Sonhando Com Você





Aí está o primeiro capítulo.
Leiam e comentem.



Capítulo I - Sonhando Com Você


Você está grávida.

Com os dedos brancos em torno da maçaneta, Hermione olhou furiosa para Harry, cujos olhos verdes não externavam a mínima emoção. Como sempre, ele permanecia frio como gelo, enquanto ela se continha ao máximo para não explodir em chamas.

— Você tem talento para declarar o óbvio — retrucou ela, pondo a mão sobre a barriga imensa.

Fora tolice pensar que não sentiria nada por Harry quando se reencontrassem. Como, se sua saudade dele fora aumentando a cada mês, até se tornar quase insu­portável? Em contrapartida, ele parecia não ter sentido a menor falta dela.

— De quanto tempo? — Sem esperar a resposta, ele balançou a cabeça, o sol de setembro reluzindo em seu cabelo negro. — Já sei. De nove meses.

— Exatamente — confirmou Hermione.

— O que significa que é meu.

— Brilhante dedução, Sherlock!

Hermione era capaz de réplicas melhores do que aquela, mas não tivera tempo para se preparar, uma vez que Harry batera em sua porta sem nenhum aviso ou telefonema.

Claro que, se ele houvesse avisado, ela teria fugido correndo! Ou melhor, andando feito pata choca, que era o máximo que conseguia fazer naquele final de gravidez. Simplesmente não conseguia enfrentar as consequências de sua atitude naquela noite longínqua. Tampouco podia encarar o fato de que mais uma vez se entregara de corpo e alma a um homem incapaz de amar.

Oh, por que ele antecipara o retorno, pegando-a des­prevenida? Em duas semanas, ela já teria dado à luz e... E o quê? Durante todos aqueles meses intermináveis, não chegara a imaginar o que aconteceria depois. Pelo jeito, continuava a viver sob o lema do falecido marido: "Por que planejar o amanhã se podemos deixá-lo ao acaso?"

Agora, diante de Harry, queria ao mesmo tempo ficar e fugir.

— Posso entrar? Estou muito interessado na sua explicação...

Hermione cruzou os braços, indignada.

— Não lhe devo nenhuma explicação.

Uma faísca malévola brilhou nos olhos verdes gélidos de Harry.

— Ah, deve, sim. Vai desativar o sistema de alarme para eu entrar?

— Não.

Sem dizer mais nada, Harry a fez ficar de lado e transpôs a soleira da porta. O alarme soou de imediato.

— Sistema anulado — ordenou ele. — Potter zero-zero-um. Cancele o alarme, Gem.

— ALARME CANCELADO, SENHOR POTTER — respondeu uma doce voz feminina, através de alto-falantes ocultos. — RESTABELECER SISTEMA?

— Afirmativo.

Após breve pausa, Gem anunciou:

—RESTABELECIMENTO DE SISTEMA EM PRO­GRESSO. ALARME REATIVADO PARA ZONA UM. BEM-VINDO AO LAR, SENHOR POTTER.

Só agora Hermione recuperava a fala.

—Como assim, "bem-vindo ao lar"? — protestou. —Esta é minha casa e meu sistema de segurança!

Harry deu de ombros.

— Alguma falha no sistema.

— Muito improvável, considerando que você o projetou.

— Chega disso, Hermione — ralhou ele, severo. — Não vim aqui falar de Gem. Não pode continuar evitando o assunto.

Ela adotou uma expressão parva.

— Que assunto?

— O bebê.

Hermione pousou a mão na barriga, protetora. Tinha um bebê flutuando docemente lá dentro. A cada chutinho dele, lembrava-se da noite delirante partilhada com o homem que agora se lhe impunha autoritário. Quanto não temera aquele reencontro, incerta de como um ho­mem de gelo encararia a paternidade para breve.

— Prefiro adiar este assunto por alguns dias. Algumas semanas. Alguns meses.

— De jeito nenhum, querida. Vamos resolver isto já. Onde gostaria de conversar? Na cozinha ou na sala?

Hermione rolou os olhos para o teto. Ele vencera.

— No meu escritório.

Harry inclinou a cabeça e fez um gesto para que ela o precedesse.

Prevendo um diálogo difícil, Hermione escolhera o escri­tório porque teria a vantagem de acomodar-se à escri­vaninha e tratar Harry como cliente, ou visitante.

