O Diário de todo mundo
Naquela fria noite de terça-feira, enquanto todos rumavam para seus dormitórios após o jantar no salão principal, Hermione se lembrou do compromisso repentino que tinha com as Imperadoras. Entrando na sala comunal da Grifinória lotada, seus olhos castanhos logo encontraram Harry, sentado em uma poltrona com Gina em seu colo. Aproximando-se, a amiga pediu:
- Harry, pode me emprestar sua Capa da Invisibilidade?
Gina e Harry arregalaram os olhos, surpresos.
- e para que você a quer? – perguntou Harry na mesma hora.
- eu preciso ir á sessão reservada da biblioteca. A professora Sprout me disse que tem ótimos livros sobre Roseiras-touro por lá.
- ah, está bem. Ela está dentro do meu baú. Pode pegar.
- obrigada Harry. Tchau, Gina.
Gina acenou em despedida, e voltou sua atenção para o namorado, enquanto Hermione subia as escadas apressada para o dormitório masculino. Ao entrar, alguns alunos novos brincavam com suas corujas em suas camas, outros jogavam xadrez de bruxo no chão, e Rony lia um livro, recostado na cabeceira de sua cama. Para azar de Hermione, a cama de Harry ficava bem ao lado da de Rony, e a ultima coisa que ela queria naquele momento era dar satisfações ao ruivo. Na ponta dos pés, ela se aproximou da cama. Os demais meninos presentes pareceram não a ter visto. O baú de Harry estava bem ao lado de sua cama; Hermione se abaixou, sem fazer ruído. Os olhos de Rony iam e vinham enquanto lia as linhas do livro em seus braços. Ele nem sequer suspeitava de que Hermione estava ao seu lado. Rápida e silenciosamente, ela levantou a tampa do baú, e enfiou o braço. Seus dedos ágeis passaram pelas roupas de Harry, alguns livros, penas e tinteiros, até que tocaram um tecido fino e gelado: a Capa da Invisibilidade. Hermione fechou sua mão em torno da Capa imediatamente, e a puxou para fora. Abrindo um pouco mais a tampa do baú, ela rangeu, e Rony deu um pulo na cama, ao ver a amiga á poucos centímetros dele.
- o que está fazendo? – perguntou ele, se recuperando do susto.
- nada. – respondeu ela, retirando a capa do baú discretamente.
- aonde você vai?
- á biblioteca. Boa noite, Rony.
Hermione deu as costas ao amigo e saiu do dormitório rapidamente. Rony a viu se retirar do aposento, ficando extremamente triste, se perguntando o porque da frieza repentina da amiga.
Hermione desfilou pela sala comunal, com a capa escondida embaixo da camiseta, passou pelo retrato da mulher-gorda, que xingou a menina baixinho por te-la acordado, e levou um grande susto: Cho Chang parecia estar de guarda montada na frente da sala comunal da Grifinória.
- Hermione... – disse tristemente a garota se aproximando da recém-chegada.
- Cho... como vai?
- Harry está?
- está sim. Com Gina.
Cho entristeceu-se ainda mais.
- quer deixar recado? – perguntou Hermione
Cho baçançou a cabeça negativamente e disse com uma voz tremula:
- obrigada, boa noite. – e desse modo, a garota da Corvinal desapareceu ao dobrar um corredor. Hermione deu uma última olhada por onde a garota passara e rumou para a masmorra, onde certamente suas novas amigas a aguardavam. Quando estava próxima do grande salão, Hermione se cobriu com a capa, e continuou a andar apresada. Passou por um casal de monitores que se beijava as escondidas detrás de uma estatua, pela gata de Filch, Madame Nora, e depois pelo próprio Filch, que resmungava alguma coisa sobre bombas de bosta. O castelo estava muito silencioso. Se um alfinete caísse no chão, com certeza, Hermione apostou, o barulho ecoaria por toda a Hogwarts. Passando pelos gramados da escola na penumbra, a menina finalmente chegou á masmorra. Após descer as escadas no escuro, chegou até a conhecida porta pessada, e com um aceno da varinha, ela se abriu. Pansy, Phoenix e Cicci se colocaram de pé e viram a porta se abrir e fechar sozinha, e em seguida uma Hermione se materializou diante dos olhos das meninas.
- eu sabia que você viria! – disse Pansy, andando até Hermione com os braços abertos.
- uau! – suspirou Cicci – esta é a famosa Capa da Invisibilidade do Potter? Eu ouvi falar mas sempre pensei que fosse só boatos.
- não, ela é real – disse Hermione dobrando a capa e colocando-a de volta dentro da blusa.
- ótimo! Já podemos começar a nossa festinha! – disse Phoenix aos pulos. Pansy fez um gesto com a varinha, e o rádio sobre um criado-mudo encostado na parede ligou, e uma musica animada da banda bruxa “As Esquisitonas” encheu toda a sala cor-de-rosa.
Cicci andou até uma pequena cômoda e retirou de uma das gavetas 4 escovas e outros acessórios para cabelos. Não demorou muito, e Hermione estava fazendo tranças nos longos cabelos negros de Phoenix, e Pansy penteava os seus. Durante a “confraternização”, as sonserinas não pouparam esforços para falarem mal de toda a Hogwarts. Na meia-hora seguinte falaram sobre Luna, Hagrid, Minerva, Dumbledore, Madame Pomfrey, Cho Chang, Collin Creevey, Suzanna Bones, Simas Finnigan, Gina Weasley entre muitos outros moradores do castelo. Hermione ouvia tudo, animada. Por fim, não querendo continuar com a boca fechada, ela disparou sem querer:
- sabem quem eu vi enquanto estava vindo para cá?
- quem? – perguntaram as sonserinas em coro.
