Brigas e desculpas
Naquela agradável manha de terça-feira, onde a chuva chicotava as vidraças das torres e alagava os gramados do castelo bruxo, Hermione se viu deitada em uma confortável cama, na sala precisa. E ela não estava sozinha. Draco malfoy estava deitado a poucos centímetros de distancia dela. Hermione sentou na cama de súbito, um pouco assustada, e não melhorou ao ver que Draco estava quase sem roupas.
- oh minha nossa! – berrou ela, apanhando sua capa e jogando-a por cima das costas.
- o que que há? – pergunto Draco, sonolento e ao mesmo tempo impaciente, esfregando os olhos.
- esqueceu-se de que temos aula?
- mas ainda faltam duas horas para a primeira aula. Quer se deitar?
- não! – bradou ela, assustando-se com o próprio grito. Draco a fitou incrédulo.
- o que deu em você, Hermione?
- eu estou... Confusa! Com relação á essa cama. – respondeu ela, já de pé, olhando para as duas extremidades da cama, que provavelmente Draco conjurara para que pudessem dormir ali mesmo, na sala precisa.
Draco Malfoy á encarou sério, e depois uma gargalhada sua ecoou por toda a sala.
- qual é a graça, Draco? – perguntou Hermione.
- você acha que a gente fez aquilo? – e ele desmoronou em outra risada de se afundar no travesseiro.
- aham – respondeu ela baixinho, quase num guincho.
- relaxa amor – continuou ele, se sentando na cama e segurando as risadas. – nos não fizemos nada. Só estou assim porque estava com calor. Satisfeita?
Hermione deu um suspiro de alivio e se sentou na cama, aliviada. Draco a abraçou e eles se beijaram.
Depois de colocarem a sala precisa em ordem, os jovens se encaminharam para a sede de suas casas. Por sorte, todos os corredores ainda estavam vazios. O ruído da chuva ecoava pelo castelo e o sol saia preguiçosamente detrás das montanhas ovais. Quando chegaram á uma bifurcação, deram outro beijo e rumaram para seus destinos. Hermione ficou contemplando Draco ser engolido pela escuridão da masmorra da Sonserina, e depois disso, saiu saltitante em direção á torre da Grifinória.
- senha? – perguntou a mulher-gorda seguida de um longo bocejo.
- basilisco louco. – respondeu Hermione, prontamente.
O quadro girou e Hermione entrou no aposento. Um fogo fraquinho ainda crepitava na lareira. Uma poltrona laranja estava virada para o fogo. Pés brancos ainda tentavam se aquecer naquelas chamas bruxuleantes no escuro da lareira, e no topo havia uma grande massa de cabelos ruivos.
O estômago de Hermione deu um solavanco; suas mãos começaram á suar frio. Não havia ninguém mais naquela sala senão ela e aquele misterioso estudante sem sono. Achando que talvez ele não tivesse a ouvido falando com o retrato, Hermione encaminhou-se na pontinha dos pés para o dormitório feminino. Subiu um degrau. Outro degrau. Mais um. Outro. E mais outro. Já estava no topo da escada. Era só girar o trinco da porta e pronto. O sujeito nem a notara ali. Talvez estivesse ferrado no sono sentado mesmo. Hermione fechou suas mãos em torno do trinco gelado e o girou. Antes que pudesse ao menos abrir uma frestinha da porta, a voz de Rony Weasley dirigiu-se á ela, alta e cheia de superioridade:
- divertiu-se, Hermione?
Hermione fez uma careta de dor. Fora pega no flagra. A poltrona girou, e logo ela pode contemplar o rosto de Rony, recortado contra a luz que vinha das chamas. Parecia não ter dormido a noite toda. Provavelmente á espera dela.
- bom dia, Rony – foi a única coisa que ela conseguiu dizer.
- onde estavas? – perguntou Rony, pondo-se de pé.
Hermione engoliu em seco. Não sabia o que responder. Mentir? Dizer a verdade? O que fazer?
- eu estava com uma pessoa. – respondeu ela, calmamente. Agora suas mãos pingavam suor, assim como uma fina camada do mesmo brotava em sua testa.
- estava com Malfoy, não era? – Rony aproximou-se dela, a voz mais alterada.
Hermione baixou a cabeça. Era agora. Teria que contar, mesmo que isso custasse sua amizade com Rony.
- sim, Rony. Eu estava com ele.
- ahá! Eu sabia! – bradou Rony – Hermione, você enlouqueceu? Depois de tudo que ele te fez!
- eu... Ele... Ele mudou Rony. Ele me trata bem agora, e eu estou apaixonada por ele. E se ficar com ele custar sua amizade, eu pago este preço. – uma lagrima escorreu pelo rosto pálido da garota. Rony fez cara de susto.
- o que deu em você?!
- Rony! Eu não te devo nada! Você sai com a Lilá Brown! Porque eu não posso sair com Draco Malfoy?
