O PEDIDO DE FLITIWICK

O PEDIDO DE FLITIWICK



Amanhece no Largo Grimmauld. Uma manhã serena e calma. O sol iluminava de forma preguiçosa as folhas amarelo-esverdeadas, que cobriam as grandes árvores do parque Grimmauld, dando-lhe um ar de envelhecido, prenunciando o fim do verão londrino.

Crianças saem das suas casas sorridentes e saltitantes e acumulam-se no parquinho da praça do Largo Grimmauld.

Benjamim Saunders, que se coloca mais uma vez diante de sua janela observando a movimentação em frente a sua casa, era, até o ano passado, uma dessas crianças que desciam para brincar na praça.

Lembra com alegria os jogos e brincadeiras disputados com seus amigos, até a tarde do início de junho passado, quando tudo parecia ter desmoronado pra ele, ao mesmo tempo em que tudo pareceu fazer mais sentido.

Os Saunders moram no Largo Grimmauld n.º 13. Uma casa de padrões medianos e tapeçaria antiga e valiosa. Uma casa antiga, mas de certa forma, bem conservada.

A família é formada pelo Sr. Oliver Saunders, um homem baixo e entroncado de cabelos louros amanteigados. Seus olhos azuis sobre bochechas rosadas transmitem alegria e confiança. Amélia Saunders era bem mais alta que o marido. Tinha cabelos louros e ondulados, e olhos verdes bem escuros. Benjamim Saunders era o filho único do casal, acabara de fazer 11 anos, tem pele branca e cabelos louros encaracolados, seus olhos azuis escuros e sempre curiosos.

Benjamim foi criado pra ser um pequeno gênio, no entanto sempre teve dificuldades nos colégios em que freqüentou. É um menino saudável e inteligente e o início das férias não era diferente para os Saunders. Geralmente, em um dia como esse Benjamim estaria correndo e saltando nos banquinhos da praça localizada a frente da casa.

No entanto no último ano as coisas mudaram. As notas do menino despencaram, não que ele estivesse deixando de estudar, o problema é que no último ano estavam acontecendo coisas estranhas perto dele. Objetos voavam, pessoas desmaiavam ou inchavam, cabelos cresciam no nariz e tudo isso estava afastando as outras crianças de Benjamim, que começava a dar sinais de depressão.

Pra completar, hoje pela manhã chega uma carta endereçada ao menino. Uma carta do Colégio Hogwarts. Os pais ficaram atordoados ao ler o conteúdo da carta:

ESCOLA DE MAGIA E BRUXARIA HOGWARTS
Diretor: Filius Flitiwick
(Ordem de Merlim, Primeira Classe, Grande Feiticeiro,
Confederação Internacional dos Bruxos)

Prezado Sr. Benjamim,
Temos a honra de informar que V.Sa. tem uma vaga na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Estamos anexando uma lista dos livros e equipamentos necessários.
O ano letivo começa em 1º de setembro. Aguardamos sua coruja até 31 de julho, no mais tardar.
Atenciosamente

Filius Flitiwick.

Os pais de Benjamim se entreolharam. A dúvida misturada com o medo tomou conta do casal.

― H-Hogwarts??? ― indagou o Sr. Sauders ― Mas o que diabos é Hogwarts??? ― continuou o homem ― Escola para bruxos??? Que palhaçada é essa.

Benjamim que ainda estava na janela distraído, como se esperando por alguém, tem sua distração quebrada pela pequena discussão que estava acontecendo entre os pais.

― Nunca ouvi falar querido ― respondeu Amélia, sua esposa ― Mas seria interessante darmos uma olhada nessa escola, ainda mais se for pública ― terminou Amélia com um sorriso contido e a ponta dos dedos sobre a boca.

― Está de brincadeira Amélia? ― disse Oliver com a voz de reprovação ― Nosso filho está virando um desses RPGistas de Shopping que se vestem com mantas negras e chapéus em forma de cone e você me vem brincar com isso... Faça-me o favor.

― E quem disse que foi nosso filho que fez essa carta? ― interrogou Amélia ― Isso só pode ser uma brincadeira de algum vizinho.

Benjamim pula da sacada da janela onde estava sentado e dirige-se lentamente em direção aos pais. Seus dedos roçam por cima da mesa como que na esperança de que alguém lhe impedisse de falar o que tem que ser dito.

― Não foram os vizinhos mãe ― disse Benjamim com o olhar azulado em direção aos pais ― A verdade é essa que está na carta... eu sou um bruxo.