Seguindo Hermione pelo corredor, Harry lutava para recu­perar o autocontrole. Um bebê. Por mais incrível que parecesse, Hermione carregava o pequeno fardo inestimável com uma graça feminina inata. A gravidez impunha-lhe um gingado leve, um balanço ritmado que o hipnotizava. Pouco importava que estivesse para dar à luz. Para ele, ela continuava a mulher mais linda do mundo. Seus ca­belos pareciam ainda mais brilhantes, ultrapassando os ombros em pesadas ondas castanhas, e sua pele parecia translúcida, como se iluminada de dentro. Precisou reunir todas as forças para não alcançá-la, tomá-la nos braços e reclamar tudo a que tinha direito. Havia um motivo para não tocá-la.

Ela não lhe contara sobre o bebê. Durante nove longos meses, mantivera o fato em segredo. E para isso só havia uma explicação. Ela não o queria em sua vida. Endureceu o queixo. Fosse do gosto dela ou não, pretendia desem­penhar um papel importante em sua vida, e na da criança. Não se deixaria excluir.

— Quando o bebê vai nascer exatamente? — indagou.

— Qualquer dia desses.

— Sendo assim, não temos muito tempo.

Hermione acomodou-se na cadeira de couro atrás da mesa e encarou-o desconfiada.

— Tempo para quê?

— Para nos casarmos.

Não era para Hermione se espantar. Convivera com Harry por cinco anos e sabia quão persistente ele era. Também aprendera, por dolorosa experiência, que ele não mudava de ideia após uma resolução. Tinha de se apressar e dissuadi-lo daquela última antes que ela se cristalizasse.

— Não quero me casar de novo. Uma vez foi suficiente.

— Uma vez com Rony. Eu não sou Rony.

Não, não era. Na verdade, os dois homens não se pare­ciam nem um pouco. Rony Weasley conquistara-a na época do colégio com seu jeito infantil, charmoso, persuasivo. Para depois revelar-se indigno de confiança. Harry, por outro lado, nem imaginava o que era charme e na persuasão era tão habilidoso quanto uma máquina de terraplenagem.

— Harry, sei que está surpreso...

— Vamos nos casar.

— Mas logo vai se acostumar com a ideia — completou Hermione, fingindo não ouvi-lo.

— Claro. Depois que nos casarmos, terei dois ou três dias para me preparar. — Ela notou o sarcasmo. Quanto ao prazo... Naquela mes­ma manhã, seu médico advertira: "Pode ser a qualquer momento". —Podia ter me contado há um mês — resmungou Harry. — Ou há dois meses. Ou há seis ou sete meses! — Encarou-a colérico: — Por que não me contou?

Ela ergueu o queixo. Como explicar o quanto o dese­java, e o quanto temia aquele desejo? Como explicar o temor de que ele assumisse o controle de sua vida e da do bebê?

— Porque não quis! — declarou, simplesmente. Os olhos verdes cuspiram fogo.

— Eu exijo uma resposta!

—Porque eu sabia que você tomaria alguma iniciativa idiota!

Ele pensou um pouco.

— Como dar um nome ao meu filho, por exemplo?

— O bebê já tem nome! O meu!

Quem inventara que aquele homem não tinha emo­ções? Rubro de raiva, ele eliminou em poucos passos a distância entre ambos e apoiou as duas mãos na mesa.

— Está muito enganada se acha que vou permitir que meu filho tenha o nome de Rony.

Hermione não pensara nisso. Sinceramente, não.

— Podemos mudá-lo legalmente.

— Não vai ser necessário. Quando ele chegar ao mun­do, já terá o meu nome.

— Pode ser ela.

—Sim, ele, ou ela, e todos os outros serão Potters.

Hermione engoliu em seco. Todos os outros? Não, de jeito nenhum!

Bem que previra aquela atitude dele quando soubesse do bebê. Já chegara impondo exigências e condições, obrigando-a a analisar e reconhecer sentimentos que man­tivera bem trancados por quase um ano.

— Chega de discussão, Harry. Não vou me casar com você. Entendeu?

— Vamos ao cartório requisitar a licença amanhã logo cedo. Você decide se vamos fazer os votos diante de um juiz ou de um pastor. Para mim, tanto faz.

— Você não está me ouvindo.

— Amanhã, a esta hora, já seremos marido e mulher.

— Pare, Harry! — Ela se levantou, não sem dificuldade. — Não vou me casar com você, nem com ninguém, e ponto final! Quantas vezes vou ter de repetir? Não quero me casar nunca mais!