- Luca Belfoot e Amanda Dippet aos beijos atrás da estátua do duende de bronze.
- não! Jura? – perguntou Pansy.
- eu sempre soube que ela não prestava – começou Phoenix
- é verdade! Ela ficou com Cedrico Diggory no quarto ano enquanto namorada o Thomas Hilton! Que safada! – concluiu Cicci.
Hermione se sentiu feliz com aquilo. Não podia acreditar! As amigas gostaram da informação fornecida.
- conta mais, Mione! – animou Pansy – se for bem interessante podemos colocar no Diário de todo mundo!
- diário de todo o mundo? – perguntou Hermione.
- é o livro onde registramos tudo sobre todos! – disse Phoenix se levantando e indo até a mesma cômoda onde Cicci pegara as escovas. Abrindo uma gaveta, ela retirou um enorme livro cor de rosa, e na capa, em letras douradas, estava escrito: “O Diário de todo o mundo”.
- o que me diz? – perguntou Pansy, vendo Hermione abrir o livro e começando á ler o seu conteúdo. Naquelas folhas cor-de-rosa, estavam registrados os segredos mais profundos e talvez até falsos de todos os alunos, professores e empregados de Hogwarts. Havia até uma sessão especial separada, dedicada aos habitantes de Hogsmeade, onde já havia muita coisa escrita.
- você tem alguma história quente para contar á ele? – perguntou Cicci. – pegue a pena e manda brasa! – ela estendeu á Hermione, uma pena de repetição-rápida, a mesma que Rita Skeeter usava para escrever suas mentiras.
- eu não sei direito se devo contar... – e então Hermione se lembrou de Cho Chang montando guarda á porta da sala comunal da Grifinória. – já sei!
- o que? – perguntou Phoenix.
- Cho Chang! Ela vive de guarda na porta de nossa sala comunal, na esperança de poder falar com Harry! Ela acha que ele ainda gosta dela, pobrezinha... se soubesse como Harry está feliz com Gina.
- isso! – animou Pansy – escreve assim: Cho Chang é uma vadia destruidora de namoros, que tem uma queda por rapazes famosos. Depois da morte de Diggory, sua primeira vítima, ela apostou todas as suas fichas em Potter; entretanto, o menino-que-sobreviveu já está mergulhado em uma nova história de amor e mesmo assim, Chang ainda o quer para tira-la da miséria em que ela e sua família de olhinhos puxados vivem, já que Potter, como todos nós sabemos, é o herdeiro de uma fortuna incalculável deixada pelos pais, e que jaz muito segura no Gringotes.
- perfeito Pansy! – aprovou Hermione. Phoenix e Cicci batiam palmas alegres. E então, a garota da Grifinória ordenou a pena que escrevesse tudo o que Pansy acabara de dizer no diário, e assim que a pena terminou, Pansy acenou com a varinha sobre a folha, e uma foto de Cho Chang apareceu ao lado do escrito. Na foto, Chang sorria indiscretamente, rasgando primeiro uma foto de Cedrico, e em seguida uma de Harry.
Assim foi a entrada de Hermione para o time das Imperadoras. As meninas ainda escreveram muito mais naquele livro. Hermione se sentia feliz de ver a vida de todos exposta naquelas doces e inofensivas páginas. Quando o relógio no alto da porta da parede rosa badalou a meia-noite, as meninas se levantaram e organizaram a saleta antes de sair. Cicci e Phoenix saíram primeiro, com suas capas cobrindo-as, para que as ocultasse no escuro. Hermione e Pansy foram as ultimas a sair. Enquanto Pansy selava a porta com um feitiço para trancar, Hermione a aguardava no pé da escada.
Pansy, depois de fazer o serviço e constatar que Phoenix e Cicci já estavam longe, aproximou-se de Hermione e disse:
- eu sei do seu segredo!
- que segredo? – disse Hermione, de sopetão.
- sobre você e o Draco. Que você gosta dele...
- não... não Pansy, jamais – disfarçou Hermione – eu sei que ele só tem olhos para você...
- ah, para com isso! Olha, eu não to nem aí! Estou saindo com o Flinch á duas semanas.
- sério?
- sim. Se você quiser, posso falar com o Draco para você.
- você... você faria isso?
- claro! O que eu não faço por uma amiga? – e Pansy abraçou Hermione – e você tem bom gosto... o Malfoy beija muito bem.
- obrigada – Hermione riu.
As duas meninas dividiram a capa da invisibilidade de Harry até chegarem á um corredor bifurcado. Um levava para Sonserida e outro para Grifinória. Pansy e Hermione se despediram e tomaram seus rumos. Hermione estava se sentindo agora tão leve... a confusão em sua cabeça desaparecera... só tinha pensamentos em Malfoy e parecia que um peso tinha sido retirado de suas costas. Porem, ao passar pela professora Sprout que voltava do salão principal com um copo de leite nas mãos arranhadas, um frio na barriga tomou conta da garota: não fizera o relatório sobre rosas-touro que deveria ser entregue no dia seguinte!
Hermione correu, oculta pela capa, de volta a sala comunal. Ao chegar, o aposento ainda estava ocupado por alguns estudantes sem sono. Entrando sorrateiramente no dormitório masculino, ela foi até o baú de Harry, que dormia profundamente, e lá depositou de volta a capa do menino. Ela deu uma ultima olhada nos amigos que roncavam. Arrumou o cobertor de Harry em torno de seu corpo e deu um beijo em seu rosto:
- obrigada, Harry.
Olhando indiferente para Rony, que roncava á altos volumes, ela girou nos calcanhares e saiu do quarto. Chegando ao dormitório feminino, ela começou a fazer sentada em sua cama, a bendita pesquisa sobre rosas-touro da professora Sprout, que deveria ser entregue em algumas horas.
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