As palavras de Benjamim fizeram com que uma pedra de silêncio se abatesse sobre os que estavam na sala. Bill fez que ia abrir a boca e fechou novamente, ao mesmo tempo em que colocava a mão direita na cintura e baixava a cabeça.

― U-um bruxo? ― disse a Sra. Saunders assustada ― Oh meu filho, é claro que você não é um bruxo... você é o anjinho da mamãe... quem lhe disse essas baboseiras?

― Na verdade quem me disse foi o Tiago, nosso vizinho ― respondeu Benjamim inocente ― Ele também é um bruxo, como eu, e me disse isso logo após aquele incidente no parque ano passado.

― Os Clinfford ― vociferou Oliver ― Eles ensinam besteiras pros filhos deles e acaba sobrando pra gente, mas eles vão ver só...

― Tiago não é filho do Sr. Clinfford pai ― inocentou Benjamim ― Na verdade o Tiago é o nosso vizinho da esquerda.

― Tinha que ser ― disse Oliver espalhafatoso ― Ah, mas quando eu pegar o MacGregor hoje no carteado... vou esmagá-lo como uma formiga...

― Pai... os MacGregor não são os nossos vizinhos da esquerda ― novamente inocentou o garoto.

― Como não? ― duvidou Oliver ― Ora Benjamim... é claro que são os nossos vizinhos, pelo menos eles ainda moram no n.º 11 não?

― Pai eu estou falando dos Potter que moram no n.º 12 ― disse Benjamim com a voz trêmula enquanto olhava para baixo ― Foi o Tiago, filho do Sr. Potter que mora na casa n.º 12, que me disse isso logo após o incidente da praça do ano passado.

Mais uma vez as palavras de Benjamim cobriram a sala com um silêncio angustiante. Oliver Saunders parecia não acreditar no que estava ouvindo. Pensava: “Meu Deus será que meu filho é um louco varrido mesmo”, e aos poucos uma veia começou a saltitar em sua testa, ao mesmo tempo em que sua cor rosada tornava-se cada vez mais avermelhada.

― N.º 12? ― interrogou o Sr. Saunders ― Como assim n.º 12... não há n.º 12 nessa Rua... Santo Cristo... as vezes me pergunto onde foi parar toda a terapia que gastei com você no ano passado... 1 ano de terapia intensiva e você continua a ver amiguinhos invisíveis.

― Não é invisível pai... eles moram no n.º 12, eu já até visitei eles ― respondeu o menino com um pouco de angustia na voz ― O problema é que você só pode ver a casa se for convidado por eles a entrar... caso não seja ela permanece invisível.

― Está vendo Amélia ― disse O Sr. Saunders com a cara parecendo um pimentão ― Isso que dá contar essas histórias de princesas adormecidas e castelos encantados para um garoto dessa idade...

― Ora Oliver ― devolve Amélia no mesmo tom ― Que eu saiba foi você que deu o livro do Senhor dos Anéis pra ele.

DING – DONG

A campainha toca à porta interrompendo a discussão dos Saunders. Oliver olha com rispidez para sua mulher e seu filho ao mesmo tempo em que coloca o dedo na boca pedindo silêncio. Diante da porta se recompõe, passa as mãos nos cabelos já bastante penteado e a abre com toda suavidade inglesa.

― Pois não ― diz educadamente Oliver, ainda com a cara corada.

Diante da porta se encontrava um homem de boa estatura, que apesar da aparência jovem, não ultrapassaria 30 anos, tinha um semblante sério. Seus cabelos curtos e negros, levemente penteados, deixavam à mostra uma cicatriz em forma de raio do lado direito da testa, acima dos óculos redondos e de poucos graus. O homem vestia um perfeito terno preto, como se feito à medida e um longo sobretudo negro de fundo levemente prateado.

Atrás do homem um garoto, que aparentava ter a mesma idade de Benjamim, só que bem mais magro, de cabelos castanhos despenteados e olhos cor de mel.

― O senhor deve ser Oliver Saunders? ― interroga o “homem da cicatriz”.

― Correto ― respondeu Oliver ― Em que posso lhe ser útil senhor...

― Potter ― respondeu o homem de cicatriz ― Harry Potter.

O Sr. Saunders emudeceu novamente olhando para Harry. “Mas o que está acontecendo”? Pensou ele.

― Como disse? ― interrogou Oliverd.