Ele recuou, como se só agora notasse a postura agressiva.

— Pode não querer se casar de novo, mas a responsabilidade para com essa criança deveria prevalecer sobre seus desejos pessoais.

Hermione balançou a cabeça, irredutível.

— Muitas mulheres solteiras criam os filhos sem a ajuda do pai.

— Não quando o pai está pronto, disposto e capaz para contribuir com sua parcela.

Era fato que Hermione nunca vencera uma batalha verbal com Harry, mas dessa vez seria diferente.

— Já somos sócios. É mais que suficiente, obrigada.

— Está se esquivando. Nossa sociedade não tem nada a ver com o bebê. — Ele ergueu o sobrolho. — Ou tem?

— Claro que não.

Hermione raciocinou. Não era o melhor momento para abor­dar seu outro problema, mas, para desviar a atenção de Harry do bebê e daquela idéia ridícula de casamento, usa­ria todas as armas.

— Já que tocou no assunto, saiba que tomei uma decisão. Quero vender minha parte na Security Systems International.

O efeito foi instantâneo. O brilho da determinação nos olhos cor de cobalto desapareceu. Lívido, Harry apenas indagou:

— Por quê?

— Rony tinha interesse na SSI, não eu. Afinal, você e meu sogro montaram o negócio. Eu entrei de carona.

— Você é parte importante da empresa.

— Nunca entendi de computadores e sistemas de se­gurança, sabe disso. Não tenho utilidade nem para você, nem para a empresa.

— Rony não era nenhum expert em computação, tam­pouco. — Hermione percebeu o tom de crítica, mas não comentou nada. Os dois homens há haviam discutido bastante a respeito. O pior era que Harry tinha razão. Um sócio de empresa de sistemas de segurança computadorizados deveria exi­bir conhecimentos nessa área.

— Rony não sabia tanto quanto você, concordo, mas era um vendedor nato. Conquistou muitos clientes.

— Errado. Você conquistou os clientes. Era você que eles ouviam, não Rony.

Hermione apoiou-se na mesa, fatigada.

— Esta discussão não faz sentido. Você vivia nos propondo comprar a nossa parte.

— E Rony sempre rejeitando.

Ela o encarou firme.

— Desta vez, não vou rejeitar.

Harry cruzou os braços, vitorioso.

— O problema é que não estou mais interessado.

Hermione deixou os ombros caírem, frustrada.

—Não entendo. Passou anos querendo a SSI só para você e agora quer que eu fique. Por quê?

Ele tentou disfarçar o constrangimento, sem sucesso. Fitando-a nos olhos negros, declarou simplesmente:

— Preciso de você.

Ela sorriu, divertida.

— Você não precisa de ninguém.

Harry deu de ombros.

— É o que sempre me disseram. Mas preciso de você. Pelo menos por enquanto.

— Para quê?

Ele começou a andar para lá e para cá, deixando-a preocupada. Ele nunca fazia gestos desnecessários, nunca deixava transparecer os sentimentos. Mas lá estava ele, revelando um turbilhão interior.

Como se lesse tais pensamentos, ele parou e adotou uma postura de calma absoluta.

— Passei quase um ano no exterior, reestruturando nossa divisão internacional e, infelizmente, negligenciei nossos clientes domésticos.

— E que isso tem a ver...

— Temos concorrentes agora. Concorrentes fortes. Es­tou surpreso que não tenha notado.

— Andei preocupada — justificou Hermione, não sem uma pitada de ironia. — Sei que perdemos alguns clientes, mas...

— E vamos perder muitos mais se não nos esforçarmos por uma recuperação. Ninguém paparica clientes como você.

Ela fez um gesto para o barrigão.

— Não estou em condições de paparicar ninguém. Estou para dar à luz, caso não tenha reparado.

— Reparei.

A fala mansa dele era preocupante. Enquanto Rony vivia tendo acessos de fúria, Harry nunca perdia sua fa­mosa, e intimidadora, calma.

— Nesse caso, é fácil concluir que não disponho de tempo para dedicar à SSI agora — concluiu Hermione.

— Não vai exigir muito do seu tempo — argumentou Harry. — Por que essa urgência em vender? Já faz quase dois anos que Rony morreu. Por que essa decisão súbita?

Hermione hesitou, sem saber quanto revelar. Ele era tão analítico, tão lógico, tão sagaz. Como revelar seus desejos mais íntimos com relação a ele?

