sabia que em breve esse namorico deveria terminar, já que tinha coisas mais sérias a fazer e não poderia "tirar férias" de seus planos de repente, entretanto não gostava da idéia de vê-la longe de si. Por vezes sonhava com ela, e, estranhamente, Fiona sempre aparecia como se estivesse em uma outra dimensão, como um fantasma.

Isso era ridículo. Não sabia por que ainda estava namorando Durigan. Iria terminar tudo de uma vez naquela sexta-feira.

— Ei, Fiona, preciso falar com você — disse. Ela estava na biblioteca, fazendo um relatório de DCAT.

— Diga — a ruiva respondeu sem tirar os olhos do pergaminho.

— Eu quero terminar o namoro.

Ela engasgou. Tom a ajudou, sentindo um aperto no coração (não era para ter um coração de pedra?). Riddle havia sido tão direto que era visível que a ruiva não fazia a mínima idéia do que dizer.

— O... o quê?

— Terminar o namoro, isso que você ouviu. Está com algum problema de audição? Conheço uma...

— Espera aí, Tom. Quer dizer que você vem e, do nada, me diz que acabou? — exclamou. — Você tem essa cara de pau? Não acha que tenho sentimentos, não?

— Tem, mas e daí? — falou, tentando soar o mais impassível possível.

— Como assim “e daí?”? Tem um motivo em especial para você estar fazendo isso comigo?

Ele suspirou.

— É claro que tem. Eu me cansei, simplesmente. Foi, já foi, e agora chega. Eu tenho mais coisas importantes a fazer, e esse namoro tomou parte do meu tempo. — Pôr a questão do tempo reduzido em primeiro lugar parecia amenizar a situação. — Além do mais, você não gosta de mim de verdade, gosta?

A ruiva estava quase chorando, e Tom gostaria de não ter iniciado aquela conversa.

— Não gostar de você? Ah, agora você diz que eu não gosto de você! Idiota, imbecil, trasgo, nojento, mentiroso! — xingou de uma vez só. — Não gostar de você! Eu amo você!

Riddle ficou especado no lugar, sem palavras, e Fiona, deixando seu material em cima da mesa onde estava sentada, saiu da biblioteca aos prantos. Idiota, imbecil, trasgo, nojento, mentiroso, sangue-ruim ordinário, se xingou mentalmente. Estava se achando um completo idiota.

Juntou o material dela e o guardou na mochila velha da garota. Entregaria a Fiona no dia seguinte... O relatório ainda estava incompleto. E se terminasse por ela...? Ela não vai entender isso como uma forma de me desculpar? O que custava? Pegou a pena e escreveu no pergaminho, observando pela segunda vez que as letras eram parecidas.

Ela não estava disposta a olhá-lo naquele sábado chuvoso. Até mesmo o rosto cheio de espinhas de uma colega de sala parecia mais interessante que fitar Riddle. Lia-se em seus olhos azuis a tristeza e a inconformação pelo acontecido.

— Você está estranhamente calado — Nott observou. — Ah, você errou essa questão, a resposta é a terceira opção — disse triunfante, consertando o trabalho de História da Magia do outro.

— Hmm...

— O que houve? Tem algo a ver com a cenourinha? — perguntou ironicamente.

— Teve — Tom suspirou —, teve. Nós brigamos.

— Agora me fale uma novidade! — Riddle o olhou confuso. — Ah, para você estar assim, só mesmo brigando com a cenourinha.

— Mas não faz sentido... Eu não gostava dela!

— Mas gostou, não é, não? Vamos lá, Riddle, isso não faz mal de vez em quando... Contanto que não seja sempre — acrescentou. — O que ela fez?

— O que ela fez? O que eu fiz, você quis dizer. Só três palavras: fim, namoro, briga.

— Você quis terminar, e ela ficou p... possessa?

— É...

Nott percebeu que não adiantaria falar muita coisa: a cabeça do amigo estava no mundo da lua. Ou no mundo de Fiona.

Tom suspirou aborrecido. Iria falar com ela e se desculpar. Era uma atitude idiota, mas se assim se sentisse melhor... Odiava a sensação de culpa, que poucas vezes havia experimentado.



Infelizmente, para Tom, Fiona aceitou suas desculpas e ainda lhe sorriu compreensiva. Mas, depois daquilo, a garota se tornou fria e o tratava com descaso.

— Duas semanas para os N.I.E.M.s — Tom comentou casualmente.

— É.

— O que houve? — ele perguntou. A ruiva sacudiu os ombros. — Acho que são os exames se aproximando mesmo...

— Não é nada.

— Não? Você era mais animada antigamente.

— Oh, não sabia que você se importava com meus sentimentos — ironizou, pondo a mão dramaticamente sobre o peito.

— Ainda esse negócio de não me importar com seus sentimentos? Eu me importo, senão não teria lhe pedido desculpas, não é, Fiona?

— Talvez seja. Olha só, não finja que eu não sei, certo? Porque eu descobri quem você é. Me arrisquei e veja só, me dei mal.

— Ah, é isso - disse laconicamente. — Eu disse que você não iria gostar...

Não sabia por quê, mas brigar com ela incomodava demais. Era algo com que não estava acostumado a lidar, e Tom odiava esta nova sensação.

— Poupe-me.

Ele já sabia o que fazer.

— Certo, então vou lhe dizer a verdade. Eu pretendo ser grande, poderoso. Vou exterminar essa raça idiota de trouxas, que nada fazem de bom ao mundo. — Ele riu, e Fiona arregalou os olhos. — Eu matei meu pai e meus “queridos” avós paternos...

— O quê?

— Trouxas idiotas. Não sei onde minha mãe estava com a cabeça para ficar com aquele homem...

— Tom... Você é desequilibrado — ela sussurrou espantada.

— Não, não sou. E você pode vir para o meu lado quando eu alcançar o poder total. O que acha disso?

— Você é maluco.

— Como a Lady das Trevas; não é magnífico? — murmurou com uma voz maníaca. — É uma chance única, e olhe que tenho amigos que morreriam para que eu lhes oferecesse isso...

— Insano.

Ele gargalhou.

— Então, você aceita?

— Não! - vociferou Fiona.

Riddle percebeu que a garota estava espantada demais e que continuaria em silêncio. Sua tática não havia funcionado. Por que ela não ia embora de uma vez? Isso com certeza melhoraria muito a situação. Entretanto, ele não conseguia se sentir bem dizendo tais perversidades a ela...

— Esqueça tudo o que eu falei — pediu repentinamente. — Falei bobagens.

— Que bom que você sabe — Fiona retrucou, seca. — Mas por alguns instantes eu cheguei a acreditar.

Ele riu.

— Você me desculpa? Esses N.I.E.M.s estão me deixando louco...

— Sim. Mas espero que pedidos de desculpas não se tornem freqüentes no seu vocabulário — acrescentou, sorrindo. Ele a abraçou, pensando no que faria dali em diante.



Nota da autora: Para mim o Tom jamais contaria isso a ela. Bom, talvez contasse, mas não como aconteceu nesse capítulo. Enfim, ele até que está se saindo uma pessoa bem doce, não? Que meigo. No próximo capítulo você vai ver o quão doce ele pode ser...

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