A PROFECIA
14 anos depois.
Em Hogwarts uma figura alta de pele branca, cabelos castanhos e bem penteados deslizava rapidamente pelos seus corredores. Era Neville Longbotton, atual professor de Herbologia da escola de bruxos, sua boca, ainda com dentes salientes, encontrava-se meio aberta facilitando a forte respiração, suas bochechas, apesar de não mais arredondadas, como na época de estudante, ainda eram avermelhadas.
Ao passar pelo terceiro andar, sem perceber, Neville desliza em uma poça de fluidos indo de encontro a uma das armaduras do corredor leste. Pirraça rompe o silêncio com risos e fogos de artifícios. Neville, entretanto, levanta-se rapidamente e põe-se novamente em sua jornada sem dá atenção àquela traquinagem, apenas amaldiçoa mentalmente o poltergeist.
Finalmente ele chega à estátua em forma de gárgula dourada, local que marca a entrada do gabinete do diretor de Hogwarts. ― Limo azul ― ele diz em direção à estátua que lentamente desloca-se para a esquerda deixando à mostra a enorme estátua da Fênix que aos poucos vai se elevando levando consigo uma escada em forma de caracol. Rapidamente sobe as escadas em direção à sala do diretor.
― Diretor Flitiwick ― diz o Neville ― Você precisa me acompanhar, precisa ver uma coisa com urgência.
Flitiwick que estava flutuando acima de sua poltrona e lendo um livro avançado de feitiços olha fixamente para o Neville Longbotton, que apesar de sempre demonstrar uma aparência desengonçada para os alunos estava ágil e atento.
― O que está lhe afligindo Neville? ― perguntou Flitiwick com a voz calma, no intuito de acalmar o professor.
― Não é aflição Senhor... é Luna ― exclamou Longbotton.
― Professora Lovegood? ― interroga Flitiwick enquanto desce lentamente rumo ao solo ― O que se passa com ela?
― Acho melhor o senhor me acompanhar até a torre norte, pois há algo que o senhor precisa ver ― respondeu com ansiedade.
Apesar de Flitiwick caminhar mais rápido do que sua baixa estatura deixasse imaginar, Neville teve que amarrar seus passos longos para que o diretor pudesse lhe acompanhar, o que não evitou, por vezes, que o diretor pigarreasse chamando a atenção de Longbotton quando este se distanciava sem perceber.
Chegando ao acesso da torre norte ainda tiveram que subir sete andares para chegar à escadinha de acesso à sala de adivinhação. Neville tomou a dianteira e subiu as escadas abrindo a porta e parando logo após adentrar a sala deixando espaço a sua esquerda para que Flitiwick lhe ultrapassasse.
A sala redonda, antes escura e empoeirada devido a sua antiga professora, fora totalmente pintada de um azul bem claro que em contado com os raios de sol que passavam pela clarabóia dourada, transmitiam um ar calmo e celestial; as mesinhas, também redondas, estavam cobertas com mantas cor de bronze.
Luna se encontrava sentada no centro da sala de aula com o olhar baixo e apesar de já estar com 31 anos, ainda mantinha o mesmo ar ingênuo distante e sonhador de sua adolescência, seus cabelos continuam longos e loiros, porém há algumas tranças onde pendura adereços excêntricos.
― Professora Luna? ― perguntou Flitiwick ― Neville disse que a senhora queria falar com...
Antes que o diretor terminasse a pergunta Luna ergue a cabeça abruptamente e fixa seu olhar sem pupilas em Flitiwick. Com movimentos suaves, como se nadando no fundo do mar, Luna ergue a mão direita e faz sinais para que os dois bruxos parados na entrada da sala se aproximem.
― Está vendo Senhor ― sussurra Neville baixando o corpo enquanto dá pequenos passos a frente ― Luna está esquisita... parece em transe... não sei dizer.
― Cale-se Longbotton... ela está tendo um presságio ― exclama Flitiwick com segurança ― Um verdadeiro presságio... Santo Merlim... a décadas não vejo isso ― finaliza Flitiwick sacando sua varinha.
Os dois bruxos dirigem-se com passos silenciosos em direção à Luna que continuava a fazer sinais com a mão direita autorizando a aproximação da dupla. Até que o movimento dos dedos param e a mão se abre com pedindo que eles parassem.
Luna, como se movimentando dentro de um grande tanque de água dirige-se divinamente até os dois bruxos e dos seus lábios sai uma voz dupla e aveludada:
“O SANGUE DAS TREVAS UMA VEZ MAIS RETORNARÁ A HOGWARTS... FRACO CHEGARÁ E FORTE SAIRÁ... E O LORDE DAS TREVAS NOVAMENTE ANDARÁ PELO MUNDO... E SOMENTE O PODER DO AMOR DO FILHO PELO PAI PODERÁ FAZER COM QUE DAS TREVAS NASÇA LUZ E A PAZ DEFINITIVAMENTE”.
Flitiwick, nesse ínterim, ergue a mão esquerda na forma de uma concha ao mesmo tempo em que com a mão direita, que segura sua varinha, faz graciosos movimentos e à medida que Luna jogava as palavras ao ar, estas se enevoavam e se acumulavam na palma da mão em forma de concha do diretor, era como uma verdadeira pesca de palavras. No entanto, cada palavra da profecia fazia com que os olhos pequenos de Flitiwick se escancarassem e as expressões antes suaves do diretor se enrugaram.
Concluída a profecia, Luna suavemente deitou-se no chão, Neville quase que instantaneamente dirigiu-se a ela e a ergueu em seus braços ― Vou levá-la a enfermaria, Senhor ― disse Neville enquanto se dirigia às escadas.
― Faça isso Neville ― falou o diretor ― Aproveite e me chame as professoras Minerva e Sprout e diga a Madame Pomfrey que após os devidos cuidados com Luna que também se dirija a minha sala.
― Sim senhor ― respondeu Neville já no terceiro degrau da escadaria.
Flitiwick lentamente desce as escadas, com pensamentos explodindo em sua face ― “O sangue das trevas uma vez mais retornará a Hogwarts... amor do filho pelo pai”... Grande Merlim... e esse ano o garoto vem a Hogwarts... ah Dumbledore, pergunto-me onde você estava com a cabeça quando deixou que isso acontecesse... o pior é que ainda avisou que poderíamos ter problemas com ele... garanto que se você estivesse vivo eu mesmo me encarregaria de matá-lo... agora é fazer o que você me aconselhou fazer ― pensa o diretor.
Quando menos espera Flitiwick está no seu escritório. Dirige-se apressadamente a escrivaninha e molhando a ponta de uma pena longa e prateada na tinta negra escreve:
“Ao amigo Harry Potter...”
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