— Está na hora de eu tocar minha vida — declarou. — Gostaria de vender esta monstruosidade que Rony chamava de casa e comprar algo mais aconchegante. E estou pensando em abrir meu próprio negócio.

— Você já tem um negócio.

— Nunca foi meu, e você sabe disso. Era seu e de meu sogro, depois, seu e de Rony.

— E como pretende montar um novo negócio e cuidar de um recém-nascido se não aguenta nem colaborar para a SSI?

Hermione suspirou.

— São planos futuros, é claro. Não são para já.

— Sendo assim, até nosso bebê nascer e você estar pronta para iniciar seu novo empreendimento, pode con­tinuar conosco.

Nosso bebê. Harry deliberadamente estabelecia uma ligação entre eles, uma ligação que ela queria romper. Tentou controlar a irritação massageando as costas no ponto em que uma dorzinha se insinuava.

—Podemos deixar esta discussão para mais tarde? Estou um pouco cansada.

Em dois segundos ele já estava a seu lado, segurando-a pelo cotovelo.

— Sente-se, Hermione. Tente relaxar.

— Vai ser um pouco difícil no momento — replicou ela.

— Porque você complica a situação mais do que o ne­cessário. — Antes que ela pudesse protestar, Harry inda­gou: — Quando foi sua última consulta ao médico?

— Hoje de manhã.

— Nenhum problema, presumo?

— Nenhum.

Ele se inclinou até que seus olhares estivessem no mesmo nível. Oh, como sentira falta dele, pensou Hermione. Falta de sua preocupação e gentileza, de sua inteligência aguçada e influência tranquilizadora. Do pânico que a assaltara ao revê-lo já não restava vestígio, substituído por emoções indescritíveis.

— Não tem dormido bem, acertei? — adivinhou ele.

— É difícil — confessou ela. — Não importa quantos travesseiros coloque, não consigo ficar confortável.

— Falta pouco agora — consolou Harry.

Se ao menos não estivessem tão próximos. A proximi­dade trazia de volta lembranças que Hermione passara nove longos meses tentando apagar. Não lhe dizia nada o fato de Harry exibir o melhor terno italiano, a camisa mais fina, a gravata mais moderna, tampouco significava algo sua lógica computacional e capacidade de manter as emo­ções presas em calotas polares. Ela sabia a verdade.

Com um único toque, ele obtinha poder absoluto sobre as mulheres.

— Está pensando naquela noite.

Ele apenas sussurrara as palavras, mas minara suas defesas e invocara uma série de imagens que já banira da mente. Por que não conseguia esquecer aquela noite? Era véspera de ano-novo e ela fora à casa dele entregar uns documentos que encontrara no cofre pessoal de Rony, documentos financeiros importantes, pensara. A pedido dele, aguardara enquanto ele os examinava.

Aparentemente, Harry não se saíra melhor do que ela na tarefa de decifrar a confusão de números e comentários escritos à mão. A julgar por seu cenho franzido, porém, a parte inteligível não o agradara nem um pouco. Após meia hora de silêncio, ele pusera os papéis de lado e, em vez de dispensá-la, jogara mais lenha na lareira e ligara o aparelho de som. Em seguida, oferecera-lhe uma taça de champanhe e...

O relógio soara as doze badaladas.

—É ano-novo! — festejara ele, com um sorriso. — Vamos começar com o pé direito!

Num instante, Hermione estava nos braços dele, partilhando um beijo amigável. Sentia-se particularmente vulnerável naquele noite, pois fazia exatamente um ano que Rony encontrara a morte espatifando o carro esporte contra um poste, e logo após declarar que queria o divórcio. Harry tam­bém partiria dali a algumas horas, para a Europa. Sentira-se tão só, desamparada. Eis a justificativa que encon­trara ao recuperar a sanidade, pela manhã.

Mas tudo começara com aquele beijo, a boca de Harry firme e determinada, degustando champanhe e paixão. Nada a ver com um homem apelidado de Gelo. A con­tradição intrigou-a, tentando-a a provar aquela boca mais e mais. Ele lhe concedeu tudo o que pediu a cada beijo mais profundo, e muito mais.

Com toda a honestidade, naquela noite ela não pensara nas consequências. Outros pensamentos ocupavam-lhe a mente. As trocas foram se tornando mais demoradas, mais ardentes, e logo se viram avassalados por uma urgência incontrolável. Contrariada, ela desfizera o nó da gravata dele e a arrancara antes de atacar os botões da camisa.