― Que me chamo Harry Potter... muito prazer ― respondeu Harry levantando a mão com o intuito de um cumprimento, que por sinal fora ignorado tendo em vista os pensamentos profundos de Oliver ― Bem... e esse é meu filho Tiago.

― Muito prazer ― disse Tiago acenando a cabeça como uma esécie de cumprimento.

Oliver, entretanto ficou em silêncio, quase que paralisado. Mas seus olhos demonstravam inquietude. Como o filho poderia estar fazendo aquilo... só se tivesse a ajuda da mãe. Que espécie de brincadeira ou trote estariam planejando. Hoje não era 1º de abril... ou era? Não... hoje era o aniversário de Benjamim. Oliver coça a testa saliente como se estivesse tentando entender o que estava acontecendo.

― Sei que o senhor está confuso... eu também estaria ― disse Harry com um tom amigável ― O pior é que o que tenho pra lhe dizer só piorará as coisas... mas é o que tem que ser dito.

― Só não me diga que você é o nosso vizinho do n.º 12? ― falou Osvald calmamente enquanto esboçava um sorriso.

― Iiiiiiii pai... acho que ele conhece o senhor. ― falou Tiago enquanto puxava levemente o sobretudo de Harry.

― Tiago, Sr. Potter ― alegrou-se Benjamim ao ouvir a voz do amigo ― Pensei que vocês não viriam... aí comecei sem vocês, mas acho que não consegui convencê-lo.

― Convencer-me??? ― interrogou Oliver ― Convencer-me de quê? De que vocês são bruxos?

Harry esboçou um pequeno sorriso. De certa forma aquele homem baixo e corpulento lembrava-lhe seu Tio Valter.

― Sr. Oliver, nunca percebeu que seu filho é diferente? ― interrogou Harry.

― Bem... de certa forma ele é diferente... mas estamos em fase de tratamento ― respondeu Oliver.

― O senhor nunca percebeu que quando ele está apavorado ou zangado alguma coisa acontece? ― perguntou Harry novamente.

Oliver espantou-se e olhou para o horizonte, lembrando da tarde de abril do ano passado quando viu seu filho planar vagarosamente quando ia caindo de uma árvore... ou quando estava recebendo uma bronca e de repente desapareceu da frente do pai, aparecendo logo em seguida fora de seu alcance.

― Lembrou de algo? ― disse Harry. ― Seu filho... assim como eu é um bruxo e Hogwarts é nossa escola.

E assim começara o dia de Harry naquela manhã de junho.

A conversa com os Saunders fora extensa e cautelosa. É difícil para uma família trouxa entender o mundo dos bruxos, tendo as barreiras que as pessoas criam a respeito da magia. Inicialmente Oliver relutava em aceitar as explicações de Harry, mesmo percebendo que todas elas se encaixavam com os recentes acontecimentos que vinham ocorrendo com seu filho.

Porém com muita paciência e alguns truques simples com sua varinha, pouco a pouco a família Saunders foi relaxando e até começaram a sorrir lembrando dos acontecimentos estranhos ocorridos com Benjamim.

― Pai desaparata ― pedia Tiago insistentemente ― Desaparata pai... tenho certeza que eles vão gostar.

― Desaparatar? ― perguntou Amélia ― O que é isso?

― É desaparecer Dona Amélia ― respondeu Tiago alegre ― E aparecer em outro lugar.

Harry, depois de muita insistência do grupo desaparatou, para logo em seguida aparatar as costas do Sr. Saunders, arrancando aplausos da platéia.

Os Potter só saíram da casa dos Saunders um pouco antes do almoço, isso porque Gina foi apanhá-los “pela orelha”. Harry saiu de lá com um sentimento que não sabia explicar, toda vez que olhava para Benjamim lembrava dele mesmo com 11 anos, quando Hagrid colocou a baixo a porta do casebre em que seu Tio tinha levado a família no intuito de escondê-lo de Hogwarts.

O mais importante, assim, foi convencer os Saunders a aceitar o filho como era e a enviá-lo à Hogwarts. No final, Harry achou até que eles estavam gostando da idéia de ter um filho bruxo, até conseguiu convencê-los a ir com ele ao Beco Diagonal.

― Pai... por que os trouxas são tão difíceis? ― perguntou Tiago.

Harry dá um sorriso de canto.

― Simplesmente porque crescem Tiago ― respondeu Harry enquanto passava a mão em movimentos circulares na cabeça de Tiago, despenteando os cabelos castanhos do menino.