- porque ele é um mau-caráter sem vergonha! Que adora te chamar se sangue-ruim e ridicularizar os mestiços!
- é mentira! Ele mudou!
- mudou coisa nenhuma!
- e mesmo que não tenha mudado, eu o amo do jeito que ele é!
Rony congelou. O silencio reinou. Ouviu-se apenas o ruído da chuva e o crepitar do fogo. Agora uma lagrima pareceu brotar do rosto de Rony.
- está bem! Fique com ele! Case com ele! Mas esqueça que eu existo! Nunca mais eu quero ver essa sua cara nojenta de novo!
Rony saiu correndo para o outro lado da sala comunal e desapareceu pela passagem que levava ao dormitório masculino. Hermione deu outro suspiro de alivio. Parecia que um peso enorme fora tirado de suas costas. Ela se sentou no topo da escada, e começou a chorar, jogando todos os livros que trazia para longe dela. Um fino feixe de luz solar invadiu o aposento, iluminando-o fracamente. O fogo na lareira morrera. A chuva ficou mais forte.
Mais um dia de aulas se iniciou no castelo de Hogwarts. O ritmo e a movimentação das pessoas pareciam normal. Harry andava com Rony, Phoenix com Cicci, Draco com Crabble e Goyle, Gina com Luna, e Hermione sozinha. Sempre que era possível, recebia um bilhetinho do namorado, e isso era a única coisa que a fazia sorrir.
Depois que ela terminasse sua detenção do dia, os dois ficaram de se encontrar na floresta proibida. E enquanto a penumbra ganhava os jardins verde-esmeralda, o casal estava aos beijos sobre uma rocha não muito longe da cabana de Hagrid.
Hermione contemplou o casebre por alguns instantes, e Draco leu seus pensamentos. Depois de um suspiro dela, ele disse:
- sabe o que deves fazer, não sabe?
- o que? – perguntou ela, se fazendo.
- pedir desculpas á Hagrid. Ainda não se falaram desde o incidente aqui na escola.
- ah Draco, eu não consigo. Onde vou colocar minha cara?
- é o correto a fazer agora.
- ele vai bater com a porta na minha cara.
- não vai não. Confie em mim.
- vem comigo? – pediu ela, segurando firme a mão do namorado.
- acho melhor você fazer isso sozinha. Alias, eu e Hagrid nunca fomos grandes amigos. Vá lá.
Hermione se colocou de pé e desceu a rocha. Passou por alguns matinhos e logo se achou na frente da cabana mal-cheirosa. Com a mão tremula, ainda olhando a figura disforme de Draco sentado sobre a rocha. Ela deu três batidas quase inaudíveis na portona negra.
As três batidas foram suficientes para que Canino, o cão de Hagrid, disparasse ferozes latidos pelo aposento.
- quieto! Quieto, seu fanfarrão! – dizia Hagrid, cambaleando em direção a porta. Ao abri-la, deu de cara com uma adolescente tremula e encolhida.
Hagrid a contemplou com bons olhos, e logo disse, em tom animado:
- olá minha jovem! Veio comprar ovos de dragão comigo?
Hermione sentiu-se ainda mais envergonhada.
- Hagrid... Eu...
- eu poderia bater essa pesada porta na sua cara ferozmente e nunca mais conversar com você, menina.
Hermione guinchou.
- mas de que isso me adiantaria, já que a mágoa é para dragões? – completou o homenzarrão, e dando pesadas palmadinhas nas costas da moça, a convidou para entrar. Hermione olhou para trás, e viu Draco ainda no mesmo lugar.
A porta se fechou, e ela permaneceu em pé.
- sente-se – ofereceu Hagrid, indicando um banquinho do tamanho de um criado-mudo, enquanto tirava alguma coisa do forno.
Hermione se sentou calada, mas logo o silencio foi cortado:
- Hagrid. Eu vim até aqui para... Bem... Você sabe.
- Hermione, Hermione... Você não me deve nada... Fico feliz porque vejo que ainda tens muita coragem, pois assumiu toda a culpa naquele dia.
- eu é que deveria ir para Azkaban, por falar mal de pessoas que eu amo. Hagrid me perdoe, por favor.
Hagrid sentou-se, oferecendo uma bandeja de bolinhos a garota, com os olhinhos de besouro marejados de lágrimas. No segundo seguinte, Hermione foi até ele e lhe abraçou, muito feliz. Depois do abraço, eles comeram os bolinhos preparados por Hagrid acompanhados de um delicioso chá. Quando já estava completamente de noite, Hagrid achou melhor que Hermione se fosse, para não ser pega por Filch. E dando outro abraço no amigo, ela saiu da cabana e rumou para onde Draco, no escuro, ainda estava a sua espera. E de mãos dadas, o casal saltitou para dentro do castelo, cautelosos, os ouvidos apurados para alguém que talvez estivesse á espreita.
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