— Sempre se veste assim formal em casa? — ques­tionara Hermione.

— Não. É que saí há pouco.

— A negócios, aposto.

Um frio amargo dominou os olhos verdes dele.

— Que mais poderia ser?

Ela se zangara ao comentário, triste e desolada.

— Vou mostrar o que poderia ser...

A determinação tomara conta dela, eliminando o que restava de escrúpulo e bom senso. Ele não protestara ao vê-la remover suas abotoaduras de ouro e livrá-lo da ca­misa, mas sentira nele alguma hesitação, que não com­binava com sua natureza implacável. Mas não era hora de analisar, ou questionar. Estava fascinada com o que descobrira debaixo da camisa.

Harry exibia ombros largos, com músculos lindamente esculpidos em linhas claras, másculas. Como nunca os notara antes? A pele dele fulgurava como cipreste dou­rado, irradiando luz e calor, implorando para ser acari­ciada. Recuou um pouco e viu o realce que a luz do fogo proporcionava aos bíceps com os feixes de músculos sa­lientes.

Ela estendera as mãos, traçando um caminho dos om­bros até o ponto em que os pêlos castanho-escuros se iniciavam. Como podiam ser dessa cor, se os cabelos dele eram negros? Mais impressionante era a textura grossa deles, quase arranhando-lhe a palma das mãos, excitando-a como a pele lisa e infantil de Rony nunca conseguira. Afagou aquele peito, incapaz de resistir. E fora baixando as mãos, centímetro por centímetro, ao longo do abdómen duro e irregular, até alcançar a fivela do cinto. Ele a detivera então.

— Tem certeza de que é isso o que quer? Ainda pode mudar de idáia.

— Não, não posso. É agora ou nunca.

— Não comece algo que não pretende terminar — ad­vertira Harry, sério.

Não fosse tão impulsiva, talvez Hermione tivesse ouvido. Mas ela só captara a necessidade embutida no tom áspero dele. E respondera aquele chamado desesperado com todo o coração.

Desvencilhara-se dos braços dele e fora até a lareira. Diante dos olhos verdes dele, brilhantes como estrelas, despira o vestido preto e as pequenas peças de cetim rosa-avermelhado. Restou uma presilha em seus cabelos, que Harry descartou só para ver cair a cortina de cabelos castanhos.

— Harry?

— Por favor — murmurara ele. — Que isto não seja uma ilusão.

Ela não soubera como responder ao apelo. Nem pre­cisara. Harry a abraçara, a apertara, combinando paixão e preocupação. O que se seguiu transformou-a. Profunda e completamente. Fazer amor com Harry revelou-lhe um segredo cuja existência nem sequer vislumbrara nos anos em que fora casada com Rony.

Harry lhe mostrara o verdadeiro significado do amor.

—Também não consegue esquecer aquela noite, não é? — adivinhou ele, brando.

Hermione fechou os olhos, lutando para enterrar as lem­branças. Sem sucesso.

—Não consigo esquecer a manhã seguinte também — rebateu.

A desilusão fora terrível ao acordar numa cama vazia e dar-se conta de que seu amante partira havia muito.

— Eu ia viajar! — defendeu-se Harry. — Você sabia disso!

— Não quero discutir! Todo aquele episódio foi uma aberração, de qualquer forma.

— Aquela aberração deu origem a nosso filho! Hermione estremeceu e pôs a mão sobre o ventre.

— Não quis dizer...

— Não?

— Não! Eu quero o bebê.

— Eu também — afirmou Harry, sem hesitar.

Ele estava sendo sincero. Ela o sentia em suas pala­vras. Infelizmente, porém, passara os últimos nove meses pensando no bebê como só seu e era um choque saber que Harry tinha sentimentos semelhantes. Harry Potter, um homem de sentimentos. Ha!

— Parece que estamos com um problema, então.

— Problema nenhum — contrariou Harry. — Já apre­sentei a solução.

— Casamento.

Ele a encarava firme.

— Casamento.

— E se eu não concordar?

Ele adotou uma expressão implacável.

— Não tem opção.

— Claro que tenho.

— Está enganada. — Calculista, Harry resumiu a si­tuação dela: — Você quer me vender sua parte na em­presa, bem como iniciar seu próprio negócio. Não con­seguirá nem uma coisa, nem outra, sem meu acordo e cooperação.

Hermione não acreditava no que ouvia. Harry lhe aplicaria um golpe baixo?

— E o preço da sua cooperação é o casamento?

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