Quando chegam nos degraus da caso de nº 12, Harry percebe ao longe, no horizonte uma coruja branca se aproximando. Seu coração acelera quando subtamente cem em sua mente sua coruja Edwiges. A coruja, entretanto, apesar de Harry instintivamente estender o braço para que ela pousasse, rapidamente solta passa pelo bruxo e solta em suas mãos uma carta.

― Pai... uma carta de Hogwarts... iupiii ― alegrou-se Tiago dando socos no ar.

― Infelizmente a carta é pra mim Tiago ― disse Harry ― Acalme-se a sua só chegará em 3 dias.

― Que demora, que demora ― balbuciou Tiago com as mãos apontadas para cima.

Os dois sobem as escadas e entram na casa, entre os números 11 e 13, que até bem pouco tempo não existia. Ao adentrarem na casa, imediatamente uma figura pálida e de meia-altura e elegantemente vestido dirige-se a eles. Seus olhos grandes porém meio fechados e enrugados demonstravam sua idade avançada.

― Mestre Potter ― disse o servo em tom respeitoso ― Deixe-me tirar seu casaco.

― Monstro... já disse que você não precisa mais me chamar de “Mestre” ― respondeu Harry enquanto tina o casaco retirado magicamente pelo elfo ― Você é um elfo livre há mais de 10 anos... já devia acostumar-se com isso e parar de agir como um elfo-doméstico.

― Velhos costumes não se perdem Mestre Potter ― respondeu o elfo com um sorriso no rosto.

Harry dirigiu-se à janela que dava de frente à praça do Largo Grimmauld e abriu à carta. Já tinha quase certeza do que se tratava, porém:

ESCOLA DE MAGIA E BRUXARIA HOGWARTS
Diretor: Filius Flitiwick
(Ordem de Merlim, Primeira Classe, Grande Feiticeiro,
Confederação Internacional dos Bruxos)

Ao amigo Harry Potter;
Preciso de sua presença com a máxima urgência em Hogwarts.
Atenciosamente

Flitiwick


“Curto e grosso” ― pensou Harry.

― De quem é? ― perguntou Gina sem muita curiosidade na voz.

― Flitiwick ― respondeu Harry pensativo.

― Ele não desiste mesmo ― disse Gina com um ar de brincadeira ― Se bem que adoraria ver você de professor... Já pensou... o famoso Harry Potter professor em Hogwarts... as “aborrecentes” iriam às alturas.

― Ele não está me convidando pra ser professor ― disse Harry enquanto retirava os óculos e os limpava.

― Não? ― surpreendeu-se Gina ― Mas ele lhe convida todos os anos... o que diz a carta?

― Nada ― respondeu Harry ― Apenas pede minha presença em Hogwarts com a máxima urgência ― finalizou Harry entregando a carta para Gina.

― Estranho ― sussurra Gina enquanto passa os olhos sobre a carta ― Você vai?

― Bem... o trabalho lá no Ministério está bem encaminhado, principalmente depois da captura do “mão branca”, e como Flitiwick pede urgência, deve ser algo que não pode me falar por carta.

Harry continuou a olhar pela janela pensativo ― “Seria bom retornar à Hogwarts” ― pensou ele ― “Rever amigos... Hagrid, Minerva, Neville, Luna” ― e um semblante de alegria rabisca o rosto de Harry.

― O que você acha Gina? ― perguntou Harry.

― Acho que você devia ir... Flitiwick não pediria urgência se esta não fosse necessária ― respondeu Gina enquanto abraçava Harry por trás.

― Então é isso... ― disse Harry virando-se para Gina com alegria ― Irei ao Ministério avisar que me ausentarei por uns dias e partirei após o aniversário de Tiago.

― Você vem comigo? ― perguntou Harry.

― Poderia até ir, mas teria que retornar logo, pois teremos que comprar o material de Tiago e de Benjamim ― respondeu Gina.

Harry aproxima-se de Gina e toca levemente seu cabelo ruivo, coloca as duas mãos nas laterais de seu rosto e a beija suavemente.

― Vou ao Ministério ― murmurou Harry.

― Você só vai depois do almoço ― retorquiu Gina imediatamente.

― Tudo bem Sra. Wesleay ― respondeu Harry fechando a cara.

Os dois se olham severamente e começam a sorrir ― Olha pai ― grita Tiago interrompendo a conversa dos pais enquanto passa voando sobre suas cabeças seguido de perto por Alvo, enquanto Monstro segue em baixo mantendo o feitiço sobre os dois.

― Pois bem ― disse Harry enquanto se dirigia à cozinha ― O que temos para o almoço.

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